Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy

– Não foi sua culpa – Dulce o consolou. – Milorde não sabia. Nenhum de nós sabia...

Christopher murmurou algo, para que os dois ficassem quietos. Dulce percebeu, pelo tom dele, que algo de anormal estava acontecendo e pediu que Lorde Glendenning se controlasse.

– O que houve, Christopher? – ela sussurrou, quando o conde finalmente se acalmou.

– Muito estranho – Christopher confidenciou em voz baixa, ainda com o ouvido colado no instrumento de auscultar. – As batidas de seu coração estão mais fortes e a respiração...

Foi quando Anahí abriu os olhos. Lorde Glendenning deu um grito de alegria e até Dulce, que fora para outro canto, levou um susto.

– Ei – Anahí olhou para o estetoscópio. – O que o doutor está fazendo aqui?

Apesar da voz fraca, a entonação era a de Anahí, que todos conheciam, e não a que sobressaía nos delírios da semana anterior.

Lorde Glendenning deu outro grito e caiu de joelhos – com uma batida que estremeceu as tábuas do piso –ao lado da cama da jovem.

– Anahí! – ele exclamou. – Você está bem mesmo?

Anahí o fitou com curiosidade.

– Acho que sim. Apenas com muita fome.

Dulce, atordoada, fitava-a sem falar.

– Você escutou, Dulce? – Christopher levantou o estetoscópio do peito de Anahí. – Ela disse que está com fome!

– Ah, Deus, obrigada. – Dulce saiu do estado hipnótico e levou as mãos ao rosto onde lágrimas deslizavam.

– O que ela pode comer? – perguntou Lorde Glendenning, fitando Dulce com ansiedade. – O que posso dar a ela?

– Acho que pão – Dulce fitou Christopher em dúvida – molhado no leite, o que você acha?

Christopher observou que Anahí e o conde estavam entretidos em trocar olhares de amor e sussurrar palavras de ternura.

– Vamos assaltar a despensa, senhorita Saviñon? – ele fez a pergunta num fio de voz.

– Vamos! – Dulce enxugou as lágrimas na manga.

Eles desceram a escada no escuro e chegaram à sala, onde não havia ninguém. Os clientes costumeiros deviam estar em casa, cuidando da família em vez de se embriagando na taverna. Christopher acendeu uma vela e Dulce o seguiu, achando estranho que apenas eles, além de Anahí e o conde, estivessem acordados numa casa que não lhes pertencia. A senhora Murphy e seu marido pescador, o baixinho senhor Murphy, já estavam dormindo havia horas, não sem antes implorar à exaustão que Dulce lhes devolvesse a alavanca da bomba da taverna, que foi tirada da pia da cozinha.

Dulce se aborrecia pelo fato de ninguém a entender. E assim continuaria, até que pudesse convencer aqueles idiotas do Royal College of Physicians a aceitar sua teoria.

– Vamos ver o que temos aí – Christopher abriu a porta da despensa e segurou a vela no alto para enxergar melhor. – Ali está o leite. Você corta o pão?

Dulce cortou as fatias em cima da mesa, pensando que estavam a sós depois de muito tempo e se Christopher perguntaria...

– Dulce, eu sei o que houve. – A cabeça de Christopher estava atrás da porta e só se via uma sombra indistinta pelo brilho da vela.

Droga! Por pouco ela não cortava o dedo!

– Do que está falando? – ela perguntou para ganhar tempo. Seja forte, disse para si mesma. Quanto mais esperar, pior será. Como, por exemplo... cortar uma parte de si mesma.

– Sei por que você construiu uma muralha ao seu redor. – Christopher pegou o leite, fechou a porta da despensa com o pé e pôs a vela na mesa. – No entanto, é preciso que você saiba que não planejo ir a nenhum lugar.

– Não? – Dulce pestanejou.

– Não. – À luz da vela, era possível notar que os olhos de Christopher haviam perdido a alegria natural e que sua expressão não podia ser mais séria. – Apesar das bobagens que aqueles dois imbecis possam ter lhe dito, o casamento de Natália não teve o menor significado para mim, e isso também não significa que vou voltar para Londres. Pelo amor de Deus, Dulce, você, mais do que qualquer pessoa, deveria saber que Natália faz parte de meu passado e não tem nenhuma importância.

– Natália? – ela gritou em tom agudo. – Acha que tudo é por causa de Natália?

Foi a vez de Christopher pestanejar.

– É, sim. Pearson e Shelley me contaram o que houve. Não tente negar. Você poderia, ao menos, ter a gentileza de ser honesta.

Dulce o encarou com olhar fuzilante.

– Como milorde, que sempre foi honesto comigo?

– Como... como foi que você... me chamou?

– Creio que me escutou muito bem, lorde Stillworth!

– Ah. – Christopher não disfarçou que estava envergonhado. – Qual deles lhe contou?

– Nenhum dos dois. – Ela tirou o diário que estava no bolso de suas calças a noite inteira e o abriu na contracapa.

“Christopher Alexander Luiz Casillas Von Uckermann, oitavo marquês de Stillworth”, era o que estava ali gravado.

Christopher leu as palavras como se nunca as tivesse visto. Depois ergueu o olhar, e Dulce notou que a alegria estava de volta ao olhar escuro.

Dulce fechou o diário com força.

– Mas que droga, Christopher. – Aflita, ela percebeu que as lágrimas marejavam seus olhos.

Devia ser a tensão dos últimos dias, a preocupação com Anahí e as críticas dos aldeões por causa da bomba d’água. Por isso ela não estava conseguindo se controlar.

Mentira. Seu coração estava em pedaços. Essa era a verdade.

Christopher viu as lágrimas e não achou mais graça.

– Dulce – disse ele com suavidade, segurando-a pelo braço. – Sei que eu deveria ter lhe contado. Juro que tentei. Eu queria primeiro provar que eu não era igual àqueles homens que trataram seu pai de maneira tão mesquinha. Não sou igual a eles, assim como nem todo médico é um charlatão, e você sabe disso...