Fanfic: The Glow of a Glance - Camren | Tema: Camren

POV Camila

Encarando o enorme relógio da igreja em frente a sacada onde eu me encontrava, me pus a pensar que o tempo não pode ser medido apenas pelos ponteiros do relógio, mas também pelas batidas de um coração. Sorri internamente com esse pensamento enquanto inclinava a cabeça para olhar o céu estrelado em Cancún, contemplando sua beleza.

Naquele momento fui surpreendida por uma estrela cadente que cruzou o céu tão rapidamente quanto meus batimentos cardíacos. Um sorriso enorme nasceu em meus lábios quando me apressei em fechar os olhos e me concentrar no meu valioso pedido.

Uma esperança foi plantada em meu coração, pois aquilo só podia significar um sinal dos céus, me informando que eu conseguiria alcançar o meu maior desejo. Sim! Eu teria uma chance!

— Camila?

Apartei meu corpo do parapeito da sacada do restaurante Brooke para me direcionar à voz pronunciada. Sorri para a garota que me fuzilava com os olhos.

— Garota, eu estou te procurando há horas! — Exagerou Ally. A baixinha parecia exaltada.

Ignorei seus resmungos ao caminhar em sua direção, chocando meu corpo ao seu em um abraço apertado, girando-a no ar, deixando claro toda a minha empolgação.

— Você não vai acreditar, Ally! Eu acabei de ver uma estrela candente! — Segurei seu rosto confuso entre minhas mãos, e as suas prontamente seguraram as minhas em seu rosto — Sabe o que isso significa?

— Por Deus, Camila! A única coisa que eu sei, é que eu carrego esse restaurante nas costas e ainda que sejamos amigas, eu preciso ser uma patroa chata e exigir que você cumpra com seus deveres e atenda os clientes ao invés de ficar contando estrelinhas. — Choramingou contrariada ao tirar minhas mãos de seu rosto. Ouvi seu sermão contendo uma risada. Allyson Brooke não sabia reclamar, era muito meiga para isso. E por isso eu a amava— Por favor, Mila, deixe isso para a hora de dormir e me ajude. — Implorou com o olhar.

Assenti sem tirar o sorriso do rosto e juntas, caminhamos até o balcão, onde vesti o avental preto com detalhes brancos e peguei a prancheta para anotar os pedidos dos clientes.

— Não entendo como você pode estar tão feliz por ver uma estrela se mover. — Murmurou com certa curiosidade.

— Ally, isso significa que hoje é um dia mágico e o meu desejo será realizado. É como um sinal, entende?

— Não, eu realmente não entendo, mas depois você me explica. Agora, por favor, vá você ser a estrela mágica e atender os desejos dos clientes. Hoje é sexta e o restaurante está lotado. — choramingou exausta.

— Oh meu Deus! Hoje é sexta! — Vibrei ao constatar o fato no celular — Hoje é o dia dela vir jantar aqui! Viu Ally, é hoje! É ela! Eu sabia!

— Ela quem, Camila? — me olhava totalmente confusa com minha euforia. — Do que está falando?

Naquele momento as portas do restaurante se abriram atraindo nossos olhares. E lá estava ela. A razão dos meus sorrisos mais bobos. Ela estava séria e linda como sempre, vestindo um jeans branco rasgado, uma blusa preta, uma jaqueta de couro da mesma cor e calçando seus coturnos como todas as noites que jantava ali. Meu coração acelerou imediatamente, quase chegando à garganta, mas assim que notei o olhar cheio de nevoa e triste que sempre estava com ela, meu coração tratou de errar algumas batidas.

Aquela mulher era tão bela que me fazia suspirar, era um pecado ter aqueles olhos verdes tão lindos e intensos, agora tão apagados e carregados em tristeza. Eu não sabia os motivos disso, nunca tive a oportunidade de conhecê-la realmente, pois a mesma parecia fazer questão de afastar as pessoas de si, mas eu queria do fundo do coração poder mudar aquele fato. Queria ver o sorriso em seu rosto e a luz em seus olhos novamente.

— Lauren... — Seu nome escapou dos meus lábios em um suspiro suave.

— Ah não Camila, a turista americana de novo? — resmungou minha amiga — Você sabe como essa mulher é antipática e mal educada.

— Eu vou atendê-la — Ignorei aquele comentário e caminhei apressadamente à mesa qual Lauren ocupou. Suspirei novamente ao sentir seu perfume tão feminino e notar o quão linda ela ficava sem maquiagem. Abri meu melhor sorriso, mas ela sequer me olhou — Boa noite, senhorita Jauregui.

