Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época
Estava em casa. Graças a Cristo. Christopher e os rapazes manejaram os remos por algum tempo enquanto Dul permaneceu na proa guiando-os para uma baía pequena, ao abrigo de rochedos. Havia muita cerração e o frio era intenso. Christopher remava depressa e com força para se aquecer, mesmo assim, batia os dentes. Ele pôde ver a costa desolada por um instante, tendo a cerração diminuído, para, em seguida, envolvê-los novamente. Era impossível para Christopher ter um ponto de referência. Ele nunca havia chegado tão ao norte, mas analisara os mapas encontrados na fragata e lembrava-se bem daquela costa. Assim, apesar da cerração, ele guiou-os e conseguiu entrar na Gellis Bay. — Parem! — Dul gritou da proa. O byrthing raspou o casco na areia e nos pedreguIhos, parando em seguida, bruscamente. — Assim está bom. Podemos desembarcar — ela acrescentou. Marcelino foi o primeiro a sair do navio. Saltou as pedras espalhadas pela praia e franziu a testa. — O lugar é este mesmo? Christopher, que tinha acabado de pular a amurada e caminhava na água na direção da praia, confirmou: — É, sim, rapaz. Chegando à terra, ele ajoelhou-se, pegou um punhado de areia e sentiu-a escorrendo entre os dedos. Escócia. Pelo menos eles tinham chegado ao continente. Quem seria o rei daquelas terras distantes? Era melhor eles ficarem alertas. A cerração talvez fosse uma bênção. Eddy atirou para Christopher uma corda trançada, bem grossa. Ele e Marcelino amarraram o byrthing a uma pedra pontuda no meio da praia. — Está bem firme — Christopher declarou. — E estes dois? — Alfonso perguntou do navio, apontando para os dois prisioneiros. — Desembarquem — Christopher acenou para ele e Eddy. — Vamos decidir quem ficará para trás, vigiando-os. Não devemos nos arriscar a deixá-los sozinhos. — Desde quando você dá ordens? — A cabeça de Dul apareceu no meio do navio, acima da carga. — Desde que chegamos ao meu país... cara esposa. Mesmo estando a mais de vinte passos de distância, ele pôde ver a expressão
de desagrado de Dul. Enquanto esperava por ela na praia, Christopher perguntou a si mesmo por que ele, simplesmente, não desaparecia? Bem, era verdade que trazia consigo a preciosa espada do Legislador, mas não tinha montaria nem dinheiro. E, molhado até os ossos, não lhe parecia boa idéia aventurar-se pelo continente. Dul apareceu na proa do byrthing e Christopher estreitou os olhos, receando não estar enxergando bem. Ah, não havia engano. Aquela era Dul, sim, e estava vestida de homem. Usava calção, botas e uma túnica com um cinto do qual pendia a espada do irmão. Ela puxara os longos cabelos para trás e fizera duas tranças com eles. Christopher lembrou-se de, exceto pelo elmo e pela túnica de malha de ferro, sua aparência era a mesma daquele dia em que ele pusera os olhos nela pela primeira vez. A lembrança trouxe-lhe um sorriso aos lábios. Um minuto mais tarde viu Dul do lado dele na praia cercada de penhascos. — Por que está me olhando desse jeito? — Essa... sua roupa. — Este é um lugar desconhecido e não sabemos o que iremos encontrar. Pareceu-me... prudente vestir-me assim. De mais a mais, estas roupas estão secas. Tinha lógica, Christopher admitiu e não fez nenhum comentário. — Que faremos agora? — Marcelino indagou, as faces vermelhas como cerejas maduras por causa do frio e do exercício. Todos os olhares voltaram-se para Christopher. Ele tinha consciência de que precisavam encontrar abrigo com urgência por causa do frio intenso. Era quase um milagre eles terem chegado até ali e em boas condições, depois daquela viagem horrível, de três dias no navio aberto, e no rigor do inverno. — Você fez a pergunta para mim? Estamos aqui por causa dela — Christopher alegou, olhando para Dul. Ela endireitou-se e assumiu aquela expressão autoritária que fazia com que Christopher desejasse dar-lhe um tapa... ou beijá-la. Ele nunca sabia qual das atitudes lhe daria mais prazer. — Em primeiro lugar... — Dul hesitou. Olhou para a praia, depois para o terreno rochoso à sua frente. — Temos de encontrar Duarte. — É isso mesmo — Christopher concordou. — Exatamente. — Dul encarou-o tendo erguido bem a cabeça. Mas o que ele viu nos olhos dela desmentia a autoconfiança que ela queria demonstrar. Ela estava com medo. — Então, podemos ir. Você vai à frente, nós a seguiremos — disse Christopher fazendo um gesto na direção oposta à da praia e esperou que Dul tomasse a dianteira. Os três rapazes se entreolharam, desanimados com aquela evidente insegurança de Dul e o desinteresse do escocês. Christopher, ao contrário, estava