Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

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“Se exponha aos seus medos mais profundos; depois disso, o medo não terá poder nenhum.”

Jim Morrison

Drama

 Quase não peguei no sono durante a noite, estava inquieta. Acordei antes do despertador tocar, com Vitório se mexendo na cama, mas continuei deitada, tentando matar o pouco de tempo que me restava, olhando para o teto. Entretanto, era difícil conseguir ficar imóvel em uma única posição quando se estava desperta. Resolvi levantar e procurar pelo controle remoto da televisão, que ultimamente tinha se transformado no brinquedo preferido do Vito, e acabei encontrando o danadinho embaixo da cama. Desci, peguei, puxei as cobertas para subir na cama novamente e vi uma mancha escura no lençol.

 – CHRISTOPHEEEER! – gritei em desespero, rezando para que ele ainda estivesse em casa.

 – O que aconteceu? – perguntaram Christian e Poncho juntos, trombando-se na minha porta. Meu irmão passou na frente e chegou mais perto, seguido pelo amigo.

 – Vai chamar o Christopher – pedi ao Christian, agarrando seu braço para ter firmeza. Eu me sentia fraca e a sensação era de que a qualquer momento eu desmaiaria.

 – Ele já foi trabalhar – disse meu irmão, preocupado, e então agarrou meus braços e me chacoalhou. – Fala, o que foi?

 Apontei para a cama e esperei que ele entendesse sozinho, mas seus olhos não se fixaram nem um segundo na mancha de sangue fresco.

 – Dul, isso é normal – disse rindo. – A mamãe nunca te explicou que quando uma garota vira mocinha…

 – Não é hora para gozação – repreendeu Poncho, cortando meu irmão. Ele me enrolou no cobertor que estava ao pé da cama e me pegou no colo logo em seguida. – Pega a bolsa dela e um casaco – ordenou enquanto me carregava para fora do apartamento. Meu irmão não entendeu nada, mas fez o que Bê lhe pediu e nos seguiu de perto. Eu me sentia tão fraca, que não conseguia nem erguer os olhos dos tênis do Christian, pisando no piso de carvalho atrás de nós. O elevador estava demorando muito, então Poncho optou por descer os sete lances de escada comigo nos braços. Quando finalmente chegamos à garagem, ele me passou para meu irmão e pegou a bolsa e o casaco das mãos dele.

 – Vá atrás com ela, eu dirijo – disse, dando a volta no carro e entrando no lado do motorista. Christian teve certa dificuldade para entrar comigo nos braços, então me depositou no banco e entrou em seguida, me puxando para junto de seu peito. Encostei a cabeça em seu ombro e esperei que a tontura passasse.

 Isso não podia estar acontecendo, eu não deixaria, eu tinha que ser forte. Chorei licenciosamente pelo meu filho. Eu não podia, eu não queria perdê-lo.

 – Christopher – disse Poncho ao telefone –, prepara uma equipe de obstetrícia, estou levando Dulce para a emergência. – Não consegui entender a resposta, mesmo que sua voz estivesse tão alta a ponto de eu poder ouvi-la. – Ela teve um sangramento – disse e esperou pela resposta. – Dulce, você está sentindo alguma dor? – perguntou para mim, ainda com o telefone no ouvido, olhando pelo retrovisor. Neguei. – Estou indo o mais rápido que posso – voltou a falar com Christopher e encerrou a ligação.

 Christian ficou tenso embaixo de mim assim que a palavra “obstetrícia” foi dita, e a essa altura, imaginei que ele já tivesse entendido do que se tratava a situação. Eu estava desconfortável, então me mexi, o que fez com que ele saísse do transe.

 – Por que você não me contou? – Ele parecia chateado.

 – Agora não, Christian – disse Poncho com irritação.

 Meu irmão ficou em silêncio, mas me apertou mais forte.

 Chegamos ao hospital em tempo recorde. Dr. Arthur já me esperava na recepção com dois enfermeiros e Christopher, que veio correndo ao meu encontro e me tirou do carro nos braços, colocando-me numa cadeira de rodas. Entramos apressados e percorremos alguns corredores. Quando viramos no que pensei ser o último deles, já que Christopher tinha desacelerado a corrida, demos de cara com Augusto, que estava com a cabeça abaixada lendo algo em uma ficha, e a levantou assim que ouviu a movimentação de muitos pés correndo no chão de linóleo.

 – O que está acontecendo? – perguntou, encurtando nossa distância em uma corrida.

 – Agora não – respondeu Christian, utilizando-se da frase que tinha ouvido há pouco.

 Dr. Arthur proibiu que todos entrassem comigo, menos seus enfermeiros.

 – Fique calma, Dulce – ele me pediu quando recomecei a chorar. Eu queria que um dos meus irmãos tivesse forçado mais a barra para me acompanhar. – Vamos fazer outro ultrassom, tudo bem? – Não respondi, queria apenas que ele fizesse o que tivesse que ser feito e me dissesse que meu filho estava bem.