Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – Não sabemos de nada ainda – respondi, soltando seus braços para poder abraçar minha mãe.

 – Será que ela perdeu o bebê? – perguntou meu pai. Olhei para ele sem acreditar que pudesse estar me fazendo essa pergunta, principalmente por parecer esperançoso. Era patético.

 – Você ficaria feliz com isso não é? – disparei, soltando minha mãe para encará-lo. Depois do showzinho que ele tinha dado da última vez que fomos jantar lá, ainda tivemos mais uma briga por telefone. E agora ele me vinha com essa? Ele achava que me envolver com uma mulher grávida acabaria com o meu futuro e que eu deveria me concentrar em arrumar alguém sem problemas. Como se eu mandasse na merda do meu coração! Ele já era seu há muito tempo para que eu tivesse alguma chance contra esse sentimento que me sufocava.

 – Vicente, deixa o garoto em paz – alertou minha mãe, ríspida. – Não sabemos nem se ela vai sobreviver. – Virei o rosto para encará-la. O que eles estavam fazendo ali afinal? – Me desculpa, filho – falou minha mãe.

 Resolvi não responder, apenas voltei para junto da sua família. Lidar com a minha estava esgotando o resto das minhas forças.

 – Obrigado, garoto – disse Henrique me abraçando. – Os meninos nos contaram que foi você quem a encontrou.

 – Eles estavam comigo.

 Eu não queria agradecimento nenhum, eu não tinha feito nada demais, eu não cheguei a tempo. Minha expressão de dor deve ter ficado evidente, porque dona Eva, sua avó, juntou-se ao abraço.

 – Calma, meu filho, ela é forte – disse no meu ouvido. Eu queria acreditar nela.

 Eles me soltaram e sua mãe, que estava sentada em uma cadeira próxima, pegou minha mão.

 – Nós agradecemos tudo que você tem feito por ela – disse, enxugando as lágrimas. – Ela tem sorte de ter encontrado você.

 Eu não concordava.

 – Eu é que tive sorte – respondi, mas ela não me ouviu; estava olhando para a porta do pronto-socorro. Todos eles estavam. Alfonso tinha entrado e vinha caminhando em nossa direção. Quando deu mais um passo, entendi para onde todos olhavam: dois policiais entravam com Miguel algemado na recepção. Tinha sangue em seu rosto e um corte pequeno no supercílio. Augusto se levantou e começou a xingá-lo, seu pai teve que segurá-lo para que ele não avançasse sobre aquele monstro. Só que eu estava mais perto e ninguém prestava atenção em mim, por isso reagi antes de pensar no que fazia.

 Os policiais foram fazer a ficha e desviaram o olho do desgraçado por um momento. Era tudo o que eu precisava. Ultrapassei Alfonso, que vinha na minha direção, e me joguei contra Miguel, fazendo com que ele voasse para trás e batesse a cabeça na parede. Recuei o braço e desferi um soco em sua mandíbula com toda a força que pude. Não contente, bati de novo e de novo. Não sei quantos socos eu acertei antes que fosse segurado. O rosto dele pingava sangue e mesmo assim não me senti realizado, eu queria matá-lo.

 – Você quase matou a minha mulher e a minha filha!!! – berrei, tentando me soltar do aperto forte em meus braços. Eu estava tão alucinado, que não sabia nem quem estava me segurando.

 – A filha é minha – respondeu com certo esforço, apoiando-se em um dos policiais.

 – Não é mais, seu desgraçado!

 Fui arrastado para longe e o policial sumiu com ele por um corredor.

 Alfonso entrou no meu campo de visão e segurou meu queixo.

 – Christopher, pelo amor de Deus, se acalma – pediu. – Solta ele – ordenou ao outro policial que me segurava. – Calma, meu amigo – disse e me pegou pelo braço, para me sentar em uma cadeira.

 Todos me olhavam. Só vi reprovação pelo meu ato vindo do olhar do meu pai, mas não me importei, era o mínimo que eu poderia ter feito por você nesse momento. O choro de Anahi chamou a atenção de Alfonso e ele se virou para abraçá-la, enquanto sua avó se sentava ao meu lado e pegava minha mão.

 – Obrigada, filho, eu queria ter feito o mesmo – sorriu. – Só para sentir o gostinho.

 – Foi pouco – respondi, passando a mão pelo cabelo, exasperado. – Foi muito pouco.

 – Foi sim – concordou. Eu gostava da dona Eva. Demais.

 Dr. Arthur apareceu no meio do grupo.

 – Todos são familiares? – perguntou olhando para ninguém em especial.

 – Sim – respondeu Henrique.

 – As notícias são preocupantes – admitiu enfim, olhando somente para seu pai. – Ela teve uma hemorragia interna grave e precisamos de muitas bolsas de sangue para estabilizá-la. Conseguimos conter o sangramento, mas infelizmente ela ainda não acordou, acreditamos que ela tenha entrado em um coma temporário. Ela está medicada, mas vai ficar na Unidade de Terapia Intensiva, pelo menos até amanhã. Agora é a hora em que a medicina pouco ajuda, é hora de rezar para que ela reaja ao medicamento e que desperte.

 Todos começaram a falar ao mesmo tempo e a fazer perguntas, mas se esqueceram do principal.

 – E a bebê? – Todos olharam para mim.

 – Viva, a bebê está viva – respondeu sorrindo. Respirei aliviado, ela tinha conseguido!

 – É uma menina? – Meu sorriso brotou sem que eu me desse conta.

 – Sim, você acertou, garoto, é uma menina.

 A minha menina. Todos fizeram exclamações positivas, até Augusto me pareceu também estar aliviado. Agora eu tinha certeza de que você conseguiria, lutaria pela filha, você lutaria contra tudo e quando acordasse, eu estaria ao seu lado.

 – Nós podemos vê-la? – perguntou sua mãe, abraçando o marido.

 – Sim, de dois em dois e sem demoras – disse o médico, conduzindo seus pais até você.

 Devagar todos entraram para vê-la. Eu fiquei por último e entrei sozinho na baia em que você estava na UTI. Sentei na cadeira e agarrei sua mão, que estava roxa de tantas picadas de agulha, havia um acesso preso a ela que lhe fornecia medicamentos. Você estava entubada e inchada. Nem nos meus piores pesadelos eu teria imaginado essa cena. Se eu fechasse bem os olhos, ainda conseguia vê-la sorrir, se irritar, sua expressão de culpa quando tinha comido o meu sorvete pela primeira vez, cada curva do seu corpo – eu tinha memorizado tudo, guardado cada parte sua dentro de mim.

 – Se você acordar eu juro que eu vou provar que mereço ficar ao seu lado – prometi. – Eu vou provar que posso fazer vocês duas felizes, meu amor.

 Sua falta de reação deixava meu coração pesado, então abaixei minha cabeça e a encostei em sua barriga.

 Chorei novamente.

 Você não acordou.

 Segunda parte da maratona, como prometido. As coisas ficaram feias, mas pelo menos nós sabemos que está tudo bem. Até sabado gente! Bjss!