Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 E não queria estar debaixo de seu teto quando isso acontecesse, não queria que ele fosse obrigado a me beijar sempre que passasse por mim só por eu ainda morar lá, ou que ele se sentisse obrigado a ficar comigo por pena. Também não queria que ele ficasse desconfortável em sua própria casa quando tudo fosse posto em pratos limpos e tivesse um fim definitivo. Mas não demorou muito para que outros medos tomassem minha mente: como eu contaria a notícia para minha família? E o principal, que raios eu faria com uma criança? Deus sabia que eu mal conseguia cuidar de mim.

 – Posso entrar? – Anahi perguntou antes de abrir a porta. Limpei o rosto o melhor que pude e permiti que ela entrasse.

 – Entra, Annie – pigarreei para tentar fazer minha voz soar normal.

 – O que aconteceu? – perguntou assim que viu meus olhos inchados. Eu ainda não havia absorvido a notícia, por isso estava fora dos meus planos deixar alguém saber, pelo menos antes da consulta de segunda-feira.

 – Bati meu dedinho na quina da cama. – A cada dia mentir ficava mais fácil.

 – E precisava chorar por causa disso? – perguntou desconfiada, sentando na poltrona onde seu irmão estava minutos antes. – Você e Christopher não brigaram, não é? – A decepção em sua voz e em sua face eram tão aparentes que eu quase caí no choro de novo. Como eu contaria para ela que dentro de pouco tempo “nós dois” não existiríamos mais da maneira como ela gostaria?

 – Claro que não. – Achei melhor desviar o assunto. – Mas me conta, e você e Poncho, algum avanço?

 – Sim – respondeu empolgada, esquecendo-se dos meus problemas. – Ontem ficamos nadando juntos até de madrugada, conversamos sobre diversos assuntos, e acho que estamos nos aproximando. Acho que ele enfim está me notando.

 – Não teria como não notar. – Era verdade, além de linda por fora, ela possuía a mesma beleza por dentro. – Acho que ele é muito tímido para tomar alguma iniciativa.

 – Se esse é o problema, eu tenho iniciativa por nós dois – respondeu rindo. – Ele vai descobrir quando eu tentar beijá-lo.

 – Você teria coragem?

 Só ela para me fazer rir numa situação como essa.

 – Só conquista a felicidade quem está disposto a arriscar. – Parou e pensou. – Ou algo do tipo. Alguém disse isso, enfim, acho que é verdade. – Mas nem tudo pode ser arriscado, pensei.

 Juntei-me aos demais na hora do jantar. Anahi resolveu cozinhar e Christian abriu duas garrafas de vinho. Christopher se sentou ao meu lado e percebeu quando meu irmão me passou uma taça. Assim que eu ia colocá-la na boca, ele segurou meu braço de forma suave olhando para os outros em volta da mesa, decerto tentando perceber se prestavam atenção ou não. Eu fiquei sem entender até que seus lábios formaram as palavras: “você não pode”, em silêncio. Abandonei o vinho e ele trocou nossas taças depois de beber a sua sem que ninguém notasse. Viu o que eu disse? O que eu faria com uma criança se nem sabia as regras básicas do jogo? Isso não estava certo. Me despedi dos demais assim que os pratos foram retirados e fui deitar, alegando estar cansada. Ouvi quando Christopher bateu na minha porta minutos depois, mas fiquei em silêncio esperando que ele fosse embora. Fiz o mesmo quando Anahi veio dormir já de madrugada, minha mente ainda funcionava a todo vapor, mas fechei os olhos e fingi dormir para não ter que conversar.

 Na manhã seguinte, abri os olhos e pisquei várias vezes, tentando me acostumar com a claridade. Anahi ainda dormia, por isso me levantei e fui ao banheiro. Eu ainda estava grogue de sono quando meus olhos encontraram o lixo. Os testes ainda estavam ali. Peguei um deles novamente e fiquei bons minutos fitando as duas listras vermelhas. Não havia sido um sonho, tudo realmente estava ruindo. Peguei todos os testes e embalagens do lixo e voltei a colocar na sacola que ainda estava sobre a pia. Fora um golpe de sorte Anahi não ter visto, e eu não poderia dar mais bandeira. Fiz xixi, escovei os dentes e o cabelo e voltei para pegar uma roupa na mala, aproveitando para guardar a sacola no meio de outras roupas.

 O dia foi tranquilo, sem incidentes. Tentei me alimentar cedo para não ter nada no estômago durante a vigem. Almocei apenas folhas de alface, só por garantia. Christopher passou o dia tentando se aproximar de mim, mas sempre dei um jeito de evolver outra pessoa na conversa e não dar espaço para que ficássemos sozinhos. Eu ainda não sabia o que fazer em relação a ele, mas sabia que algo tinha que ser feito e ainda não estava em condições de pensar nas opções. Na verdade, na minha única opção.

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