Fanfics Brasil - #CAPÍTULO IV# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO IV#

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Dul não se sentia uma noiva. Estava nua, e carrancuda diante de Sitryg, uma mulher idosa que tinha sido a melhor amiga de sua mãe. — Ora, vamos — disse Sitryg vestindo em Dul uma combinação leve, de lã. — Não era isso que você queria? Casar-se com o escocês? — Sim — Dul murmurou sem ter coragem de encarar a mulher. Sitryg fez com que Dul se sentasse num banquinho e começou a pentear-lhe os cabelos com um pente de carapaça de tartaruga. — Sobre seu noivo eu tenho muita coisa a dizer. É um belo homem, é muito inteligente e o mais habilidoso que já conheci — ela enumerou. — Hum. A sua opinião não conta muito. Que homens você conheceu? A mulher estalou a língua. — O suficiente para reconhecer quando um homem tem valor, minha garota. Dentro de poucas horas o escocês a levará para a cama. Se você usar a metade da esperteza que eu sei que você tem, mudará esse mau humor antes de se deitar com seu marido. — Por que eu deveria mudar? — Dul indagou. O pente foi empurrado com força nos seus cabelos. — Ai! — Porque, se você mudar de humor, tudo será mais fácil e mais agradável. Um homem espera que a esposa seja submissa, boa companheira e não uma serpente de língua ferina vestida de mulher — Sitryg explicou. Bom, pelo menos concordara com a idéia de usar roupas femininas, Dul pensou. Por sua vontade se casaria com a armadura de guerreiro. Usaria o elmo e a túnica de malhas de ferro que pertenciam ao irmão. A seu ver esse traje seria mais apropriado para a ocasião. Ela cruzou os braços e rangeu os dentes. Muito bem, seria até submissa enquanto fosse necessário. E, se a sua experiência com Pablo valia alguma coisa, sua submissão não duraria muito. Tudo o que estava fazendo era por Christian. Nada mais importava. E será que haveria alguma coisa pior do que o que já experimentara na cama de Pablo? Dul brincou distraidamente com os largos braceletes de metal trabalhado que tinha ao redor dos pulsos. — É melhor tirá-los — sugeriu Sitryg, notando os movimentos de Dul. — Eles não combinam com o vestido. Dul ignorou a sugestão. Usava sempre os braceletes só os tirava na casa de banhos e quando estava sozinha. Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao lembrarse do olhar de Uckermann fixo nela, na noite anterior, na sauna. Se quisesse, ele poderia possuí-la ali mesmo, no assoalho de bétula, em meio ao vapor. Era o que Pablo teria feito, sem dúvida. Mas Uckermann, não, nem sequer tentara tocá-la. Ela sabia por quê. O escocês não gostava dela. Sentia aversão por ela. Com certeza a achava muito alta, sem atrativos, e com aquelas cicatrizes... Pelo sangue de Thor, será que ele a tinha visto sem os braceletes? Na sauna, Uckermann estava tão perto dela, mas não dissera uma palavra, a não ser pronunciar seu nome. Mesmo assim, ela percebera o desprezo dele. Oh, ela conhecia muito bem aquela sensação. Seu pai a fizera ver, desde muito pequena, que ela era menos do que nada. Não apenas ela, o irmão também. E sua doce mãe, devia acrescentar. O poderoso Rollo sempre menosprezara eles três. Por que Fritha permanecera casada com um homem como aquele, durante tantos anos? Isso lhe fugia à compreensão. Ela acreditava que a mãe aceitara a morte como uma bênção. Na pira funerária Fritha parecia tão tranqüila. Encontrara a paz. Na ocasião, Dul desejara ir também para o outro mundo. Então vieram as lições de Pablo. Dul sentiu brotar na boca um gosto amargo e engoliu com desprazer. Pela lei ela podia ter denunciado Pablo e ele receberia o castigo merecido. Mas ela se mantivera calada para não sofrer mais humilhações. A bem da verdade, também tivera medo de que ele se vingasse, o que seria ainda pior. Por isso, suportara tudo em silêncio. E