Fanfics Brasil - #CAPÍTULO II# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO II#

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O escocês era inacreditavelmente obstinado. Durante vários dias Dul e seu povo divertiram-se acompanhando, a certa distância, os movimentos de Uckermann enquanto tentava construir com restos de madeira jogados na praia, resina e cordas velhas, um tipo de balsa que pudesse levá-lo de volta à Escócia. Naquela manhã, usando um casaco pesado, Dul estava no alto de um rochedo, de onde podia ver toda a praia. Lá embaixo, Uckermann estava voltado para a direção sul e tinha o olhar fixo na linha do horizonte. O vento desmanchava seus longos cabelos e enfunava a túnica folgada que um dos homens lhe dera. Observando-o, Dul admirou-se de ele poder suportar a água gelada, pois estava com as pernas nuas, exceto pelas botas. Era pleno inverno. Uma camada fina de neve cobria o alto dos rochedos e a relva das charnecas da ilha. Os dias eram curtos e os ventos tornavam-se cada vez mais violentos. Ela olhou para o céu e inspirou o ar salgado e úmido. Tudo o que ela conhecia era o mar, o que ele oferecia e o que guardava. Dul voltou novamente o olhar para Uckermann e ficou imaginando como seria a Escócia na Primavera. — Ele desistiu. Reconhecendo a voz do Legislador, Dul virou-se para ele. — Não, velho — discordou. — Ucker ainda acredita que deve haver um meio de ele voltar para sua terra. Vejo isso no modo como ele mantém os ombros retos e nos punhos fechados dos lados do corpo. O Legislador sorriu e olhou de relance para as ovelhas que ele deixara pastando na charneca. Dul deu-lhe o braço e ficou bem junto dele. — Acho que você estava certo. Esse chefe de clã não vai concordar com o casamento. — Dê-lhe mais um pouco de tempo e ele acabará cedendo. — sugeriu o Legislador, olhando para Uckermann que naquele momento estava de pé na rebentação das ondas. — Hum — ela murmurou. Ocorreu-lhe justamente que o precioso tempo estava passando. E sua paciência também se esgotava. Ela acrescentou em voz alta: — Durante toda a manhã o escocês não fez outra coisa senão esbravejar e andar pela praia. — E você ficou aqui observando-o, abertamente? — Estou aqui há horas. — Ah! Não é de admirar que ele esteja furioso. — O que você quer dizer com isso? Não entendo o motivo da raiva dele. A solução é tão simples. Basta ele concordar e passaremos a executar o nosso plano. — Falando assim, você faz o plano parecer tão simples. — É simples. Bem, não era nada simples, ela reconhecia, mas não tinha alternativa. — Você já pensou no que irá fazer depois? Dul não tinha pensado, mas respondeu: — Farei o que sempre fiz. Cuidarei de Christian e de você até que meu irmão se case, claro. — E quanto a você, Dul? Ainda não pensou em arranjar um marido? Ela franziu a testa. — Você sabe muito bem que não. E como teve a coragem de me fazer essa pergunta, se testemunhou como meu pai tratou minha mãe? — Dul retirou o braço que estava enlaçado no do Legislador e afastou-se dele. — E você também está lembrado do que Pablo fez comigo.— Ah, se eu tivesse conhecimento do que Pablo... Dul ergueu a mão para silenciar o Legislador. — Isso agora não tem importância. Tudo é passado. Para mim o que importa é a libertação de Christian. — Nem todos os homens são como Pablo. Ou como seu pai. Pode acreditar.
