Fanfics Brasil - #CAPÍTULO III# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO III#

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A mulher o irritava. E o deixava intrigado. Já era tarde e a fogueira na casa de pedra quase se extinguira, as brasas emprestavam um brilho amarelado ao cômodo comprido e enfumaçado. Christopher sentou-se no banco perto da cama em forma de caixa e observou discretamente Dul sentada a uma mesinha lateral com Marcelino. Ambos jogavam um tipo de jogo em um tabuleiro, que Christopher desconhecia. Pelo jeito, Dul derrotava o rapaz. Ocasionalmente, ela virava a cabeça na direção de Christopher e quando os olhos de ambos se encontravam, ela voltava-se depressa para Marcelino e ria de suas brincadeiras. O Legislador estava sentado com Hannes e ambos conversavam em voz baixa, parecendo alheios a tudo que os cercava. Mas agora Christopher conhecia melhor aquelas pessoas e sabia que o velho não perdia nada do que estava acontecendo. Desde o incidente na taberna, na tarde anterior, Dul evitava todos eles, exceto Marcelino. Quando se sentara à mesa para as refeições ela ficara em silêncio. E, poucas horas atrás, durante o jantar, Christopher a surpreendera fitando-o e percebera algo novo nos pálidos olhos azuis. Apreensão. A descoberta devia tê-lo alegrado. Afinal, uma mulher decente devia temê-lo. Respeitá-lo. Mas tudo o que ele sentiu foi surpresa e também um ligeiro desapontamento, cuja razão ele não saberia explicar. Quanto à apreensão, Christopher tinha certeza de que era motivada por aquela conversa sobre a consumação do casamento. Todo o comportamento de Dul mudara por completo desde a declaração vulgar do bardo. Christopher correu os dedos nos cabelos e meneou a cabeça, Enfim, a idéia daquele malfadado casamento não tinha sido dele. Fora da própria Dul. Ele não queria tomar parte em plano nenhum. Seria loucura aceitar o que ela lhe propusera. Não, ele estava fora. Devia haver outro meio de ele voltar para casa. Por alguns segundos Christopher observou os homens ainda reunidos à mesa central e os que estavam sentados em bancos toscos ao redor da fogueira. Lá fora a nevasca soprava pelas charnecas e açoitava as peles de foca que cobriam as janelas. Uma moça loira levantou-se da mesa e olhou para Christopher. Era pequena, delicada, muito bonita e sensual. Ela despejou um pouco de hidromel em um copo feito de chifre e caminhou até Christopher com uma graça felina. — Está com sede? — perguntou-lhe, oferecendo-lhe a bebida. — Ah, sim, obrigado — ele agradeceu e aceitou o hidromel. Se estivesse na sua terra ele haveria de flertar com a moça, Christopher pensou, tomando a bebida. Terminando, fez uma careta por achar aquela mistura doce demais.
— Você não gostou? — a moça perguntou, franzindo os lábios com graça. — Prefiro cerveja forte. — Meu nome é Lina — ela apresentou-se. — Talvez eu consiga um pouco de cerveja para você. O olhar dele percorreu livremente o corpo de Lina de alto a baixo. Subitamente sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Dul. Imediatamente ele olhou para a mesa de jogo e, como esperava, encontrou o olhar gélido de Dul pousado nele. Ela segurava uma peça do jogo e a apertava. Lina captou a mensagem e voltou depressa e em silêncio para o seu lugar. Dul deixou no tabuleiro a peça esculpida que segurava. Aquela demonstração tácita de poder deixou Christopher encantado. Ah, sim, todos tinham recebido ordens de não falar com o escocês, mas naqueles dois dias os habitantes da ilha pareciam mais livres e Dul não se importara com aquela liberdade. Quer dizer, não, até aquele momento. A apreensão que havia nos olhos dela desaparecera. A velha Dul estava de volta. Fria. Autoritária. Mercenária. Tudo o que um homem não desejava numa noiva, muito menos numa esposa. Christopher resmungou e desviou o olhar. Em nome de Deus, como era possível ele encontrar-se naquela situação? Tinha de