passaria por experiência semelhante mais uma vez. Agora estaria nas mãos de um estranho. Tinha de fazer isso. — Vá Sitryg, quero ficar sozinha — Dul pediu à mulher e levantou-se do banquinho. Seu vestido de lã cor de palha estava estendido em um banco da pequena casa onde ela e Uckermann iam passar a noite de núpcias. Na vila havia quatro casas comunitárias, feitas de pedra e com o teto revestido de palha. Eram compridas, e ficavam ao redor de um pátio central, muito grande. Nessas casas moravam quase todos os habitantes de Fair Isle. Além das habitações comunitárias havia casas menores construídas por casais que preferiam ter mais privacidade. Essas casas tinham o mesmo estilo das do continente. E, eram, certamente como as dos escoceses, Dul supunha. — Deixe-me, pelo menos, ajudá-la a acabar de vestir-se — disse Sitryg, indo até o banco pegar o vestido. — Obrigada. Posso terminar de me arrumar sozinha. — Mas... — Vá, Sitryg, por favor. — Dul pôs a mão no ombro da mulher. Só então ela percebeu que estava trêmula. Que coisa mais ridícula. Devia controlar-se, ter compostura. — Vá, Sitryg — ela repetiu. — Eu a verei na cerimônia. — Está bem. Se você quer assim... — A velha senhora cobriu a mão de Dul  com a sua. — Eu amava sua mãe. Ela era tudo para mim, você sabe disso. Vou ajudar a filha dela de todas as maneiras que eu puder. Sitryg apertou a mão de Dul  e saiu do quarto. Dul caiu sentada na cama e
murmurou pela centésima vez naquele dia: — Tenho de ser forte. Tão forte quanto a mãe tinha sido, ela pensou. Tão forte quanto Christian devia estar sendo para continuar vivo, labutando como escravo. E ele iria continuar vivo até que ela fosse libertá-lo. Este casamento representava apenas a primeira provação à qual ela seria submetida. A fúria do pai viria a seguir e, mais tarde, quando ela regressasse a Fair Isle, seria a vez de enfrentar Pablo. Apesar do fogo aceso no quarto, ela continuava gelada. Dul levantou-se da cama e agarrou o vestido, vestiu-o e alisou-o sobre a combinação. Talvez fosse melhor ela não voltar para Fair Isle depois de libertar o irmão. Poderia continuar no continente e começar vida nova. Era uma idéia que valia a pena ser considerada. Ela calçou as botas de pele de foca, e colocou sobre os cabelos longos um kransen, espécie de diadema de bronze, deixando-o meio caído sobre a testa. Achou que estava bem assim. Afinal, ela não era uma beldade e não tinha sentido preocupar-se tanto com a aparência. Além disso, que motivo havia para se enfeitar? Aquele casamento não era real. Depois da cerimônia, Uckermann consumaria o casamento. Ah, que Hannes se queimasse no inferno. Enfim, quando ela estivesse de posse do seu dinheiro, nunca mais passaria por humilhação semelhante. A imagem do escocês nu, na sauna, olhando para ela, também despida, lampejou-lhe pela mente. Não era a primeira vez naquele dia que ela pensava em Uckermann daquele jeito. E, na véspera, quando os dois estavam juntos naquele calor e abafamento, Dul sentira algo tão forte, tão estranho que a deixara amedrontada. Desejo. — Está na hora — uma voz avisou, do outro lado do quarto, junto da porta. — O noivo está esperando.
Christopher andava de um lado para o outro na casa do Legislador e sacudia a cabeça. — Ela deve estar maluca se pensa que vou repetir as palavras de um rito pagão. O Legislador franziu a testa e Christopher soube que estava deixando o pobre ancião exasperado. Não era para menos. Eles repetiam os detalhes e as palavras da cerimônia pela décima vez. — Isso não depende de Dul — alegou o Legislador, procurando ser paciente. — É a lei. Vocês têm os seus rituais, nós temos os nossos. — Mas este é um ritual... pagão — disse Christopher. Ele não queria ofender o velho senhor, mas não podia deixar de dizer o que pensava. — A maior parte da cerimônia é cristã.
