Fanfic: The Glow of a Glance - Camren | Tema: Camren

Resmunguei ao sentir a claridade do sol incomodar meus olhos, esfreguei-os, praguejando por ter me esquecido de puxar a cortina à noite. Estiquei-me na cama e bufei sentindo minha cabeça quase explodindo de dor. Maldita ressaca. Levantei-me, tomei um banho frio e optei por vestir shorts e regata. Desci as escadas com aquela sensação de vazio tomando conta de mim novamente. Não parecia tão confortante estar sozinha naquela casa enorme agora. Faltava algo. 

Já não havia musica, não havia flores, não havia risadas, e nem resmungos. Estava tudo uma merda.

Caminhei até a cozinha e na mesa não havia café da manhã feito pra mim. Olhei a janela e ela estava entreaberta, igual esteve à semana toda. Não havia com quem eu reclamar por invadir minha casa ou se meter em minha vida, não havia sorrisos irritantes. Não havia... Camila.

Seis malditos dias que ela não aparecia.

Eu deveria estar satisfeita com isso, era o que eu queria, não era? Mas até a sua ausência estava me irritando. Quem ela achava que era para vir bagunçar a minha vida e sumir quando bem entende desse jeito? Porra! Cerrei os punhos com força. Culpa minha por ter permitido sua invasão.

Inferno!

POV Camila

Finalmente Cancún! Comemorei quando pus meus pés em minha cidade novamente após seis dias fora. Não me aguentava de saudades daquele lugar, daquelas pessoas, daquele cheirinho de praia, dos meus amigos, da Lauren... Oh Céus, eu estava sentindo tanta falta daquela mulher, até mesmo dos seus resmungos.

Antes de qualquer coisa, entrei no restaurante Brooke e fui recebida por um abraço de urso da minha baixinha.

— Nunca mais me abandone de novo, Mila! — Exigiu me dando uma leve tapa no braço — quase morri de saudades.

— Eu prometo que não farei de novo. — segurei suas bochechas para dar-lhe um beijo na testa.

Conversamos sobre tudo e sobre nada, era maravilhoso passar um tempo com Ally. O único problema era a vontade incontrolável de apertar suas bochechas o tempo todo, mas sabia que levaria uns bons tapas se o fizesse.

— Me conte sobre a gringa, já desistiu dela? O que ela falou sobre sua viagem? — Apoiou o cotovelo sobre a mesa para sustentar seu rosto em seu punho, curiosa pela informação.

— Eu não desisto de nada, você sabe. — sorrimos juntas — Eu não contei a ela sobre a viagem, preferi dar um tempo pra ela refletir sobre tudo, acho que Lauren estava precisando. Mas a verdade é que eu estou cheia de saudades, Ally. — confessei dengosa. — muito!

— Eu não pensei que diria isso, tentei resistir, mas acho que estou começando a shippar vocês duas. Espero não me arrepender disso depois.

Soltamos uma risada harmônica e eu sacudi a cabeça em negação.

— Nós somos apenas amigas, Ally.

— Sei... — estreitou os olhos em minha direção. — não vou te prender mais por enquanto, sei que está ansiosa para vê-la.

— Não posso mentir sobre isso — sorri largo — tem sorvete? Vou levar para ela hoje e algumas coisas para comer mais tarde, porque vou precisar amansar a fera, algo me diz que ela não está de bom humor.

Arranquei uma risada gostosa da minha amiga, que me arrastou restaurante adentro logo em seguida para buscar o que eu iria precisar.

POV Lauren

Um ruído vindo da cozinha me chamou a atenção. Um barulho alto seguido de um gritinho me assustou. Soltei a xícara de café que estava em minhas mãos sobre a mesinha e larguei o celular ao meu lado no sofá, ficando em alerta.

Caminhei em direção à cozinha sentindo meus batimentos cardíacos acelerados em antecipação, como se previssem o que eu encontraria.

E eles não estavam errados. Ao cruzar a porta, me deparei com uma Camila toda atrapalhada, juntando algumas coisas espalhadas no chão e colocando na sacola em uma expressão chorosa. 

— Que porra é essa? — Franzi o cenho, me concentrando em esconder a satisfação que senti ao vê-la novamente. Ela não merecia saber disso.

Camila levantou o olhar e me lançou um enorme sorriso, o qual eu não retribuí.

— Desculpe, é que você deixou muita louça aqui em cima, eu me desequilibrei e caí de bunda no chão derrubado tudo, mas acho que não estragou nada — bufou, levando as coisas à mesa, sem tirar o sorriso do rosto e a voz irritantemente angelical — Você precisa ser mais organizada para evitar acidentes como esse, sabe.

