Fanfic: casamento de conveniência | Tema: Rebelde

Capítulo 35

Dias depois, Miguel estava à beira-rio e observava a fila de barcos na água. Ondas furiosas subiam e acertavam a praia como crianças mimadas dando crise. O pôr-do-sol laranja dissipava-se na escuridão ameaçadora, recortada pela fieira de luzes na ponte. O arquiteto enfiou as mãos nos bolsos do paletó Armani e respirou o ar puro e limpo. A calma o inundou ao olhar para o local que tanto amava e, mais uma vez, soube que ali era seu lugar.

Dez anos antes, o terreno na beira do rio estava tomado por traficantes de drogas e viciados em crack. A beleza da vista do rio estava escondida atrás de montes de lixo, os elegantes prédios de tijolos estavam vazios, com janelas quebradas que pareciam implorar socorro. Por fim, os investidores viram o potencial da área e começaram a torrar dinheiro, sonhando em restaurar a área.

Miguel e o tio examinaram o projeto com cuidado e esperaram. De alguma forma, ambos desconfiavam que aquela era a chance da empresa da família lucrar nacionalmente. A primeira pessoa corajosa a abrir um negócio no local atraiu uma nova clientela, que queria beber e comer enquanto desfrutava da bela vista. À medida que os policiais enfrentavam a violência, organizações não-governamentais investiam em projetos de caridade. Nos últimos cinco anos, o local provou ser digno da atenção dos investidores. Os restaurantes e o spa que Miguel queria construir mudariam a história do vale para sempre.

E ele sabia que só ele podia construí-lo.

Voltou a pensar na reunião com Giovanni Mendez. Finalmente havia conseguido fechar negócio. Agora, só havia um homem que bloqueava seu caminho rumo à realização de seu sonho.

Diego Bustamante.

Miguel xingou em voz baixa vendo o sol desaparecer. Giovanni concordara em dar o contrato a Nick, mas apenas se Diego Bustamante o aprovasse. Se Miguel não conseguisse convencer Bustamante de que era a melhor pessoa para o projeto, Giovanni escolheria outro arquiteto, e sua empresa perderia a chance.

Miguel não ia deixar isso acontecer. Era um homem que viajara muito em busca de conhecimentos sobre sua área. Estudara os lindos arcos dourados da Florença, as elegantes torres altas de Paris. Vira ilhas exóticas e virgens, os majestosos alpes suíços, as antigas pedras esculpidas do Grand Canyon.

Nenhum local ou vista o comovia e motivava como aquele terreno junto ao rio.

Um sorriso zombeteiro curvou-lhe a boca ao notar a cafonice daquele pensamento.

Estudou a vista por muito tempo, enquanto refletia nos problemas com a esposa, com o contrato, com Bustamante e não chegava a conclusão nenhuma. O celular tocou e o interrompeu.

Aceitou a chamada sem ver quem era.

– Alô?

– Mi?

Miguel sufocou a vontade de soltar um palavrão.

– Luz. O que você quer?

Ela ficou calada, e depois disse:

– Preciso lhe ver. Tenho algo importante a lhe falar, mas não pode ser pelo telefone.

– Estou no rio. Por que não vai ao escritório amanhã?

– Na marina?

– É, mas...

– Já tô chegando. Só dez minutos.

Ela desligou.

– Pu-ta que pariu – resmungou Miguel. Rapidamente pensou no que fazer e disse a si mesmo que podia ir embora. Mas sentiu-se culpado. Luz Viviana podia ainda estar  magoada por ele ter terminado o namoro tão de repente. Talvez precisasse gritar com ele mais um pouco. Talvez estivesse louca por Mia ter ‘vencido’.

Assim, decidiu esperar e ouvir o barraco dela, depois desculpar-se e seguir a vida.

Quinze minutos depois, Luz Viviana chegou.