Fanfic: casamento de conveniência | Tema: Rebelde

Miguel soltou um grito e levantou-se de um pulo, derrubando a cadeira, com o rosto registrando puro choque e incredulidade. O sorvete de chocolate, a calda e o chantilly se acumulavam sobre sua cabeça, escorriam por seu rosto e entupiam seus ouvidos.

– MAS QUE DIABOS!? – O grito dele veio cheio de raiva e confusão – emoções honestas, que a fizeram sentir-se imediatamente melhor.

Satisfeita, ela limpou as mãos meladas num pano de prato e se afastou. Conseguiu até exibir um sorriso agradável.

– Sendo o homem racional e esclarecido que você é, eu esperava que você afastasse Luz Viviana e honrasse nosso acordo. Em vez disso, você ficou se agarrando com ela em público, na marina, com a língua dela na sua boca e as suas mãos no corpo dela. Então, esta – ela apontou o sorvete na cabeça dele – é a minha reação racional e esclarecida a sua traição, seu filho da pu-ta. Aproveite a sobremesa.

Ela lhe virou as costas e subiu a escada.

. . . . .

Uma semana depois, Miguel viu a esposa circular nos aposentos e admitiu para si mesmo que havia cometido um erro.

Um erro grave.

Se fosse um homem mais fraco, ficaria com a vontade de voltar no tempo e reviver o dia do beijo com Luz Viviana. Afastaria Luz Viviana prontamente, contaria orgulhosamente à esposa o que tinha feito e teria um resultado diferente. Mas, como desprezava desejos tão medíocres, só havia uma coisa a fazer.

Sofrer.

Mia circulava entre os convidados como um pavão orgulhoso, usando um ousado vestido vermelho em vez do sofisticado negro que as mulheres da alta sociedade preferiam. Seus cabelos estavam presos para o alto, com cachos que caíam pelo pescoço e pelos ombros. Embora o tempo estivesse frio com a proximidade do inverno, com um vento gelado atormentando a cidade, ela desprezou a Mãe Natureza usando um vestido de seda fina e escorregadia, com decote pronunciado e alças bem fininhas. Felizmente o vestido era longo, cobrindo as pernas. Mas, quando andava, sempre aparecia um lampejo prateado em seu tornozelo, e ela calçava sandálias vermelhas de salto alto e tirinhas.

Ao descer a escada, ela praticamente o desafiou a falar alguma coisa. Mas, dessa vez, ele ficou calado, comentando educadamente como ela estava bonita e a conduzindo até o carro. Tudo devidamente acompanhado pelo gélido silêncio que se prolongava há uma semana.

Ele ficou irritado. Tinha sido ela quem jogara uma vasilha de sorvete em sua cabeça. E não se desculpara. Apenas o tratara com uma neutra cordialidade que o enlouquecia. Mantinha-se fora de seu caminho, restringindo-se ao quarto e ao silêncio durante o jantar.

Miguel não queria analisar por que o afastamento dela o deixava com vontade de agarrá-la e forçá-la a demonstrar alguma emoção. Não queria examinar a solidão que corroía suas entranhas, ou a saudade das partidas de xadrez com ela, das brigas e da presença dela ao seu lado à noite. Sentia falta dos irritantes telefonemas dela para o escritório, sobre Otto ou lhe implorando que adotasse um cachorro do abrigo.

Em vez disso, tinha o que quisera no começo daquela história.

Uma esposa apenas no papel. Uma sócia de negócios, que não ficava no seu pé e cuidava da própria vida.

Odiava aquilo.

A lembrança do último beijo deles apareceu em sua mente. Mas as palavras dela o intrigavam. Ela não via o quanto ele ardia por ela?

Achava que, na noite que tinham sido interrompidos pela polícia, seu interesse tinha ficado claro.

Em vez disso, ela jogara Luz Viviana em sua cara, como prova de que ele nunca a desejaria como desejava a ex-namorada.

Que Deus o ajudasse, mas nunca tinha desejado Luz Viviana como desejava Mia. Nunca sonhara com Luz Viviana nem ansiara por tocá-la ou por rir com ela. Nunca quisera brigar nem brincar nem ter uma vida com a ex-amante.

O que estava acontecendo com ele?

Miguel secou o copo com um gole só e cruzou a sala.

Talvez fosse hora de descobrir.