arranjar um meio de sair daquela ilha. Com urgência. Lina tinha sido amável. Quem sabe haveria outras moças ou mulheres que teriam prazer de ajudá-lo. Ele analisou os pequenos grupos de homens e mulheres que se achavam no cômodo, uns à mesa, outros sentados em bancos junto das paredes ou ao redor do fogo. Algumas pessoas sorriram para ele discretamente. Outras ficaram carrancudas. Ele reconhecia que aquela gente o considerava um tipo esquisito, uma singularidade. Era evidente que o povo de Fair Isle não estava acostumado com estranhos. Raramente tinham a companhia de pessoas de outro lugar. Quem poderia chegar naquela terra gelada, inóspita e esquecida de Deus? Fazia uma semana que Christopher estava na ilha e, pelos retalhos de conversa que ouvira às escondidas, descobrira que havia entre os ilhéus divergência de opinião sobre o chefe deles. Seu nome era Pablo. Nem todos os habitantes da ilha referiam-se a esse chefe ausente em termos elogiosos. Naquele momento, à luz mortiça da fogueira, Christopher pôde notar dois grupos distintos: os que eram leais a Pablo e os que eram contra ele. Dois dos fiéis a Pablo estavam sentados ao redor do fogo, vigiando o escocês. O mais rude deles, de nome Derrick, afiava sua faca em uma pedra e virava a lâmina devagar, de modo que ela refletia a luz avermelhada. O outro homem deu um largo sorriso, deixando à mostra a boca quase toda desdentada. Apesar da falta de dentes, ele não era velho. Devia ter trinta anos, no máximo. Não, nem mesmo trinta. — O que está olhando, escocês? — indagou o homem desdentado. Christopher encolheu os ombros e não se deu ao trabalho de responder. Derrick  continuou a encará-lo em silêncio, depois, guardou a pedra, mas não a faca. O desdentado também não tirava os olhos de cima de Christopher — Acho que devemos nos juntar a ele — sugeriu Derrick ao companheiro. — O que me diz, escocês? Será que Rasmus e eu podemos ter uma conversinha com você? Os dois não esperaram pela resposta e sentaram-se um de cada lado do banco de Christoph. Rasmus, o desdentado, cheirava a óleo de foca e hidromel. Christopher percebeu imediatamente que ele era um fantoche de Derrick e faria qualquer coisa que o homem lhe ordenasse. Derrick limpou a faca na túnica de couro, então ergueu-a na direção do fogo. — Você acha que se casará com a moça alta? — perguntou examinando a lâmina da faca. A pergunta pegou Christopher desprevenido. Até o momento ninguém tinha falado abertamente sobre aquele malfadado casamento entre ele e Dul, mas, pelo visto, todos estavam sabendo do mesmo. Devia ser o assunto mais comentado na ilha. Ocorreu a Christopher que aqueles dois grosseirões malcheirosos talvez pudessem ajudá-lo a encontrar um modo de livrar-se daquela farsa que Dul chamava de casamento. Ele ficou pensativo, procurando as palavras certas para responder à pergunta. — E então? — Rasmus inquiriu, e, deslizando no banco, ficou mais perto de Christopher. — Você acha que se casará com ela? Em nenhuma circunstância Christopher perderia seu tempo ensinando àqueles dois pagãos rudes um pouco de boas maneiras escocesas. Seria muito fácil desarmálos e tê-los aos seus pés, pedindo-lhe clemência. Sim, ele teria feito isso, não fosse estar em desvantagem numérica. Havia perto de vinte companheiros daqueles imbecis no grande cômodo. — Pode ser — Christopher respondeu, controlando seus instintos. — Por quê? Derrick olhou-o dentro dos olhos e o meio-sorriso que tinha nos lábios transformou-se em algo mais perigoso. — Ah, se eu estivesse no seu lugar, nem sonharia com esse casamento. Rasmus mexeu-se no banco, parecendo inquieto, e deu uma risadinha perversa. — Mas você não está no meu lugar, está? — disse Christopher, ficando muito ereto. — Não estamos. Nem eu nem o companheiro Derrick — foi Rasmus quem respondeu. — E agradecemos a Odin por isso. Por que, se estivéssemos, seríamos homens marcados para morrer, exatamente como você.
