Fanfic: casamento de conveniência | Tema: Rebelde

Capítulo 25

Miguel fechou a porta ao entrar e acomodou-se na cadeira de couro. Olhou para a prancheta e cerrou as mãos em punhos fechados para conter a vontade que sentiu. Visualizou materiais como mármore e tijolos, imagens fluidas de vidro e curvas sutis. À noite, seus sonhos eram cheios de ideias, mas, agora, como dono da companhia, passava o dia em reuniões com o resto da diretoria.

Xingou em voz baixa. Sim, os outros diretores o irritavam, com seus comportamentos burocráticos e ideias para torrar dinheiro. A maioria se opunha à construção junto ao rio, considerando que a companhia iria falir se ele fechasse o contrato e não o cumprisse.

A diretoria tinha razão.

Mas ele tinha uma solução simples.

Não fracassar.

O jantar de Bustamante era no sábado à noite, e ele ainda não conseguira uma reunião com o homem. Giovanni Mendez também não o contatara. De volta ao começo, só lhe restava esperar o próximo movimento do homem e contar as horas até o jantar.  Talvez Bustamante estava apenas esperando para ver como seria o evento antes de marcar uma reunião, ao contrário do que dissera a Mia.

Mia...

Só o nome dela foi como um soco no estômago. Lembrou-se de como ela gritara, comemorara e saltitara em torno da sala ao ganhar a partida de xadrez na véspera. Era uma mulher adulta comportando-se como uma criança. E, de novo, ele morrera de rir. Estranhamente, apesar da beleza, as mulheres com quem se relacionava eram muito superficiais. Mia o fazia rir sinceramente, como na juventude.

O telefone celular tocou. Ele atendeu.

– Miguel falando.

– Você alimentou o peixe?

O moreno fechou os olhos e suspirou.

– Mia, eu tô no trabalho.

Ela bufou, irritada.

– Eu também. Mas pelo menos eu me preocupo com o coitado do Otto. Você alimentou ele?

Miguel franziu a testa, estranhando.

– Otto?

– Você o chamava de peixe. Isso o magoava?

– Os peixes não têm sentimentos, Mia. E sim, eu o alimentei.

– Os peixes têm sentimentos sim. E já que estamos falando de Otto, eu queria te dizer que estou preocupada com ele. Ele fica sozinho no escritório e ninguém nunca vai lá. Por que não o colocamos na sala, onde pode nos ver com mais frequência?

Miguel passou uma mão pelo rosto e pediu paciência a Deus.

– Porque eu não quero um aquário enfeiando o visual da sala principal. Ganhei a droga do bicho da Roberta, como uma piada de mau gosto, e o odiei à primeira vista!

Mia ficou algum tempo calada. Quando voltou a falar, sua voz estava gelada.

– Pra você ele também é um entrave, não é? Acho que você não gosta nem de gente nem de bicho. Lamento lhe dizer que peixes também precisam de companhia. Por que não compramos uma companheira pra ele.

O marido aprumou-se e decidiu encerrar aquela conversa ridícula.

– Não. Não quero outro peixe e não vamos tirá-lo do escritório. Fui claro?

Mia fez um vago barulho de concordância.

– Como cristal – disse ela, e desligou.

Miguel xingou, puxou para si a papelada resultante da reunião mais recente e mergulhou no trabalho. Aquela mulher se atrevera a perturbá-lo no trabalho por causa de um peixe!

Ele ignorou a imagem dela e voltou a trabalhar.