Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – Mas deu caixa postal – completei.

 – Isso, então ela me ligou para confirmar se a Dul estava bem.

 – Para onde eles a poderiam ter levado? – perguntou Christian, deixando que as lágrimas molhassem seu rosto. Vê-lo tão fragilizado fez minha garganta se apertar, mas eu me recusava a derramar uma lágrima sequer por você; se eu o fizesse, estaria assumindo para mim mesmo que não a veria outra vez com vida.

 – Vamos ficar horas tentando encontrar alguma pista. Eles podem nem estar em um hotel – disse um dos policiais.

 – Eles não estão em um hotel, seria difícil mantê-la sem que ninguém visse. Eles devem ter alugado algum lugar – sugeri –, mas também precisariam de um carro para levá-la aonde quer que fosse, certo? – Não esperei confirmação. – E o da Dul foi encontrado, então ou eu eles vieram com o carro deles, ou alugaram um.

 – Mathias, vai conferir se tem alguma multa hoje na placa dessas pessoas – pediu Alfonso, entregando um papel com dois nomes escritos ao policial e se levantando.

 – Aonde você vai? – perguntei.

– Acordar um juiz – respondeu resoluto. – Quero um mandado para as locadoras. Nada pode ser feito esta noite, mas com a ordem em mãos e se não houver multas de trânsito, amanhã de manhã começamos as buscas.

 – Em uma noite ela pode não estar mais viva. – Me odiei por dizer as palavras, mas elas me sufocariam se ficassem dentro de mim. Christian que soluçava, soltou um grunhido e Augusto levou as mãos à cabeça.

 – Esse é o sistema, Christopher, não posso burlar isso – disse Alfonso pesaroso, saindo da sala.

 – Dane-se o sistema eu vou encontrá-la – eu disse, e saí da sala com meus amigos correndo atrás de mim.

 – Aonde você vai? – perguntou Augusto.

 – Até o supermercado – respondi sem outra opção. – Talvez eles tenham deixado algo cair. Uma pista, qualquer coisa. – Eu tinha que fazer qualquer coisa, ficar parado não era uma opção.

 – Eu vou junto – ofereceu Augusto, entrando no banco do passageiro assim que destravei o alarme. Christian sentou em silêncio no banco de trás, seus soluços preenchendo a noite vazia e dando voz aos meus piores pesadelos.

 Parei o carro próximo ao portão. Já estava fechado, lógico, eu sabia que estaria, só que minha intenção era pular o muro. Saí do carro e me afastei para dar impulso, mas alguém segurou meu braço.

 – Eu vou – disse Augusto, subindo na grade sem esperar por uma resposta. Olhei à nossa volta procurando uma pista, um sinal, uma luz, qualquer coisa, mas a única coisa diferente por ali era um morador de rua deitado sobre um papelão, todo coberto por um cobertor. Corri até ele e me agachei ao seu lado.

 – Senhor – chamei, e, como não obtive resposta, cutuquei-o para que acordasse.

 – Não me machuca, não me machuca, eu não tô fazendo nada! – disse acordando assustado.

 – Eu não vou machucar você, preciso da sua ajuda – informei, tirando o celular do bolso de trás da calça e apertando algumas teclas. – O senhor viu essa moça? – Mostrei-lhe uma foto sua que eu tirei enquanto você dormia na minha cama, quando pegou no sono nos meus braços pela primeira vez. Enquanto o homem olhava a foto, a lembrança ameaçou dominar meus pensamentos. Fiz de tudo para enterrá-la fundo, não poderia começar a lembrar de tudo agora. Não era uma opção me perder em uma lembrança, quando você, a Dulce real, estava em algum lugar e precisava de mim.

 – Eu vi sim – respondeu o homem por fim. Graças a Deus. – Ela entrou em um carro com uma moça de cabelo loiro – acrescentou, piscando para mandar o sono embora.

 – O senhor viu qual era a cor ou a marca do carro? – Seria pedir demais, mas eu tinha que tentar. – Sabe me dizer se ele tinha alguma marca, adesivo. Viu qual era a placa?

 – Era preto e tinha um adesivo de uma marca no para-brisa – respondeu na lata. – Eu sei porque eles chegaram e pararam o carro aqui na frente de onde eu durmo antes de entrarem no mercado, e eu fui pedir caixinha, mas eles me disseram não.

 – O senhor sabe o que estava escrito no adesivo? – Qualquer coisa, eu precisava de qualquer coisa.

 – Não, eu não sei ler, moço. – Meu coração afundou pelo homem, por mim e por você. – Mas eu sei desenhar – disse sorrindo. – Se puder ajudar o senhor…

 – O senhor acha que consegue? – perguntei esperançoso, procurando um papel nos bolsos. Achei uma nota fiscal, mas eu não tinha caneta. – Christian! – berrei –, me traz a caneta que está no porta-luvas. – Ele pegou depressa o que eu pedi e veio correndo ao meu encontro. Augusto chegou logo em seguida.

 – Não tinha nada lá dentro – contou, derrotado.

 – Mas eu consegui algo aqui – falei, entregando o papel e a caneta ao homem.

 Dois minutos depois eu tinha na minha nota fiscal o desenho de um logotipo de uma locadora de veículos conhecida, e o homem tinha todo o dinheiro que eu trazia na carteira. Aquilo ainda era pouco e eu quase o beijei.

 – Espero que a moça fique bem – disse o homem sorrindo, enquanto guardava o dinheiro no bolso e voltava a se deitar.

 Corri para o carro, jogando as chaves para Augusto. Ele me olhou surpreso, já que nunca deixei que ninguém dirigisse meu carro. Fingi não ver e me sentei no banco, já ligando para Alfonso.

 – Consegui, eles alugaram na Locaveículos, agora você consegue um mandado pra ontem? – perguntei de forma arrogante.

 – Como você conseguiu? Dane-se, o que importa é que não eu não consigo, mas você facilitou a minha vida. Me dá cinco minutos – pediu, encerrando a ligação.

 Pegamos o caminho da delegacia, mas Alfonso retornou antes que chegássemos ao destino.

 – Eu tenho o endereço do dono, mas isso é em off. Vai acordar o cara e faz ele dar a informação – disse baixo. – Me liga assim que descobrir, que eu vou enviar um grupamento pra lá.

 – O que ele disse? – perguntou Christian assim que desliguei.

 – É por nossa conta – respondi, enquanto jogava o endereço no GPS.