Por um momento Christopher examinou as unhas descuidadamente, em seguida lançou aos dois um olhar glacial. — Vocês, estão me ameaçando, rapazes? Nenhum dos dois respondeu. De repente, o cômodo pareceu quente demais e o ar sufocante, saturado com o mau cheiro deles. Christopher percebeu que outro homem o observava. O Legislador. Será que ele estava sendo submetido a nova prova, como naquela manhã, na colina, com o jovem Marcelino? O velho manteve os olhos fixos em Christopher, como tinha feito naquele dia, esperando para ver qual a sua reação. Mas o Legislador não era o único a observá-lo com interesse. Dois outros jovens também estavam atentos a cada movimento dele. Christopher lembrou-se que os rapazes não deviam ser leais ao chefe, pois os ouvira falando mal de Pablo. Que fossem todos eles para o inferno. Não iria permitir que o ameaçassem. — A moça alta pertence a Pablo — declarou Derrick, finalmente. Os olhos de Christopher estreitaram-se. — O que você quer dizer com isso? Ele não conseguia imaginar Dul pertencendo a alguém. — Eu quero dizer que, se você tocar nela... — Derrick passou um dedo sujo pela lâmina da faca, deixando um risco vermelho de sangue no metal. — Está avisado, escocês. Ele ficou de pé. Rasmus também se levantou. Deu uma risada sobre o ombro ao seguir com o companheiro na direção da porta, desaparecendo os dois na escuridão da noite. O Legislador retomou sua conversa com Hannes. Os dois rapazes dissidentes voltaram a atenção para o hidromel que tomavam e pareciam mais relaxados Christopher olhou para Dul e viu que o jogo com Marcelino tinha terminado. Ela estava sentada, imóvel, a expressão fria, inescrutável. Com os diabos, o que estava acontecendo ali?
Dul despejou um fio bem fino de óleo de foca em um trapo e começou a limpar e a lubrificar o hauberk, a túnica longa de malha de ferro que pertencia ao irmão. A túnica estava sem uso desde que Pablo partira com outros vikings no verão anterior. Para Dul era muito agradável aquele trabalho, ela gostava de sentir o cheiro do couro, do metal trabalhado, do contato frio da malha nos seus joelhos. Marcelino trabalhava do lado dela entalhando um desenho antigo em um escudo feito com um pedaço redondo de madeira, que encontrara na praia. O dia estava claro, muito frio, e Marcelino acendera uma pequena fogueira a um canto da cabana. Dul interrompeu o trabalho, e aqueceu as mãos no fogo. — Por que você vai casar com o escocês? — Marcelino perguntou abruptamente. Ela virou-se tendo uma resposta pronta, pois sabia que o rapaz iria fazer-lhe a pergunta mais cedo ou mais tarde.
— Há coisas que eu tenho de... Marcelino não esperou que ela terminasse. — Se você tem de se casar, por que não posso ser seu marido? Dul arregalou os olhos, não conseguindo disfarçar o choque que levou. — Marcelino, você não entende. — É claro que entendo. Você precisa de proteção... contra Pablo — disse ele fazendo um buraco na madeira que entalhava, abandonando em seguida o delicado trabalho. — Eu a protegerei. Eu sei que você me considera uma criança, mas não sou. — Está enganado, Marcelino. Tenho olhos e o vejo como homem — Dul falou suavemente, colocando a mão sobre a do rapaz para acalmar a raiva que o fizera arruinar o escudo. Ele sorriu e, naquele instante ela achou-o mais parecido do que nunca com um menino. Aquela leve penugem escura no seu queixo iria tornar-se a barba de um homem, mas isso não aconteceria em um ano. — Se você me vê como um homem, case comigo — o rapaz insistiu, deixando de lado o escudo e a sovela. — Combinamos tão bem. Isso você não pode negar. Realmente, não podia, Dul admitiu. Ela e Marcelino estavam juntos todos os dias e ele era, sem dúvida, o seu melhor amigo. — O nosso casamento seria do agrado de Christian se ele estivesse aqui — Ottar acrescentou. Dul arqueou uma sobrancelha. Aquele casamento não seria do agrado de Christian e ele também não aprovaria o plano que ela estava prestes a pôr em prática para libertá-lo. Ninguém sabia desse plano, exceto o Legislador e dois amigos íntimos de Christian. Na vila todos supunham que ela queria se casar apenas para receber o dote e também enganar Pablo. Ela tivera o cuidado de não revelar nem mesmo a Marcelino o que iria fazer com o dinheiro do dote. O rapaz era leal a Christian, mas tinha a língua solta demais. Só iria contar-lhe sobre seu plano quando chegasse a hora de colocá-lo em execução. Marcelino  tinha verdadeira veneração por Christian e sempre fora um amigo devotado até aquela noite em que o levaram como escravo em um navio que passara pela ilha e seguira para o continente. Poucas pessoas acreditavam que Pablo fora responsável pela captura de Christian, mas Dul não tinha a menor dúvida de que o guerreiro bruto e grandalhão era o culpado do que acontecera. Só de lembrar-se de Pablo, ela estremeceu. Marcelino continuava a olhar para ela, esperando uma resposta. Dul sabia que precisava pensar em um meio de tirar da cabeça do rapaz, sem magoá-lo, aquela idéia tola de querer casar-se com ela. O Legislador estava certo, afinal. — Não sou a noiva ideal para você. Eu não... — Ela parou. Como dizer ao rapaz que Pablo já...
