Fanfic: The Glow of a Glance - Camren | Tema: Camren

POV Lauren

Bati a porta de vidro com força e me escorei na mesma soltando um suspiro exasperado. Que caralho de garota intrometida e insuportável era aquela tal de Camila! Esfreguei meu rosto com as mãos tentando esquecer aqueles momentos estressantes. Três desejos. Francamente! Neguei com a cabeça deixando um riso sarcástico e sombrio escapar dos meus lábios. Uma menininha que não sabe nada da vida não tem que se meter no meu caminho e ainda achar que devo algo a ela. Que espere sentada!

Quando decidi me isolar naquela praia foi para não ter contato com nenhum idiota e Camila estava tentando estragar meus planos. Naquele restaurante eu já não pretendia ir.

Caminhei até o sofá onde a maldita caixa estava jogada nele. Eu a havia pegado mais cedo no intuito de queimar todas aquelas lembranças, mas não consegui.

— Inferno! — praguejei minha própria incapacidade. Coloquei os objetos de volta na caixa e pausei quando segurei uma das fotos, olhando diretamente para aquela mulher que significou tanto para mim, ao meu lado naquela imagem que mostrava o quanto nós éramos felizes.

Flashback on

O dia estava chegando ao fim e em poucas horas eu teria um show para fazer e estava nervosa, procurei a única coisa que me acalmava, meu violão. Sentei-me na cadeira da varanda e decidi por todas minhas emoções na musica que tocaria. Sorri comigo mesma quando os acordes começaram a vibrar em sintonia com meu coração.

Duas mãos taparam meus olhos, fazendo-me saltar de susto, escutando a sonora gargalhada tão conhecida por mim. Keana tomou o violão da minha mão e o encostou em um canto.

— Você me assustou, baby! — a puxei para meus braços. Sorri para ela.

— Perdoe-me meu amor, foi mais forte que eu — continuou sorrindo enquanto ajeitou-se em meu colo.

Instintivamente levei minha mão a sua barriga já volumosa, acariciando-a. Keana alargou o sorriso tocando sua mão em cima da minha e pela primeira vez sentimos aquela criaturinha se mover em seu ventre.

— Oh meu Deus! — Meu coração foi parar na boca ao sentir aquilo. Era tão estranho e tão gostoso ao mesmo tempo.

— Você sentiu, amor? — perguntou-me emocionada.

— Sim, ele mexeu — murmurei desacreditada e novamente sentimos outro movimento. Beijamo-nos com paixão comemorando aquele momento tão especial.

— Ele já te ama Laur, assim como eu... — me olhou terna — Nós seremos uma família incrível.

—Nós seremos. — Acariciei seu rosto, selando novamente nossos lábios.

Flashback off

Esfreguei meu rosto na tentativa falha de afastar aquelas malditas e dolorosas lembranças e joguei a foto dentro da caixa. Ao levantar o olhar, vi o violão na mesa e sem conter a fúria dentro de mim, o peguei e o arremessei com força contra a parede, soltando um grunhido em seguida ao machucar meu pulso. Sem que eu pudesse impedir, as lagrimas rolaram pelo meu rosto. Fui até a cozinha e peguei meu litro de uísque na tentativa de acalmar meus nervos, tomando uma boa quantidade pelo gargalo. Sentir aquilo queimar era uma sensação maravilhosa. No entanto as imagens continuavam torturando a minha mente, me irritando ao ponto de virar a mesa com força, derrubando toda bagunça que estava em cima.

— Merda de vida! — praguejei ao sentar-me no chão, voltando a beber.

Os dias passavam lentamente, parecia querer me torturar. Olhei em volta, a casa estava horrível e vazia assim como eu e meu coração, mas eu já não me importava, não tinha mais vontade de viver de qualquer forma, apenas sobrevivia longe de tudo e de todos.

Talvez esse fosse o meu destino. Talvez.

POV Camila

— Ei, por que essa carinha triste?

A mão de Allyson tocou meu ombro carinhosamente. Soltei um longo suspiro, virando-me para olhá-la.

— Já faz dez dias que ela não vem aqui e nem dá sinal de vida. Dez dias que não a vejo, Ally.

