Fanfics Brasil - #CAPÍTULO I# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO I#

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Ilhas Shetland, 1206



Christopher estava sonhando. Sim, era essa a explicação para o que estava acontecendo. Os olhos ardiam por causa da areia e do sal. A água gelada corria sobre seu corpo enregelando-lhe os ossos. Já não sentia as pernas. Se pelo menos pudesse fazer algum movimento ou gritar. — Ele é perfeito — uma voz feminina sussurrou bem perto do seu ouvido. Ele sentiu um dedo macio passando ao redor do seu queixo. — Aposto que ele está completamente morto. — A voz grossa era agora, evidentemente masculina e tinha um sotaque muito estranho. Com esforço Christopher entreabriu os olhos para a claridade do amanhecer e tentou focalizá-los nas pessoas que estavam falando. — Que aposta infeliz a sua, Legislador. Veja, ele está acordando — tornou a voz feminina. Não, ele não estava sonhando. Estava morto. Só podia estar. A visão que parecia flutuar acima dele era suficiente para convencê-lo de que não se encontrava entre os mortais. É claro que ele já ouvira falar sobre mulheres como aquela que no momento olhava para ele com atenção. Os navegantes dinamarqueses que iam a Inverness para negociar reuniam-se ao redor de fogueiras nos acampamentos e contavam lendas de sua terra. Mas ele era cristão e não acreditava naquelas histórias. No entanto, ali estava ela. Podia vê-la perfeitamente, acima dele, observandoo, esperando. — Valquíria — Christopher murmurou. A visão franziu a testa e estreitou os pálidos e frios olhos azuis que continuavam fixos nele. — Você tem razão — a voz masculina disse de algum lugar, no limite da consciência dele. — Ele não está morto, é apenas maluco. Oh, ele estava morto, sem dúvida. Se não estivesse, como explicar a presença daquela criatura? Ela analisava-o atentamente. Tinha duas grossas trancas ruivas e sedosas, presas com argolas de bronze trabalhado, caídas sobre o colo nu. Usava um elmo, como o de um guerreiro, e túnica longa de cota de malha de ferro. O elmo era ornado com relevos estranhos, semelhantes às letras rúnicas que ele já vira nas pedras muito antigas que se erguiam perto da baía de Firth. Apesar do traje e da expressão severa e perspicaz, ele não teve dúvida de que ela era uma mulher. Isso era revelado nas maçãs do rosto coradas e nos lábios cheios e vermelhos.
O homem deitado passou lentamente o olhar pela curva do pescoço dela e pelos ombros estreitos. Os braços nus eram bronzeados e adornados com mais argolas de metal trabalhado, iguais as que lhe prendiam as tranças. A cada movimento respiratório o peito dela erguia-se sob a cota de malha. — Eu estou... em — ele começou a falar com dificuldade, a voz grossa e áspera. — Aqui é... Ele tossiu, sentindo a água salgada raspar-lhe a garganta. Notou o olhar penetrante da Valquíria e completou a pergunta: — Aqui é Valhalla? O som de risadas de homens perturbou a melancólica harmonia do crocitar das andorinhas-do-mar e dos cormorões. — Este é , provavelmente, o lugar mais distante de Valhalla — respondeu a Valquíria. — Aqui é Frideray. Fair Isle. Ele sentiu a cabeça girando e um súbito enjôo. — Mas... então... — Christopher tentou sentar-se e recebeu um forte empurrão da Valquíria, que o derrubou na areia novamente. Uma onda de água gelada cobriu-lhe as pernas e ele começou a tremer. — Quem... são vocês? — Sou Dulce, filha de Fritha. Ou apenas Dul. — Dul — ele repetiu, esforçando-se para permanecer consciente.