Dul cerrou os punhos e tentou, ansiosa, encontrar as palavras certas. Mas Marcelino falou antes dela: — Eu sei o que Pablo fez e, se eu tivesse descoberto isso antes, o teria matado. — Ele ajoelhou-se diante de Dul. — Eu quero casar com você... mesmo assim. — Eu sei que você está sendo sincero e sinto-me honrada com o seu pedido — tornou Dul, comovida.
Mas ela não aceitaria a proposta de Marcelino, nem que não lhe restasse outra escolha. Seu casamento com o rapaz era algo inconcebível. Pablo o mataria. E faria o mesmo com qualquer homem do clã que ousasse tocá-la na sua ausência. Quanto ao escocês, quem se importaria com o que acontecesse com ele? De mais a mais, Uckermann era forte e, se eles agissem depressa, estariam bem longe quando Pablo voltasse. — Basta por hoje. — Ela levantou-se do banquinho. — Já trabalhamos muito. Vamos jantar com os outros. Marcelino abriu a boca para argumentar, mas Dul colocou um dedo sobre seus lábios para silenciá-lo. — Não falaremos mais sobre este assunto. Os dois saíram da cabana. O sol se punha no oeste, tingindo o céu de maravilhosos tons róseos e purpúreos. Marcelino seguiu Dul caminhando devagar, sobre a camada de neve. Ela esboçou um sorriso. Honra e cavalheirismo eram raros entre seu povo. Um dia Marcelino encontraria a mulher certa para ser sua esposa e a faria feliz. Mas não agora e nem esta mulher. — Alô! — Uma voz forte soou atrás deles. Virando-se, Dul viu o Legislador, saindo da casa de banhos, andando depressa ao encontro deles, o vapor da respiração ofegante congelando-se sobre a barba grisalha. — Nós nos veremos mais tarde — disse Marcelino, continuando a andar na direção da grande casa de pedra. Ela acenou com a cabeça e sorriu para o Legislador. Era estranho que o velho quisesse tomar banho no meio da semana. Ela olhou para a pequena cabana a pouca distância dali e viu que, de fato, saía vapor do buraco no telhado. — Está preparando seu banho? Mas hoje é quinta-feira — Dul observou quando o Legislador juntou-se a ela. — É, mas meus velhos ossos parecem não se aquecer nunca. Então vim acender o fogo. Acho que me fará bem ficar de molho por longo tempo na água quente — explicou o Legislador, dando o braço a Dul e levando-a para o rochedo de onde se tinha uma linda vista do mar. Dul estremeceu e puxou as laterais do casaco para deixá-lo mais fechado. — Eu também gostaria de um banho desses. Estou gelada.