satisfeito, sentia até vontade de rir. A mulher não tinha a menor idéia do que fazer. Observara-a quando eles chegaram à praia e, pelo modo como ela olhara ao redor, estudando os penhascos e os rochedos, ele percebera que a pobre estava completamente desamparada. Que se danasse. — Tudo bem — ele falou rispidamente. — Vocês quatro fiquem aqui. Vou subir pelos rochedos para ver o que há lá em cima. Os rapazes concordaram, mas Dul protestou: — Eu não fico aqui. Você acha que sou idiota? — O que está pensando, mulher? Será que lhe passou pela cabeça que eu seria capaz de deixá-los aqui nesta... — Eu vou com você — Dul interrompeu-o. Christopher admitiu que, realmente, havia pensado em desaparecer. Mas isso tinha sido antes. Agora compreendia que todos precisavam dele e não poderia deixá-los entregues à própria sorte. Ele voltou-se para os rapazes. — Voltem para o navio e esperem por nós lá. Fiquem de olho naqueles dois patifes. Não devemos nos demorar. Marcelino quis protestar, mas Dul fez um gesto para ele acompanhar Eddy e Alfonso. — Vamos, Marcelino — Alfonso chamou-o. — Não estou tranqüilo, sabendo que Derrick e Rasmus ficaram sozinhos. Apesar da carranca, Marcelino seguiu resignado para o byrthing, atrás de Eddy e Alfonso. — Vamos? — Christopher perguntou a Dul, indicando os rochedos. Sem uma palavra, ela marchou na frente dele. Uma hora mais tarde eles estavam andando pelas charnecas acima da praia, sem ter noção de que lugar seria aquele. Não havia uma pessoa à vista, nem sinal de alguma habitação. Tampouco havia carneiros pastando ou plantação. Nem mesmo uma trilha feita por carroças ou por animais. Os únicos sons que eles ouviam eram o do vento, do mar e, ocasionalmente, o crocitar de uma andorinha-domar. Christopher notou uma grande mudança no comportamento de Dul desde que eles deixaram o navio. Ela estava atenta, cautelosa, quase medrosa, e mantinha-se sempre bem junto ao lado dele, não se arriscando a afastar-se do seu lado mais do que uns poucos passos. Ele não ia negar que lhe agradava bastante essa atitude dela. Começou a soprar um vento forte e gelado que os castigava. Christopher batia os dentes e sentia as mãos e os pés congelados. Percebendo que Dul também tremia, ele abriu o casaco. — Venha. Encoste-se em mim. O casaco é largo. Ela não hesitou e num segundo estava abraçada a ele, ambos enrolados no casaco de pele. Ocorreu-lhe que ela se sentia perdida, fora do seu elemento. A paisagem não era muito diferente da de Fair Isle, mas aquele era um país estranho e ela, uma mulher sozinha. Como ele poderia deixá-la? Ou será que poderia? Afinal, já chegara à Escócia. Se viajasse a cavalo, chegaria a Wick em dois dias e, se caminhasse estaria lá em duas semanas, talvez menos. Ele já se atrasara para o casamento, que importância tinha atrasar mais duas semanas? Abraçado a Dul ele sentiu o corpo dela aquecendo-o, mas seu pensamento estava em Angelique Boyer. Sua noiva. — Vamos — ele disse abruptamente e segurou na mão de Dul. — Temos de voltar ao navio. Quando esta cerração desaparecer por completo, iremos encontrar esse tal Duartes, depois seguiremos para a casa de seu pai. Ela olhou para ele, o rosto corado e os olhos brilhando por causa do frio. — É verdade? Você manterá sua palavra? Seus olhares se cruzaram, mas Christopher não respondeu. Disse, por fim: — Vamos descer para a praia. Antes mesmo de ambos chegarem à beira dos rochedos, ouviram os gritos de Eddy. Os dois ficaram alarmados. — Alguma coisa aconteceu — disse Dul, descendo precipitadamente a encosta rochosa e correndo pela praia. Christopher passou à frente dela, já com a espada desembainhada. — Uckermann! Dul! — Alfonso gritou, ofegante, correndo ao encontro deles. — Derrick e Rasmus... Dul parou na frente do rapaz. — Onde estão os dois? Onde? — Fugiram. Já faz algum tempo — Alfonso informou. — Oh, Deus, temos de encontrá-los! — disse Dul, indo para a frente. Christopher segurou-a. — Me solte! — ela gritou. — A culpa foi minha! — Marcelino exclamou, aproximando-se, ofegante e cambaleando, ao mesmo tempo que segurava a perna ensangüentada. Eddy apareceu atrás dele e os dois caíram na areia aos pés de Dul e Christopher. — Marcelino! Eddy! — ela gritou, em pânico ao ver o sangue escorrendo dos ferimentos dos jovens e também de suas armas. — Vocês estão muito feridos. — Não é nada sério — disse Marcelino. — Foi só um pequeno corte. — Deixe-me ver. — Dul ajoelhou-se na frente do rapaz. Marcelino fez uma careta quando ela rasgou o calção dele e examinou o ferimento. Em seguida ela rasgou um pedaço da própria túnica para fazer um curativo na perna do rapaz.
