Fanfic: casamento de conveniência | Tema: Rebelde

Capítulo 8

Não precisaram se preocupar em tocar a campainha. A família de Mia veio um a um até a porta, até a varanda estar lotada com as irmãs eufóricas, o irmão bem-humorado, a cunhada sorridente e o pai saudoso. Mia já havia telefonado antes para lhes avisar que estava noiva. Inventara uma história sobre como ela e Miguel se apaixonaram, começaram a namorar e com um mês haviam decidido se casar. Havia exagerado o passado dos dois, de modo que a família acreditava que sempre tinham mantido contato com o passar dos anos.

Miguel tentou esconder-se, mas as irmãs dela recusaram-se a permitir. Vicki e Celina atiraram-se nos braços dele, abraçando-o com força e falando juntas.

– Parabéns!

– Seja bem-vindo à família!

– Vicki, eu lhe disse que ele ia ser lindo. Não é romântico? Foram amigos na infância e agora vão se casar!

– Já marcaram a data do casamento?

– Quero ser madrinha!

Miguel parecia prestes a pular da varanda e sair correndo. Mia caiu na gargalhada e afastou-o das duas irmãs, puxando-as para um abraço.

– Parem de assustá-lo, meninas. Finalmente desencalhei. Não arruínem isso.

As duas riram. Eram gêmeas, mas não podiam ser mais diferentes: a única coisa que tinham em comum eram os olhos claros, herdados de dona Marina, a mãe. Vicki era magra, com cabelos loiros em corte Chanel e mechas cor-de-rosa. Era mais baixa que Celina, que era cheinha e tinha cabelos castanhos aloirados mais compridos. Eram apenas um ano mais novas que Mia e eram suas melhores amigas além de Roberta e da cunhada, Lupita.

Um gritinho exigente chamou a atenção da futura noiva. Ela ergueu nos braços uma menina morena, com enormes olhos azuis, e encheu a sobrinha, de 3 anos, de beijos.

– Furacão Marina – disse ela – este é Miguel Arango. Pra você, tio Miguel, pirralha.

Marina examinou-o com o cuidado e a atenção que só uma criança é capaz de ter. Miguel esperou a opinião dela com toda a paciência. Então, o rostinho infantil abriu-se num sorriso luminoso.

– Oi, Miguel!

Miguel sorriu de volta.

– Oi, Marina.

– Está aprovado – declarou Mia, e chamou Miguel para perto de si. – Preciso apresentar o resto. Minhas irmãs gêmeas, Vicki e Celina. Vicki é estilista, e Celina fotógrafa. – Ela sorriu orgulhosa para as irmãs. – Minha cunhada, Lupita. Você conhece o meu irmão Santos e meu pai, Franco. Família, este é Miguel Arango, meu noivo.

Ela nem mesmo engasgou-se com a palavra.

O pai apertou a mão de Miguel e puxou-o para um abraço.

– Miguel, há quanto tempo! – Franco deu um tapa no ombro do rapaz. – E forma um belo casal com a minha princesa.

Mia perguntou-se se via uma sombra vermelha no rosto de Miguel, mas depois achou que era impressão.

O rapaz pigarreou.

– Obrigado, sr. Colucci. Faz mesmo muitos anos.

Franco afastou-se definitivamente e olhou para o futuro genro e para a filha, com evidente curiosidade nos olhos.

– É verdade. Há muito tempo não tinha notícias suas, aí de repente descubro que você vai ser meu genro. Parabéns.

– Obrigado, sr. Colucci – repetiu Miguel.

Franco fez um gesto com a mão.

– Nada de formalidades. Você passou muitos anos atormentando a minha filha. Acho que foi por sua causa que ela soltou o primeiro palavrão – Ele deu um sorriso simpático ao rapaz. – Pode me chamar de Franco.

– Acho que continuo tendo esse efeito – brincou Miguel.

Franco riu. Lupita afastou-se de Santos e abraçou o futuro concunhado.

– Agora quem sabe eu tenha outra pessoa de fora da família para entender quando eu fico perdida na hora das histórias. – Os olhos castanhos de Lupita brilharam. – Quando eles se reúnem eu sempre perco o fio da meada!

Mia deu uma risada.

– Ele é irmão da Roberta, Lupi. Cresceu comigo. Acho que você vai continuar perdida.

Santos puxou a esposa de volta e a abraçou pela cintura.

– Ainda assim, é uma boa adição à nossa família. Mais um homem no convívio significa que não vou ser o único a sofrer com a TPM da mulherada!

Mia deu um soco no braço direito do irmão. Lupita deu outro no esquerdo.

Franco deu uma risada.

– Santos, não fale assim na presença das moças.

– Que moças?

Franco deu um tapa na nuca do filho.

– Vamos entrar. Pedro fez o jantar. Vamos comer, brindar com champanhe e depois conversar.

– Eu quero champanhe! – disse Marina, ainda no colo da tia Mia.

Franco sacudiu a cabeça em negativa para a neta.

– Pra você eu comprei refrigerante de limão. É transparente e tem bolhas, que nem champanhe. Comprei uma garrafa especialmente para este jantar.

Marina deu um gritinho feliz, e Mia a colocou no chão, vendo-a correr na direção da cozinha para participar da festa. O calor e a alegria de sua família envolveram-na como uma capa quente, e sufocaram o nervosismo em seu ventre.

Poderia continuar com aquela farsa? Usar uma simpatia para conhecer um completo desconhecido, rico, a fim de quitar as dívidas de sua família era uma coisa. Ter Miguel Arango em toda a sua glória por um ano era outra muito diferente. Se o pai desconfiasse que ela havia aceitado um casamento de fachada para salvar a casa, ele nunca a perdoaria. Nem a si mesmo.

Franco sofria do coração e nos últimos meses sua doença havia se agravado, com vultuosas despesas hospitalares. O orgulho próprio o impedia de pedir ajuda financeira aos amigos. Saber que a filha sacrificara a própria integridade para salvá-lo o destruiria.

Miguel observou-a com uma expressão estranha no rosto, como se tentasse entender algo. Os dedos dela tremeram, de vontade de tocá-lo.

– Tá tudo bem? – Perguntou ela.

– Sim. Vamos entrar.

Ela o viu entrar e tentou não se sentir ferida pela secura em seu comportamento. Ele já tinha lhe dito que não gostava de famílias grandes. Seria infantilidade de sua parte ficar tão ofendida pela postura dele.

Mia fortaleceu sua determinação, ergueu o queixo e o seguiu.