Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – Só para provar que eu não consegui parar de pensar em você nem um minuto durante o meu dia – disse Christopher, sorrindo e me entregando as flores. Eu fiquei sem palavras, mas dessa vez não fui remetida ao meu garoto de olhos azuis. Quer dizer, fui remetida a um garoto, mas não mais ao meu garoto do passado. Viajei para o dia em que cheguei a esse apartamento pela primeira vez e encontrei uma rosa na minha cama. Também recordei quando acordei no hospital e havia uma dúzia de rosas brancas na minha cabeceira.

 – Foi você o tempo todo? – perguntei. Ele tirou as flores da minha mão e as colocou sobre a bancada de mármore, olhando para mim confuso, sem entender a pergunta. – Que me deu as rosas?

 – Eu espero que sim – respondeu e me beijou. Não era essa a resposta que eu queria, mas não me importei, me agarrei a ele e me deixei levar por esse sentimento novo e sufocante que tentava sair de mim. Passei a mão por seu rosto enquanto ele me beijava e tentei sentir todos os contornos de sua face com as pontas dos meus dedos.

 – Christopher, Augusto vai matar você!

 Nos assustamos e nos afastamos num pulo, indo parar um em cada parede. Christian estava de braços cruzados no meio da sala de jantar nos olhando sem expressão. Não foi bem assim que pensei que ele descobriria, mas pelo menos não era Augusto.

 – Não vai, porque você não vai contar – exigi indo em direção a ele, que me ignorou e encarou Christopher.

 – Quais são suas intenções com a minha irmã?

 Fiquei quieta porque Christian falava sério e eu soube que era o melhor que ele conseguia fazer para não dar uma de machista radical.

 – As melhores – respondeu Christopher, passando as mãos pelos cabelos e indicando que todos se sentassem no sofá. – Eu deveria ter conversado com vocês antes, mas…

 – Eu já sabia – disse Christian a contragosto. – Ninguém pega um avião para ir buscar uma garota de que não goste.

 Será que já naquela época ele pensava em mim de outra forma? Mas tínhamos acabado de nos conhecer, eu tinha acabado de devorar o sorvete dele…

 Christian continuou:

 – Mas eu espero que isso seja algo sincero e sério porque se você tiver a intenção de usar a minha irmã e jogá-la fora, eu juro que eu mesmo abro a cova que Augusto vai enterrá-lo, estamos entendidos?

 – Estamos – respondeu Christopher, aliviado. Isso não era nem de longe uma grande declaração de amor, mas meus olhos marejaram, abandonei as flores no sofá e me joguei no colo do Christian, que me apertou.

 Ganhamos uma babá durante a noite e fui obrigada a dormir no meu quarto. Eu até pensei em escapar para o quarto do Christopher, mas Christian já era bem mais calejado nessa vida de crime do que eu e parece que ele tinha desenvolvido um novo hobby: usar do banheiro que ficava entre meu quarto e o de Christopher ao invés de sua própria suíte, sempre passando para me dar um “oi” na volta. Eu ficava grata que ele estivesse cuidando de mim, mas teria ficado muito mais se ele tivesse sumido de casa essa noite. Esse era o problema de não ter uma irmã; ela teria se tocado e me dado privacidade.

 Na manhã seguinte acordamos cedo e fomos para o sítio. Eu esperava do fundo do meu coração que meu outro irmão não tivesse atrapalhando tanto a Anahi quanto o que tinha ficado me atrapalhou. Eu esperava que ela tivesse conseguido ter um momento a sós com Poncho antes que chegássemos.

 A viagem quase não demorou. O sítio ficava perto de uma cidade pequena onde paramos para abastecer a Land Rover e nossos estômagos, para enfim podermos pegar a estrada de terra. Depois que já tínhamos percorrido algumas subidas e descidas e virado em várias ruelas arborizadas, comecei a sentir um leve desconforto com o balanço do carro – balanço era uma maneira civilizada de dizer que parecia que estávamos dentro de uma batedeira. Senti a bílis subir pela minha garganta e travei os dentes para não deixar a coxinha da loja de conveniência no tapete do carro. Eu não conseguia falar, porque tinha certeza de que se abrisse a boca, mais do que palavras escapariam dela. Apertei o braço do Christopher que estava na minha perna e ele me olhou. Num primeiro momento ele não entendeu minha expressão de pânico, mas comecei a movimentar os braços pedindo que ele encostasse o carro. Assim que ele o fez, abri a porta e dei “tchau” para o café da manhã.

 – Você está passando mal de novo? – perguntou Christopher. Claro que era uma pergunta retórica; ele não era cego. Ele colocou as mãos nas minhas costas e as massageou em círculos até que não restasse mais nada dentro de mim.

 – Está tudo bem – garanti, tomando um gole de água mineral que eu havia comprado há pouco. – Provavelmente viajar no liquidificador revirou meu estômago.

 Ele não respondeu, mas ergueu uma sobrancelha e jurei que ele falaria alguma coisa, mas olhou pelo retrovisor para o meu irmão desmaiado do banco de trás e decidiu ficar calado.

 Assim que despejei o café da manhã em uma moita, me senti bem melhor. Não havia mais vestígios de nenhum mal-estar, então relaxei.