— Ah, é? Nesse caso, por que não é celebrada por um padre? O Legislador levantou os ombros. — O único padre que tínhamos, um missionário, morreu há muitos anos. De mais a mais, nosso povo gosta dos costumes antigos. Por isso, na cerimônia alguma coisa permanece inalterada para nos fazer lembrar de nossos ancestrais. Os ritos do matrimônio, especialmente, agradam a todos. — Hum — Christopher resmungou. Pois a ele não agradava nem um pouco. Ele reconheceu que devia estar aliviado por não haver padre para celebrar a cerimônia. Assim, se o casamento não podia ser considerado cristão, não seria reconhecido por Deus nem pelo rei. Portanto, quando voltasse para a Escócia, não precisaria contar a ninguém o que tinha acontecido e estaria solteiro. Quando voltasse para a Escócia. Para casa. Novamente ele pensou em Diego. — Pegue isto — disse o Legislador. Para espanto de Christopher o velho ofereceu-lhe uma espada. Ele pegou-a e apertou o punho primorosamente trabalhado da arma. Sentiu-lhe o peso com estranho prazer. — Combina muito com você — observou o velho com um sorriso. — Por que isso, agora? E por que você está me oferecendo uma arma tão extraordinária? — Christopher passou a mão pela lâmina larga, gravada com letras rúnicas. — Esta espada é uma preciosidade? — Ela não ficará com você. Será usada só na cerimônia. O ritual exige que o noivo empunhe a espada da sua família ao receber a esposa. É a promessa que ele faz de protegê-la — esclareceu o Legislador. — Como você não está com a sua espada, ofereço-lhe a minha. Christopher ficou comovido com aquele gesto. Não esperava merecer tão grande honra. — Obrigado — ele agradeceu, sensibilizado. — Dul, por sua vez, irá lhe oferecer a espada da família dela. Do irmão. — Em sinal de... — Obediência. — Ah! — E lealdade — o Legislador acrescentou. — Não zombe. O que eu disse a Dul vou lhe dizer agora, Uckermann. Este casamento irá mudar vocês dois. A meu ver, para melhor. Pegando a espada de volta, o velho senhor colocou-a na bainha. — Para mim, a única mudança que irá acontecer, será de lugar — Christopher falou com ironia. — Só aceitei este casamento para poder voltar para casa. Anseio por rever as lindas praias da Escócia e irei para lá a grande velocidade.
— Hum. Belas palavras. Você é como eu imaginava. Um homem educado. Vocês formarão um belo casal. — Pare de dizer isso! — Christopher irritou-se. O legislador estava passando dos limites. Já não chegava tê-lo mandado, de propósito, para a sauna na noite anterior, sabendo que Dul estava lá? Que se danasse o velho e seus ardis. O resultado daquela ida à sauna foi que ele acabara concordando em se casar com Dul, sem saber o que estava dizendo. Quando voltara à razão, a notícia do casamento já se espalhara por toda a vila. Enfim, ele empenhara a sua palavra e não era homem de voltar atrás. O astuto Legislador sabia disso. Maldição! — Fique com isto também. — Como? — Christopher estava com o pensamento longe. Pegou a ferramenta que o velho estava lhe apresentando. Era um martelo pequeno, mas pesado. — Para que é isto? — Coloque-o no cinto. É o símbolo de Thor. Será usado no ritual. Christopher olhou para o objeto com ceticismo antes de colocá-lo na cintura. — O que ele significa? — Que, nesta união, você é o senhor. Também é um augúrio de bons e belos frutos deste casamento — informou o legislador. Acrescentou com um sorriso: — Se é que me entende. — Ah, sim. — Christopher dirigiu-lhe um olhar feroz. Que bons e belos frutos! Não haveria frutos, isto, sim. E, se houvesse, seriam amargos. — Tenha só mais um pouco de paciência, filho — o velho senhor falou suavemente. — Estamos quase acabando. Ainda bem, Christopher pensou. Não sabia quanto tempo mais poderia suportar aquela tolice pagã. — Só falta falarmos sobre o preço da noiva. Espero... — Preço da noiva! — Christopher exclamou. — Certamente você não espera que eu pague por ela! E com que eu pagaria, você pode me dizer? Isso já era demais. — Calma. — O ancião colocou a mão sobre o ombro dele. — O que eu ia dizer é que essa parte não será considerada. — Ótimo. — Você terá de oferecer à esposa um presente que chamamos de morgen gifu, ou seja, o presente da manhã. Será dado a ela depois da... hã... consumação do casamento. Christopher arregalou os olhos, mas não disse nada. — Aqui está. — O Legislador tirou alguma coisa de um baú e deu a Christopher. — Dê isto a ela, amanhã cedo. — O que é? — Christopher examinou o delicado broche de prata e ficou maravilhado com o trabalho da jóia.
