Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

31

“Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama. Mas não pensei que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer.”

Bob Marley

Abdicando do amor

 – Não, Christopher, não achei – respondi sendo sincera. – Apenas não vi motivos para chamá-lo.

 – Ótimo, então continua me afastando de você – disse se levantando e passando a mão nos cabelos. – Quem sabe eu não acabo me tocando e fazendo o que você quer.

 – Faça isso – respondi magoada. – Se quer sumir da minha vida, então vá.

 – É realmente isso que você quer? – Christopher já estava se afastando.

 – Não importa – repliquei, derrotada. – É o que você vai fazer de qualquer jeito.

 – É o que VOCÊ acha que vou fazer – rebateu – porque você não confia em mim.

 – O problema não é você. – Ainda. – Sou eu.

 – Eu sei – respondeu Christopher, passando a mão pelos cabelos e saindo da sala.

 Desatei a chorar no sofá. Augusto entrou no apartamento e viu minhas lágrimas, mas baixou o rosto e foi para seu quarto. Ouvi-o chamar Christian, mas não ouvi o que eles conversaram, só quando sua porta bateu. Entretanto, momentos depois, Christian apareceu na sala e se sentou do meu lado.

 – Quer assistir a um filme em que alguém morre?

 – Quero – ri. Enquanto eu tivesse minha família, eu ficaria bem. Acho que tinha chegado o momento de ir embora dessa casa e de achar meu próprio caminho, meu lugar ao sol, como dizia a música. Christian escolheu o pior filme que encontrou e deitou a cabeça no meu colo.

 – Christopher tem razão – ele disse tão baixo, que tive dúvidas se realmente tinha ouvido. Comecei a fazer cafuné em seus cabelos.

 – Você estava ouvindo atrás das portas de novo?

 – Estava – admitiu.

 – A conversa com Miguel também?

 – Sabe o quanto foi difícil não vir até aqui e quebrar a cara daquele infeliz outra vez? – perguntou se sentando e se virando para me olhar de frente. – Você não está considerando que ele mudou e se transformou no melhor homem do mundo, não é?

 – Claro que não. – Suspirei. – Ele não era o cara, Gu.

 – Christopher é o seu cara? – Essa foi a pergunta mais profunda que ele me fez em anos. Não precisei pensar para responder.

 – Ele é meu cara certo no meu momento errado.

 Passei muitos anos sonhando com o príncipe do cavalo branco e em todos os meus sonhos, ele tinha olhos azuis. Já fazia muito tempo que não pensava no meu garoto e hoje, comparado ao Christopher, ele parecia uma invenção boba de criança. Tudo que eu mais desejei estava bem à minha frente e eu não conseguia alcançar. Se fosse em outra época, em outra vida, talvez pudéssemos começar uma história, mas a minha vida já tinha muitos “era uma vez” para eu conseguir chegar em um “foram felizes para sempre” sem deixar meu coração em pedaços no caminho. Eu não tinha mais forças para lutar por algo que talvez nem acreditasse mais. Não valia a pena o sacrifício de entregar meu coração a alguém se sabia que um dia ele seria devolvido cortado e judiado, e que eu passaria anos tentando remendá-lo para acabar com um coração “quase bom”. Eu e Christopher estávamos em lados opostos da estrada da vida e era tarde demais para um retorno.

 – Dulce, ele nunca se apaixonou por ninguém, dá um crédito a ele.

 – Não se trata de confiança, se trata da vida, Christian.

 – Então você confia nele?

 – Não. – Eu não confiava, eu não confiava em homem nenhum e talvez nunca voltasse a confiar.

 – Então me desculpe, maninha, mas é, sim, uma questão de confiança.

 – Mas não é só isso. – Suspirei. – Vamos supor que ele realmente não vá embora, ou no caso, me mande embora, já que a casa é dele. Vamos supor que ele fique comigo, acompanhe minha gestação, esteja lá no dia em que meu filho nascer. O que Christopher se tornaria na vida dele?

 – O padrasto.

 Eu precisava de uma lousa e um giz.

 – Isso gera responsabilidades, Christian, e supondo novamente que ele tenha maturidade para lidar com elas, o que eu acho que ele não tem, eu acabaria com a sua vida. Ele ainda pode conhecer uma boa moça, sem problemas, sem passado e sem bagagem, pode namorá-la sem se preocupar se ela vai ou não entrar em trabalho de parto, e por fim pode construir uma vida ao lado dela a partir do zero, ser feliz ao invés de tentar remendar a minha vida ferrada.

 – Mas essa escolha é dele.

 É o que todos me diziam.

 – Mas quem vai conviver com ele sou eu. Quem vai olhar para ele daqui cinquenta anos e ver o peso disso tudo, sou eu. Quem vai conviver com a dor dele por ter tomado uma decisão errada sou eu. Porque depois que ele se envolver nisso, será muito mais difícil sair do que se fosse um relacionamento comum.

 – Você perdeu a fé – disse Christian com tristeza.

 – Eu perdi tudo.

 Mas não deixaria que Christopher também perdesse.

* * *

 Tendo tomado a minha decisão, peguei meu carro e fui até a residência dos Uckermann’s. Eu me sentia na obrigação de contar para Anahi tudo que eu sentia, porque nossa amizade estava mais ligada à minha vida sentimental que minhas calcinhas. Arrependi-me de não ter telefonado antes, porque encontrei apenas Vicente em casa.

 – Dulce, eu ia mesmo procurar você, entre, por favor. – E eu tinha opção? Entrei e ele me conduziu até a mesa da cozinha. – Sente-se. Eu quero que você me desculpe pela outra noite.

 – Eu é que peço desculpas, você tinha razão.

 – Eu tinha? – perguntou confuso.

 – Tinha sim, eu vou acabar com a vida dele. – Suspirei. – Eu ia acabar com a vida dele – corrigi. – Ele tem uma carreira brilhante, é lindo, gentil, quando quer. Nunca conheci um homem tão perfeito e apaixonante quanto seu filho.

 – Não estou entendendo, se ele é tudo isso…

 – É exatamente por ele ser tudo isso que eu não posso arrastá-lo para a minha vida nesse momento. – Solucei. – Eu não posso prendê-lo nas responsabilidades que tenho agora, não é a obrigação dele.

 – Ele já sabe?

 – Não e não vai saber até eu ir embora – confessei. – Espero que você guarde esse segredo, eu só vim me despedir da Anahi. Estou indo para a casa dos meus pais.

 Vicente não me perguntou mais nada e me apressei para ir embora. Eu tinha uma mudança para organizar, de novo.