 Ela não acreditava. Olhou para o Legislador disposta a argumentar, mas viu que ele observava Uckermann atentamente. O escocês vinha andando com firmeza na direção deles, os olhos fixos em Dul. Trazia no rosto severo uma mistura de ódio indisfarçável e de uma raiva que ele mal conseguia manter sob controle. — Ele é como os outros. Vejo isso claramente no seu modo e olhar para mim — disse Dul. O Legislador encolheu os ombros. — O homem está fora do seu elemento. Fair Isle é para ele um outro mundo, completamente diverso do dele. Posso apostar que você também é muito diferente das mulheres que ele conhece. — Ah, isso ele tem deixado bem claro toda vez que conversamos. Portanto, não aceito a sua aposta. — Você nunca pensou em se casar por amor? — o Legislador perguntou. Pelo sangue de Thor. Será que o velho senhor não iria mudar de assunto? — Amor! O amor é uma emoção própria dos fracos de espírito — Dul falou com desdém. — Os homens empregam o amor para fazer as mulheres se curvarem à sua vontade. Alguns, para esmagá-las. E eu não serei pisada, jamais serei esmagada como um inseto debaixo da bota de um homem. O Legislador suspirou. Já ouvira tudo isso antes, mas ela continuou: — Você fala de amor mas se esquece, de modo bem conveniente, que nunca se casou. Você e eu somos parecidos, não precisamos dessas fraquezas. — Ah, aí é que você se engana. Eu amei mais profunda e intensamente do que você pode imaginar. — O ancião olhou dentro dos olhos dela e sorriu amargamente. — Um dia eu lhe contarei essa história. Ela nunca vira o Legislador daquele jeito tão franco e aberto em relação aos seus sentimentos. — Conte-me agora essa história — Dul pediu suavemente. — Não, você não está preparada para ouvi-la. Além disso, olhe... — Ele indicou a praia. — O seu noivo está chegando. De fato, Uckermann caminhava tão depressa na direção deles que ela deu dois passos para trás. Observando-o, notou que a raiva dele tinha diminuído. Mesmo assim, sua expressão era assustadora. O coração de Dul endureceu-se. O escocês a odiava. Tinha aversão por ela. Ela sentia isso de maneira intensa. Só que ele não era brutal como Pablo, cujo punho ela experimentara em numerosas ocasiões. Dul sabia que não era como as outras mulheres e sua aparência, certamente, não era como a delas. Não, estava longe de ser o tipo ideal. Talvez fosse essa a razão de não se sentir atraída para o casamento. Quem poderia gostar dela? Quem, senão Pablo, que aceitara o acordo somente para se apossar do dinheiro do seu dote, uma pequena fortuna em moedas de prata? Ah, e também porque, como seu marido, ele poderia humilhá-la e descarregar nela a sua raiva. Não, a vida de esposa não servia para ela. Era confortador saber que seu casamento com o escocês, felizmente, iria durar bem pouco. — Mulher! — Uckermann chamou-a, tendo se aproximado do rochedo. Dul não respondeu. Estava com a atenção voltada para Marcelino, o rapaz de cabelos cor de areia, que, de repente, apareceu na colina, correndo atrás de Uckermann com tal velocidade que a surpreendeu. — Marcelino, não! — ela gritou. Tarde demais. Uckermann virou-se e Dul ficou paralisada. — Tenho de ajudá-lo — disse ela, indo para a frente. — Pare — ordenou-lhe o Legislador, segurando-a pelo braço. — Mas... — Fique quieta. Quero ouvir o que eles dizem — tornou o Legislador, puxando Dul para trás. Com o coração na garganta, ela ficou olhando para o jovem Marcelino que naquele momento enfrentava Uckermann. Mas o vento uivante tornava impossível ouvir a conversa entre os dois. — Marcelino é jovem. Tem apenas dezesseis anos. Ucker o matará — Dul assinalou, nervosa. O Legislador meneou a cabeça. — Christopher Uckermann não fará nenhum mal ao rapaz. Mesmo estando com raiva, ele não é do tipo capaz de ferir um jovem impulsivo.