— Se você não fosse tão impertinente, isso seria evitado — resmunguei indo verificar as sacolas quando ela virou-se para lavar as louças — o que você trouxe?

— Algumas coisas que vou guardar para mais tarde, portanto pode tirar suas mãozinhas daí. — Sentenciou enquanto esfregava uma panela.

— Saco! — bufei indo para a sala, sentei no sofá, cruzei as pernas e peguei meu celular, voltando a verificar o twitter.

Alguns minutos depois, senti um par de olhos me analisando.

— Perdeu alguma coisa aqui? — indaguei com desdém, virando a cabeça para olhá-la.

— Estamos de mau humor hoje uh? Eu sabia disso, será que a causa foi saudade? — Camila inclinou a cabeça de lado, ainda me analisando.

— Saudades de quê? — Revirei os olhos, voltando a minha atenção ao aparelho — Eu estava aliviada achando que você tinha esquecido esse endereço. Não se iluda, não quero sua companhia, pensei que já soubesse disso.

— E quem foi que disse que eu vim te fazer companhia? — Seu tom de voz divertido me fez virar para encará-la, e para minha surpresa ela parecia estar falando bem sério. Suas mãos estavam apoiadas em sua cintura e uma sobrancelha arqueada. — Sua casa fica no meu lugar favorito da praia e aqui posso deixar minhas coisas enquanto entro no mar.

Camila ia dizendo enquanto caminhava para a varanda. Praguejei mil palavrões mentalmente por acompanha-la com o olhar e ver quando a garota passou seu vestidinho por seus braços e cabeça, ficando apenas de biquíni branco. Ainda de costas para mim, penteou os cabelos com as mãos, os ajeitando.

Puta merda. Que visão.

O que eu era aquela bunda? Aquelas curvas? Aquela pele bronzeada? Balancei a cabeça afastando os pensamentos impuros. Ela era praticamente uma criança. Lauren, por Deus.

Tentei me concentrar em qualquer coisa quando ela desapareceu da minha vista.

Falhei.

Decidi largar aquela porcaria de celular e ir para à varanda com um livro. Sentei-me em uma das cadeiras, levantando o olhar de vez em quando para observar Camila se divertindo no mar. A garota estava acompanhada por duas crianças que seguravam suas mãos enquanto pulavam as ondas.

Alguns minutos mais tarde, o garotinho a chamou para brincar com uma bola e eu não contive a risada alta quando ele a lançou para Camila, que desequilibrou tentando agarrá-la, caindo de bunda na areia. Ela me lançou um olhar fuzilador com uma carinha emburrada e eu tratei logo de disfarçar, voltando o olhar ao livro.

Assim que eu consegui finalmente me concentrar na leitura, fui interrompida por vozes. Levantei o olhar, notando uma Camila de pele molhada caminhando em minha direção com as mãos unidas, segurando algo com todo o cuidado. As crianças a acompanhavam com uma expressão preocupada.

— O que aconteceu? — Larguei o livro de lado, ajeitando minha postura.

— Olha que lindo, tia Lo! — Disse a menininha loira de tranças nos cabelos e lacinhos nas pontas na cor rosa como seu biquíni.

Tia Lo? Quê?

Ergui o olhar questionador para Camila que nem prestou atenção em mim, olhando carinhosamente para suas mãos onde havia um... Arqueei as sobrancelhas, surpresa ao ver um pequeno passarinho azul entre seus dedos.

— Nós o encontramos Lo, ele está com a asinha ferida. — Seus lábios rosados estavam torcidos em tristeza — Nós duas temos cuidar dele, até que o Blue fique bom e possa voar de novo. Vou colocá-lo em uma caixinha e deixa-lo na sala, está bem?

— N-na sala? Na minha sala? — os três rostos assentiram em determinação — mas...

— A tia Mila disse que você tem um coração muito bonito e que vai cuidar muito bem do Blue. — O garotinho disse, assentindo freneticamente.

Abri a boca e fechei algumas vezes, incapaz de dizer algo quando fui vencida por três pares de olhos esperançosos. Encolhi os ombros em derrota.

— Está bem, ele pode ficar por alguns dias — rolei os olhos, não conseguindo conter o sorriso ao ver os três saltitantes, comemorando em minha frente.

Camila entrou com o passarinho e as crianças em seu encalço. Arqueei a sobrancelha tentando entender o que estava acontecendo na minha vida. Meus pensamentos confusos foram interrompidos por risadinhas animadas dentro da minha casa. Sorri, seja lá o que fosse que estivesse acontecendo, não era ruim, afinal.