Alfonso e Eddy guardaram as respectivas armas na bainha. Christopher notou que eles estavam ofegantes, mas pareciam bem, apesar das manchas de sangue na roupa. — Vocês dois estão feridos? — ele perguntou. — Só tive uns arranhões — Alfonso respondeu. — Eu também — tornou Eddy, ficando de pé. — O que aconteceu? — Christopher quis saber. Foi Marcelino quem respondeu: — Eddy e Alfonso estavam na praia procurando galhos e pedaços de madeira para acender uma fogueira. Eu devia ficar no navio vigiando Derrick, mas... Marcelino parou de falar e cerrou os dentes. Christopher reconheceu nos olhos dele a dor da autocensura. — Derrick libertou-se — Eddy completou. — É, foi isso. Graças a Deus, estávamos por perto quando vimos que eles estavam sem as cordas — continuou Alfonso. — Marcelino feriu Rasmus, mas, infelizmente, nós três, juntos, não conseguimos dominar os dois. Marcelino, já com a perna enfaixada, levantou-se. Tanto ele como Eddy e Alfonso estavam muito envergonhados. Christopher olhou para os três com simpatia. Cristo, eles eram tão jovens. Não poderiam dominar assassinos como Derrick e Rasmus. Tiveram sorte de sair vivos do confronto com aqueles bandidos. Se alguém tinha de levar a culpa, esse alguém seria ele próprio, Christopher pensou, maldizendo-se duplamente: em primeiro lugar por deixar os rapazes sozinhos; em segundo, por não ter matado os homens de Pablo quando tivera a chance de fazer isso. Ele colocou a mão no ombro de Marcelino. — O que aconteceu com você, rapaz, poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Estamos todos cansados e mal temos dormido. — Logo você ficará bom — afirmou Dul. — Sentirá apenas um pouco de dor. Quanto a Derrick e Rasmus, temos de ir atrás deles. Será que ela estava falando sério?, Christopher pensou. — É o que devemos fazer — concordou Alfonso imediatamente. — Eles não podem ter ido muito longe. — Espere. — Christopher colocou a espada na bainha. — Não convém sairmos agora à procura dos assassinos. Ainda há cerração e vocês não conhecem este lugar. Além disso, temos outros problemas para resolver. — Você não entende! — Dul virou-se para Christopher, seu rosto branco como cera. Ele nunca tinha visto aquela expressão desesperada nos olhos dela. Mesmo assim, ele não quis voltar atrás na sua decisão e declarou: — Derrick e Rasmus se foram, os rapazes ficaram feridos, mas não foi nada tão grave. Vamos esquecer aqueles dois. Iremos até Rollo, receberemos o dinheiro de Dul e então vocês poderão voltar para Fair Isle. — Não, não — Dul discordou.