— Como você pode ter tanta certeza do que está dizendo? — Dul indagou, indo para a frente, pronta para intervir, caso percebesse que Marcelino precisava de ajuda. O Legislador puxou-a de volta para junto dele. — Conheço as pessoas. Sei julgar seu caráter. Dul viu Ucker colocar a mão no ombro de Marcelino, mantendo o rapaz em xeque. Ela prendeu a respiração. Sentia o braço ardendo porque o Legislador o apertava com dedos de aço. Finalmente, Uckermann soltou Marcelino e o rapaz terminou de subir a colina. Dul voltou a respirar, aliviada. — Viu? Aconteceu o que eu previa — observou o Legislador. Marcelino passou apressado por eles, dirigiu a Dul um olhar dardejante e começou a descer a colina. — O rapaz está com ciúme — apontou o Legislador. — Está com ciúme? De quem? — Do escocês. Contei a ele que você e Uckermann vão se casar. — Que absurdo está dizendo! — Dul exclamou. — Por que Marcelino iria sentir ciúme? Ele é pouco mais do que um menino. Além disso... — Ele está apaixonado por você. Marcelino a ama desde garotinho, quando você lhe dava a mão e o levava a passear. — Que tolice. Somos apenas bons amigos. — Marcelino é quase um homem. Tenha isso sempre em mente, Dul. Ela não teve tempo de refletir sobre o estranho comportamento de Marcelino ou sobre a explicação do Legislador, pois Uckermann acabara de subir a colina e naquele momento estava diante dela. Dul empertigou-se e fitou o escocês dentro dos olhos, ignorando as batidas aceleradas do coração. — Você decidiu concordar com o meu plano? — perguntou. — Não concordo — ele respondeu, por entre os dentes cerrados. Ela esperava que diante do seu fracasso, não tendo conseguido construir sua balsa, Uckermann acabasse cedendo. Por que ele não aceitava a própria derrota? Por que não admitia que a vontade dela iria prevalecer? — Nesse caso, vá para o outro lado da ilha, onde encontrará mais madeira trazida pelo mar — ela sugeriu. — Estou certa de que as crianças ficarão muito contentes de ajudá-lo a recolhê-las.
Havia fogo nos olhos dele. Olhos cor de ardósia, ela notou pela primeira vez. Eles quase a chamuscaram, tão perto Uckermannestava dela. Aquela proximidade, a altura do homem e sua virilidade perturbaram-na. Seu olhar percorreu a barba castanho-dourada, ligeiramente crescida ao redor do queixo e desceu para o pescoço musculoso. Talvez ela tivesse cometido um erro subestimando a masculinidade do escocês. Cada vez mais ela constatava que havia algo diferente em Christopher Uckermann.
Ele não era como os outros homens com quem ela convivia. Nem mesmo estando comraiva ele lhe transmitia temor, tampouco terríveis pressentimentos como acontecia quando Pablo se aproximava dela, zangado. Agora sabia por quê. Uckermann jamais se atrevera a encostar um dedo nela. Bem, talvez ele soubesse que o Legislador o mataria se ele a tratasse mal. Ou podia ser que o escocês, como o Legislador já dissera, não era um tipo de homem capaz de... Não. Era melhor não se iludir. Todos os homens eram iguais. Uckermann não podia ser exceção. O que importava era saber que a reserva dele lhe dava poder e seu poder era bem pequeno no mundo de Pablo. — Qual a distância de Fair Isle até o continente? — Uckermann perguntou, os olhos fixos em Dul. — Três dias de viagem — foi o Legislador quem respondeu. E, apontando para o arremedo de balsa abandonado na praia, ressalvou: — De navio. E se o tempo estiver bom. Continuando a olhar para Dul, Uckermann murmurou: — Três dias. Não é tão longe. Passou por ela e afastou-se a passos largos na direção da charneca. As ovelhas se afastaram, balindo, à frente dele. Dul sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. — Você não tem muito tempo — lembrou o Legislador, observando juntamente com Dul, o escocês descendo a colina. Ela sabia muito bem o que o velho quisera dizer. Pablo estaria de volta a qualquer momento. E quando ele chegasse a Fair Isle, a chance de salvar Christian se perderia para sempre. — Eu sei — ela assentiu. — Esta é uma das com plicações que você mencionou. Naquele momento Dul viu Uckermann investindo contra um carneiro que atravessara seu caminho. — Exatamente — afirmou o Legislador. — Bem, velho, vou deixar este assunto para você resolver.
