Fanfics Brasil - Único. [BTS] Não há nada que eu possa te negar

Fanfic: [BTS] Não há nada que eu possa te negar | Tema: Bangtan Boys, BTS


Capítulo: Único.

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O clima de onde eu venho sempre foi o nublado, daqueles que dificilmente deixa o sol tocar sua pele durante o dia, e te impede completamente de ver as estrelas durante as noites. Perdi a conta de quantas canções eu já fiz mirando aquelas nuvens que pareciam anunciar um fim de mundo que nunca chegava. Era como eu me sentia por dentro.


Ruindo, mas sabendo que aquela sensação de sufocar nunca me mataria de verdade. 


O céu de Seoul não era muito diferente, se você me perguntar das estrelas, também não há como vê-las daqui. O céu é igual, apenas um pouco mais poluído. Noites como esta me fazem lembrar aqueles outros dias. São memórias turvas como as nuvens, mas com cheiro e gosto de café expresso.


Eu era um moleque, tudo o que eu possuía era um tênis all-star rasgado e essa vontade alucinada de fazer com que a minha voz fosse ouvida. Nunca gostei muito de comer, mas o fato de ocasionalmente não ter grana para algumas refeições não deixava de incomodar. Tudo isso para ganhar menos de 10 won em uma música, chega a ser engraçado!


O mais cômico ainda era eu neste momento relembrando disso tudo com um ar de… saudade? Eu era mesmo um maldito viciado em melancolia!


E nem tenho do que sentir a falta, mas em noites como esta isso acaba sendo inevitável. Eu refaço meus passos sentindo uma nostalgia absurda por algo que nunca aconteceu, como se faltasse algum frame. Como se algo diferente devesse ter acontecido.


Não era fácil, mas talvez fosse mais simples antes de todo esse sucesso, antes de tudo virar um intrincado de coreografias ou borrado por maquiagem esfumada.


É um mundo deveras grande para aquele garotinho que só queria cantar a qualquer custo. Extremamente pequeno para tudo o que eu quero ser agora, tudo que eu poderia ser, porém toda vez que eu tento um movimento essa corda invisível em torno de mim se aperta em reflexo.


Eu tenho 24 anos, e estou no terraço do nosso alojamento. Sinto um vento balançar meus cabelos descoloridos e fazer um carinho gélido nas minhas bochechas. Olho para os rabiscos no papel e solto um riso fraco, em poucas palavras, nada parecia com o que eu cantava no palco.


Essas letras de agora não foram escritas pelo Suga.


Era só o Min Yoongi com papel e caneta em mãos. 


Sempre tive esse hábito, e todas as vezes que eu sentia as insistentes lágrimas se formando em meus olhos, eu as derramava através dos meus dedos, todas elas. E a ansiedade era aprisionada no papel, dando-me uma pequena trégua.


O vento está gelado, inspiro novamente olhando para os céus.


E porra, será que é pedir muito poder ver pelo menos um par de estrelas nesta noite?


Estrelas, de algum modo, me acalmavam. 


— Hyung, você vai pegar um resfriado.


Não vi quando ele se aproximou, sorrateiro, pelas minhas costas, parecia ter acordado há pouco tempo, ainda esfregava os punhos fechados sobre os olhos e bocejava de um jeito fofo. A verdade é que poucas coisas não soavam encantadoras quando feitas por Jeongguk.


— Essa é hora de pirralhos estarem dormindo, volte para o dormitório! — digo, sem alterar muito minha expressão, após me recompor da surpresa em ver ele aqui neste horário.


— Yoongi-ah, eu sei que você gosta de nos dar sermões, mas parece estar implicando um pouco mais que o normal comigo. — ele diz manhoso.


Possivelmente aquilo era uma verdade, apenas talvez eu tivesse um senso de proteção maior com Jungkook. Gosto de pensar que é por ele ser nosso dongsaeng, pois a outra hipótese que passa por minha mente está longe de adjetivos como “apropriado” ou “decoroso”.


Eu iria argumentar, porém as palavras morreram em minha garganta ao ver um Jungkook se aproximar ainda mais, sentando-se ao meu lado na mureta, com muita normalidade. Ele balançava aquelas compridas pernas de modo pueril.


— “Yoongi-ah”? Pode cortar essa intimidade, para você é hyung. — era melhor mudar o foco do que deixar que ele continuasse a questionar o meu tato com ele.