Reconheceu que os ilhéus, embora rudes, eram excelentes artesãos. — Guardo essa jóia há muitos anos. Na verdade, pertenceu à mãe de Dul. Está na hora de passar para as mãos da filha. — Certo — assentiu Christopher, guardando o broche na pequena bolsa de pele que tinha na cintura. — Bem, se você está pronto, podemos ir. — Vamos. Mas devo dizer que tenho a sensação de estar indo para a forca. O Legislador sorriu satisfeito, parecia um gato que acabara de encurralar um rato apetitoso. — Venha. Sua noiva o espera.
Dul saiu para o pátio e levou um choque. Não estava preparada para aquela manifestação. Todos os habitantes da vila achavam-se reunidos e ficaram em silêncio quando ela apareceu. Ela começou a andar devagar entre as pessoas. Atrás dela seguia Marcelino, mal-humorado, carregando a espada de Christian. Ela não estava acostumada a ser o centro das atenções e, ter os olhos de toda a sua gente pousados nela, deixava-a nervosa. No centro do pátio, junto do poço, estavam o Legislador e Uckermann. Para ganhar coragem, ela fixou o olhar no rosto calmo do ancião e foi dando um passo após o outro até chegar perto dos dois. Por alguns segundos ninguém falou. O céu estava claro, mas ventava bastante e o vestido fino que ela usava não a protegia do ar gelado. Sitryg deu um passo para a frente e Dul curvou-se para a mulher tirar o kransen, o diadema de bronze que ela trazia na cabeça. Era o símbolo de virgindade e a partir do dia do casamento a noiva deixaria de usá-lo. Poucos sabiam por que ela deixara de usar o diadema nos últimos meses. Na verdade, quase todos os habitantes da ilha achavam Dul uma moça estranha e não prestavam muita atenção ao que ela fazia ou deixava de fazer. Lina ergueu a coroa nupcial, entretecida com palha, trigo da colheita anterior, flores secas e cristais de rocha que eram encontrados na praia. Sitryg colocou a coroa na cabeça da noiva e, pela primeira vez, Dul olhou para o homem que em breve seria seu marido. A expressão de Uckermann era pétrea e os olhos tinham a frieza do aço. Usando aquele traje de fino couro e peles, ele parecia um autêntico noivo viking. Surpresa, ela notou, presa à cintura dele, a espada do Legislador. O olhar dela passou depressa para o ancião e viu que ele sorria. O Legislador, no papel de celebrante da cerimônia, pigarreou, acenou com a cabeça e o noivo deu um passo à frente. Por um momento Dul teve de lutar para não afastar-se depressa dali. Uckermann olhou para ela e desembainhou a espada. Havia tanta frieza naquele olhar que Dul chegou a supor que ele usaria a arma para matá-la.
Bem, o que ela podia esperar, depois do que fizera? Obrigara o escocês a aceitar aquele casamento. Era compreensível que ele a detestasse. E Uckermann usaria sua raiva à noite quando se deitasse com ela no leito nupcial. Como Pablo tinha feito em várias ocasiões. Que fosse assim. Estava preparada para essa prova. Dul engoliu com dificuldade e obrigou-se a encarar o noivo. Uckermann apresentou-lhe a espada e ela segurou a arma pelo punho. Suas mãos tremiam. Ela virou-se para Marcelino, mas o rapaz não deu um passo para a frente como seria correto. Ele tinha os olhos fixos em Uckermanne o rosto contorcido, tal sua raiva. — Marcelino, a espada — Dul sussurrou-lhe. O rapaz jogou a arma para ela e afastou-se, zangado. Dul seguiu-o com o olhar enquanto ele abria caminho entre os assistentes, até perdê-lo de vista. Mais tarde iria conversar com ele, decidiu. O Legislador fez um sinal para que ela continuasse. Por um momento Dul segurou com força a espada que tinha pertencido ao pai, mas para ela a arma sempre fora de Christian. E agora, tinha de entregá-la ao escocês. Era doloroso separar-se da arma. Não lhe restava quase nada do que pertencera ao irmão. E a espada era um de seus objetos mais preciosos. — Dul! — o Legislador chamou-a. Ela virou-se e seus olhos encontraram os de Uckermann. Havia neles, ela notou, algo novo. O escocês divertia-se? Tinha o canto da boca