Christopher sentou-se num banco a um canto da taberna da vila, imaginando como e onde poderia arranjar um pouco de cerveja para saciar sua sede. Detestava hidromel, a bebida que serviam na ilha. Era doce demais e, ao invés de lhe matar a sede, a aumentava. Para sua grande surpresa, ele tinha recebido autorização de andar livremente pela ilha e, assim que se sentira bastante forte, começara a passear por todos os recantos de Fair Isle. Podia dizer que conhecia cada metro quadrado daquele pedaço de terra desolado e batido por fortes ventos hibernais. Por fim, se convenceu de que, para sair dali por si mesmo, só criando asas para voar. Que se danasse aquela mulher imbecil e todo o seu povo.
Parecia a Christopher que Dul não gozava de total prestígio entre sua gente. No entanto, ela ordenara a todos para não trocarem uma palavra com o escocês, exceto o que fosse necessário para alimentá-lo e dar-lhe abrigo, e a ordem era cumprida à risca. Diante disso, o pouco que Christopher sabia sobre o lugar e aquele povo, devia à observação e a fragmentos de conversa ouvidos aqui e ali. A vila era pequena, tinha cerca de cem habitantes, e estava localizada no alto de uma colina rochosa, na extremidade sul da ilha. Abaixo da vila estendia-se uma faixa de praia entremeada de rochedos e com uma baía minúscula, onde estava ancorada uma única embarcação, à qual Dul chamava de navio. Era bem pouco na opinião de Christopher. Não havia floresta, nem árvores de grande porte ou de madeira de lei em Fair Isle. O navio, que os ilhéus chamavam de byrthing, fora construído com madeira aproveitada de navios naufragados que as ondas traziam para a praia. O mencionado byrthing era frágil e não resistiria se tivesse de enfrentar uma tempestade, mas era mantido sob severa vigilância. Certamente por causa da presença dele. Pelo que ele tinha visto, o navio era muito grande para ser conduzido por apenas um homem. Portanto, ele não podia pensar em viajar sozinho. Apesar do granizo e das ocasionais rajadas de neve castigarem as charnecas que circundavam a ilha, Christopher sentia um relativo conforto, graças às roupas de lã e ao agasalho de pele emprestados pelos habitantes da vila, e também pela comida e abrigo que lhe ofereciam. Mas ele reconhecia a precariedade de sua situação, uma vez que não era nem prisioneiro nem hóspede daquela gente. E o fato de não ter armas consigo, deixava-o extremamente inseguro. Não era a primeira vez que se via obrigado a usar a inteligência, a imaginação e a destreza em vez da espada para conseguir o que desejava. Porém, ele iria sentir-se bem melhor se tivesse uma boa extensão de aço espanhol ao alcance da mão. Dadas as circunstâncias atuais, Uckermann considerou, só lhe restava esperar. Bem, esperar até quando? Se fosse primavera, poderia alimentar a esperança de aparecer um navio para levá-lo de volta à Escócia. Mas no rigor do inverno poucos navios se aventuravam a navegar em águas costeiras, e nenhum se arriscava a fazer uma viagem em mar aberto. Passariam semanas, talvez meses para uma embarcação ancorar na pequena baía de Fair Isle. A lembrança do naufrágio veio-lhe muito nítida à mente. Nada restara do seu navio, a não ser pedaços de madeira espalhados ao longo da costa rochosa daquela ilha. Ele alugara a embarcação e contratara a tripulação em Inverness, e tinha também doze de seus homens como acompanhantes, inclusive seu irmão. Oh, Diego. Uckermann passou a mão nos cabelos e piscou algumas vezes para afastar as lágrimas espontâneas que lhe afloraram aos olhos. O que lhe passara pela cabeça para dar ouvidos ao irmão mais jovem e acabar aceitando sua idéia insensata?