O resultado é um Jungkook aparentemente consternado com um leve bico se formando nos lábios, aquilo dava certo com os outros, já eu conhecia melhor suas artimanhas. Não havia uma vez que aquela mesma carinha não convencia Jin o deixar pegar uma porção maior no jantar ou repetir a sobremesa.


Não que eu julgasse! Mesmo tendo plena consciência desse fingimento, ainda era uma tarefa difícil até para mim.


Quando viu que seu truque não daria muito certo, aquele biquinho se transformou no seu típico sorriso habitual que eu tanto me pegava observando. O ar de desalento fingido deu lugar a uma curiosidade repentina em seus olhos.


— Hyung, por que você não me chama mais de ‘Jungkookie’, como fazia antes? — ele se inclinava mais próximo de mim. Eu disse que poucas coisas não eram encantadoras quando feitas por Jungkook, as que fugiam disso entravam na categoria de obscenas (ou talvez fosse só a minha mente).


Era verdade, fazia certo tempo que eu evitava muitos contatos com nosso maknae. Já eram difíceis de controlar os meus impulsos e essas ideias absurdas estando afastado, imagine com Jungkook perto de mim, com todos os seus gestos de demonstração de afeto, afeto entre amigos, entre hyung e dongsaeng ou até como um irmão mais velho.


Eu não sabia como Jungkook me via, eu só sabia como ele nunca iria me ver.


Meu cérebro pulsava de modo frenético em busca de uma saída. Acho que tenho sorte de ser bom em juntar palavras improvisadas, se não fosse não levaria a mesma profissão.


— Você está quase fazendo 20 anos, achei que preferisse deixar de lado um apelido infantil como esse, Jungkook. — talvez eu tenha dado ênfase demais na última palavra.


— Nah, eu gosto de Jungkookie, você que inventou e ninguém mais me chama desse jeito.


Esse era um dos grandes motivos de minha distância dele. Ultimamente meu coração adquiriu a deplorável mania de falhar diante de falas como essa, ou quando nos esbarrávamos durante os ensaios, em que meu corpo todo respondia ao contato, e até mesmo em atos aleatórios do dia-a-dia.


Jungkook só parecia ser uma criança, mas já compreendia algumas coisas. E pelo visto percebeu meu desconforto em ser questionado, mudando de assunto.


— Não é a primeira vez que o hyung vem aqui de madrugada, acho que todos já perceberam. Você é metódico, Yoongi. — ele me acusa com um sorriso nos lábios, e eu me deixo levar junto de sua risada, era um som tão gostoso — O que você tanto repara aqui em cima?


Passo meus dedos magros nos meus fios descoloridos. Estar sozinho perto de Jungkook causava sensações em meu interior, mas aquele já era de longe, o nosso contato mais voluntário e autêntico em umas boas semanas (isso se você não contar as exposições em fanservices, eu não conto!).


— Quando as coisas ficam um pouco difíceis eu gosto de vir aqui, tento achar alguma estrela para admirar, mesmo sabendo que é quase impossível nesta cidade, neste céu.


Ele parece pensar por uns instantes, até abrir aqueles lábios rosados e continuar a nossa conversa, descontraída para ele e delicada para mim.


— Eu gostaria de dizer que eu entendo, na verdade entendo uma parte, mas... — ele parece repensar o rumo de sua fala — Por que estrelas?


Jungkook era um rapaz curioso, não que fosse novidade.


Acabo sorrindo com o pensamento de que se fosse outra pessoa eu simplesmente desconversaria ou daria uma resposta atravessada. Mas eu não conseguia negar nada a Jungkook, pelo menos não as coisas que realmente importam.


— Sabe quando falam que somos insignificantes diante de todo o universo e essas coisas que não conseguimos compreender? Como aquela cratera de marte que parece um sorriso, ou para onde vai tudo aquilo que os buracos negros atraem? — eu dou uma leve pausa e Jungkook concorda com a cabeça, atento a tudo o que eu dizia. Permito-me sorrir com a visão, que agora era mais bonita do que qualquer outro céu, até o mais estrelado — Se somos mesmo tão insignificantes, “apenas poeira de estrelas”…  quer dizer que os nossos problemas também são, todos os problemas são igualmente desprezíveis comparados à tudo. Olhar as estrelas me reforça isso. 


E quem sabe talvez, apenas talvez, também o fato de que eu me sentia como elas, só que uma estrela de brilho fraco perdida em toda essa imensidão.  Uma luz que não tinha vida há milhares de anos, mas que por alguma razão técnica, que eu faltei nas aulas fundamentais para conseguir explicar, ainda podia ser observada em meio a este universo esquisito. 