Era tão grande seu nervosismo, que ela mordeu o lábio inferior com força, chegando a fazer um pequeno corte nele. Aquela reação surpreendeu Christopher. Dul devia estar escondendo alguma coisa. — De que você tem medo? Receia uma retaliação por parte dos dois assassinos? Que eles se vinguem? — ele questionou. Em vez de responder, Dul ficou andando de um lado para outro. Christopher teve certeza de que ela estava apavorada porque não sabia o que fazer em seguida. Foi até ela. — Não fique aborrecida. Prometo não abandoná-la, e enquanto estivermos juntos, cuidarei para que nenhum mal lhe aconteça. Mas as palavras saíram dos seus lábios, ele não soube explicar o que dera nele para fazer tal promessa. Devia estar maluco, com o miolo mole. Se fosse esperto, deixaria os quatro sozinhos e iria cuidar da própria vida. Dul parou de repente, por pouco não foi atingida por pedras e pedriscos que rolaram dos rochedos, logo acima deles. Christopher olhou para cima e ficou paralisado. — Pelo sangue de Thor — ela murmurou. — O que é isto? Um homem corpulento, usando xale xadrez sobre o ombro esquerdo, botas, grosso casaco de peles e boné também de peles, estava no alto do terreno rochoso, meio encoberto pela cerração. Uma espada de folha larga pendia de sua mão gorda. Christopher tirou a Gunnlogi doboldrié que trazia a tiracolo. — Quem são vocês e de onde vêm? — indagou o homem. Dul aproximou-se de Christopher e ele, inconscientemente, passou o braço ao redor da cintura dela, num gesto protetor. Ao mesmo tempo sussurrou-lhe: — Cuidado. Pode ter certeza de que esse homem não está sozinho. Deve haver muitos outros atrás dele. — Nós viemos de Fair Isle. Sou Dulce, filha de Fritha — Dul informou. — Você disse Fritha? — O homem corpulento estreitou os olhos. — E este é... Christopher apertou-a com força. — Quer apresentar todos nós, mulher? — Ele deu um passo, ficando à frente dela e ergueu a Gunnlogi. — E você, quem é? O homem era escocês, sem dúvida, pois vestia-se à moda das Terras Altas da Escócia. Suas palavras tinham também um sotaque familiar. Porém, dois outros homens, trajados como o primeiro, surgiram no meio da cerração e postaram-se um de cada lado do homem corpulento. Um deles inclinou-se para dizer-lhe alguma coisa ao ouvido. Algo não parecia bem. Aqueles três podiam ser escoceses, mas não necessariamente amigos. Christopher dirigiu um olhar cauteloso a Marcelino, Eddy e Alfonso que se colocaram atrás dele e de Dul. Os rapazes fizeram um gesto com a
cabeça, indicando que tinham as armas preparadas. Dil também deu um passo à frente e tirou a espada da bainha. Droga! Ela não podia expor-se daquele jeito, Christopher pensou, procurando ao redor um lugar onde pudesse deixá-la protegida. Que diabo! O que ele menos queria era uma mulher obstinada na sua... — Sou Duarte — o homem apresentou-se. O quê? Christopher arregalou os olhos e Dul fez o mesmo. Viram Duarte e os dois homens embainharem as espadas. — Venha, Dulce, filha de Fritha. — Duarte fez um gesto indicando que Dul e seus acompanhantes deviam subir até ele. — Nós lhes damos as boas-vindas.
— Você é Jack Duarte? — Dul olhou para o rosto enrugado do escocês. Assim, de perto, constatava que ele já era bem velho. — Sim, esse é o meu nome, mas a maioria das pessoas me chama de Jack. — Duarte respondeu. Nós vimos o seu navio esta manhã, perto do cabo St. John e imaginamos que vocês iriam atracar na baía. — Então vocês nos vigiavam? Por quê? — Uckermann indagou. Duarte deu de ombros. — Queríamos descobrir quem eram vocês e o que pretendiam. Recebemos poucos visitantes. Quase todos os navios atracam em Wick ou ao redor do promontório que fica ao oeste. — Dunnet Head? — Dul perguntou, mal podendo respirar. — Exatamente. Você conhece o lugar? — Não, não conheço. — Ela sacudiu a cabeça com muito vigor. Dul estava perto de Uckermann e Duarte inclinou um pouco a cabeça para vê-la melhor e observou: — Você não se parece com sua mãe. Na minha opinião é mais parecida com seu pai. Dul ficou perplexa com as palavras de Duarte. Quando ela se apresentara, vira a surpresa no rosto do velho. Teve a impressão de que ele já a conhecia. Mas como isso era possível? — Você conheceu os meus pais? — Sim, nós nos encontramos muitos anos atrás em Fair Isle, bem antes de você nascer. — Você esteve em Fair Isle? — Marcelino indagou, guardando a espada, ignorando o olhar de cautela de Uckermann. — Ah, sim, visitei a ilha muitas vezes quando era mais jovem. Conheci um homem sábio, de grande valor que fazia as leis e as interpretava. — Duarte olhou para a espada na mão de Uckermann e franziu a testa, mas não disse nada. Acrescentou apenas: — O Legislador, assim ele era chamado. Vocês o conhecem, com certeza.