Eles deviam ter viajado costa acima, a cavalo, como tinha sido planejado. Era o que todos esperavam. Sim, esperavam. Doce Jesus,  os Boyer! Certamente eles estavam preocupadíssimos, sem saber o que acontecera com o noivo e seus acompanhantes. Christopher Uckermann iria casar-se com Angelique Boyer, a filha mais nova de um importante chefe de clã. Uckermann contou os dias desde que deixara a Escócia. O casamento deveria ocorrer dentro de dois dias! Ah, jamais chegaria à Escócia a tempo. Ele praguejou e cerca de doze pares de olhos voltaram-se na sua direção. Realmente, na atual circunstância, não havia como estar na sua terra para o casamento. A porta da taberna abriu-se de repente, tirando-o de seus pensamentos. Uma rajada de vento e neve enregelou o ambiente. E veio acompanhada de outra presença gélida. Dul.
Ela caminhou até uma mesa vazia e não viu o escocês, que estava meio escondido, em um canto mal iluminado. O jovem Marcelino, que na véspera deixara claro a Uckermann que era o protetor de Dul, sentou-se no banco do lado dela. Aquela mulher não precisava de protetor coisa nenhuma. Na opinião de Uckermann, ela era meio-homem. Uma singularidade da natureza, ele decidiu. No entanto, observando-a enquanto tirava o casaco pesado e passava distraidamente a mão pelos cabelos para remover a neve, ele reconheceu que seus gestos eram positivamente femininos. Essa dicotomia era algo que o fascinava. De fato, não conseguiu deixar de olhar para ela. Esta era a primeira vez que ele tinha a oportunidade de observá-la livremente e isso lhe agradava. Dul pediu dois copos feitos de chifre e hidromel. Quando foi servida a bebida, ela passou a conversar com Marcelino descontraidamente. O rapaz olhava para ela com uma expressão de respeito e admiração. Uckermann sabia por quê. Era evidente que Marcelino amava Dul, por isso o advertira para manter-se longe dela. Que tolice. Ele não tinha mesmo intenção de tocar nela. Apesar disso, ficara irritado, não gostava nem um pouco que lhe dissessem o que fazer ou deixar de fazer. Bem, não tinha importância. O rapaz era inofensivo. Na véspera, quando estavam na encosta da colina, Christopher poderia, se quisesse, ter-lhe torcido o pescoço com apenas uma das mãos. Mas naquele momento, se tivesse que estrangular alguém, estrangularia a mulher. Mesmo agora, só de olhar para ela, já se imaginava com as mãos no seu pescoço. A cicatriz, logo abaixo do queixo de Dul, evidenciava que ele não era o único homem a desejar vê-la morta. A porta da taberna abriu-se novamente e o Legislador surgiu do frio. Viu Christopher imediatamente e acenou para ele com a cabeça. Dul olhou na mesma direção e, assim que seus olhos e o de Christopher se encontraram, ela franziu a testa, descontente. Ele percebeu alguma coisa mais atrás da constante máscara de irritação que ela reservava para ele, mas não saberia dizer o que era. Porém aquele olhar fixo nele, aquele frio exame, estranhamente, o agradava. Provocava nele um calor aprazível. O Legislador sentou-se à mesa de Dul. Era um homem extraordinário, paciente e sensato, com um ar inteligente, o que era reanimador naquela terra de bárbaros, desprovida de humanidade. Dul desviou o olhar, ergueu a cabeça altivamente e passou a ouvir o que o Legislador estava dizendo. Pela atenção dispensada ao velho, Christopher pôde ver que ela confiava nele e acatava suas palavras. Mais parecia uma filha ouvindo o pai e refletindo sobre seus conselhos. O Legislador não era pai de Dul, claro, mas representava grande importância na vida e nos planos dela. O velho era, sem dúvida, o homem que detinha o poder na ilha naquele momento. As crianças lhe contaram que o chefe deles, estava fora. Partira com outros vikings para negociar e fazer suas conquistas. O que surpreendia Christopher era o fato de o Legislador, aparentemente, aprovar aquele plano de casamento. Talvez