Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

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“O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele desafia todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.” Agatha Christie, A última sessão.

Te vejo, logo te amo

 Christopher tentou passar seus braços em volta de mim, mas não permiti. Afastei-me de seu corpo, colocando minhas mãos como empecilho para que ele não me alcançasse, e me escorei na parede. Olhei para o chão, pensando na certeza de que não estava mais sozinha e nunca mais estaria e deixei as lágrimas rolarem. Fui escorregando pela parede e só parei de descer quando atingi o chão. Christopher passava a mão pelos cabelos e me olhava com pena, com a testa franzida, decerto pensando o que seria de nós agora. A grande verdade é que não existia um “nós”; um beijo nos dias atuais não significava mais nada, e mesmo que naquele momento eu tivesse certeza de que abrigava alguém dentro de mim, nunca me senti tão sozinha.

 – Vem aqui, levanta do chão – disse ele, ao me estender a mão. Isso era tudo o que ele poderia fazer por mim agora: estender novamente a mão. Quando ele viu que eu não a aceitaria porque abracei a mim mesma para tentar preencher o vazio que me dominava, ele se abaixou diante de mim e tirou meu cabelo do rosto.

 – Eu não vou abandonar você – ele me disse enquanto segurava meu rosto e me obrigava a encará-lo. – Eu nunca mais vou abandonar você.

 Ele nunca havia me abandonado antes, então não entendi sua promessa, mas entendi que ele falava sério. Seus olhos estavam cravados nos meus para que eu não tivesse mais para onde fugir. E aonde eu iria dessa vez?

 – Você não entende! – gritei. – Isso é grande, é muito maior do que nós dois.

 – Não precisa ser. – Ele enxugou minhas lágrimas e me levantou do chão, me puxando de encontro aos seus braços.

 Eu poderia acreditar nisso? Poderia acreditar que ainda teria alguma chance disso não nos engolir? Eu não sabia e não queria descobrir. Deixei que ele me pegasse no colo e envolvi minhas pernas em sua cintura. Ele se sentou em uma poltrona ao lado da cama, ainda me segurando no colo.

 – O que eu faço agora, Christopher? – Era uma pergunta retórica, não tinha mais nada a se fazer a não ser enfrentar as consequências. Mesmo que houvesse uma saída, ela jamais seria considerada e eu rezei para que Christopher não a mencionasse, porque caso contrário meu encanto por ele pularia de um prédio.

 – Você assume a responsabilidade e vive um dia de cada vez – disse tentando sorrir. – Vamos viver um dia de cada vez, meu amor. – Até o dia em que isso se tornará pesado demais para você carregar em seus ombros, pensei.

 Christopher retirou o celular do bolso e passou alguns segundos procurando por um contato em sua agenda telefônica, depois apertou o botão para chamar e colocou a ligação no viva-voz.

 – Dr. Arthur, é o Christopher – disse. – Desculpe ligar num sábado

 – Christopher, meu garoto, como vai?

 – Eu estou bem, mas preciso lhe pedir um favor. – E fez uma pausa. – Preciso que o senhor faça uma ultrassonografia de emergência na segunda, o senhor acha que consegue?

 – Claro, não vejo problemas, quem é a moça?

 Era a hora, o momento de meu coração ser partido mais uma vez.

 – Minha namorada – respondeu Christopher, sorrindo para mim. Meu coração afundou. Pensei que ficaria arrasada se ele dissesse que eu era uma amiga, ou apenas a irmã de seus colegas de apartamento, mas eu não fazia ideia de que vê-lo se expor dessa maneira também me machucaria.

 – Garota de sorte. Te vejo na segunda, umas 6h da tarde no meu consultório, tudo bem?

 – Perfeito – respondeu, encerrando a ligação e voltando sua atenção novamente para mim. – O quanto antes você descobrir em qual estágio está a gestação, antes você poderá tomar todas as precauções necessárias. – A maneira com a qual ele falou não me deu margem para recusa.

 – Obrigada. – Saí de cima dele. – Agora é melhor você ir se juntar a eles, antes que alguém venha aqui descobrir por que estamos demorando tanto.

 – Eu não quero deixá-la sozinha. – Mas ele ia, uma hora ou outra, ele ia…

 Assim que fiquei sozinha, as lágrimas voltaram sem aviso. Pelo menos agora eu entendia por que nunca conseguia fechar essa maldita torneira na qual meus olhos se transformaram. Daqui em diante, eu teria a desculpa dos hormônios para qualquer coisa, eu poderia quebrar tudo que tivesse vontade, incluindo a cara de quem entrasse no meu caminho em um dia ruim. Eu poderia me entupir de comida já que ninguém poderia me chamar de gorda, eu poderia andar com as roupas que quisesse sem ser incomodada, afinal, em pouco tempo nada mais me serviria de qualquer maneira. Depois que me acalmei do meu momento revolta comecei a pensar em todos os pontos em que essa decisão me afetaria. Eu ainda tinha um trabalho, que pagava bem, por sinal. Então fome e frio meu filho ou filha nunca passaria, mas eu ainda precisava encontrar um teto. Eu tinha que ligar e pressionar o agente imobiliário para que fechasse um contrato o mais breve possível, nem se eu tivesse que diminuir o valor do imóvel para isso. Eu não poderia continuar na casa do Christopher por muito tempo. A situação logo ficaria mais complicada e ele enxergaria que a promessa que me fez no chão daquele banheiro não poderia ser cumprida, não sem acabar com sua vida primeiro.