— Ele é meu tutor — Dul declarou, emocionada. — Lembro-me de que ele falava muito sobre você em suas cartas. Como está o amigo? — O Legislador morreu duas noites atrás, no mar, numa tempestade — Uckermann respondeu. Veio à mente de Dul a lembrança daquela noite trágica, mas ela esforçou-se para manter a compostura. — Que ele esteja com Deus — Duarte murmurou. — Havia dois outros homens no navio — disse Uckermann. — Vocês os viram? — Não. — Duarte olhou para seus homens e eles encolheram os ombros. — Eles seriam loucos se decidissem andar por estes terrenos pantanosos, cobertos pela cerração sem um guia local. Ao falar, Duarte estendeu o braço indicando a extensão das charnecas. — Eles eram nossos prisioneiros e... fugiram — Dul explicou, depois arrependeu-se. Será que poderia confiar naquele homem? Tudo indicava que ele era, realmente, o amigo de quem o Legislador tinha falado. Mesmo assim... — Um deles foi responsável pela morte do Legislador. Por isso nós os mantínhamos amarrados — Uckermann completou, embainhando, por fim a Gunnlogi.
— Compreendo. — Duarte puxou as pontas do xale ao redor dos ombros e tremeu. —Vamos até minha casa que fica a menos de uma milha de distância, ao leste. Se continuarmos aqui, morreremos congelados. O que acham de conversarmos apreciando uma comida quente e tomando cerveja? Ele virou-se e Dul ia segui-lo, mas Uckermann segurou-lhe o braço. — E o navio? Não podemos deixá-lo sem ninguém vigiando-o. — Tem razão — Eddy concordou olhando para o mar. — Trouxemos uma boa carga. Tecido, grãos, peixe, hidromel. Duarte ergueu as sobrancelhas. — Hidromel, você disse? — Eddy assentiu com a cabeça. A expressão de Uckermann dizia que ele não estava contente com Eddy por revelar tanta coisa. Afinal, eles eram apenas cinco e esse Duarte, amigo ou inimigo, certamente teria muitos outros homens em casa, prontos para tomar o navio se isso lhes interessasse. — Pensamos em trocar os tecidos e os grãos por cavalos — disse Dul, confiando na amizade de Duarte. — E também pretendemos negociar o hidromel. — Não temos uma gota dessa bebida desde a última vez que visitei a sua Fair Isle. — Então pretende trocar a mercadoria conosco? — Eddy perguntou. — Por cavalos? Duarte olhou para Dul, depois voltou-se para Eddy.
— A sua proposta é um tanto ousada, rapaz. Você tem idéia de como é raro um bom cavalo por estas bandas? Uckermann já tinha falado com Dul sobre isso, mas ela não lhe dera atenção. — Em primeiro lugar quero saber por que vocês vieram até aqui e também sobre esses... prisioneiros — disse Duarte, começando a andar na direção leste. Dul libertou-se de Uckermann e ficou do lado do velho senhor. — Talvez possamos fazer um negócio que agrade. Notando que Uckermann mantinha-se alerta e cauteloso, Dul achou melhor guiar-se por ele. Também devia agir com cuidado e reservar para mais tarde seu julgamento sobre aqueles escoceses. Devia esperar, pelo menos, que Duarte lhe fizesse a oferta pela carga do navio. Como se estivesse lendo a mente dela, Uckermann puxou-a para bem perto dele e falou em voz baixa: — Se Duarte lhe oferecer mais do que um cavalo velho pela carga, ou é tolo ou é, realmente, o que ele diz ser: um amigo. — Se ele for mesmo um amigo, isso o surpreenderá? — Coisas estranhas acontecem. — Uckermann encolheu os ombros. — Mas, cuidado. Fique sempre do meu lado, principalmente quando chegarmos à propriedade dele. Ela sorriu intimamente e continuou a andar. Logo avistou, através da névoa já menos intensa, uma casa grande, feita de pedras e madeira, cercada por um muro baixo, também de pedras. — Minha casa — disse Duarte pouco depois, dirigindo-se a Dul. Mais alguns passos e eles pararam na frente do muro. — Esperem um instante. Vou falar com minha esposa — ele avisou e afastou-se. A maioria dos homens também desapareceu, entrando numa construção baixa e comprida, do lado da casa grande. Dul deduziu que ali devia ser o alojamento dos empregados e também o estábulo. Seis homens ficaram para trás e sentaram-se no muro. Uckermann continuou a observá-los. Pouco depois de Duarte entrar na casa, a porta abriu-se e uma mulher apareceu no quintal; ao vê-los acenou-lhes, dando-lhes as boas-vindas. Aproximando-se, ela sorriu e estendeu a mão branca e comprida para Dul. — Minha cara, você está molhada e gelada até os ossos. Vejo também que está exausta. Havia sinceridade e simpatia nos olhos brilhantes da mulher. Dul apertou a mão dela e também sorriu. — Para dizer a verdade, estou mesmo enregelada e exausta. — Vamos para dentro. Tenho um quarto preparado para você e seu marido. — Ela olhou para Uckermann e cumprimentou-o apenas com um aceno de cabeça. Marido.