ligeiramente erguido. O Legislador devia ter explicado ao noivo o significado do ritual. A pele dela arrepiou-se. Ela comprimiu os lábios, cerrou os dentes e, ao mesmo tempo, apresentou a espada a Uckermann. Ele segurou-a e, notando a hesitação de Dul, puxou a arma da mão dela e sorriu. Pelo sangue de Thor, odiava aquele homem. Esse ódio alimentou sua coragem e deu-lhe confiança. Conhecia os homens e o escocês não era diferente. Todos eles buscavam o poder e a dominação. Nessa noite a vitória seria de Uckermann, mas ela ganharia a guerra. O Legislador tirou alguma coisa da pequena bolsa que tinha na cintura e Dul arregalou os olhos ao ver do que se tratava. Alianças. Não lhe tinham dito nada sobre alianças. Ela estreitou os olhos e o escocês simplesmente deu de ombros. Atrás do noivo estava Hannes, sorrindo. O ritual prosseguiu. Era evidente que Uckermann tinha sido bem instruído, pois suas maneiras eram impecáveis. Ele segurou a espada que lhe fora oferecida pela noiva e apresentoua ao
Legislador que colocou sobre o punho da arma a aliança menor. Foi a vez de Dul apresentar a espada que o noivo lhe entregara e sobre o punho da mesma o Legislador colocou a aliança maior. Ambos trocaram as alianças, cada uma no punho das espadas que os noivos acabavam de aceitar. Franzindo os lábios, Dul colocou o círculo de prata no próprio dedo. Uckermann fez o mesmo com a aliança dele. Pronto. Eles estavam casados. Faltavam apenas os votos matrimoniais, que representavam a parte cristã da cerimônia, para a qual Dul não dava muita importância. Uckermann repetiu as palavras ditadas pelo celebrante, como tinha sido instruído e Dul apenas murmurou os votos. Um viva soou entre os assistentes e outros se seguiram. Vendo o Legislador tão satisfeito, Dul refletiu que também devia estar feliz. Afinal, conseguira o que queria. Acabava de dar o primeiro passo do plano por ela elaborado tão cuidadosamente. Agora devia seguir adiante. Ela correu os olhos pelos assistentes à procura de Eddy e Alfonso, os dois melhores amigos de Christian. Localizou-os e ambos acenaram para ela discretamente com a cabeça. Os dois rapazes estavam a par do plano dela e, só de olhar para suas faces valentes, Dul encheu-se de confiança. — Minha esposa — a voz forte de Uckermann soou atrás dela. Ela virou-se depressa. O escocês tinha a petulância de oferecer-lhe o braço. — Vamos comemorar. Há uma festa preparada para nós, não? Dul ficou carrancuda. — Não quero comemorar. — Ah, ela vai comemorar, sim — disse o Legislador segurando a mão dela e seguindo entre os assistentes que se mantiveram afastados, para a passagem do celebrante e dos noivos. Ela fervia de raiva. Lançou aos dois olhares flamejantes e correu na direção da casa comunitária. — Espere! — o Legislador gritou. Dul olhou para trás, mas não parou. — Dul, cuidado! Tarde demais. Ela foi de encontro ao batente da porta da casa e caiu no chão com um baque. Pelo sangue de Thor. Um murmúrio de surpresa escapou dos lábios dos assistentes. Em dois segundos Uckermann estava curvado sobre a noiva oferecendo-lhe ajuda. Mas o Legislador empurrou-o para o lado e levantou Dul do chão. — O que houve? — Uckermann perguntou, confuso. Por que toda aquela gente olhava para ele com expressão de espanto? — Você fez tudo errado — o Legislador censurou-o. — Devia ter ficado aqui, à espera da noiva, como lhe expliquei. — Ah, sim. — Uckermann deu de ombros — Mas, e daí? — O que aconteceu é um mau presságio, imbecil. — O velho meneou a cabeça.
— Você devia carregar a noiva até o interior da casa, lembra-se? — Ela é muito grande — Uckermann alegou. — Tive receio de não conseguir carregála. Risos estrondosos ecoaram pelo pátio. Vermelha de raiva, Dul sentiu o peso da espada que segurava, tentada a castrar o maldito escocês ali mesmo. Porém, limitou-se a fixar nele os olhos dardejantes até ver aquele sorriso cínico sumir do rosto dele. Então, atravessou a soleira, entrando na casa para a comemoração.
