Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

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“Ninguém cruza nosso caminho por acaso e nós não entramos na vida de alguém sem nenhuma razão”.

Chico Xavier

Realidade

 Ouvi Christopher me pedir para acordar. Eu não sabia desde quando estava consciente, mas não me lembrava de nada antes que sua voz chegasse até meus ouvidos. Meu corpo inteiro estava dormente e estranho, o sono era pesado e eu não tinha vontade de abrir os olhos, mas ele falou sobre minha filha, não consegui entender o quê, mas eu soube que tinha que encarar a verdade. Fiz uma força incrível para abrir os olhos e continuar com eles abertos. Apertei a mão de Christopher, mas meus dedos não funcionaram como eu gostaria. Mesmo assim ele olhou para cima. Eu me sentia entorpecida, minha garganta tinha um gosto horrível e estava dolorida, e mesmo não sabendo se conseguia falar, eu tinha que fazer um esforço. Por ele, pelo bebê…

 – O… Miguel… – gaguejei. Parecia que as palavras ficavam presas no céu da minha boca.

 – Nós sabemos, amor – disse Christopher com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele levantou da cadeira e se jogou sobre meu corpo em um abraço desajeitado, beijou meus lábios, uma, duas, três, dez vezes. – Vai ficar tudo bem, você está bem.

 – O bebê. – Eu queria saber do meu bebê, só ele importava.

 – Ela está bem – respondeu.

 Olhei para ele, semicerrando os olhos. Ele poderia estar mentindo para mim; eu mentiria se fosse ele.

 – Eu juro – reafirmou –, ela está bem, até ouvi o coraçãozinho há alguns dias.

 – Dias? – perguntei com esforço. – Ela? – Eu sabia que ele chamava o bebê de “ela”, mas dessa vez ele disse com alguma certeza no olhar.

 – Sim, ela. É uma menina – disse sorrindo. Meu coração bateu mais rápido. Eu teria uma menina, uma menininha que ainda possuía batidas em seu pequeno coração. Agradeci aos céus em silêncio. – Você dormiu por vários dias.

 – Sua barba está horrível – informei. Ele passou a mão pelo queixo e fez cara de surpreso, como se não soubesse que tinha barba.

 – É acho que você está realmente bem – respondeu e eu tentei sorrir. – Já está até reclamando das coisas.

 – Eles tentaram… sorvete… – Eu queria explicar o que tinha acontecido, contar a ele tudo que eu tinha passado, mas as palavras fugiam de mim. Eu estava com sono. Fechei os olhos por um momento somente para piscar, mas se tornou um trabalho muito árduo reabri-los…

* * *

 A luz do sol começou a me incomodar, tentei me virar de lado, mas meu corpo reclamou, então abri meus olhos para encarar diversos pares de outros olhos assustados e felizes. Meus irmãos, meus pais, Anahi e Christopher – todos estavam à minha volta. A primeira coisa na qual reparei foi que Christopher estava sem barba. Por um momento não me lembrei de por que eu quis tanto fugir dele. Seus olhos brilhavam olhando para os meus. Eu o amava tanto! Só de vê-lo, meu coração palpitava e as borboletas no meu estômago começavam uma longa canção.

 – Oi, Bela Adormecida – cumprimentou Christian, com os olhos cheios de lágrimas. Sorri.

 – Oi. – Minha palavra saiu fraca, minha garganta ainda estava em um estado deplorável.

 – Nunca mais… – começou Augusto. Já? Eu mal tinha acordado. – Nunca mais tenta matar a gente de susto. Você tem noção de como ficamos preocupados, sua desmiolada?

 – Ela mal acordou e você já está enchendo o saco? – perguntou Anahi de mau humor. – Mas ele tem razão, você está terminantemente proibida de quase morrer outra vez.

 Ao ouvir a menção da palavra “morrer”, minha mãe começou a chorar e correu para junto da cama, jogando-se sobre mim. Reclamei e ela se levantou só o suficiente para não me esmagar.

 – Eu a amo tanto, tanto! – soluçou. – Eu não sei o que faria sem você, filha.

 Meu pai se juntou a ela no abraço pelo outro lado da cama.

 – Nós dois a amamos muito, filha.

 Eram tantas lágrimas em cima de mim de uma vez só, que fiquei com medo de morrer afogada.

 – Eu também amo vocês… mas vocês estão… me esmagando… – consegui dizer.

 – Desculpa – disse meu pai, levantando-se. – Só estávamos com saudades, ursinha.