Ao comando de Dul, meia dúzia de mãos agarraram-no e carregaram-no para longe da praia. Ele sentiu muita dor e sufocou um gemido. — Pelo sangue de Thor, como ele é pesado! — disse o homem a quem Dul tinha chamado de Legislador. — Precisamos de alguém para nos ajudar. Imediatamente duas mãos seguraram aquele corpo frouxo, maltratado pelo mar. As mãos dela. Eram pequenas e mais macias do que as outras. Ele inclinou a cabeça para o lado e seus olhos encontraram os de Dul. — Meu navio — ele moveu os lábios, mas as palavras saíram quase inaudíveis. — Naufragou com todos os homens — ela informou. Uma dor lancinante fez com que o homem se contraísse e fechasse os olhos com força. — Não, não pode ser. E meu... meu irmão? — Todos morreram. As pálpebras do homem arderam com as imagens do naufrágio. A tempestade desabara repentinamente sobre eles, apanhando-os desprevenidos. O navio foi açoitado por uma saraivada de granizo misturada com neve. Relâmpagos rasgavam o céu e ventos nunca vistos naquela parte das Terras Altas da Escócia destruíam tudo à sua passagem. O som uivante, horrível, ainda o assombrava. Era um riso zombeteiro bem alto, um grito estridente do próprio demônio. O casco do navio se espatifara como um brinquedo de criança ao ser arremessado contra rochedos que não tinham razão de estar naquele lugar. Pelo menos não figuravam nas cartas geográficas que eles traziam consigo.
Seu irmão. Seus homens. Todos mortos. — Cristo tenha piedade de suas almas — Christopher murmurou. Dul deu uma risada de desdém e segurou as pernas dele com mais força. Os olhos do náufrago fixaram-se nos lábios dela, comprimidos, quando eles começaram a subir uma colina íngreme. Ela seguiu adiante sem fraquejar, sem diminuir o ritmo da caminhada, e ignorou os resmungos e a respiração ofegante dos outros homens. O náufrago tinha apenas uma vaga idéia da paisagem ao seu redor. Notou que era rochosa, árida e a desolação gelada que havia ali, refletia-se nos olhos de Dul. Eles pararam na frente de uma construção de pedra, comprida, com teto revestido de palha. O náufrago prendeu a respiração ao ser jogado sem a menor cerimônia sobre um dos bancos de um pátio. — Você deve ser escocês — disse Dul, olhando para o náufrago de modo indagativo. Ele inclinou a cabeça, em sinal afirmativo e tentou fixar os olhos no rosto dela. A fronte latejava e o céu parecia girar como um dervixe. — Sou Uckermann. Christopher... Uckermann — ele apresentou-se. — Uckermann — ela repetiu. — Um nome estranho — Eu... sou... O Uckermann. — Um chefe de clã? — indagou o Legislador. — Bem, Dul, afinal, foi uma boa escolha. Dul tirou da bainha que trazia presa à cintura uma adaga de aparência assustadora. O náufrago ficou tenso ao vê-la cortar com movimentos firmes o xale ensopado. Só Deus sabia o que tinha acontecido com as armas que ele carregava. Provavelmente se perderam no fundo do mar. Christopher estava fraco demais para lutar, ou mesmo protestar. Em questão de segundos ele ficou nu diante dela, tremendo incontrolavelmente. O olhar de Dul percorreu o corpo dele com frieza, como se estivesse vendo um carneiro para a matança. Bem, se ele ainda não estava morto, estaria muito em breve. Fez uma prece em silêncio. — Ele serve — declarou Dul, guardando a adaga na bainha. Para surpresa de Christopher, ela cobriu-o com um cobertor bem grosso. — Eu sirvo? Para quê? — Christopher indagou, com voz débil. Cenas de um sacrifício pagão lampejou-lhe pela mente. O Legislador, que agora Christopher podia ver que se tratava de um velho, estava de pé, do lado dele e respondeu: — Para marido de Dul. — M-marido? — O estômago de Christopher contraiu-se, a cabeça latejou e a dor nos ossos tornou-se mais intensa.
— Agora durma para recuperar suas forças — Dul recomendou-lhe. — Depois devemos cuidar dos preparativos para o casamento. Há muita coisa a fazer. Ela afastou-se e ele seguiu-a com o olhar, admirando o movimento dos seus quadris que fazia balançar levemente a cota de malha. — O que... está... acontecendo? — Christopher quis saber. Seu olhar agoniado encontrou o do impassível Legislador. — Está acontecendo uma coisa que eu nunca imaginei que fosse presenciar um dia. O velho sorriu enigmaticamente e seguiu a mulher guerreira, Dulce, filha de Fritha, para o interior sombrio de uma casa de pedra, comprida, certamente uma habitação para várias pessoas daquele povo. "Vikings", ele pensou. Um bando de vikings sanguinários.