— Se quiser, quando eu terminar, deixo o fogo aceso para você. — Está bem. Obrigada. O sol estava quase desaparecendo. O vento agitava os cabelos soltos de Dul e a deixava enregelada. Mas ela não queria perder um pôr de sol de inverno estando o tempo tão límpido. Era comum o Legislador e ela ficarem assim, juntos, observando a esfera de fogo de Odin beijando o mar. Alguém mais, lá embaixo, na praia, também admirava aquela bonita cena. Uckermann. Estava sentado sozinho, de costas para eles, sem perceber a presença de ambos. Dul sentiu pena daquele escocês solitário, mas logo combateu esse sentimento. Compaixão e amor eram próprios dos fracos. O Legislador que também olhava para o escocês, comentou: — Uma vez que você der início ao seu plano, não poderá voltar atrás. Dul não pretendia voltar atrás. Christian tinha de ser libertado. E ela o libertaria. Para isso precisava casar-se com o escocês. — Você pensa que este casamento não irá mudá-la, mas mudará — acrescentou o velho olhando bondosamente para ela. Naquele olhos Dul viu a experiência de muitas vidas. Um arrepio percorreu-lhe o corpo. O assunto a irritava. — Não, não mudará. Ontem à noite Derrick advertiu Uckermann. Você viu. — Sim, vi. Mas o escocês não teve medo. Pelo contrário. Você não notou o fogo nos olhos dele? Posso jurar que ele sentiu a mão formigando de vontade de arrancar a faca que Derrick segurava tão ostensivamente e, com ela, cortar a garganta de cada um daqueles tolos. Um homem mais afoito teria tentado. Dul acompanhara discretamente o confronto entre Derrick, Rasmus e Uckermann e, realmente, ficara admirada com o autocontrole e a capacidade de raciocinar do escocês. — Talvez você deva falar com ele — disse ela, vendo Uckermann ficar de pé e ir para a água, onde as ondas rebentavam. — Falarei esta noite. Creio que ele já teve tempo demais para pensar e vou saber qual é a sua resposta.
Christopher levantou-se da mesa, saciado, e dirigiu-se para a porta. Os dois jovens dissidentes que o vinham observando durante toda a semana lhe ofereceram um copo de hidromel e um lugar no banco que eles ocupavam perto do fogo. Ele agradeceu, mas recusou o oferecimento. Precisava respirar o ar puro e queria ficar sozinho antes de ir para a cama. Chegara o momento de ele tomar uma decisão. E pensar que, se estivesse na Escócia, aquele seria o dia do seu casamento. Em Wick, Angelique Boyer e sua família tinham esperado por um noivo que nunca chegara ao seu destino. Christopher fechou a porta e inspirou o ar gelado de inverno. O rei e os Sinclair iriam querer sua cabeça. Mas como poderia avisá-los sobre o que acontecera com seu navio e seus homens? Quem sabe eles iriam imaginar que ele estava morto. O pior era que ninguém sabia que ele e seus acompanhantes tinham viajado de navio. A decisão de ir até Wick por mar fora tomada na última hora, quando eles estavam nas docas, em Inverness. Christopher lembrou-se da expressão de encantamento no rosto do irmão mais novo ao ver o bonito navio ancorado no porto. Que decisão mais insensata, mais absurda. Ah, ele nunca se perdoaria. Todos mortos.
As palavras de Dul ao lhe dar a notícia do naufrágio pareciam ecoar-lhe na mente. Como podia uma mulher ser tão insensível? Que mulher estranha, que se vestia como um guerreiro, que bebia e jogava com homens e não demonstrava delicadeza nenhuma nem a graça próprias do sexo feminino! Ele jamais concordaria com o plano dela. Nunca. Nem que tivesse de viver cem anos naquela ilha de gentios. — Já decidiu? — uma voz perguntou-lhe na escuridão. Christopher virou-se depressa na direção do som, movendo instintivamente a mão para a cintura onde sempre ficava seu punhal. Droga! A falta de uma arma já o estava deixando irritado. — Quem está aí? — ele quis saber. Preparado para lutar, ele caminhou na direção de um vulto meio oculto pela sombra do beiral da casa. — É o Legislador. Christopher relaxou. Já estava havendo um bom relacionamento entre ele e o Legislador. O velho senhor chegara a falar sobre um tio que já tinha morrido e que, sendo muito sábio, formara a mente do sobrinho na juventude. — A noite está muito bonita. Venha. Sente-se aqui — o Legislador convidou-o. Christopher obedeceu-o e sentou-se no banco junto da parede, do lado do velho. Não havia luar, mas as estrelas formavam brilhantes caminhos de luz no céu muito escuro. O vento aquietara como costumava acontecer depois que escurecia, e o som do mar enchia os ouvidos. O Legislador ficou em silêncio, esperando a resposta de Christopher. Mas ele quis, em primeiro lugar, fazer diversas perguntas que desejava ter feito desde que chegara à ilha. — Qual é o seu