Ignorando-me totalmente e usando de sua arrogância, a americana puxou o cardápio da mesa, dando uma conferida nos pratos da noite. Respirei fundo antes de perguntar quase como afirmação.

— Nachos chilli e vinho? — Contive o riso, sabendo que ela sempre pedia o mesmo prato toda sexta-feira.

Finalmente Lauren levantou o olhar curioso e surpreso para mim e eu estremeci de pernas bambas, sentindo meu ar faltar nos segundos em que sustentou seus verdes nos meus castanhos. Senti que sugaria minha alma com aquele olhar. Era a primeira vez que me olhava diretamente nos olhos. Eu poderia morrer ali mesmo, tamanha era a euforia em que me encontrava.

— Exato. — Afirmou secamente em seu sotaque carregado, antes de desviar o olhar, fechando seu cardápio.

Aquilo não me incomodou, eu estava ciente de que havia uma grande tristeza em seu coração congelado e que isso a deixava daquela maneira. Não era sua culpa. Ainda com um sorriso e sob o efeito de seu olhar e sua voz, lhe dei as costas e fui prontamente atender seu pedido.

— Eu juro que não entendo porque a trata tão bem. Ela é insuportável. — Ouvi novamente resmungos e criticas atrás de mim.

— Ally, não a julgue, por favor, ela apenas não consegue sorrir. — mordi o lábio inferior a observando de longe. Como eu queria ver a primavera em seus olhos mais uma vez.

— Essa mulher trata todo mundo mal Camila, ela é uma arrogante que trata a todos como se fossemos seus serviçais.

— No fundo ela não é assim, eu sei que não... — Assegurei. Não culpava Ally e nem todos por pensar assim de Lauren, eles não haviam visto seu outro lado como eu vi.

Uma hora depois, avistei Lauren pagar sua conta e se retirar. Eu já havia sido liberada há vinte minutos, mas queria seguir os passos daquela mulher. Sempre gostava de acompanha-la secretamente como se pudesse protegê-la até que a mesma estivesse segura em sua casa.

As ruas de Cancún já estavam meio desertas. Olhei para o céu lembrando-me da estrela cadente. Será que Ally está certa ao dizer que estrelas não atendem pedidos? Esse pensamento me entristeceu um pouco e logo tratei de procurar o meu motivo para sorrir. Busquei Lauren com o olhar e vi que ela estava atravessando a avenida distraída e mais a frente vinha um caminhão a toda velocidade. Desesperei-me correndo imediatamente em sua direção.

— LAUREN, CUIDADO!

Gritei a plenos pulmões, e no segundo em que ela me olhou assustada, choquei meu corpo contra o seu, jogando-nos para longe do caminhão que passou ruidosamente, fazendo-nos apertarmos os olhos de susto. Senti seu coração acelerado contra o meu, antes dela se levantar com pressa, me encarando de forma assustada.

— Como você sabe o meu nome? — Perguntou direta e um tanto alterada. Levantei-me surpresa e indignada.

De todas as reações, essa era a ultima que eu esperava.

— "Obrigada por me salvar, Camila, você está bem?" De nada Lauren, eu estou bem sim, não se preocupe. — brinquei, revirando os olhos divertida, ela apenas bufou. Sorri. — Eu trabalho no restaurante em que você janta nas terças e sextas. Meu nome é Camila.

Estendi minha mão em sua direção, Lauren apenas olhou meu gesto e voltou a me fitar com desdém, enfiando as mãos nos bolsos da calça, então assentiu e me deu as costas, indo embora. Meu queixo caiu levemente em descrença. Ah não, ela não tinha o direito de me deixar falando sozinha. Eu não desistiria assim tão fácil na primeira oportunidade. Apressei os passos e comecei a caminhar ao seu lado em silencio. Estávamos quase chegando à beira mar, onde ficava sua casa.

— Não deveria tratar as pessoas assim, muito menos aquelas que te salvam a vida...

— Trato como tiver vontade e você não me fez favor algum ao fazer isso, se quer saber.

— Que horror, não fala assim, mulher. — reclamei, antes de lhe estapear de leve o braço. Ela me encarou horrorizada — De qualquer maneira você está me devendo. — Torci o nariz.

— Você se mete em meu caminho, me bate e ainda vem me cobrar dinheiro por "salvar a minha vida"? — arqueou a sobrancelha — Você é muito abusada, garota.

— E quem disse que eu quero dinheiro? — parei em sua frente, colocando as mãos na cintura e a encarei de queixo erguido.