Continuo, aproveitando de toda aquela atenção sendo direcionada exclusivamente para mim, mal lembrava o quanto a sensação era gostosa. — Faz com que eu me sinta…


— Acolhido? — ele diz de sobressalto e no mesmo segundo parece arrependido em interromper minha sequência lógica, expressão esta que se suaviza ao ver meu leve aceno de cabeça.


Talvez ele fizesse um pouco mais do que apenas ouvir com atenção. Não que alguma vez eu tenha duvidado da capacidade de empatia de Jungkook, mas ele sempre me surpreendia.


Já que estamos falando de astronomia, pergunto-me o que seria Jungkook. Ele era tênue e fugaz como uma estrela cadente. Do mesmo modo como conseguia ser efêmero, também era preponderante, fazia as coisas girarem em torno de si, além da luz sem igual que emanava. Era quentinho, era como o Sol, deveria ter um aviso para não chegar tão perto, pois queima. Porém ele não apenas fazia as coisas orbitarem em torno de si, ele as consumia, tal como um buraco negro.


Eu não sabia o que Jungkook era. Também poderia ser uma Nebulosa, de nuances heterogêneas, em minha mente. Seus sorrisos sempre pareciam mais do que queriam demonstrar, como se no fundo deles tivesse uma piada que ele guardasse apenas para si. E como uma nébula, turvava completamente meus pensamentos e discernimento.


— Yoongi-hyung, você ficou calado de repente, está fazendo aquela coisa, hm?


Sou tirado de meu mundo imaginário que naquela noite era composto por cometas e outros astros, que no dia de amanhã provavelmente seria integrado de outros devaneios.


— Que coisa? — digo tentando parecer neutral.


— Isso de se perder dentro dos seus próprios pensamentos. Você já poderia ter um diploma nesta coisa… — ele diz inicialmente rindo, mas então se levanta daquele lugarzinho ao meu lado e ficando de pé em minha frente, não me deixando muitos meios de fugir. E eu nem sei se o faria, a esta altura eu já tinha jogado toda a minha moralidade para os céus, ou quem sabe para o inferno, — Como eu disse, eu não entendo muito bem as coisas que você sente, mas depois de toda essa conversa, posso dizer que me pareceu que você se sente só…


— Jungkook…


Sentindo-me exposto, tento contrapor, mas ele não me permite e continua solene.


— Eu posso não entender de início, mas não significa que eu não possa ouvir, tentar entender ou simplesmente ficar aqui, segurar sua mão… — ele realiza o ato de juntar nossos dedos, sua mão era grande e quentinha, e acho que completava o modo como meu corpo estava gelado por estar fora naquele horário, — e fazer você colocar na sua cabeça esperta, que não aplica essa inteligência toda no óbvio, que você não está sozinho. Do quanto todos te amam, do quanto eu, eu… — Jungkook sempre foi contido, mas não tímido, pois falava as coisas que precisavam ser ditas, porém dessa vez parecia estar em um dilema interno, parecendo trilhar, enfim, um caminho mais cauteloso — eu nunca mais vou deixar que se sinta sozinho. 


Ele falou de pausadamente aquela frase aonde cada palavra vinda de sua boca era como um soco em meu o estômago, até que eu fosse nocauteado. Encontro-me aturdido, e minha “cabeça esperta”, que sempre fora boa com réplicas, não conseguia emitir nenhum comando até meus lábios.


Na falta do que fazer, afundado até o pescoço em toda a confusão que Jungkook me proporcionava, reforço o aperto de nossas mãos.


Sobre estrelas cadentes, sóis, buracos negros e as nebulosas… Eu poderia até dizer que Jeongguk era tudo isso, porém não sou tão clichê a esse ponto. Já basta estar aqui metaforizando essas coisas todas.


Jungkook poderia não entender o que eu sentia por dentro, também não seria a cura de todos os meus problemas. Mas era como a minha Estrela Polar, ele me dava um norte, e como uma estrela perdida, bastava olhá-lo para conseguir me localizar nesse céu gigantesco e lembrar que eu pertenço a um lugar.


O agora era completamente da pessoa que estava em pé em minha frente. Talvez fosse tarde demais para voltar atrás e cedo demais para chorar por arrependimentos futuros.


E aquele sentimento quente no peito e frio no estômago me dizia que eu faria qualquer coisa por Jungkook. Até mesmo se ele pedisse para beijá-lo no terraço sob esse céu sem estrelas.


E eu não conseguia negar nada a Jungkook, não as coisas que realmente importam.



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Autor(a): avox

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