Respirei fundo, olhando novamente através da janela do restaurante na esperança de vê-la. Talvez eu tenha passado um pouco dos limites aquele dia e isso a fez sumir. Até caminhei próximo a sua casa pela manhã na esperança de vê-la, mas não a vi e aquilo já estava me preocupando.

— Oh, Mila, talvez ela já tenha ido embora. Já pensou nisso?

— Em... Embora? — engoli em seco. Não. Eu não queria pensar nisso... 

— Sim. Cancún é uma cidade turística e Lauren é americana pelo que sabemos, certo? Talvez já tenha terminado suas férias.

Droga, Ally tinha razão. Senti um aperto no peito só de pensar em nunca mais vê-la.

— Ou talvez não queira ser incomodada... — completou minha amiga, um tanto receosa.

— Eu preciso tirar essa duvida. — arranquei o avental do meu corpo, entregando-o a Allyson, que me encava preocupada.

— Camila, o que você vai fazer?

— Correr atrás dos meus objetivos, Ally. — lhe sorri com determinação — Lauren me deve três desejos e ela irá cumpri-los nem que eu tenha que ir atrás dela no fim do mundo!

Caminhei sem pressa pelas ruas, cumprimentando todos que via pela frente enquanto ia em direção à casa de Lauren. Afortunadamente eu era bastante conhecida e querida por aquelas pessoas tão simpáticas.

Olhei a casa e parecia estar deserta. Respirei fundo antes de subir à pequena escada que dava acesso a varanda e com cautela espiei pela janela de vidro. A visão não era muito boa já que a mesma estava embaçada. Alguém não limpava aquela casa há um bom tempo. Parecia abandonada. Avistei a campainha e estiquei a mão para tocá-la, mas me contive e decidi que era melhor fazer diferente já que provavelmente ela não me atenderia. Girei a maçaneta de vagar e estava trancada. Ah não, será que ela foi mesmo embora?

Dei a volta na casa para tentar pelos fundos e dessa vez tive sorte. A janela que dava acesso à cozinha estava entreaberta. Com esforço a empurrei e consegui passar por ela com um pouco de dificuldade. Meus olhos se arregalaram ao ver o estado daquela cozinha. Haviam pratos e copos quebrados, a mesa estava virada e tudo uma completa bagunça e sujeira.

— Oh meu deus, o que aconteceu aqui? — levei a mão ao coração já imaginando um possível assalto. Coloquei a mesa em pé no lugar com cuidado e ajeitei as cadeiras. Cuidaria da limpeza mais tarde.

Em passos receosos caminhei em direção à sala que por sinal também estava imunda e então vi algumas garrafas de uísque jogadas no chão e havia também um violão quebrado no canto da parede. Me perguntei porque alguém destruiria um objeto tão bonito quanto um violão. Peguei o mesmo e sem querer acabei tocando nas cordas fazendo um som desafinado soar um tanto alto.

— O que está fazendo aqui?

Arqueei as costas com o susto e virei-me imediatamente para a voz rouca já conhecida que me arrepiou inteira. Não acreditei no que estava vendo. Lauren não estava impecável como todas as vezes em que a vi, pelo contrário, estava vestindo um conjunto de moletom cinza com algumas manchas, descalça e o cabelo desgrenhado e olheiras profundas. Também parecia ter emagrecido um pouco nesses dez dias.

— Meu Deus, Lauren! o que aconteceu com você? — dei alguns passos desesperados em sua direção vendo-a recuar. Ela estava cheirando a uísque e seus olhos avermelhados mostrava seu estado de ressaca.

— Não me responda com outra pergunta, garota, por que invadiu a minha casa? — empurrou-me quando eu já estava próxima o suficiente e com uma careta levou as mãos às próprias têmporas, provavelmente doloridas. — Eu posso mandar prende-la por invasão a domicilio, sabia?

— Você está cheirando a álcool. Lauren porque você bebe? Por que está vivendo assim? — indaguei em um fio de voz, com o cenho franzido em preocupação olhando ao redor — O que aconteceu com você? — Tentei tocá-la, mas ela se afastou mais uma vez.

— Não te interessa, Camila, que merda, não preciso da sua pena, vai embora daqui, caralho! — virou-se de costas indo á cozinha. A segui, vendo-a abrir a geladeira praticamente vazia e tirar uma garrafa de água, onde bebeu no gargalo mesmo.

— Você é tão jovem e tão bonita, não estrague sua vida desse jeito. —aconselhei.