Christopher admirou-se ao entrar naquele salão, no centro da casa comunitária, e ver tanta gente e também tanta fartura. Mesas lotavam todos os espaços do amplo cômodo, e sobre elas havia grande quantidade de comida: carneiro assado, pães, e pelo menos seis variedades de queijo. Jarras de hidromel tinham sido colocadas ao alcance de quem quisesse se servir. Como sempre, o ar estava pesado e enfumaçado. A fogueira ardia no centro do salão aquecendo o ambiente. O tempo tinha melhorado e a temperatura elevara-se um pouco, mas os anciãos previam uma tempestade de neve ao anoitecer. — Ei, escocês! — um homem corpulento bateu nas costas de Christopher. — Venha até aqui. Queremos ver do que você é capaz. O homem apontou para um dos pilares de madeira que sustentavam o teto da casa Christopher não tinha a menor idéia do que o grandalhão queria que ele fizesse e olhou para Dul. Ela estava sentada com o Legislador à mesa de honra, colocada num nível mais alto do que as outras, e fez sinal para Christopher sentar-se também, em seguida, aconselhou-o: — Não dê atenção a ele. Você não é obrigado a tomar parte nessa tolice. — Vamos, homem, desembainhe essa espada que sua noiva lhe deu e mostre até que profundidade pode enterrá-la neste pilar — disse o grandalhão em tom provocador. Christopher olhou na direção do pilar e aproximou-se dele. Só então notou que havia inúmeras marcas gravadas na madeira. Continuou a não entender o significado daquilo tudo. De repente, ele se viu cercado de vários homens todos querendo, evidentemente, incitá-lo a fazer o que o grandalhão tinha sugerido. — Vá em frente e ficará sabendo se terá sorte ou não no casamento — falou um dos homens. — Ah, sei — Christopher assentiu com a cabeça, apesar de continuar não entendendo nada. — É um teste de virilidade, de potência. — O grandalhão bateu novamente nas costas de Christopher. — Quanto, mais fundo você enterrar sua arma... — Ele dirigiu a Dul um sorriso malicioso, deixando-a vermelha de vergonha e raiva. — Entendeu ou não, escocês? Christopher tinha entendido muito bem — Vamos. Por que não? — respondeu, contente por provocar a raiva e o constrangimento de Dul. Segurou o punho da espada com as duas mãos e ergueu a arma acima da cabeça como os homens lhe disseram para fazer. Reinou um silêncio mortal no salão. Os olhos de Dul fixos nele eram duas adagas. Ele riu para ela de maneira travessa, inspirou fundo e, reunindo toda a sua força, cravou a espada na madeira. — Hip! Hurra! — Os homens gritaram em conjunto. Cerca de uma dezena de mãos bateram nas costas de Christopher e outras tantas desmancharam-lhe os cabelos. E, a brincadeira tinha sido divertida. O grandalhão que acabava de arrancar a espada do pilar, mediu cuidadosamente a parte que tinha sido cravada e não escondeu sua surpresa. Christopher teve certeza de que sua atuação tinha sido muito boa por que quando a espada foi erguida para que todos pudessem ver a marca na extremidade da arma, murmúrios de espanto ecoaram pelo salão. Christopher recebeu cumprimentos, abraços, palmadas nas costas e, por fim, foi praticamente carregado para a mesa de honra, onde a noiva o esperava, as faces da cor de cerejas maduras. — Você não tinha de fazer nada disso — Dul falou entre dentes, em tom cortante. — Eu sei. Ninguém me obrigou, mas foi divertido — ele respondeu sorrindo, mais para atormentá-la. De fato, tinha gostado da brincadeira, mas aquilo fora uma empolgação passageira. Agora devia pensar na sua situação com seriedade. Situação essa que era crítica. Perdera o irmão, o navio com todos os seus homens, o dinheiro, e estava sozinho, distante de casa. Muito distante. Enquanto estivera presente à cerimônia pagã e, depois, participando da brincadeira com os ilhéus, esquecera seus problemas. Mas, daqui por diante, tudo seria diferente. Ele observou as pessoas que estavam no salão e acenou com a cabeça para as que já conhecia. Eram muitas. Tranqüilizava-o constatar que a maioria dos homens o aceitava. Mas havia os que o tratavam com hostilidade. Derrick era o pior deles. Sempre que o via dirigia-lhe olhares ameaçadores. A voz de Dul afastou-o de suas divagações. — Esta é a taça nupcial — ela avisou-o, mostrando-lhe uma vasilha de forma esquisita. — Você deve tomar um pouco da bebida e passar a taça para mim. Pegando a taça, Christopher examinou-a. Era de metal, e tinha