verdadeiro nome? — perguntou ao Legislador. O velho sorriu. — Eis uma pergunta que não me fazem há anos. Provavelmente você não conseguirá pronunciar o meu nome. — Por que eles chamam você de Legislador? — É um costume antigo que ainda prevalece aqui em Fair Isle. Deve haver sempre um homem que estabelece as leis e que as faz cumprir. — E você é esse homem. — Sim. Sou o legislador desde muito jovem. O Legislador, realmente, parecia feito para o cargo. Era paciente, sábio, ponderado. Christopher concluiu que o papel do Legislador não era muito diferente daquele representado pelos anciãos do seu próprio clã, na Escócia. — E quanto a Dul? Na ausência do pai dela, você é o seu tutor? — Suponho que eu seja. Essa é uma de minhas funções, mas ela é uma moça diferente. Tem vontade própria. Christopher riu. — Dul não se parece com nenhuma mulher que eu conheço. — Não é de surpreender — disse o Legislador. Christopher lembrou-se do primeiro instante em que vira Dul na praia, meio curvada sobre ele. — Explique-me por que uma mulher como Dul usa um elmo e uma túnica de cota de malhas, justamente numa ilha como esta. Não há necessidade de ela vestir-se de guerreira se aqui não há nem a menor ameaça de um ataque ou outro tipo de perigo. O Legislador suspirou. — Há muito mais perigo do que você possa imaginar. E para Dul em particular. Ela já travou suas próprias batalhas e tem cicatrizes dessas experiências. Imediatamente Christopher lembrou-se de uma dessas cicatrizes, a que tinha visto sob o queixo de Dul. — Quando vimos você deitado, imóvel, na praia, não sabíamos se estávamos diante de um amigo ou inimigo, se você estava vivo ou morto — prosseguiu o Legislador. — Dul é impetuosa, costuma agir levada pelo entusiasmo e, muitas vezes precipitadamente. Mas, quando se trata de homens, é extremamente cautelosa. O velho fez uma pausa, depois acrescentou: — E com toda razão. Christopher teve curiosidade de saber que razão seria essa. Imediatamente censurou-se por interessar-se pela vida de Dul. Por que se importar com ela? — Esta luta não é dela. É de Christian, seu irmão — disse o Legislador. — Irmão? Ninguém me falou sobre esse irmão. Quem é ele? Por que eu nunca o vi? O Legislador não respondeu de imediato. — Será que esse Christian não poderia dizer alguma coisa sobre... — Ele se foi — o Legislador interrompeu-o com certa rispidez. — Ninguém sabe para onde. A atitude do ancião deixou Christopher intrigado. Qual o motivo daquela irritação? Havia muito mais coisa estranha acontecendo naquela ilha. Um pai distante e sem afeição pela filha. Um irmão desaparecido. Um chefe ausente. Sussurros e olhares entre as mulheres e tensão entre os homens. Realmente, havia muito mistério naquele lugar e o Legislador tinha as respostas. O problema era que o velho senhor não iria revelar tudo para ele naquela noite. Mesmo assim, iria tentar forçá-lo a contar-lhe mais alguma coisa. — Esse Pablo, chefe de vocês... — Christopher começou. — Dul é... — Qual a expressão que Derrick usara, referindo-se a Dul e Pablo? — Ela pertence a Pablo? — Quem lhe disse uma tolice dessas? Christopher sacudiu os ombros. O Legislador sabia muito bem quem lhe tinha dito aquilo. — Dul não pertence a homem nenhum. Ainda não — o Legislador acrescentou, zangado. O que estava subentendido naquelas palavras irritaram Christopher. — Por que eu? — ele questionou. — Há tantos homens na ilha. Se é no seu dinheiro que Dul está interessada, por que não se casa com um dos seus? Com um homem que pertence à sua gente? Certamente há alguém que goste muito dela. — Não é possível. Um casamento assim seria... muito complicado. Você é a escolha perfeita. Você não está interessado nela nem no seu dote. Estou certo, ou não? — Muito certo — Christopher afirmou, resmungando. — Então, o que me diz? Christopher ficou de pé e chutou a camada de neve sob suas botas. E ele tinha escolha? Mas, teimosamente, sacudiu a cabeça. Não estava disposto a se render. Tinha de haver uma saída. — Não precisa responder agora — disse o Legislador, levantando-se também. — Você está tenso e ainda zangado por encontrar-se nesta situação. Homens zangados fazem péssima escolha. O velho senhor estava certo, Christopher reconheceu. — Pode ir. Vá até a casa de banhos e fique um bom tempo com o corpo imerso na água quente — aconselhou o Legislador indicando a cabana no fim do pátio. Via-se sob a porta fechada um suave clarão indicando que o fogo estava aceso. Sim, um bom banho de imersão lhe faria bem, Christopher admitiu. Pelo menos aqueceria seu corpo gelado. — Darei a minha resposta mais tarde — disse sobre o ombro, indo na direção da casa de banhos.