o velho não fosse tão inteligente e ponderado como ele imaginava. De qualquer maneira, Christopher precisava descobrir mais detalhes sobre o plano de Dul, tinha de saber, exatamente, o que ela esperava dele. No momento, ele não tinha outra opção para deixar aquele lugar abandonado por Deus. Levantandose, ele foi sem pressa até a mesa dos três. Ao notar a presença dele, Dul parou no meio de uma sentença e ficou muito ereta. Cristo, que mulher irritante. — Você tem algum assunto para tratar comigo? — ela perguntou. — Tenho — ele respondeu com firmeza. Dul indicou com um movimento da cabeça que ele podia sentar-se. Por que ele tinha esperado pelo consentimento dela, Christopher não saberia dizer. Sentou-se no banco vazio, ficando de frente para ela. — Eu gostaria de fazer-lhe algumas perguntas sobre a sua proposta de... casamento. O rosto dela iluminou-se. Era a primeira centelha de alegria que ele via em Dul e isso causou-lhe uma sensação estranha. Marcelino respirou ruidosamente, terminou de tomar seu hidromel e levantou-se, sempre olhando para Christopher. Então voltou-se para Dul. — Eu a verei mais tarde, à mesa do jantar? — Claro — ela respondeu. Marcelino saiu da taberna como se fosse um alce jovem indo afiar os chifres na árvore mais próxima. O rapaz parecia estar louco para lutar e Christopher tinha a distinta impressão de que o inimigo era ele.
— E agora, Ucker, diga, o que você quer saber? — Esse... casamento... Mal ele começou a falar, Dul ergueu a mão, pedindo-lhe que se calasse e esclareceu: — Será um casamento apenas de nome, claro — ela frisou. — E breve. Entenda bem isso, Ucker. O tom era autoritário. A mulher nem o deixara terminar a pergunta e lhe dera uma ordem. Ora, Christopher Uckermann não recebia ordens de ninguém, muito menos de mulheres pagãs. Aquela autoconfiança o irritava. Porém, percebendo um leve rubor no rosto dela, ele podia jurar que o assunto a deixava inquieta e até... a amedrontava. — Eu entendo muito bem — ele afirmou. Boa sorte para o sodomita que se atrevesse a quebrar aquele exterior gelado. Christopher estava feliz por não lhe ser atribuída essa tarefa. — Um casamento apenas de nome — ela tornou a dizer com a mesma ênfase, e agora mais alto. — Apenas de nome? — indagou um homem de cabelos prateados sentado à mesa vizinha. — Apenas de nome? Para espanto de Christopher e também de Dul, ele ficou de pé e, com voz autoritária e, ao mesmo tempo, melódica, recitou uns versos:


"Quando um homem se casa
E a lua está alta
Ele deve deitar-se com a noiva
Atendendo ao pedido de Freya."


— Hum... O que significa... Christopher interrompeu a pergunta, pois Dul esmurrou a mesa, derrubando os chifres de beber, e falou com veemência: — Não! Ele não se deitará comigo! Agora havia naquela história algo inesperado. Diante da resposta de Dul, o interesse de Christopher no assunto aumentou, e muito. Atento a tudo, ele notou que o homem de cabelos prateados trocou um olhar significativo com o Legislador. — Quem é Freya? — Christopher perguntou, intrigado. O homem de cabelos prateados respondeu: — Freya ou Frigga, é a deusa do amor... e do matrimônio. Dul murmurou uma praga. — Se me permite a pergunta, quem é você? — Christopher indagou. — Sou Hannes, o bardo — o homem apresentou-se. — Bardo? — Christopher franziu a testa, tentando lembrar-se do significado daquela palavra, pois já a ouvira antes. — Hannes é um trovador, um poeta — explicou o Legislador. Dul dirigiu a Hannes um olhar ferino. — Na minha opinião, poeta ou trovador sem nenhum talento. — Ela cruzou os braços e acrescentou, furiosa: — E ele não me levará para a cama! — Oh, mas ele terá de se deitar com você. É a lei — Hannes a contradisse. Ergueu as sobrancelhas grisalhas e encarou o Legislador que continuava sentado, indiferente à sua declaração e à raiva de Dul. — Hannes está certo — o velho concordou, por fim. — É