Ao ouvir a palavra, Dul olhou para Uckermann. Ele arqueou as sobrancelhas e seguiu as duas para o interior da casa.
Depois de uma noite desconfortável, tendo dormido no chão do pequeno quarto reservado para Dul e ele, Uckermann passou o dia ajudando Duarte e seus homens a remover toda a carga do byrthing.
Dul parecia em segurança na casa e estava sendo muito bem tratada pela sra. Duarte. O casal não tinha filhos e a mulher cercava Dul de agrados, como se fosse uma filha. E pela aparência de Dul, tais mimos significavam muito para ela. No fim do dia Duarte trouxe do estábulo cinco belos cavalos para Uckermann examinar. Ele mal pôde acreditar na generosidade do homem. Só um dos animais fazia parte do negócio; os outros seriam emprestados, mas o gesto não deixava de ser magnânimo. Sem dúvida eles deviam tudo aquilo à verdadeira amizade que o escocês tinha tido pelo Legislador. Durante o dia Uckermann pensou muito no velho amigo. Sentia sua falta mais do podia expressar com palavras. No entanto, ele não podia se deixar levar por tais sentimentos. Tinha seus próprios planos e precisava começar a colocá-los em prática. Agora que Dul estava em segurança e, ao que tudo indicava, entre amigos, Uckermann pensou, pela centésima vez, em partir. Depois do jantar, quando a sala ampla estava quase vazia, ele olhou nos mapas de Duarte. Wick ficava a apenas um dia de viagem a cavalo, talvez dois, considerando-se o tempo inclemente. E para selar um dos cavalos ele gastaria poucos minutos. A noite estava clara, o céu límpido. Por que não partir já? Ele levantou-se, espreguiçou-se com certo exagero, fazendo uma pequena cena para mostrar que estava com sono. Marcelino, sentado perto da lareira, contava mentiras e suas histórias fantásticas para dois homens de Duarte. Os três não prestaram atenção a Uckermann quando deixou a sala e entrou no corredor iluminado por algumas velas. Em vez de entrar no quarto que ocupava com Dul, ele virou-se com a intenção de ir até a porta lateral daquela casa que parecia uma fortaleza. — Uckermann! A voz de Duarte fez com que ele parasse imediatamente, quase morto de susto. Olhou para trás, viu o velho senhor encostado numa porta, a poucos metros de distância. — Venha tomar uma caneca de hidromel comigo. Não é sempre que tenho a chance de receber a visita de um homem do sul. O que mais ele poderia fazer, senão aceitar o convite do anfitrião? Poucos minutos depois ele estava na cozinha, perto do fogo, com uma caneca de hidromel na mão. — Sua esposa já devia estar na cama — observou Duarte. — O quê? E onde ela está? — Uckermann ficou de pé imediatamente. — Sente-se, homem! Ela está bem. — O velho senhor afastou a pele de cervo que vedava a janela. — Lá está Dul, na horta, com minha mulher. As duas deviam entrar. Com este frio sua mulher pode ficar doente. Uckermann foi até a janela e olhou para a horta. Dul estava de costas conversando com a sra. Duarte, ambas sentadas num banco tosco entre o que restava dos pés de hortaliças do outono anterior, cobertos de gelo. À pálida luz da lua ela parecia bem. Uckermann afastou-se da janela e voltou ao seu banco, perto do fogo. — Essa mulher faz o que bem entende. Duarte riu. — É. Estou vendo. Uckermann acabou de tomar seu hidromel em silêncio sem se importar com o olhar do homem fixo nele, estudando-o abertamente. Com seu anfitrião acordado, ele teria de esperar mais algumas horas para poder escapar. Pois esperaria. Pelo menos sentia-se muito confortável e aquecido ali, perto do fogo e apreciando a bebida doce. — Os rapazes disseram-me que você é um nobre. Um senhor de terras. — A maneira direta de Duarte não surpreendeu Uckermann. — Sim, é verdade. — E o que o levou a um lugar tão distante como Fair Isle. É um destino estranho para um escocês solitário. Uckermann olhou para o velho senhor querendo adivinhar o que Marcelino e os outros lhe teriam contado. Duarte era um homem perspicaz. — Dul e eu... somos recém-casados — ele falou a verdade. — Isso é muito evidente. Uckermann dirigiu a ele um olhar indagativo. — Nota-se que há uma ligeira tensão entre vocês dois. — Duarte apontou para o banco onde Dul estava sentada. — E ela demonstra que é uma esposa inexperiente... ainda não acostumada ao matrimônio. A percepção de Duarte estava deixando