Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – É aqui que você fica agora – anunciou Manoela, retirando a chave da porta que estava para o lado de dentro, fechando-a e me trancando ali. Procurei um interruptor de luz, mas não encontrei. Tateei pelas paredes até encontrar um móvel baixo, que imaginei ser um criado-mudo. Se ele estava ali, a cama não devia estar longe. Encontrei uma cama pequena demais para ser de casal e me sentei para poder pensar no que faria em seguida.

 Comecei a gritar. Eu não dava a mínima se ninguém me ouviria, eu só precisava me expressar de algum modo, porque era evidente que eu não conseguiria quebrar nada, não tinha como encontrar objeto nenhum no escuro. O medo faz as pessoas se transformarem. Gritei até não conseguir mais respirar, e quando não me deram atenção, resolvi bater na porta até sentir minhas mãos em carne viva. Respirei fundo e senti as ondas de pânico me preenchendo novamente.

 Pensa, Dulce, pensa.

 Depois de uma hora trancada eu já estava planejando matá-los. Eu tentaria roubar a faca e enfiaria em um deles, e o outro teria que parar para socorrer, e assim eu também o atingiria.

 Duas horas depois eu estava morta de sede, escorada na porta aos prantos. Eles me matariam. Eu tinha certeza.

 Depois de algum tempo eu não conseguia mais fazer uma estimativa de horas, o tempo parecia nunca passar, por mais que eu achasse que já tinham se passado horas, poderiam ter sido apenas minutos. Eu estava deitada no chão ao lado da porta, quando ouvi um barulho de outra porta abrindo e uma conversa.

 – Por que demorou tanto? – perguntou Manoela.

 – Você já tentou comprar isso sem receita? – perguntou Miguel irritado. – Ninguém vende. Tive que subornar um farmacêutico.

 – Ele explicou como faz?

 – Você não disse que sabia? – perguntou, alterando a voz.

 – Eu sei a teoria, vai servir. Me dá isso aqui. – Seus passos começaram a se aproximar da porta do quarto onde eu estava trancada. Arrastei-me rapidamente para longe da porta e me escorei em uma parede.

 – Levanta daí – disse Manoela assim que abriu a porta do quarto em um rompante. Olhei para o embrulho em suas mãos, eu não sabia dizer o que era. Voltei a olhar para seus olhos e ela riu. – Você parece um bichinho assustado. Levanta! – gritou. Obedeci. Ela andou alguns passos na minha direção com a faca em punho. – Sai do quarto devagar e vira para a esquerda.

 Parei em frente a outra porta.

 – Entra aí. – Não me mexi e, vendo minha resistência, ela colocou novamente a faca sobre minha costela, apoiando a mão livre no meu ombro e forçando a lâmina até que eu gritasse de dor. Sem alternativa, obedeci. Agarrei a porta e virei a maçaneta. Era um banheiro sujo e fétido. Encostei-me na parece cheia de mofo e esperei para ver o que ela faria em seguida. – Pega – disse, jogando o pacote que tinha nas mãos. Tirei o conteúdo do saco de papel e olhei para a caixa de remédio. Não entendi de imediato. – Você pensou mesmo que eu deixaria você ter um filho dele? – perguntou. – Pensou que faria meu filho dividir tudo com esse lixo que está dentro de você? – Alisou a barriga já aparente. – Vamos resolver esse problema, não vamos?

 Comecei a chorar novamente, entendendo onde ela queria chegar. Tinha sido sempre o bebê.

 – Por favor, Manoela, não faz isso – implorei, caindo de joelhos aos seus pés. – Eu não quero nada de vocês, nada dele.

 – Então por que você tinha que contar para ele, sua imbecil?! – berrou. – Nós não temos outra saída. Mais um passo em falso e os pais dele vão deserdá-lo. Eles não ficaram nada contentes quando presenciaram o fiasco que foi seu casamento. Ou o que não foi. – Riu sem humor algum na voz. – Você só estragou a minha vida. Eu jurava que havia sido ao contrário.

 – Meu bebê não tem culpa de nada – eu tinha que convencê-la.

