Fanfics Brasil - #CAPÍTULO VI# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO VI#

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Aquilo era inaceitável. Christopher  encarou os dois jovens guerreiros que passaram um bom tempo tentando convencê-lo a aprender o essencial sobre a cultura deles.
— Por que tenho de saber tanta coisa sobre os seus costumes e tradições? — ele inquiriu.
Alfonso, o rapaz moreno, respondeu calmamente:
— O seu encontro com o pai de Dul  não será fácil. E para ser proveitoso, você precisa provar a ele que é como um de nós. Ou você acha que um homem como Rollo entregará de boa vontade uma fortuna nas mãos de um estrangeiro?


Rollo. Pai de Dul. Christopher duvidava que seria mais difícil lidar com o homem do que com a filha. A taberna estava lotada, quente e sufocante. Pairava no ar um cheiro forte de lã molhada, suor e do enjoativo hidromel.
Eddy, o rapaz loiro, pediu mais uma jarra da bebida e Christopher fez uma careta.
— Você quer ir para casa, não quer? — Eddy perguntou. Era uma pergunta tão ridícula que Christopher ignorou-a. Alfonso sussurrou alguma coisa para o companheiro e este observou:
— Acho que Rollo não mora muito longe da sua casa.
— O quê?
— Poucos dias a cavalo — Alfonso completou. — Uma semana, no máximo.
— A cavalo? — Como podia ser?, Christopher considerou. Imaginava que o pai de Dul vivia numa ilha, nas Shetland ou Orçadas. — O pai dela mora na Escócia?
Os dois guerreiros assentiram com a cabeça.
— Ele é casado com uma escocesa e mora no continente. Só nãopodemos
afirmar se em território dominado por escoceses ou nórdicos. Mas Rollo é leal a quem lhe proporcionar mais benefícios.
Boas notícias, Christopher pensou. Tudo indicava que ele sairia daquela confusão mais cedo do que imaginava. Quando eles chegassem a qualquer lugar da costa, quem o impediria de seguir para sua terra?
Ele iria para Wick que ficava no extremo norte do continente. Quem sabe eles poderiam navegar até a baía da sua cidade. Ah, o pensamento animou-o.
— E então? Aceita que Alfonso e eu lhe ensinemos as coisas que você deve saber?
— Eddy perguntou.
Christopher não ouviu as perguntas. Estava pensando em August Sinclair e em Angelique, a noiva que lhe fora prometida.
— Começaremos com alguns jogos bem simples — disse Alfonso.
— Como? — De que aqueles dois estavam falando? — Eu já disse que não preciso aprender nada sobre seus costumes.
Alguém arrotou alto às costas de Christopher, em seguida comentou:
— Na minha opinião ele é um idiota.
Christopher virou-se devagar, irritado, tendo reconhecido aquela voz. Derrick estava sentado a uma mesa, logo atrás dele, com o pateta do Rasmus e meia dúzia de outros homens.
— Ninguém lhe perguntou — disse Eddy. — Ignore-o, Uckermann.
Christopher não estava acostumado a ignorar insultos, especialmente proferidos por pagãos grosseiros. Olhou para Derrick e desejou ter consigo a espada do irmão de Dul ou aquele martelo na cintura. Mas tiraram as armas dele depois da festa.
— Os escoceses não foram feitos para aprender. — Derrick esvaziou o copo de chifre que segurava e fios de hidromel escorreram por seu queixo barbudo. — Os nossos costumes vikings, a nossa habilidade, não se aprendem. Ou se nasce com eles, ou não.
Ah, que vontade ele tinha de mostrar a esse pagão ignorante para que,
exatamente, os escoceses tinham sido feitos, Christopher pensou. Mas dirigiu-se a
Eddy e Alfonso para perguntar:
— Que habilidades devo aprender?
— Faremos uns testes de presença de espírito, inteligência e estratégia.
— Bah. E as provas de virilidade? — Derrick intrometeu-se.
— Essas também — Alfonso concordou. Christopher decidiu ignorar Derrick e deu as costas para ele e seus companheiros.
— Eu disse a vocês que ele não era homem — Derrick falou bem alto e os homens de Pablo riram.
O sangue de Christopher ferveu. Estava na hora de ele dar umas lições para aqueles gentios. Eles que o aguardassem.
— Quando começo?
Alfonso e Eddy sorriram e responderam em uníssono:
— Imediatamente.
— E o que mais podemos fazer com um tempo horrível como este? — Eddy acrescentou.
O rapaz estava certo, Christopher pensou. Precisava fazer alguma coisa. Ficaria louco se tivesse de continuar sentado o dia todo num ambiente sufocante como aquele.
A porta da frente abriu-se e Dul entrou na taberna acompanhada de Marcelino e de uma rajada de vento e neve. Marcelino fechou depressa a porta e os dois sentaram-se em um banco ficando de frente para Christopher. Dul não lhe dirigiu nem
sequer um olhar. Nem ele esperava que ela o fizesse. Marcelino, sim, encarou-o de modo penetrante. Era a primeira vez que Christopher via
Marcelino desde o casamento. O inflamado rapaz não estivera presente à festa. Não era de admirar. Para o jovem, o escocês tinha usurpado o lugar que julgava lhe
pertencer. Pelo menos, era o que Marcelino demonstrava, querendo proteger Dul daquela forma tão arrebatada.