Minutos depois, uma taça de sorvete foi estendida em minha direção por uma Camila animada. Aceitei imediatamente, estava muito calor e eu estava louca pra prova-lo desde cedo.

A garota já vestida em um shortinho branco e blusinha amarela, sentou-se no chão com sua taça e foi seguida pelas crianças segurando as suas.

Observei as duas criaturinhas empolgadas ouvindo uma historinha infantil contada por Camila, a interrompiam o tempo todo com perguntas infantis, me fazendo rolar os olhos e corrigi-los algumas vezes, tento o olhar repreendedor de Camila sobre mim.

Dei graças aos céus quando uma senhora chamou as crianças mais tarde e eu pude ter paz novamente. Estava agora assistindo um filme qualquer na sala, enquanto ouvia Camila falar sozinha, ou melhor, com o pássaro enquanto cuidava do mesmo.

— Essa coisa não vai ficar muito tempo aqui, não é?

— Seja gentil. — Reclamou Camila me olhando feio — Ele deve ficar bom em poucos dias, é um bichinho muito forte, não é, babe blue? — ri de sua voz fina ao falar com a ave.

Camila foi até a cozinha e voltou com dois pratinhos de torta de morango. Lambi os lábios antecipadamente e quase o arranquei de sua mão. A garota balançou a cabeça sorrindo e sentou-se ao meu lado.

Assistíamos ao filme em um silencio confortável, até que algo chamou minha atenção instantaneamente. Os dedos de Camila pegaram delicadamente um morango e levaram entre os lábios levemente carnudos dando uma pequena e — diga-se de passagem — sexy mordida. Seus olhos fechados para apreciar o sabor e quando um pequeno gemido de aprovação saiu de sua garganta eu quase derrubei o prato, sentindo todo meu corpo formigar em arrepios.

Engasguei-me com o ar, e desviei meus olhos dela, levando uma colherada de torta a boca na tentativa de calar aquela sensação que percorreu o meu corpo.

Ouvi a risadinha da Camila e me surpreendi quando ela curvou o corpo, se aproximando de mim.

— Você parece uma criança, Lo, se suja atoa — a mão macia segurou meu maxilar enquanto o polegar limpou a parte provavelmente suja no canto dos meus lábios. Os olhos da garota focados na região acima do meu queixo me deixou inquieta.

Movida por meus impulsos, toquei sua mão em meu rosto e fechei meus olhos ao encostar nossas testas. Eu precisava daquilo e o faria sem pensar suas vezes, se o maldito celular que eu me esqueci de desligar não tivesse tocado e estragado o momento. Afastamo-nos de leve desviando nossos olhares.

Para nos livrar da tensão que se instalou entre nós, resolvi atender aquela merda sem ao menos olhar quem era.

— Alô? — Levantei-me e franzi o cenho ao escutar um respiração profunda, seguida de um fungar do outro lado da linha.

Arqueei a sobrancelha tirando o aparelho do ouvido para olhar quem era e fiquei confusa ao ver um numero até então desconhecido. Analisei-o e arregalei os olhos ao me dar conta que  aquele maldito numero era familiar, um numero que eu havia feito questão de deletar dos meus contatos.

O número da Keana.

Meu sangue pareceu fugir do meu corpo. Tremula desliguei a ligação com uma força desnecessária. Perguntas surgiram em minha mente.

Porque diabos ela resolveu me ligar? Porque ela estava fazendo isso comigo depois de tudo? Porque eu ainda me sentia assim? Caralho!

Dei impulso para atirar o celular na parede quando uma mão puxou a minha com delicadeza, me tirando o celular e o colocando sobre a mesinha. Sem reação eu me deixei ser levada até o sofá pela garota quem por um momento havia esquecendo a presença.

— Me deixa, Camila. — Funguei.

Senti meus olhos úmidos quando ela desceu as mãos por meus braços, me puxando para si. Envolvendo-me em um abraço.

— Não, eu não vou te deixar sozinha. — Seus dedos deslizaram por entre meus cabelos quando minha cabeça foi puxada contra seu peito.

Eu não conseguia organizar meus pensamentos, eu não sabia o que sentir mais. Minha cabeça estava confusa e cheia de duvidas. O rancor tomando conta do meu coração com as lembranças passadas ao lado da Keana, a única mulher que eu havia amado, a que me daria um filho. A que me traiu da pior maneira.

Talvez a única culpada fosse eu, que não conseguia ser boa o suficiente. As pessoas não mereciam a minha desagradável presença, eu era um fracasso.