Uckermann inquieto e ele sabia que o homem podia ler isso no seu rosto. — Alegre-se, filho e aproveite. — Duarte esvaziou a caneca e deixou-a sobre a mesa. Em seguida levantou-se — Então você vai até o pai de Dul reivindicar seu dote? Uckermann ficou tenso. — Quando as mulheres se juntam, fazem confidencias — Jack acrescentou. Uckermann encolheu os ombros e procurou falar em tom casual: — Sim, esse é o nosso plano. — Está certo. O dote é de sua esposa, por direito. Mas há uma coisa que não faz sentido. Por que vocês estão fazendo esta viagem em pleno inverno? Não poderiam esperar até a primavera? Sem saber o que responder, Uckermann preferiu ficar calado.
— Ora, o que importa? Não tenho nada com isso. Perguntei apenas por curiosidade. — Duarte pegou a jarra de hidromel que estava sobre a mesa e tornou a encher a caneca de Uckermann. — Conheço o pai de Dul — Rollo? Ah, sim, ontem você disse que o conhecia. — Um homem estranho e não muito cordial. — Foi o que me disseram. Duarte alisou os bigodes curtos e espessos. — A propriedade dele não é muito longe daqui. Mey Loch fica ao sudoeste, uma jornada a cavalo de meio dia, talvez nem isso. Uckermann olhou para o fogo e, enquanto tomava devagar sua bebida, considerou se devia fazer ao velho senhor algumas perguntas sobre Rollo. Por fim, decidiu matar sua curiosidade. — Fale-me sobre Rollo. Que tipo de homem abandona os próprios filhos? Duarte enrugou a testa. — Um homem que pensa que os filhos não são seus. Uckermann ficou boquiaberto. Ele tentou falar, mas Duarte adiantou-se. — Você não sabia? — Não, claro que não. Você está querendo dizer que Dul e Christian não são... — Oh, não! — Duarte acenou depressa com a mão indicando que Uckermann o interpretara mal. — Os dois são filhos legítimos de Rollo. Mas ele nunca acreditou nisso. Agora Uckermann ficou realmente confuso. — O Legislador não lhe contou? Hum... Bem, ele sempre foi muito discreto. E sua esposa? Ela nunca lhe falou sobre essa história? — Não. Acredito que ela nem esteja a par dessa história. E, se está a par, nunca deu demonstração disso. O que eu sei é que ela sente desprezo pelo pai. — Não sei por que razão o Legislador teria escondido dela a verdade. Enfim, seja como for, você poderá fazer uso desta informação quando for tratar com Rollo. Também lhe será útil no seu relacionamento com Dul. — Eu lhe agradeço muito por essa revelação. Acabando de dizer isso, Uckermann surpreendeu-se com seu grande interesse pelo assunto. Que importância tinha a revelação de Duarte? Depois daquela noite ele nunca mais iria ver Dul. — A suspeita de Rollo tinha fundamento — prosseguiu o velho senhor, depois de assoar o nariz num trapo. — O Legislador e Fritha eram apaixonados um pelo outro. — A mãe de Dul e o Legislador eram amantes? — Não foi o que eu disse. Eles se amavam, mas não eram amantes. Nunca foram. É bem diferente. — Oh, sim. Continue. — Rollo sabia de tudo, mas achou que casando-se com Fritha, ela esqueceria o Legislador e passaria a amá-lo. Mas o coração dela sempre pertenceu ao Legislador. — O que aconteceu? — Rollo procurou vingar-se da única maneira que lhe era possível. Tratava Fritha muito mal. Quando Dul e Christian nasceram ele jurou que as crianças não eram dele. E sempre as tratou mal. — Por que Fritha não se separou dele? Existe o divórcio entre eles. — Isso eu não posso dizer. Tudo o que eu sei é que Rollo tornou-se cada vez mais violento. Receando pela segurança de Fritha e das crianças, o Legislador abandonou a ilha. Ele supunha que estando ausente, Rollo não sentiria mais ciúme e passaria a tratar bem a esposa e os filhos. Por isso veio para Gellis Bay e morou comigo e minha esposa. Quando ele soube da morte de Fritha, voltou para Fair Isle, mas Rollo não estava mais lá. — A partir daí o Legislador tornou-se o tutor de Dul e Christopher — Uckermann completou. — Isso mesmo. Por amor a Fritha ele os criou como seus próprios filhos. Uckermann colocou a mão dentro da pequena bolsa presa à sua cintura e tocou no broche de prata que o Legislador lhe dera para entregar a Dul l como presente da manhã seguinte à do casamento. Vieram-lhe à mente as palavras do velho: Guardo essa jóia há muitos anos. Na verdade, pertenceu a mãe de Dul. Está na hora de passar para as m ã os da filha..