Dul estava singularmente quieta. Eles não voltaram a se ver desde o desjejum. O incidente sobre o bracelete a deixara zangada. Ela voltara à casa para buscá-lo e agora ele estava preso no seu pulso direito, bem como o outro, idêntico, que ela
trazia no pulso esquerdo.
A princípio, Christopher achava que Pablo a obrigara a usar aqueles braceletes largos, de bronze trabalhado. Agora sabia a verdade. Ela os usava por que tinha vergonha de que alguém visse as marcas feitas por aquele animal. Ele vira a humilhação nos olhos dela e tivera de se controlar para não lhe oferecer um gesto de carinho ou lhe dizer uma palavra de conforto. Olhando para ela agora, maravilhou-se com sua atitude estóica. Era como se o que acontecera na noite anterior e naquela manhã não passassem de coisas corriqueiras. Externamente, Dul tinha a aparência de uma Valquíria, de mulher
forte, guerreira, resistente como couro curtido. Mas ele sabia que sob aquela armadura havia uma mulher muito feminina. Conhecera o seu ardor, a sua paixão e
a sua docilidade quando fizera amor com ela."Christopher", ela dissera. Apenas uma vez. Seu nome de batismo nunca soara tão exótico nos lábios de uma mulher. De madrugada ele voltara a ser simplesmente Uckermann. Ela repetira a palavra por entre os dentes, como se fosse uma espécie de blasfêmia.


Uma vez que conhecia Dul melhor, ele compreendia que ela se esforçava para manter aquele ar de indiferença. Era óbvio que ela não se sentia confortável naquela pele de mulher gelada. Havia nela uma feminilidade natural que qualquer um poderia enxergar, bastava reparar nela.
E ele estava reparando. Entretanto, Dul tinha prazer de sufocar quaisquer atributos que denotassem a sua feminilidade, tais como ternura, compaixão e generosidade. Oh, ela fora generosa com ele debaixo da coberta de peles, na noite anterior.
Por Deus, a mulher não saía do seu pensamento. Ele precisava distrair-se, ocupar a mente com alguma coisa enquanto esperava que o tempo melhorasse. Quem sabe os tais testes iriam distraí-lo.


— Sua bebida — anunciou uma voz feminina. Lina.


Ali estava toda a distração que um homem poderia querer.
Christopher olhou para a moça com olhos de corça que acabara de colocar uma jarra de hidromel sobre a mesa.


— Nossos agradecimentos — disse Alfonso, piscando para ela.


Lina era uma mulher que um homem podia realmente admirar e valorizar. Uma mulher que um homem entendia sem o menor problema. Ela agitou graciosamente os cílios para Christopher, sorriu, e disse com afetada modéstia:
— Encontrei um barril de cerveja no depósito. Creio que é o que você deseja. — Lina curvou-se um pouco e seus seios ficaram à altura dos olhos de Christopher. —. Não é mesmo?