— Não? — neguei veemente — então o que você quer pra sair do meu caminho de uma vez?

— Quero... — toquei meu queixo, pensando em algo que me fizesse ganhar um tempo com ela, e ao olhar para o céu, em um estalo me veio uma ideia que fizeram meus olhos brilharem — quero que me conceda três desejos. — Pedi cheia de esperanças

— What?! — Seu rosto se contorceu em uma careta de incredulidade. Pressionei os lábios para conter a risada e assenti. — Não sei em que mundo você vive, mas aqui não é um conto de fadas e eu não sou nenhum gênio da lâmpada. Agora se me da licença... — tentou passar por mim, mas segurei seu braço, fazendo-a me encarar novamente com seu olhar devastador.  

— Qual é Lauren? São apenas três desejos simples, nada impossível, a não ser que você não seja capaz o suficiente. — dei de ombros.

— O que está querendo insinuar? — franziu o cenho, confrontando-me com aquele olhar que me afogava em seus oceanos.

— Se você não é capaz de conceder coisas simples a alguém que arrisca a vida por você, com certeza não consegue muitas coisas na vida. Talvez por isso seja tão sozinha.

Observei-a respirar fundo antes de responder em um tom mais calmo, um tanto cansado.

— Camila, isso aqui é vida real, não um conto da Disney. Quantos anos você tem?

— Dezenove e você? Há, não responda, tem vinte e três e não me pergunte como eu sei disso — toquei meus lábios, abafando uma risadinha. — Apenas realize meus desejos e eu deixarei você em paz.

— Agora sim eu vi vantagem — Ergueu o queixo mostrando superioridade. — tudo para que saia do meu caminho, faça esses malditos pedidos de uma vez.

— Ainda não é o momento. Em breve eu farei o primeiro. —alarguei meu sorriso e surpreendendo-a, me estiquei para lhe dar um beijo longo na bochecha macia e cheirosa, seu corpo enrijeceu diante minha audácia. — Tenha uma boa noite, Lauren, foi muito bom te conhecer.

Virei-me e após alguns passos, parei, voltando-me para ela novamente. Sorri com a língua entre os dentes e apontei para uma casa que estava próxima.

— A sua casa é muito bonita a proposito, qualquer dia te faço uma visita.

Soltei uma risada quando seu queixo caiu levemente, provavelmente se perguntando como eu sabia onde ela morava. Antes de ser questionada, apressei meus passos em uma corrida, sumindo da vista da bela morena de olhos verdes com a certeza de que sim, a estrela candente havia me dado à chance que eu precisava e eu jamais a desperdiçaria.

Entrei em casa com um sorriso no rosto e tentei ser silenciosa, mas como eu sou eu, acabei derrubando alguns livros que estavam na mesinha. Ri do meu próprio desastre e me abaixei para apanha-los quando escutei passos apressados.

— Camila! você demorou, estava preocupada! — Exclamou Dinah ao se aproximar, me ajudando a arrumar os livros. Sorri largamente, vendo-a me olhar com desconfiança — que sorrisinho é esse? Não vai me dizer que conseguiu sexo por aí... —brincou.

Soltei uma risada alta. Dinah e eu éramos muito mais do que amigas, éramos irmãs. Tínhamos apenas uma a outra no mundo desde o dia do acidente em que perdemos seus pais, aquele tão bondoso casal que me criou como uma filha. E por ser apenas alguns anos mais velha, Dinah era muito protetora em relação a mim, como se fosse uma mãe e realmente parecia ser em certos momentos.

— Eu fui levar a Lauren em casa, e demorei porque nós conversamos. — soltei um suspiro ao lembrar e segurei seus ombros, sorrindo — nós conversamos, Dinah! Acredita? Nós conversamos! Ela fala nosso idioma perfeitamente e tem um sotaque tão lindo!

— A americana de olhos verdes? — seus olhos saltaram surpresos, assenti com empolgação — não acredito, você é impossível, garota! Conseguiu se aproximar da sua crush de gelo. — Soltei uma risada admirando seu sorriso — Estou orgulhosa, porém preocupada, não quero que se machuque...

Abracei-a quando seu tom de voz mudou, sentindo seus carinhos em meus cabelos.

— Não se preocupe, Dinah, a estrela me deu um sinal... Eu preciso tentar e eu sei que vou conseguir. Com ela eu vou conseguir, nem que seja a ultima coisa que eu faça. — fechei os olhos, tragando a saliva quando a senti me apertar contra si.

Eu tinha que acreditar e confiar, pois essa era a minha única chance.