Dul serviu-se de mais um pouco de hidromel. Gostava daquela bebida alcoólica e estimulante, obtida da fermentação de mel, água, malte e levedura. Quando terminou de beber, sentiu-se aquecida e reconfortada. Empurrou para o lado o copo feito de chifre e voltou-se para o Legislador. — E então, velho amigo, o que acha do meu plano? — perguntou-lhe. O Legislador passou a mão na ponta da barba, olhou para Dul e, depois de longo tempo deu sua resposta: — É arriscado. Espero que você esteja certa de que deseja mesmo segui-lo. — Não me resta alternativa. Você sabe tão bem quanto eu que é o único modo de libertar Christian. Se eu me casar, receberei meu dote. Com ele poderei comprar a liberdade de meu irmão. — Sim, o dinheiro será mais do que suficiente. Mas nós nem sabemos onde seu irmão se encontra — ponderou o Legislador. — Eu sei, sim. Ele está em Dunnet Head. No continente — tornou Dul, preocupada — Ouvi os homens de Pablo falarem sobre isso. — Tem certeza de que é esse o lugar? — Absoluta. O Legislador acenou com a cabeça. — Pablo não ficará nada contente. Ele espera voltar para cá e casar-se com você. E também quer se apossar do seu dote, claro. O dote com o qual comprará artigos finos para ele e muita madeira para construir seus navios. Dul desviou o olhar e engoliu com dificuldade. Não queria pensar em Pablo. Nem agora nem nunca mais. Certo, eles estavam comprometidos segundo o costume cristão. O pai dela a prometera a Pablo quando ela ainda era criança. Mas Pablo partira no seu navio viking meses atrás, e, desde então ela vinha rezando todos os dias para que algum mal lhe acontecesse e ele jamais regressasse da viagem.
Enquanto refletia, ela girou distraidamente os braceletes de bronze. — Quando voltar, Pablo não encontrará sua noiva, mas uma mulher divorciada e sem dote por quem ele não terá mais o menor interesse. É o que eu espero — Dul observou. — E seu irmão ocupará o lugar que é dele por direito: o de chefe — completou o Legislador. — Exatamente. Meu plano vai funcionar. Tem de funcionar. Christian, irmão de Dul era tudo para ela. Representava o seu mundo. Era sua única família. E ele se fora. O pai, que os abandonara, não contava, naturalmente. Tudo o que ela queria dele era o dote. Faria tudo para salvar Christian. Qualquer coisa. O Legislador olhou novamente para ela, em silêncio, e mexeu-se no banco, impaciente. Ela precisava da sua ajuda e da bênção dos anciãos. Os homens que Pablo deixara para trás, a fim de vigiá-la eram perigosos. Sem o apoio do Legislador, o plano que ela traçara, fracassaria. — Como eu já disse, acho seu plano arriscado. E também complicado — ele opinou, finalmente. Dul levantou-se depressa do banco, entendendo a resposta do velho como consentimento. — Estou preparada para enfrentar o perigo — ela afirmou. — Quanto às complicações, deixo para você resolvê-las. — Sim, mas... — O Legislador olhou para o lugar onde o escocês estava deitado e passara o dia todo dormindo, agitado. — Ele deve dizer alguma coisa sobre seu plano e esse casamento. Dul esboçou um sorriso triunfante. O escocês não tinha escolha senão concordar com o que ela lhe ordenasse. — Ele fará o que eu mandar — assegurou. — Ele é um chefe de clã, um nobre, um senhor de terras. Você acha que um homem tão importante concordará com esse casamento? — Pode ser um chefe de clã, mas está fraco — Dul falou em tom desdenhoso. — Olhe para ele! Os dois observaram o rosto inexpressivo de Christopher Uckemann. — Imagine, ele não tem nem barba — Dul criticou. O Legislador dirigiu a ela um sorriso indulgente. Um sorriso que ele reservava para as crianças, e para Dul. — Não o subestime. Nem todos os povos são como o nosso que considera a barba um sinal de virilidade, Dul. Você tem muito a aprender sobre o continente e os povos que o habitam, já que está pensando se aventurar por aquelas terras. — Talvez você tenha razão — ela disse distraidamente e continuou a observar o escocês. Ele era mais atlético do que a princípio imaginara. Tinha o corpo musculoso, ombros largos e, como ainda não o vira de pé, achava difícil calcular a sua altura. Certamente não seria mais alto do que ela. Poucos homens tinham altura superior à dela. Seu olhar fixou-se nos cabelos compridos e despenteados. Eram fartos, tinham uma bonita cor dourada, e estavam espalhados pelo travesseiro como um rio de hidromel. Trancas finas, como de mulher, enfeitavam-lhe as têmporas. Ela nunca vira um homem trançar os cabelos daquele jeito. Dul esboçou um sorriso. Sim, controlaria com facilidade aquele chefe de clã.
