Fanfic: casamento de conveniência | Tema: Rebelde

Miguel fechou os olhos. Nada como uma mulher para decepcionar um homem.

A porta se abriu. Miguel imaginou a cena diante dos próprios olhos. Marina no vaso sanitário, chupando um picolé, com ele agachado no banquinho de vime na frente dela, com um bolo de papel higiênico amassado na mão.

– Ah, merda.

– Merda, merda, merda! – Marina repetiu alegremente. – Tá vendo meu sorvete, tia Mi? Ele que me deu! Meu novo melhor amigo!

Miguel esperou a explosão. As risadas. Qualquer coisa que não o silêncio sepucral na direção da porta do banheiro. Quando sentiu-se corajoso o suficiente para erguer o rosto, Mia o fitava com uma expressão de puro encantamento, choque e outro sentimento que ele não reconhecia. Era quase ternura.

Ela pigarreou.

– Você realmente é um gênio, baixinha. Morda e me devolva o picolé.

– Tá bom!

Miguel especulou por que Marina não se opôs à ordem de Mia e achou que devia se sentir grato. Sua esposa rapidamente embrulhou o resto do picolé em papel higiênico e o enterrou no meio do resto do lixo. Depois, cutucou Miguel para que ele se afastasse, tirou Marina do vaso sanitário e usou o bolo de papel higiênico que ele segurava para limpar a sobrinha. 

Mia ajeitou a calcinha de Marina, arrumou o vestido da menina, lavou as próprias mãos e as da pequena e enxaguou a boquinha da criança para limpar qualquer vestígio.

Depois de tudo isso, Mia saiu do banheiro com uma alegre menininha de três anos e um adulto muito confuso. Abaixou-se diante da garotinha e falou algo no ouvido dela. Marina assentiu e saiu correndo para se juntar aos outros convidados.

– O que você falou a ela?

– Eu disse que se ela disser uma palavra que seja a qualquer pessoa, nunca vai ganhar picolé da gente. Acredite, a pirralha sabe o que priorizar.

– Você não tá brava? – Miguel perguntou, perplexo.

Mia virou-se para encará-lo.

– Tá de brincadeira, né? Você não tem noção do tanto de coisas que já dei em segredo àquele anjinho. Ela chorou, não foi?

Miguel ficou boquiaberto.

– Como você soube?

– Acontece o tempo todo. Você não tinha a menor chance. – Mia sorriu. – Ah, e mais uma coisa, Miguel.

– O que é?

A esposa sorriu marotamente.

–Eu tô muito excitada nesse exato momento. Vou te mostrar o quanto quando a gente voltar pra casa.

Miguel ficou completamente atordoado.

– Tá de sacanagem comigo.

Mia reagiu com um beijo ardente e molhado, que lhe causou um arrepio, antes de se afastar com um sorriso safado.

– Não – garantiu ela. – Mas eu vou fazer muita sacanagem com você depois. – E saiu rebolando, deixando o marido para trás, ainda mais confuso e com muito tesão.

Mulheres...

. . . .

Duas semanas depois, Miguel perguntou-se se um homem perdia toda a capacidade de controle depois que fazia sexo com uma mulher.

Tivera uma reunião com Bustamante, que lhe garantira que até o dia primeiro de janeiro tomariam uma decisão definitiva. Durante todo o tempo em que estivera com o magnata, sentira-se agitado, pois a primeira pergunta de Bustamante fora sobre Mia, mas achava que havia disfarçado bem. Os investidores haviam diminuído a concorrência para apenas Miguel e Gastão Diestro, um arquiteto com escritório na Califórnia. Tinham mais uma reunião para revelar a maquete com o projeto final, marcada para antes do Natal. Graças a Deus Mia estava sendo um grande apoio, pois estavam quase na faixa de chegada. Infelizmente, Miguel não fazia ideia de qual era a preferência de Bustamante, o que o deixava extremamente nervoso.

Ao chegar em casa, estava louco para aproveitar um jantar quente e substancioso, assistir o jogo do Pumas e enroscar-se na cama com sua esposa, sem o menor plano de ir dormir. Abriu a porta, espanou o resto de neve nos sapatos e entrou em casa, perguntando-se com que rapidez podia comer, olhar o placar e começar com a parte importante da noite quando pisou em um pedaço de cocô de cachorro.

Ele rugiu de raiva e ergueu o pé. O couro italiano costurado a mão estava com uma mancha mais marrom do que o normal.  Seu lindo assoalho de madeira estava imundo. E no ar pairava o fedor de cocô de cachorro em vez do aroma da comida.

Ia matar sua esposa.

– MIA!

Ela veio correndo da cozinha, corada, talvez de culpa, talvez de vergonha, e parou abruptamente. Uma sombra magra e comprida veio atrás dela. Miguel estreitou os olhos ao ver o vira-lata magro e desconfiado que assombrava seus sonhos.

E decidiu que, com sexo ou sem sexo, sua esposa não mandava em sua casa.

– Fora com ele. Agora.

– Mas...

– Falo sério, Mia. Quero esse cachorro fora da minha casa. Pelo amor de Deus, olha o que ele acabou de fazer!

Ela sumiu na direção da cozinha, e quando voltou começou a limpar a sujeira com um saco de lixo e folhas de jornal. Miguel cuidadosamente desviou-se da sujeira, vendo-a atacar a bagunça com o mesmo fervor que defendia a decisão de trazer o cachorro para casa.

– Só me escute. Sei que não podemos ficar com ele. Não vou nem tentar lhe convencer. Mas o abrigo me ligou hoje e disse que o tempo dele havia acabado, que ele ia ser sacrificado. Não sei por que ninguém quis ficar com ele, ele é um amor, e se ficarmos dois ou três dias com ele eu lhe prometo que vou encontrar uma casa para ele.

A sombra pairou na cozinha, com olhos amarelos que não demonstravam emoção enquanto esperava a decisão. Miguel bufou, desgostoso.

– Ninguém o quer porque ele é um cachorro horroroso. Pode ser perigoso.

Mia engasgou-se.

– Ele é um doce. Não sabe nem rosnar. O abrigo disse que o encontraram numa estrada deserta, com a perna quebrada. Acham que o atiraram de um carro em movimento.

Merda.