— Não preciso dos teus conselhos, me deixa em paz, porra! — Esbravejou chocando a garrafa contra a mesa com certa força.

— É o que eu estou tentando fazer, não percebe? — rebati, vendo-a me encarar com o maxilar trincado e um olhar sombrio, indecifrável. Caminhei até a geladeira e abri procurando o que precisava.

— O que está fazendo? — perguntou enfezada quando sentou-se.

— Vou preparar uma sopa de legumes que aprendi com a minha tia para você melhorar dessa ressaca. — respondi ainda verificando as coisas que haviam na geladeira — vá tomar um banho e deitar um pouco, eu vou sair pra comprar algum remédio e algumas coisas que estão faltando para preparar a sopa porque não tem quase nada nessa casa. Como está sobrevivendo?

— Já disse que você é muito abusada e intrometida?

— Sim — sorri com a língua entre os dentes — agora anda, me dá dinheiro pra comprar o que preciso. 

— Você não vai desistir, não é? — semicerrou os olhos em minha direção.

— Não Lauren, eu não vou desistir... —  Aquelas palavras significavam mais do que ela imaginava.   

A turista pareceu pensar por alguns segundos, então suspirou vencida, foi até um pote no armário e retirou algumas cédulas. Observei-a. Mesmo naquele estado ela continuava linda. Entregou-me o dinheiro sem olhar em meus olhos e virou-se, saindo da cozinha. Sorri largamente, sentindo-me feliz por finamente estar mais próxima a ela.

Assim que comprei o necessário e voltei à casa de Lauren, a encontrei deitada na rede da varanda lendo um livro. Estava mais apresentável agora com um conjunto de moletom que parecia ser novo, cabelos úmidos, e cheirosa... Muito cheirosa. Dei seu remédio querendo rir da sua expressão quando coloquei o copo em sua boca e a obriguei a tomar tudo. Tentava me conter para não tagarelar de mais e acabar com sua paciência. 

Então em silencio fiz a sopa e organizei a casa que estava em um estado critico. Mesmo depois de arrumada ainda achei a casa meio morta, precisava alegrar ela com algumas flores, decorações e musica para dar  vida, me lembraria disso depois.  Logo fui até Lauren e lhe dei a sopa, ela quis negar, mas aceitou quando ameacei enfiar em sua garganta. 

Sentei-me ao seu lado para observá-la comer em silencio. Sorri percebendo que até comendo ela conseguia ser graciosa. Peguei o violão quebrado e analisei-o, com certeza dava para ser consertado.

— Gosta de violão? — a voz um tanto rouca fez-me estremecer levemente. Acho que eu nunca me acostumaria com aquele som magnifico que era sua voz.

— Oh sim, para mim é o melhor instrumento. Aprendi a tocar sozinha. — Meus olhos brilharam em orgulho. — você vai conserta-lo?

— Não tenho interesse. — deu de ombros.

— Dinah me disse que a minha mãe tocava muito bem. Queria me lembrar disso... — confessei com um pequeno sorriso.

— Dinah?

— Sim. Dinah é uma irmã para mim. Minha mãe trabalhou na casa de seus pais, mas adoeceu e... faleceu quando eu tinha três anos, então a família da Dinah cuidou de mim e crescemos juntas. Há poucos anos seus pais sofreram um acidente de carro e não resistiram, então ficamos apenas nós duas, uma cuida da outra. Ela é escritora e eu trabalho no restaurante. Nos viramos muito bem.

— Interessante — falou como se fizesse pouco caso e logo mudou de assunto — mas agora eu quero saber o que veio fazer em minha casa.

— Você sumiu e eu vim ver se estava tudo bem.

— Por que isso? — Fitou-me com curiosidade.

— Por que eu me preocupo com você, Lauren. — Fui sincera e imediatamente ela desviou seu olhar para o mar.

— Você é bem estranha — levantou-se deixando o prato ainda com metade da sopa em uma cadeira e saiu em direção à sala. Peguei o prato e a segui — Vou subir para descansar um pouco e quando eu voltar não quero te ver por aqui! — sentenciou ao subir as escadas.

Rolei os olhos. Lauren é realmente uma pessoa difícil, mas agora que eu havia encontrado um espacinho em sua vida, não sairia assim tão fácil.