Christopher acordou sobressaltado. Tateou à procura das suas armas, mas não as encontrou. — O que foi... Imediatamente, lembrou-se do que acontecera durante a viagem. O naufrágio. A mulher viking. Piscou algumas vezes para acordar por completo e percebeu sons peculiares e um cheiro diferente. Estava deitado numa cama esquisita, na extremidade daquele cômodo amplo. Essa cama, que mais parecia uma caixa, ficava no alto, a certa distância do piso de pedras. No centro do cômodo havia uma fogueira acesa e rolos de fumaça subiam preguiçosamente para um buraco no teto. Pessoas com roupas estranhas, homens, mulheres e crianças, achavam-se sentadas ao redor de uma mesa comprida, fazendo uma refeição, certamente o jantar. Ele sentiu o peito contrair-se ao lembrar-se da última vez que tinha comido alguma coisa. Um pedaço de pão e queijo, repartidos com Diego, seu irmão mais novo. Morto. Estavam todos mortos. Uma dor aguda parecia abrir um buraco dentro dele. Christopher afastou, determinado, aqueles pensamentos. Com cuidado e algum esforço, tentou sair daquela cama em forma de caixa, mantendo-se enrolado no cobertor. Os dias no mar deixaram-no exaurido e todos os seus músculos doíam. Ele fez uma careta. Ia colocar os pés no chão e ali estava ela. Dul, filha de Fritha. Christopher olhou para ela, emudecido. Dul estava tão diferente sem o traje de guerreira. Os cabelos ruivo-acobreado brilhavam à luz do fogo e caíam soltos, bem abaixo dos ombros. Ela usava um vestido simples de lã clara, tendo um cinto de metal trabalhado, do qual pendia a adaga dentro da bainha. Ela colocou a mão no punho da adaga. — Você precisa comer — disse em tom firme. — Vou mandar que lhe sirvam alguma coisa. — Não, eu não quero ficar aqui deitado como um... — ele começou e tentou ficar de pé. Imediatamente Dul colocou a mão no seu ombro para impedi-lo de sair da estranha cama. A mão dela estava quente, apesar da frieza dos seus olhos. — Deite-se — ela ordenou-lhe e empurrou-o contra os travesseiros. — Você está ferido e deve ficar na cama. Na expressão dela, tampouco na voz não havia o menor sinal de compaixão. Se não estivesse diante dela e se não visse com os próprios olhos que ela era uma mulher, ele não acreditaria, pois se comportava de maneira fria e autoritária. Sem ter alternativa, Christopher recostou-se nos travesseiros. Dul ordenou a uma mulher que trouxesse comida, e sentou-se em um banco, as costas muito eretas, a expressão impenetrável. — Você é Uckermann — disse. — Sim, sou Christopher do clã Uckermann, da Escócia — ele confirmou, acenando com a cabeça. — Christopher? — Dul torceu o nariz. — Este não é um nome varonil. Não é valoroso. A maneira insolente de Dul deixou Christopher atônito. — É um nome distinto e cristão. Mas eu acredito que você não conhece tais... — Eu o chamarei de Ucker. — Ela virou-se para pegar a comida apresentada numa bandeja rústica, de madeira, trazida por uma mulher que carregava uma criança escarranchada nos seus quadris. Foi então que Christopher notou a cicatriz no alto do pescoço de Dul. Parecia ter sido feita com navalha e ia da sua orelha direita, quase chegando à esquerda, passando por baixo do queixo. Alguém cortara-lhe a garganta ou, pelo menos, tentara fazer isso. A criança chorou e agitou as mãos nervosamente. Num gesto impulsivo, Dul segurou o pulso gorducho do menino. Um sorriso doce e caloroso desabrochou nos seus lábios, quebrando a frieza dos pálidos olhos azuis. O contraste impressionou Christopher. Era como se ela fosse uma outra pessoa. O momento foi breve. Dul percebeu que ele a observava e o sorriso desapareceu dos seus lábios. Ela franziu a testa, soltou a mão do garotinho e despediu a mulher. — Pode ir. Hum. Ele não se enganara, Christopher pensou. Como suspeitava, Dul, não era uma mulher compassiva. No entanto... — Aqui está. Coma. — Ela entregou-lhe a bandeja. A mulher com a criança dirigiu a Christopher um olhar cauteloso e voltou para o seu lugar à mesa. Daquelas pessoas apenas o Legislador observava cada movimento dele, e um jovem de cabelos cor de areia e olhos castanhos fitava-o, carrancudo. Christopher acenou para eles gentilmente com a cabeça e pegou a bandeja. Sem querer, tocou na mão de Dul, e sentiu um estremecimento. Teve certeza de que ela também sentira alguma coisa. Notou que seus olhos arregalaram-se e ela afastou depressa a mão.
