Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – Chega, ela tem que descansar – disse uma enfermeira, da porta. – Todos para fora, menos você. – Apontou para Christopher. – Você não sai, mesmo, não importa o que a gente tente.

 – Não antes de eu abraçar a minha neta – disse minha avó, entrando no quarto e passando por ela. – E minha bisneta também. – Sorriu. Ela entregou um saco de papel com algo dentro para Christopher e uma lata de refrigerante antes de chegar perto da cama e passar as mãos calejadas por meu rosto, colocando meu cabelo para trás. – Como é bom ver seus olhos abertos. – Uma lágrima escapou de seu olho e ela a limpou rapidamente. – Se você aprontar uma dessa de novo vai levar a surra que eu nunca dei, está entendendo, mocinha?

 Meus olhos também estavam molhados; como era bom ser amada. Confirmei com a cabeça e ela se levantou, não sem antes beijar afetuosamente minha testa. Em seguida, vovó colocou todos para fora, enxotando-os com as mãos.

 – O que ela trouxe? – perguntei para Christopher, assim que minha família deixou o quarto. Ele abriu o saquinho para olhar antes de responder.

 – Um sanduíche natural, você quer? – perguntou, aproximando-se da cama e sentando-se ao meu lado.

 Neguei com a cabeça. Já era ruim falar, comer estava fora de questão. O que fizeram com a minha garganta? Me entubaram com um cano de PVC?

 – Vou pedir para alguém trazer uma sopa, pode ser?

 Concordei, porque estava realmente com fome. Ele saiu do quarto e eu me virei para olhar ao meu redor pela primeira vez. Levei um choque. Tinha um vaso com dúzias de rosas em cima do criado-mudo, um na mesinha de apoio, outro em cima do frigobar e mais um no chão, próximo à janela. Fora os arranjos com outras flores que estavam espalhados pelo quarto. Christopher voltou com a cara amarrada.

 – Vocês já estavam se preparando para o meu funeral? – perguntei, apontando para um dos vasos.

 – Nem brinca com isso – respondeu, irritado. Ninguém parecia ter paciência com minhas brincadeiras. – Esse quarto estava sem cor, então eu pedi que entregassem algumas flores aqui.

 – Por que você já está bravo? – Ele podia ter me dado pelo menos uma semana de crédito.

 – Me desculpa, não é com você.

 Nesse momento a enfermeira entrou no quarto carregando uma bandeja.

 – Boa noite, querida – disse sorrindo. – Vamos sentar? Eu vou ajudar a…

 – Pode deixar que eu faço isso – interrompeu Christopher, retirando a bandeja das mãos dela e ganhando um olhar severo em troca. Ah, a cara de mau era para ela. Então tudo bem.

 Ela se despediu de mim com um aceno e saiu do quarto. Christopher colocou a bandeja em cima da mesa de apoio e subiu minha cama para que eu conseguisse comer. Então ele pegou a bandeja de volta e colocou em cima das minhas pernas, enquanto se sentava ao meu lado.

 – Eu posso fazer isso sozinha – disse quando ele colocou a primeira colherada na frente do meu rosto.

 – Não me importa – respondeu ele. – Quero fazer tudo por você.

 Christopher terminou de me dar a sopa na boca e colocou a bandeja em cima da mesa de cabeceira.

 – Você vai me dar banho também? – indaguei. A ideia era bem atrativa.

 – Você acha que eu vou perder a melhor parte? – respondeu rindo.

 – Então mal posso esperar! – Ele largou a colher e suspirou; seu rosto se contorceu de dor.

 – O que foi? – perguntei, preocupada, agarrando seu braço, mas ele não respondeu – Christopher, o que foi?

 – Eu tive tanto medo – respondeu, abaixando os olhos para o chão.

 – Medo de quê? – Eu já sabia a resposta, mas queria ouvi-la dos lábios dele.

 – De perder vocês, Dulce – respondeu, olhando para mim intensamente. Seus olhos marejados brilhavam, eu nunca o tinha visto tão fragilizado e tão lindo em toda minha vida. – Eu não sei o que faria se perdesse vocês.

 Amei o fato de ele ter dito “vocês” em vez de “você”. Meus olhos também marejaram e eu o puxei para um abraço.

 – Eu estou aqui – respondi.

 – Mas por quanto tempo? Ou você acha que eu não sei que você ia embora? – informou, cravando seus olhos castanhos nos meus. Tive vontade de passar meu polegar embaixo deles e sumir com suas lágrimas e sua dor.

 – Não sei – fui sincera. Eu realmente o amava, mas não queria ser um peso na vida dele.

 Passei mais alguns dias internada depois que despertei. Quase não acreditei quando Christian veio me visitar e me contou, por cima, que eu havia ficado quase dez dias desacordada, em coma. O que eu não os tinha feito passar? Tentei perguntar como eles me encontraram e o que tinha acontecido com Miguel e Manoela, mas suas respostas foram vagas e vazias, assim como as de Christopher e de meus pais. Ninguém estava disposto a me contar nada. Me senti chateada, mas eu entendia que eles estavam apenas tentando me poupar. Ouvi conversas sussurradas entre Christopher e Augusto uma vez, mas não consegui entender direito sobre o que falavam; acho que tinha algo a ver com Luiza, sobre ela querer me ver, mas nada, absolutamente nada me foi perguntado e ela não apareceu. Melhor assim. A última visita que recebi do meu passado tinha terminado quase por me matar e eu queria enterrá-lo de uma vez por todas e seguir com a minha vida. Até Mariana e Vicente vieram me ver, me trouxeram flores e foram muito gentis. Me surpreendi com Vicente, sua atitude havia mudado muito e ele foi cordial e simpático.