duas asas representando um ser marinho fantástico, parecido com uma serpente. Ele tomou alguns goles da bebida. Hidromel. O que mais podia ser? Novos vivas ecoaram. O líquido doce e enjoativo caiu-lhe no estômago e ele mal disfarçou uma careta. É, podia perder a esperança de tomar uma cerveja decente por muito tempo ainda. Devia estar a umas cinqüenta légüas de distância de casa. Três dias de navio. Ele entregou a taça a Dul e ela tomou o hidromel que restava. — Pronto. Cumprimos todas as partes do ritual — ela disse ao Legislador. — Todas, não — Hannes apontou, levantando do banco que ficava na outra extremidade da mesa. — Uckermann, seu martelo. — Não! — Dul protestou, visivelmente tensa. — Não aceitarei o ritual do martelo. — É o costume — o bardo argumentou e os presentes aplaudiram-no. Christopher ficou de pé, tirou o martelo da cintura e entregou-o a Hannes. Não estava entendendo o motivo de toda aquela resistência de Dul. Por que dar tanta importância a mais um ritual, se aquele casamento não iria durar? Afinal, ela pediria o divórcio assim que recebesse seu dote. — Isto é ridículo — ela reclamou baixinho. Voltou-se para o Legislador e suplicou-lhe com os olhos para não permitir que o bardo continuasse. O velho senhor ignorou o olhar dela. Hannes ficou de pé, atrás de Dul, cujos punhos estavam cerrados sobre a mesa. Sua raiva era tamanha que parecia irradiar-se de seu corpo. — Acabe logo com isso, poeta — ela ordenou. O bardo colocou o martelo no colo dela e todos os presentes, inclusive as crianças, emitiram um grito parecido com um lamento. — Qual o significado disso? — Christopher perguntou ao Legislador. O bardo está invocando Freya, ou Frigga, que é também a deusa da gravidez e do parto. Frigga foi uma mãe extremamente amorosa. George assentiu com a cabeça, interessado na história. O velho acrescentou: — O ritual do casamento deve incluir essa invocação, para que a deusa abençoe o... ventre da noiva. — Ah, entendo — Christopher murmurou. Decidiu que, afinal, precisava de um pouco daquele insuportável hidromel. Seguiram-se horas e horas de festa com muita comida e bebida, durante a qual Hannes, como poeta e trovador entoou canções e recitou poemas, a maioria deles de amor, para enorme desgosto de Dul. Christopher relaxou pela primeira vez desde que chegara a Fair Isle. Convencera-se de que não estava casado e não devia sentir peso nenhum na consciência. Esse casamento não passava de um rito pagão e para ele, sendo cristão, não tinha valor nenhum. Se ele não tivesse sido tão obstinado e aceitasse logo casar-se com Dul, a esta hora poderia estar em casa.
Agora devia preocupar-se com suas obrigações para com o rei e seu clã, bem como para com as famílias dos homens que tinham morrido no naufrágio. Portanto, iria preparar tudo para partir no dia seguinte. Sua noiva receberia o dote e ele voltaria para a Escócia. Quanto a esta noite... iria torná-la tão agradável quanto possível. Dul estava bem ali do lado dele, porém mal olhou na sua direção durante toda a festa. Inclinando-se, ele sussurrou ao ouvido dela: — A idéia não foi minha, você sabe disso. A proximidade dele sobressaltou-a e ela inclinou-se para trás. — Sim, eu sei. Mas em breve tudo estará terminado — ela falou em tom glacial, mas seus olhos revelavam sua preocupação. — Não terminará tão depressa como você imagina — Christopher contrapôs. Ao mesmo tempo, refletiu que não havia necessidade de aquela festa durar a tarde toda e se estender pela noite adentro. Naquele instante viu Dul sussurrando alguma coisa para o Legislador. O velho ficou de pé e anunciou: — Está na hora. A festa terminou. — Está na hora de quê? — Christopher perguntou. Pela palidez de Dul, soube a resposta. — Oh, hora de... — Você entendeu — ela cortou. — Vamos nos retirar e iremos para a nossa... para casa. De repente, dois grupos de homens bêbados e barulhentos ergueram os noivos do banco e os carregaram para fora. Eles foram levados sob a neve que caía, para a casa onde iriam passar a noite de núpcias. Christopher abusara do hidromel e sentia a cabeça girando. Pouco depois, um dos homens abriu a porta da casa com um chute e Dul foi jogada na cama sem a menor cerimônia. Christopher foi colocado de pé, na frente dela. Antes de ele se dar conta do que estava acontecendo, três homens livraram-no das armas, das botas, da túnica, deixando-o