Christopher não tinha apetite, mas, obrigou-se a comer um pouco do que havia na bandeja. Era peixe salgado e condimentado, e uma sopa grossa ou papa, que parecia ser de nabos. Ele comeu sob o olhar de Dul. Aos poucos sua mente foi clareando, ele sentiu-se mais fortalecido e teve consciência da sua situação, a qual não lhe era nada favorável. Estava só, sem uma arma em seu poder. Perdera seu navio. Seus anfitriões, se é que podia chamá-los assim, eram pessoas como ele nunca vira. Falavam sua língua, mas era misturada com palavras estranhas. Palavras nórdicas. Contudo, aquele povo não era igual a nenhum nórdico que ele conhecia. Eram pessoas mais rudes; mais primitivas, como se o tempo não tivesse passado para elas. Christopher contou pelo menos doze homens e seis mulheres no cômodo enfumaçado. Mas ele sabia que aquela casa, apesar de comunitária, não abrigava todos os moradores da ilha. Lembrou-se de que também tinha visto outras construções semelhantes quando o carregaram da praia até ali. Frideray. Fair Isle. Christopher não fazia idéia da localização dessa ilha. Tudo o que ele sabia era que tinha partido de Inverness, de navio, com destino a Wick, e uma tempestade de inverno, com ventos muito fortes, os afastara do curso, levando-os bem para o norte. Segundo seus cálculos o navio fora arremessado para além das ilhas Orçadas. Como poderia voltar para sua terra, sua gente, sua casa? — Você quer ir para casa — Dul declarou, adivinhando-lhe o pensamento. Ele colocou na bandeja o pedaço de peixe que ia levar à boca e encarou-a. — Sim, é o que eu quero. — Você irá, assim que estiver em condições de viajar. — Quero dizer que vocês têm um navio? Graças a Cristo. — Christopher criou novo ânimo. Ah, se dependesse dele, poderiam partir imediatamente, claro. — Quem irá me levar? Quem quer que seja será bem pago por esse serviço. — Eu mesma o levarei, assim que o trabalho que iremos fazer juntos estiver terminado. — Que tipo de trabalho? — Christopher enrugou a testa. Algo na voz de Dul e também no modo de ela encará-lo, causaram-lhe arrepios. — É simples. Você deseja voltar para casa e eu posso cuidar disso. Mas, em primeiro lugar, terá de fazer uma coisa para mim. — Ela expôs. Christopher deixou a bandeja de lado. — De que se trata? Diga, por favor. Ele não estava acostumado a negociar com mulheres e esta, desde o início, deixava-o desconcertado e o irritava. Demorou vários segundos para ela responder. Continuou sentada olhando para ele. Christopher quase podia ver a mente dela funcionando. Ela entreabriu os lábios para falar, mas mudou de idéia. O olhar dele fixou-se naqueles lábios. Eram sensuais e vermelhos. Lembrou-se de que os tinha admirado pela manhã, ao acordar na praia, tendo visto a face bonita de Dul acima dele, recebendo no rosto seu hálito morno. Ele sentiu um inconveniente enrijecimento do membro viril e segurou com força no cobertor de lã que tinha sobre o corpo nu. Finalmente, ela disse: — Você e eu vamos nos casar. — O quê? — Os olhos dele arregalaram-se, incrédulos. Chegara a pensar que a conversa que ele ouvira entre Dul e o Legislador, na praia, tinha sido um sonho, ou melhor, um pesadelo. Mas, por Deus, tinha sido real. — Por favor, poderia repetir o que acabou de dizer? — Você me ouviu muito bem. Nós vamos nos casar — ela afirmou, sua expressão inescrutável. Porém seu lábio inferior tremeu ligeiramente, negando a autoconfiança que ela queria demonstrar. — Preciso de um marido para poder receber meu dote. Assim que ele estiver em minhas mãos, você poderá voltar para casa. — Você está louca, mulher. Muito obrigado, mas ele pretendia partir imediatamente. Olhou ao redor à procura do seu xale xadrez, mas não o viu. Também não viu nenhuma das peças de suas roupas. Enrolou-se no cobertor e tentou levantar-se. Dessa vez, quando Dul tentou impedi-lo de sair da cama, ele empurrou a mão dela. — Eu já tenho noiva — disse, levantando-se, trêmulo. Dul também ficou de pé. Amado Jesus, que