Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – E você me fala agora? – perguntou minha irmã, irritada. – Por que não contou quando eu estava com as mãos no pescoço daquela vaca?

 – Nunca ficamos sabendo disso – disse Augusto. – Ela nunca saiu sem a gente quando estávamos lá.

 – Tirando aquele ano em que ela foi antes cuidar da nossa avó e quis voltar para casa assim que chegamos – rebateu Christian, virando-se para olhar para o irmão no espaço entre os bancos. – E pensar que eu saí com aquela menina…

 – Por que ela nunca nos contou? – perguntou Augusto.

 – Provavelmente porque ela ficou arrasada no dia – respondi.

 Em um flash tudo voltou à minha mente. Tínhamos acabado de chegar à cidade quando a vi pela primeira vez, andando na rua. Seu cabelo loiro balançava com o vento e embora eu fosse um pouco mais velho, não deixei de me sentir atraído por sua beleza. Encontrei-a em outras situações depois daquela, mas você nunca reparou em mim e eu nunca tive coragem de me aproximar. Naquela noite na praia, eu a reconheci imediatamente assim que a vi sentada dentro daquele rio. Seu olhar estava perdido e você ficou sem reação. Lágrimas manchavam seu rosto e pingavam em sua roupa já encharcada. Eu não pensei duas vezes antes de sair de onde eu estava e entrar lá para ajudá-la. Eu queria que você parasse de chorar, queria vê-la sorrir, sorrir para mim. Eu lhe entreguei as rosas que havia comprado para minha avó naquela tarde e lhe beijei. Havia dias em que eu já estava pensando em como seria beijar sua boca, mas nunca tive oportunidade de conhecê-la antes daquela noite. E depois disso, jamais consegui esquecer a minha garota do rio.

 – Então você já vinha se aproveitando da minha irmã há muito mais tempo do que eu imaginava. – Sempre poderíamos contar com Augusto para arruinar um momento.

 – Eu já era apaixonado pela sua irmã – rebati e me fechei no meu próprio mundo. Evitei conversar até chegarmos a Garopaba, mas não deixei de prestar atenção na mão do Poncho nem por um momento. Se ele a subisse um pouquinho mais na perna da minha irmã, ficaria na estrada.

 A garota do rio morou nos meus pensamentos por muito tempo. Sonhei acordado com seus cabelos loiros sendo bagunçados pelo vento mais vezes do que eu poderia contar. Como desejei saber seu nome… Vê-la outra vez… Quando comecei a estudar com Augusto na faculdade de medicina, ficamos amigos imediatamente. Aliás, até hoje me pergunto o que eu vi nele. Depois de alguns anos, ele me mostrou uma foto da sua irmã em seu celular e então eu soube… Soube que era você. Mas também soube que você já estava noiva de outro homem.

 O que você nunca soube é que eu estava lá no dia do seu casamento, eu fui. Eu tinha que vê-la de perto uma última vez, antes que você se tornasse um sonho proibido. A mulher de outro. Eu disse para os meninos que não iria, mas convenci Poncho a me acompanhar na viagem depois que eles saíram. Sentei-me no último banco e a vi quando entrou na igreja ao lado do seu pai, segurando um buquê de flores amarelas, eu vi quando você olhou ansiosamente para o cara ao lado do padre e ele não lhe deu a mínima atenção. Naquele momento eu quis gritar para que você parasse, para que me visse, mas o que você diria?

 Na realidade, não nos conhecíamos, não de fato. Provavelmente eu já fosse uma lembrança há muito esquecida em sua memória, por isso me segurei. Quando o babaca anunciou para os convidados que o casamento não aconteceria, por um momento eu fiquei feliz. Você seria livre novamente, eu me permiti sonhar acordado, até vê-la passar correndo por mim aos prantos. Levantei e fui atrás de você. Annie quando uma mulher vestida de vermelho a parou e percebi que vocês discutiam. Poncho me encontrou e me distraiu, pedindo para eu não fazer nenhuma besteira. Sendo meu amigo de longa data, ele conhecia bem nossa história. Porém, quando olhei novamente, você já estava entrando em um táxi. Eu não poderia fazer mais nada naquele momento. Fomos embora sem sermos notados.

 Quando você veio morar em casa – sim, o convite partiu de mim, eu plantei a semente e o convite na cabeça do Christian –, tentei me manter afastado. Você estava carente e devastada e eu tive medo. Medo de me entregar para um sentimento que poderia não ser correspondido. Eu era novo nesse lance de amar, nunca descobri como a coisa toda funcionava. Não até me pegar imaginando a sensação dos seus lábios nos meus novamente, quando olhamos para as estrelas em uma praia deserta.

 Mas nesse mesmo dia você me disse que iria embora logo, e comecei a pensar que talvez não valesse a pena arriscar. Foi o mesmo dia em que reparei no seu corte de cabelo novo. Não fiz de propósito, mas me dei conta de que estava tão obcecado por você que era até capaz de saber dizer se seus cabelos estavam ou não meio centímetro mais curtos. Tentei ficar com outra mulher aquela noite. Eu precisava parar de pensar em você, não era saudável. Recebi uma ligação de um antigo caso e fui me encontrar com ela. Não fiquei nem cinco minutos com a garota, eu só conseguia pensar em você, no seu sorriso, no seu rosto, no seu corpo, até na sua maldita mania de roubar meu sorvete. Eu gostava de tudo em você. Não consegui. Não cheguei nem a arrancar com o carro, muito menos encostei na garota. Despachei-a na porta de sua própria casa, tirando suas mãos de cima de mim com nojo. Não ia rolar. Meu coração já tinha feito sua escolha, eu gostando dela ou não! Terminei a noite enchendo a cara em um bar. Amar era patético, não era?