apenas com as perneiras. Mais do que depressa, Christopher puxou da cama a colcha de peles e colocou-a na sua frente. Não que ele fosse tão pudico, mas aquela estranha situação o irritava. Aquela gente estava passando dos limites. Duas mulheres foram depressa para junto de Dul e também a despiram, deixando-a só com a combinação fina, quase transparente. Christopher olhou para ela, mas a imagem que tinha na mente era a mesma que vira na sauna. Ela com a pele porejada de suor, os cabelos molhados acompanhando as curvas do seu corpo. Ele inspirou fundo. As mulheres iam sair do quarto e a mais velha recomendou a Dul: — Lembre-se do que eu lhe disse, minha menina. Dul não respondeu, não mexeu um músculo. Hannes, o Legislador, e outros homens que estavam na casa ficaram em silêncio. Finalmente, Dul ergueu bem a cabeça e disse ao noivo: — Estou preparada, escocês. Acabe logo com isso. — O quê?! — ele exclamou, a voz áspera. Talvez por estar com a cabeça pesada e confusa por causa da bebida, ele demorou um pouco para entender a que Dul se referia. Por fim, a mente clareou e ele ficou perplexo. — Você quer dizer... — Ele olhou para os homens que estavam no quarto e sacudiu a cabeça — Será que ela quis dizer o que eu estou pensando? — E o que é que você está pensando? — indagou o Legislador com a expressão mais inocente do mundo. — Oh, não. Vocês não esperam que... — O ato deve ser testemunhado — explicou Hannes. — É a lei. Christopher perdeu a fala e agarrou com mais força a colcha de peles que o cobria. — Vá em frente — disse o grandalhão, batendo nas costas do noivo mais uma vez. Devia ser a centésima, Christopher pensou. Indagou em seguida, indignado: — Com todos vocês aqui no quarto? O que há? Estão malucos? Era verdade que, depois de ter tomado a terceira ou quarta jarra de hidromel, ele começara a ver as coisas de modo diferente. Podia até afirmar que seus princípios tornaram-se menos rígidos. Mas isso, era demais. Inconcebível. Dul sentou-se na cama. — Temos de fazer isso, realmente? — indagou olhando para o Legislador, esperançosa. — Todos nós passamos por isso — Hannes interpôs. — Passamos, mas a consumação do casamento não precisa ser testemunhada. Esse costume é muito antigo, nem é mais observado — esclareceu o Legislador. — Eu posso atestar a legitimidade do casamento quando for a hora. Portanto, vamos deixar os noivos a sós. O Legislador fez um gesto indicando para as pessoas se retirarem e Dul levantou-se da cama. — Espere. Você e Sitryg devem ficar. Não me deixem sozinha com ele — ela pediu e olhou para Christopher. Ele podia jurar que havia medo nos olhos azuis. O Legislador, que já tinha chegado à porta, virou-se e falou em tom severo: — Uckermann agora é seu marido. Você deve confiar nele, da mesma forma que ele confiou em você, quando concordou com este casamento. Dul ia seguir o Legislador, mas Christopher segurou-a pelo braço. Aquele toque deixou-a rígida. — Lembre-se do que eu lhe disse — o tom do ancião abrandou-se. — Nem todos os homens são iguais.
Ele saiu fechando a porta. Christopher olhou para o rosto pálido de sua noiva, intrigado com as palavras do Legislador. Nem todos os homens são iguais. O que ele quis dizer com isso?


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Gente! Es queci de avisar que a história é curtinha, só tem 18 capítulos! Quase terminei de ler e adaptar a história!


No próximo capítulo temos Hot.... Tem muita coisa para acontecer ainda e vcs vão ver que Derrick será o embuste da História! Se vcs comentarem até as 9:00pm eu consigo postar mais um hoje!


Comentem e Favoritem!


Besos y Besos Lindezas!😘😘😘


 



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Autor(a): Srta.Talia

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Os homens eram todos iguais. Dul voltou para a cama, sentou-se com as pernas cruzadas sob o corpo, e esperou. E esperou. Durante muito tempo, Uckermann continuou de pé, de costas para ela, com a coberta de peles enrolada na cintura, aquecendo-se diante do fogo de turfa seca que brilhava na lareira. O momento que ela tanto temera, tinha chegado, afinal. E agora que se ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



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  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


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