Fanfic: A Dama da Ilha(adaptada) | Tema: Vondy

Dulce se desvencilhou de Christopher, não porque o toque dele fosse repelente. Mas se deixasse que ele a tocasse, não seria capaz de fazer o que tinha que ser feito.

– Christopher, você mentiu para mim.

– Não menti – ele se defendeu. – Posso ter deixado de mencionar o fato, mas não menti.

Dulce sacudiu o indicador em acusação.

– Você me fez acreditar que era um médico do interior e que estava contente com isso!

– E estou muito satisfeito e é assim que pretendo ficar.

– Mas você não pode continuar dessa maneira. – Dulce sacudiu a cabeça, com os cachos vermelhos esvoaçando diante de seu rosto. – Você não pode ser ao mesmo tempo um médico de interior e um marquês em Stillworth Park!

– Não posso? – Christopher franziu o sobrolho. – Por que não posso?

– Por favor, Christopher, pensa que sou estúpida? Apesar de ter nascido em Skye, sei que os nobres são responsáveis por suas propriedades. Eles não podem simplesmente ir embora e exercer a medicina em recantos longínquos do mundo.

Christopher ergueu o queixo.

– Não? Pois este aqui – disse ele, apontando para si mesmo – pode e faz.

– E seu povo já fez uma tentativa para levá-lo de volta.

– Meu povo? Pearson e Shelley não são meu povo. Eles não são ninguém.

– Christopher – ela o fitou com um brilho no olhar. – Sei o que você está tentando fazer, mas não dará certo. Não posso compactuar com esse erro.

Christopher atirou as mãos para cima.

– Fazer o quê, Dulce? Que erro?

– Não posso ser Lady Stillworth – Dulce afirmou com determinação, apesar de sua voz tênue. – Eu poderia ter sido a senhora Uckermann, o que me deixaria muito feliz. Mas você não vê que Lady Stillworth não combina comigo? Detesto os títulos de nobreza. Eu odiaria cada minuto de minha vida. Festas e chás com duquesas, bailes, visitas a chapelarias, dar ordens para uma governanta e... Santo Deus, Christopher, eu ficaria louca em um mês!

Christopher a encarou, sem encontrar uma resposta plausível.

– E mesmo que eu tentasse, por sua causa, jamais faria nada bem feito – Dulce continuou, com fervor. – Nunca teria um bom desempenho como... como a sua senhorita Teles. Depois de algum tempo, você passaria a se ressentir comigo e se afastaria, eu não suportaria uma situação como essa.

Ela tentou expressar em palavras o que tanto apertava seu coração nas últimas semanas.

– Quando você levou um tiro... – Dulce abaixou o tom de voz ao mínimo – e pensei que tivesse que viver sem você... Christopher, nunca fiquei tão apavorada. Não creio que poderia enfrentar de novo uma circunstância semelhante.

– E não vai ter que enfrentar – disse Christopher e segurou-lhe as mãos. – Dulce, juro que isso não se repetirá. Mackafee e eu nos tornamos amigos... – fez uma careta. – Bem, mais ou menos.

– Então foi mesmo o senhor Mackafee. – Dulce suspirou. – Você nunca me disse...

– Não, mas juro, Dulce, esse foi o último segredo que escondi de você. Não há mais nada que você ignore a meu respeito.

– Não importa – Dulce meneou a cabeça –, Christopher, porque não posso ficar com você. Não quero me tornar Lady Stillworth e você... não acredito que o deixem ser simplesmente o doutor Uckermann. É melhor terminarmos tudo antes que eu... bem, antes que se torne muito mais difícil deixá-lo partir.

Dulce poderia imaginar qualquer reação por parte de Christopher, menos que ele caísse na risada. Pois foi o que aconteceu. Rindo sem parar, ele a tomou nos braços e, embora ela resistisse, não a deixou escapar.

– Ainda bem que você acha a situação engraçada. – Aborrecida, Dulce expressou-se com aspereza. – Se quiser me contar qual é a graça...