a lei. Sem a consumação não há casamento. Nem dote. — Você não me disse nada sobre isso — tornou Dul, ficando de pé. O Legislador deu de ombros e assumiu uma expressão tão inocente quanto a de um bebê. — Pensei que você soubesse. Até aquele momento Christopher não tinha visto Dul verdadeiramente furiosa e a reação dela divertiu-o. A mulher tão segura de si, finalmente perdera o controle. Seu rosto tornara-se vermelho, os frios olhos azuis dardejavam, e aqueles lábios sensuais que ele tanto admirava, franziram-se, carrancudos. Ah, ele tinha de tirar proveito daquela oportunidade, Christopher pensou. E agiu imediatamente. — Se o dinheiro é tudo o que você quer, não precisa se casar para consegui-lo. — Explique-se — Dul falou, mais carrancuda ainda. — Eu já lhe disse que preciso de um meio de transporte. Eu lhe pagarei muito bem se providenciar um navio que me leve para casa — ele expôs. — Quanto? — Os olhos dela estreitaram-se. Ele hesitou. Tinha de refletir um pouco antes de fazer sua oferta. Não podia jogar dinheiro fora. Seu clã era próspero, todos viviam confortavelmente, mas eles não eram riquíssimos. E ele devia pagar um bom preço pela mão de Angelique Boyer. Mas toda a prata que ele levava consigo na viagem, se perdera com o naufrágio do navio. Agora ele teria de arranjar mais dinheiro. O Legislador limpou a garganta. — Qualquer quantia que o escocês lhe ofereça, para você não fará diferença, Dul, se o seu dote continuar intacto em poder de seu pai... Christopher não afastou o olhar do rosto de Dul, enquanto a mente dela trabalhava. — É. Você está certo, claro — ela concordou. — O dinheiro não resolverá o outro problema. Sem ter idéia do que eles estavam falando, Christopher ficou muito intrigado. — Então, terá de haver o casamento — concluiu o Legislador. Hannes, que acabara de se levantar e estava indo até o balcão, virou a cabeça e falou sobre o ombro:
— Casamento e consumação. — Recuso-me a aceitar essa condição! Ele não me tocará! — Dul declarou, os punhos cerrados, o olhar fixo em Uckermann. Era um olhar tão penetrante que, Christopher pensou, se ficasse pousado nele por longo tempo, atravessaria seu corpo. A respiração dela tornou-se ofegante e ele notou que seu peito arfava, os seios e os mamilos tornaram-se mais duros, erguendo o tecido grosso do vestido. De repente, ele sentiu que algo naquela mulher o surpreendia e o perturbava. E deixava-o excitado. Ele mexeu-se no banco e puxou a túnica. Era uma reação que ele não compreendia. Não lhe era agradável a idéia de se deitar com uma mulher tão agressiva, tão alta. Dul era tudo o que uma noiva ou uma esposa encantadora não devia ser: dominadora, teimosa e tinha modos rudes, que ele considerava horríveis numa criatura do sexo feminino. Ah, sim, se eles se casassem e tivessem de cumprir a lei, a danada, provavelmente, iria montar nele.
O pensamento fez com que Christopher sentisse a boca seca. Por um instante fugaz recordou o modo como as tranças ruivas roçaram seu peito quando ele fora encontrado na praia e abrira os olhos, vendo a imagem de Dul pela primeira vez. Dul estremeceu e empertigou-se, como se estivesse lendo os pensamentos dele. Inconscientemente, mordeu o lábio. Novamente o olhar de Christopher fixou-se naquela boca. Um pensamento inquietante assaltou-o. Afinal, talvez não fosse tão desagradável assim atender ao pedido de Freya... ou Frigga.


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Se vcs comentarem até as 8:45pm de hoje consigo postar mais um capítulo!


Comentem e Favoritem!


Besos y Besos Lindezas!!!😚😚😚


 



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Autor(a): Srta.Talia

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



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  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


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