Ele ergueu o trinco da porta e entrou na cabana, sentindo um calor agradável. Sob uma outra porta interna, fechada, escapava nuvens de vapor. Christopher sabia que aquele compartimento era reservado para o que os ilhéus chamavam de sauna. Era um tipo de banho de vapor, segundo lhe disseram, que ele desconhecia. Ele olhou ao redor e viu as tinas vazias. Estranho. O Legislador o aconselhara a tomar um banho de imersão.
Não tinha importância. Iria experimentar essa tal sauna. Tirou as roupas e deixou-as sobre um banco do lado de um casaco tecido com lã. Havia alguém no outro compartimento. A julgar pelo casaco grosseiro devia ser um dos homens. Droga, ele queria ficar só, mas isso era difícil de acontecer naquela vila. Para o inferno toda aquela gente. Iria aproveitar aquele calor, afinal, só lhe faria bem. Já começava a sentir alívio da tensão. Abrindo a porta, ele entrou no compartimento deixando-se envolver pela nuvem de vapor. Inspirou fundo e sentiu o agradável aroma de ervas. Ah, que sensação deliciosa. Devia haver um banco para descanso em algum lugar. Com cuidado ele deu um passo. Outro. O calor estava mais forte e um calor saudável saía por todos os seus poros. Cristo, ele não podia ver nada. Onde estava o banco? Devia estar bem ali... Uma visão materializou-se em meio ao vapor. Uma mulher. Estava sentada de costas para ele, os longos cabelos caídos grudados no corpo nu. Christopher engoliu com dificuldade. Há quanto tempo não tinha uma mulher? Muito tempo. Com movimentos delicados a mulher tirou de um balde aos seus pés uma concha de água e jogou-a sobre a cabeça. Ela virou-se e os seios perfeitos tornaram-se visíveis. A água escorria sobre sua pele. Gotículas pairavam sobre os mamilos firmes dos seios redondos. Christopher umedeceu os lábios O vapor diminuiu e seus olhos e os da mulher se encontraram. Dul. Ela emitiu um som de surpresa, mas não se cobriu com as mãos, nem desviou o olhar. O calor e a proximidade da mulher fez com que o coração de Christopher batesse mais depressa. Sem saber o que fazer, ele cerrou os punhos. Dul, por sua vez, olhou para ele de um modo muito diferente daquele de quando o deixaram no pátio e ela cortara as roupas dele com a adaga, deixando-o nu. Finalmente, ela virou a cabeça. Christopher pôde respirar. Segundos depois, já vestido ele precipitou-se para fora da cabana e viu-se na extremidade do pátio, de onde se avistava o mar. O frio da noite atingiu-o como se fosse uma pedra de cem quilos.
Sentia-se entorpecido, drogado, bêbado, de ressaca. Não era ele mesmo. Um vulto saiu das sombras e a barba grisalha do Legislador brilhou à luz das estrelas. — O que me diz, escocês? Decidiu casar-se com ela? O tempo parou por um instante, um dia, durou o curso de toda uma existência, o som do mar enchia os ouvidos de Christopher. — Sim — ele ouviu-se dizendo. — Eu me casarei com ela.
Uma réstia sutil de luar refletia-se na água e, sob aquela luz prateada, o Legislador sorriu.


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Fofurineas!


O casamento irá acontecer no próximo capítulo! E acredito que conforme os capítulos forem passando vcs vão ficar com tanta raiva do Pablo, quanto eu estou!                                                                                                                                                                                                                                                 Se comentarem, posto mais amanhã!


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Besos y Besos Lindezas!😘😘😘


 



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Autor(a): Srta.Talia

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



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  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

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  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


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