mulher! Ela era quase da altura dele. — Meu rei, William o Leão, já providenciou tudo para o casamento — Christopher completou. Ela arregalou os olhos, mostrando-se surpresa. Antes de dizer alguma coisa, olhou-o da cabeça aos pés e franziu a testa. — Você é muito alto, escocês. — Você também é. — Agora foi ele quem passou os olhos devagar pelo corpo dela com a mesma falta de cerimônia com que ela o havia analisado. — Nenhuma mulher tem a sua altura. — Isso não tem a menor importância — Dul observou. Oh, para ele tinha importância, sim. Na sua opinião as mulheres deviam ser pequenas e delicadas. Submissas. Uma mulher cristã recatada não se atrevia a conversar com um estranho. Ele condenava aquele comportamento atrevido, aquela maneira impudente de Dul, no entanto, seu corpo ficava singularmente excitado. — Eu quis dizer que o fato de você estar noivo, não tem importância — Dul esclareceu. — Nós nos divorciaremos e você poderá voltar para a Escócia, para seu rei, e casar com a sua noiva. Eu só quero o dote. É meu por direito, pela lei, e vou recebê-lo. Christopher abanou a cabeça, não entendendo a exposição de Dul. Que tipo de ardil era aquele? — Está enganada, Dul, se nos casarmos, não poderá haver divórcio — ele alegou. — Um homem desposa uma mulher para toda a vida. Christopher tentou andar, mas ela postou-se à sua frente. O jovem de cabelos cor de areia que estava sentado à mesa levantou-se depressa, os olhos dardejantes. Christopher percebeu logo que o rapaz representava problema. Não fazia mal. Saberia lidar com ele. Preparou-se para tirar a adaga presa no cinto de Dul, mas o Legislador levantou-se e fez o rapaz sentar-se de novo no banco. — O casamento não é para toda a vida — Dul contrapôs, ignorando o movimento do jovem e a intervenção do Legislador. — Pergunte ao Legislador. Ele lhe dirá. O divórcio não é comum, mas acontece entre o meu povo. E, no meu caso, servirá perfeitamente para eu alcançar o meu objetivo. A mulher, evidentemente, era maluca. — E que objetivo é esse? — Eu já lhe disse. Quero o meu dote, nada mais. Assim que nos casarmos você o receberá do meu pai. Quando a prata estiver nas minhas mãos nós declararemos diante dos anciãos que estamos divorciados. — Ela encolheu os ombros. — Depois que nos divorciarmos você poderá fazer o que quiser que não me importo. Nosso navio o levará aonde você desejar. Christopher abriu a boca para dizer algo e tornou a fechá-la. Fez isso duas vezes. Tornou a menear a cabeça, como se não a entendesse, mas cada palavra tinha sido bem clara apesar do estranho sotaque de Dul. — É só isso? É simples assim? — Sim, é só isso. O que ela propunha era inimaginável. Revoltante. Ultrajante. Era uma blasfêmia contra Deus. Então ela pensava usá-lo para receber sua fortuna? O matrimônio era um sacramento, um acordo destinado a assegurar uma aliança entre clãs. Não era um ritual pagão para ser realizado e desfeito por um simples capricho, apenas para a noiva receber seu dinheiro. — Não vou fazer o que me pede. — Ótimo. — Ela apertou os lábios, tornando-os uma linha fina. — Espero que você aprecie nossa ilha, escocês, pois ficará aqui por muito tempo. Dul deu as costas para Christopher e foi para a mesa onde todos os olhos estavam voltados para ele. — Talvez a vida toda, escocês — ela acrescentou sobre o ombro, sem parar de andar.



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• As valquírias na mitologia Nórdica eram responsáveis por conduzir os guerreiros mortos ao salão dos mortos, Valhalla.


Valhalla: seria o céu, para os vikings.


Se comentarem posto mais amanhã!


Comentem e Favoritem!


Besos y Besos!!!😘😘😘


 



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Autor(a): Srta.Talia

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O escocês era inacreditavelmente obstinado. Durante vários dias Dul e seu povo divertiram-se acompanhando, a certa distância, os movimentos de Uckermann enquanto tentava construir com restos de madeira jogados na praia, resina e cordas velhas, um tipo de balsa que pudesse levá-lo de volta à Escócia. Naquela manhã, usando um casa ...



Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



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  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


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