– Perdão, Dulce. – Christopher deu uma risadinha no pescoço dela. – É que Natália clamava exatamente o contrário. Queria ser Lady Stillworth e não simplesmente a senhora Uckermann...

Dulce fazia o maior esforço para escapar.

– Ela, de novo – Dulce resmungou. – Quer saber, estou cansada de ouvir falar da senhorita Natália Teles...

– Você deveria ser agradecida a Natália – Christopher a interrompeu. – Afinal, ela foi o motivo de eu ter vindo para Skye.

Dulce por pouco não se soltou, mas Christopher a puxou de volta.

– Mas ela não é o motivo que me faz ficar aqui – Christopher garantiu com firmeza e afastou-a um pouco para poder encará-la. – Eu achava que pretendia mostrar meu potencial para minha ex-noiva. Mas, na verdade, vim provar para mim mesmo do que sou capaz. E sabe o que mais? Já provei. Demonstrei que tenho capacidade para realizar muitas coisas além de prescrever remédios para suores nos pés e histeria.

Christopher segurou seu rosto e a olhou com intensidade.

– Você me ajudou a revelar essa faceta de meu caráter. Você fez de mim um médico melhor e um homem melhor, o que nunca imaginei que pudesse acontecer. Você me desafiou e fez que eu avançasse... por isso me apaixonei por você. Eu lhe garanto. Pode ter certeza de que, se você quiser ficar nesta ilha e ser a senhora Christopher Uckermann, não ouvirá nenhuma palavra de recriminação de minha parte. Não me importa em que lugar vamos estar, contanto que estejamos juntos. – Christopher beijou-a na testa com ternura e continuou falando de encontro aos cabelos dela. – Deus sabe que ninguém em Stillworth Park se importa com o lugar onde eu esteja, contanto que eu vá para casa em dezembro e distribua os pernis de Natal para os rendeiros.

Ainda nos braços de Christopher, Dulce mal podia acreditar no que ouvia.

– Mas... mas...

– Mas o quê? – A voz dele ecoava em seu ouvido, pressionado contra o casaco dele. – Então poderemos nos casar o quanto antes, não é? Quer dizer, estamos na Escócia ou não? Aqui não é preciso licença especial, nem editar proclamas ou qualquer outra bobagem semelhante...

Dulce aconchegou-se nele, maravilhada. Depois de tudo o que ela havia enfrentado recentemente, era delicioso sentir aquela fragrância de roupa limpa de Christopher, mesmo depois de passados tantos meses.

– Assim é melhor – Christopher sentiu a concordância de Dulce. – Agora me dê um beijo para selar o acordo.

Dulce ergueu o rosto e, com estranho sentimento de timidez, procurou os lábios de Christopher com os seus. Não entendia a razão de seu recato, depois de tudo o que haviam feito juntos...dentro e fora do quarto.

Beijá-lo foi como beijar um desconhecido.

Por um segundo. Quando Christopher tornou o beijo mais intenso e a abraçou com força, instantaneamente retornaram as chamas ardentes que ela sempre sentia quando ele se aproximava.

E Dulce o beijou com uma selvageria corajosa como nunca antes se atrevera...

Até que Christopher, com mãos trêmulas, tirou os braços dela de sua nuca.

– Nunca pensei que fosse ter que afastá-la... minha querida, mas nós nos esquecemos de nossa paciente...

– Anahí!... – Dulce gritou.

– ...que está esperando pelo desjejum. – A fisionomia de Christopher era um misto de bom humor e desejo. – Mais tarde?

Dulce concordou com um gesto de cabeça e pegou uma tigela para ensopar o pão. Christopher mexeu o braço e gemeu.

– Prometa-me uma coisa – disse ele, esfregando o ombro dolorido.

– O quê?

– Você vai permitir que eu faça algumas modificações na cabana. Quero instalar uma banheira de porcelana onde eu possa me esticar para pôr de molho qualquer ferimento decorrente de algum tiro que venha a acontecer no futuro. Promete?

– Prometo. – Dulce sorriu para Christopher.