— Chore Lo, desabafa e se quiser me contar, eu vou ouvir... — A voz irritantemente doce soou acima da minha cabeça, onde ganhei um beijo.

Meu corpo enrijeceu ao me dar conta que estava nos braços de alguém, sendo uma fraca como minha mãe me dizia. Comecei a ficar perturbada e me levantei com pressa, tendo seu olhar paciente sobre mim. Enxuguei o canto dos olhos, respirando fundo.

— E-eu vou deitar um pouco. — Informei sem olhá-la.

— Quer algum remédio? — neguei, sentindo raiva por ela ser tão boa — é só me dizer o que sente, eu vou cuidar de você.

Virei-me, olhando-a com fúria.

— Você está fazendo tudo isso por causa de um maldito contato com uma empresária? — Acusei — Não é necessário, Camila.

A garota inclinou a cabeça para o lado, provavelmente não entendendo meu nervosismo. Ela estava mais calma do que eu poderia suportar.

— Você vai mesmo entrar em contato com a sua empresaria? — Não consegui identificar sua expressão neutra.

— Se for pra me livrar de você, com certeza. — assenti uma vez.

— Você realmente quer que eu me afaste de você?

— Tem alguma duvida? — tentei parecer firme.

— Responde, Lauren — Sua mão de dedos trêmulos segurou meu queixo fazendo nossos olhos se encontrarem de perto — Você realmente quer que eu me afaste de você?

Engoli a saliva presa na garganta e fechei os olhos com força, segurando seus ombros com um pouco de força para afastá-la de mim. Odiava que me desafiassem, e o olhar de Camila me desafiava.

— Vá embora, eu não quero você aqui, não preciso da sua pena, porra! — esbravejei e fui até a pequena estante, pegando um litro de uísque, antes de subir as escadas em passos firmes.

Encarando o litro de uísque eu me praguejava por não ter conseguido beber para fugir dos problemas. Estava fora de mim por motivo que eu não conseguia entender. Horas haviam se passado e eu estava ali perdida em pensamentos.

Resolvi descer para comer alguma coisa e me surpreendi ao ver Camila adormecida no meu sofá. Aproximei-me lentamente e engoli em seco ao ver uma sombra de lagrima escorrida dos seus olhos que pareciam um tanto inchados.

Um aperto em meu peito fez eu me sentir uma merda por fazer aquilo com ela, eu estava sendo injusta com Camila por estupidez.

Suspirei, me inclinando para dar um beijo em sua testa. Camila não se moveu, aproveitei para lhe acariciar a bochecha.

— Eu não quero que você chore por minha culpa... — confessei baixinho. — Você não merece.

Camila se moveu, encolhendo-se no sofá, resmungando baixinho em seu sono.

— Ei, acorda — Chamei acariciando seu cabelo, ela entreabriu os olhos e me mostrou um sorriso pequeno e preguiçoso — Está ficando tarde, você precisa ir.

— Não, eu não vou deixar você sozinha — Sussurrou o mesmo que disse mais cedo, voltando ao seu sono.

Sorri, sacudindo a cabeça em negação. E prontamente providenciei um cobertor para ela. A cobri e fiquei velando seu sono por um tempo, enquanto me perdia em pensamentos. Eu precisava reagir e enfrentar os meus problemas de frente. Eu precisava voltar a ser a verdadeira Lauren Jauregui.

Despertei na manhã seguinte me sentindo muito mais disposta. Desci as escadas e fiquei confusa quando encontrei o cobertor dobrado no sofá e nem sinal de Camila. Fui até a cozinha e me surpreendi ao ver um belo café da manhã posto na mesa, enfeitado com uma tulipa branca em um copo com água.

Ah Camila!

Abri um largo sorriso, que se desfez quando notei um bilhete preso na janela que ela usava para invadir minha casa. Tirei o mesmo de lá e o li com atenção.

“Bom dia, Lolo! Sei que vai acordar faminta, por isso deixei um bom café da manhã pra você. Provavelmente deve está de ressaca também, tem um comprimido e chá na estante da sala pra você se sentir melhor. Já coloquei água nas flores e cuidei do Blue, ele será uma boa companhia hoje e se comportará muito bem. Eu volto mais tarde para deixar seu dia melhor. Não sinta saudades.”

Foi inevitável não rir. Ah se ela soubesse que eu não consegui beber a noite por causa dela. Ah se ela soubesse que já deixou meu dia melhor apenas por existir em minha vida.

 Ah se ela soubesse...