Duarte espreguiçou-se e bocejou. — É uma história triste, mas esclarece muita coisa. Fica a seu critério contá-la ou não à sua esposa. Enfim, com o Legislador morto... pode ser que essa história não tenha importância. Duarte ficou de pé e Christopher fez o mesmo. — Para mim tem muita importância. Obrigado — Uckermann agradeceu, embora não pretendesse contar nada a Dul, mesmo porque nem iria vê-la. Que diferença faria para ela saber ou não a verdade? — Vou deixá-lo, filho. Preciso dormir. Boa noite. A sra. Duarte entrou na cozinha e o casal de velhos seguiu pelo corredor, depois subiu a escada que conduzia ao andar superior, onde ficava seu quarto. Na cozinha o fogo estava quase apagado e o cachorrinho dos Duarte dormia enrolado sobre um tapete. Uckermann ficou atento, esperando ouvir vozes dos homens na grande sala. Mas chegou até ele apenas alguns roncos vindos do longo corredor. Todos dormiam. Exceto Dul. Ele aproximou-se da janela pensando em chamá-la. Mas não ergueu o couro de cervo. De que adiantava perturbá-la? Se ele fosse esperto, iria embora protegido pelas sombras da noite. Chegaria a Wick dentro de dois dias. Então poderia jantar com sua verdadeira noiva, casar-se, ter a noite de núpcias e continuar sua vida. Uma estranha emoção tomou conta dele e deixou-o excitado. Mas não foi Angelique Boyer, a noiva prometida, que fez o sangue correr em suas veias como fogo. Foi a mulher corajosa sentada sozinha lá fora, naquela noite de inverno. Ele ergueu o couro de cervo que vedava a janela e ficou observando Dul por algum tempo. Mesmo enrolada no casaco, ela tremia de frio, a cabeça estava descoberta e os cabelos soltos pareciam à luz da lua uma cascata de seda prateada. Uckermann afastou-se da janela, abriu a porta, o tempo todo dizendo a si mesmo que era o maior dos tolos. Dul virou-se e ficou surpresa ao vê-lo. — Ucker! Imaginei que a esta hora você já estivesse na metade do caminho para Wick. O que era, afinal essa mulher? Como podia ler seu pensamento? Ele pisou no chão coberto de neve e estremeceu. — Não. Não irei esta noite.
§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§
E então!? Acham o que o Christopher vai abandonar a Dulce e os meninos!?
Gente esse é o último capítulo de hoje, mas amanhã eu volto!
Besos y Besos!!!😘😘😘
Autor(a): Srta.Talia
Este autor(a) escreve mais 11 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Não era difícil adivinhar o que Uckermann pretendia. Dul podia ver aquele desejo primitivo impresso nos olhos dele. Com alguns passos Uckermann venceu a distância entre eles e, dando a mão a Dul, ajudou-a a levantar-se do banco. Ela não protestou, nem teria tido tempo para isso. Ele beijou-a com ardor e possessividade, como naquela tarde, qu ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 34
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52
Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
-
dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16
Poxa vc nao vai posta mas o final?
-
heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38
Capítulo 13 ta errado....
-
dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45
+++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++
-
dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15
Continua
-
dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33
Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
-
dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20
Continua
-
dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54
😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄
-
dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
-
dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24
Continua