 – Não interessa, abre a caixa! – ordenou, apontando para o remédio em minhas mãos. – Continuei sem me mexer. – Você que sabe, pode ser do jeito fácil ou do difícil, e se for do difícil, talvez você não saia viva daqui.

 – Ainda podemos esquecer que isso aconteceu, só me deixa ir embora. – Meu rosto já estava todo manchado de lágrimas e eu podia sentir o gosto do sal na boca, que eu não conseguia manter fechada por causa da respiração pesada.

 – Senão o quê? – perguntou, revirando os olhos e balançando a faca na minha direção.

 – Senão eu vou contar para todo mundo o que aconteceu aqui. – Que ela me matasse, mas eu não suportaria vê-la matar meu filho; se ele tivesse que ir eu preferia ir junto.

 – Não você não vai contar porque não quer morrer. Se contar é isso que vai acontecer com você. – disse sorrindo. Seu sorriso era frio e calculista, o sorriso de uma lunática. – Você vai sair daqui como se nada tivesse acontecido e contar a todos que perdeu o bebê de forma natural – me instruiu, com os olhos injetados de fúria. Será que ela realmente era tão burra para acreditar nisso? Que eu simplesmente diria o que eles quisessem?

 – Eu prefiro morrer com ele então. – Ou por ele. Tanto fazia.

 – Eu espero que você realmente morra nesse banheiro imundo sem que eu precise sujar as minhas mãos com o seu sangue. Vão demorar dias, meses, para encontrá-la. Até lá ninguém mais vai saber quem você foi, ninguém vai mais sentir sua falta.

 Aproveitei enquanto ela estava distraída pensando em uma maneira de dar cabo da minha vida e voei para cima dela, agarrando a mão que estava com a faca. Assim que percebeu meu movimento, Manoela gritou. Eu podia ouvir os passos de Miguel correndo em direção ao banheiro, então eu tinha que ser rápida. Seria minha única chance de salvar a vida do meu filho e a minha.

 Joguei meu corpo contra o de Manoela e tentei dobrá-la para que soltasse a faca, mas ela era forte, muito mais forte do que eu, e resistiu até Miguel chegar e me agarrar por trás.

 – Segura essa vagabunda! – pediu Manoela arrumando o cabelo que eu tinha bagunçado na minha tentativa frustrada.

 Ela pegou a caixa de papel no chão e a abriu, retirando de dentro do lacre quatro comprimidos. Abriu minha boca com violência segurando firme meu maxilar, tentei desesperadamente chutá-la, mas errei o golpe e Miguel me apertou contra a parede. Era o fim. Meu rosto estava imprensado entre ele e o azulejo imundo e gelado do banheiro. Ela voltou a abrir minha boca, colocando a faca com a outra embaixo do meu pescoço. Em seguida, colocou dois comprimidos na minha língua e antes que eu conseguisse cuspi-los, Miguel fechou minhas narinas com os dedos e tapou minha boca com a palma da mão.

 O oxigênio estava se esvaindo do meu organismo rapidamente, eu estava sufocando. Tentei tossir, mas suas mãos prendendo os caminhos do ar que deveria ser entregue aos meus pulmões me impediram. Tive uma vertigem e desabei em seus braços. Os comprimidos haviam se dissolvido.

 Estava feito.

 Miguel me jogou no chão e eu me encolhi em posição fetal.

 – Ainda falta inserir dois – disse Manoela, mostrando mais dois comprimidos para Miguel. Lembrei-me vagamente de ter lido sobre esse tipo de aborto, sobre onde aqueles dois comprimidos deveriam ser colocados. Comecei a me debater e a tentar me levantar. – Apaga ela! – ordenou Manoela.

 Eu não vi o que me atingiu, apenas senti uma dor lancinante na cabeça e tudo ficou escuro.

 Eu sei que seria crueldade parar aqui durante a maratona e só voltar no sabado, então por isso e por a fic estar atraindo mais pessoas ultimamente, amanhã de noite eu vou postar de novo mais um ou dois caps pra vcs. Até amanhã então pessoal! bjss!