Fanfic: O Garoto dos Olhos Castanhos (Adaptada) Finalizada | Tema: Vondy

 – Oi, amor.

 – Sai andando na boa. – Levantei a mão para enxotá-lo.

 – O que eu fiz? – perguntou, franzindo as sobrancelhas.

 – Comeu uma vadia que mora no 4° andar, foi isso que você fez! – berrei.

 – O que ela fez?

 – Além de ter nascido e aparecido na minha vida? Nada!

 – Quer que eu desça até lá e converse com ela? – perguntou solícito, solícito demais para o meu gosto.

 – E correr o risco de ela não devolver você? – franzi o cenho. – Não, muito obrigada.

 – Então como posso ajudar? – Ele já estava ficando irritado, bem-vindo ao time!

 – Só me deixa em paz.

 Ele entendeu o espírito da coisa e saiu de fininho, cruzando com alguém no corredor.

 – Melhor você nem chegar perto – alertou. – Os hormônios estão falando mais alto hoje e se ela grudar em você, eu que não ponho a mão para separar.

 – Então eu volto outra hora – disse Christian. – Eu posso beber água da pia do banheiro, de qualquer forma. – Ouvi os passos dos dois se afastando e respirei em paz.

 Dez minutos depois o interfone tocou.

 Santo Deus, tenha paciência!

 – Pois não, seu José – respondi mal-humorada.

 – Dona Dul, tem um rapaz aqui embaixo dizendo que gostaria de vê-la. – Só um minutinho que eu vou colocar uma foto minha no elevador e você entrega para ele, respondi em silêncio.

 – Quem é?

 – Um tal de Miguel.

 Quais eram as chances de ser um desconhecido com o mesmo nome, tentando me vender algum produto sem utilidade?

 – Manda subir, seu José.

 O que ele fazia aqui? Pergunta idiota. Eu liguei para o cara e falei que daria à luz um filho dele. Provavelmente era mais um querendo que eu abortasse. Essa criança ficaria traumatizada desse jeito.

 Fui até a entrada e abri a porta. Encostei-me no batente e esperei que ele chegasse. Será que eu sentiria alguma coisa quando o visse? A porta do elevador se abriu e ele apareceu. Vestia um terno e tinha um lindo buquê de alguma coisa roxa nas mãos. As flores ficariam lindas dentro da lata do lixo. Analisei meu sistema interno e… Nadinha, eu não sentia nadinha de nada por ele.

 – O que você faz aqui? – inquiri. Na verdade queria perguntar se a esposa dele sabia onde ele estava, mas essa pergunta teria que ficar para daqui a pouco.

 – Eu vim vê-la – disse sorrindo. – Você não pode me ligar e dizer que vai ter um filho meu e esperar que eu não me importe. – Claro porque ele se importava demais comigo, safado de uma figa.

 – Entra – pedi, eu mesma entrando na frente e o abandonando no hall.

 – Eu trouxe essas flores para você.

 Peguei o buquê o joguei em cima da mesa de jantar, ele franziu os olhos ao ver suas flores jogadas, mas não disse nada.

 – Faz quanto tempo que você descobriu a gravidez? – perguntou, sentando-se no sofá sem ser convidado, e me sentei o mais longe que o espaço permitia.

 – Não muito.

 – Temos muito o que conversar, Dul. – disse, esfregando uma mão na outra e se mostrando apreensivo. – Primeiro eu gostaria de pedir desculpas pelo que…

 Não o deixei terminar.

 – Próximo assunto então, porque esse já foi encerrado. – Eu seria dura na queda, era bom ele ter vindo preparado.

 – Estou arrependido pela maneira como a tratei, você merecia muito mais do que aquilo. – Suspirou. – Entendo que você não queira me desculpar, mas pelo menos vamos tentar ser adultos, pelo bem dessa criança. – Vê-lo falar do meu monstrinho como se tivesse alguma propriedade sobre ele me tirava do sério. Na realidade ele tinha, mas eu já estava ficando com ciúmes de alguém que nem havia nascido ainda. Onde eu ia parar?

 – Tudo bem, sobre o que você quer conversar?

 – Primeiro, como eu disse, gostaria de pedir desculpas. Se eu pudesse ter feito tudo diferente, eu faria.

 Tarde demais.

 – Como eu disse para Manoela no dia do meu casamento – porque ainda era meu, embora não tivesse sido, se é que isso fazia sentido, eu nem sabia mais –, ninguém pode proibir duas pessoas que se amam de ficarem juntas, mas vocês poderiam ter me poupado a humilhação de ser abandonada no altar.

 – Era importante para você, eu sei – respondeu se contorcendo, uma expressão de dor em seu rosto. – Eu deveria ter contado antes, na verdade eu deveria ter sido homem e não ter deixado você ir embora da minha vida.

 Tarde demais número dois.