Oh, ele a entendia perfeitamente.
— Só que eu não posso erguer o barril. É pesado demais para o meu corpo delicado — Lina acrescentou, tremulando os cílios novamente.
Christopher deu um largo sorriso. Estava acostumado com aqueles ardis femininos. As mulheres fingiam ignorância, faziam-se de fracas, manipulavam, e nunca revelavam o que desejavam realmente.
— Mas não é pesado para mim — disse uma voz gélida. Dul apareceu perto de Lina, fazendo a moça parecer ainda menor. — Vá. Irei ajudá-la em seguida.


Dul empurrou Lina na direção da porta e voltou-se para Christopher.
— Quanto a você, Uckermann, encontre-me no pátio. Quero mostrar-lhe algumas coisas antes de partirmos. Ela virou-se, pegou o casaco que deixara no banco e saiu da taberna acompanhada da rajada de vento e neve, como à sua entrada.
— Nosso trabalho pode esperar — declarou Alfonso. Christopher encheu de hidromel o copo feito de chifre e tomou a bebida muito doce pensando em Lina. Realmente, ialgumas mulheres eram ardilosas. Outras, não.


Dul esperou por Christopher perto do estábulo, debaixo de um coberto. Seu pônei predileto aproximou-se dela e esfregou o focinho no seu braço, sabendo que ela lhe trouxera alguma coisa para comer. Ela abriu a mão e apresentou-lhe um nabo o qual ele comeu num instante


— Que animal é esse? Não se parece com um potro.


Ao ouvir a voz de Uckermann, Dul  virou-se depressa.


— Não é um potro. É um cavalo adulto.


— Não pode ser.


— Mas é adulto, claro. — Ela franziu a testa. O escocês tinha muito o que
aprender, já que não sabia distinguir um potro de um cavalo.


— É um animal muito pequeno para ser adulto.


— Pois este é o maior e mais forte cavalo da ilha.


— Ah!


— Cavalos como este vêm das ilhas Shetland. O Legislador os importa. Nós os chamamos de pôneis Shetland — Dul explicou.


Uckermann aproximou-se do pônei e afagou-o, passou a mão pela longa crina do pescoço.


— Fair Isle, onde as mulheres são grandes e os cavalos pequenos.


A observação irritou Dul, mas ela controlou-se para não dizer uma palavra ofensiva. Mas, se dissesse, não tinha importância, o ignorante escocês não iria entender mesmo.
— Siga-me — ela ordenou e saiu andando na frente de Uckermann, na direção das charnecas, indiferente ao vento e à neve com granizo. Ocorreu-lhe, enquanto caminhava, que era a primeira vez que ficava a sós com
Uckermann depois da noite de núpcias. Agora reconhecia que aquele afastamento lhe fizera bem. A presença dele a inquietava, perto dele ela sentia-se... estranha. Não parecia ela mesma.


Após uma caminhada curta, mas por uma ladeira íngreme, até o alto de um monte rochoso, ela parou de repente. Uckermann, que a seguia no mesmo passo acelerado, foi de encontro a ela e quase a derrubou.


— Pelo sangue de Thor! O que é isto?


— O-a! Desculpe — ele falou, parando também, não demonstrando o menor cansaço.


O escocês estava em plena forma, Dul admitiu. Seu preparo físico era
superior ao dos homens da ilha. Estes, durante os meses de inverno, ficavam dentro de casa ou na taberna, e tornavam-se balofos e fracos. No corpo de Uckermann não havia gordura nenhuma, só músculos. Veio-lhe a mente a imagem dele, nu, potente, afastando as pernas dela com suas coxas. Ela inspirou fundo, sentindo ao mesmo tempo um delicioso estremecimento.
Na noite anterior ele poderia forçá-la a fazer amor com ele, mas, pelo
contrário, a havia preparado, a excitara com beijos e carícias tão suaves com os dedos que pareciam o roçar de asas de uma pomba. Oh, não podia consentir em tais pensamentos! Mas eles lhe vinham à mente, atrevidos e indesejados, à menor provocação. Ela devia manter o autocontrole, e depressa. Eles teriam de enfrentar dias difíceis e
ela não poderia permitir que uma noite passada com um estranho a perturbasse, desviando-lhe a atenção do propósito que tinha em mente.
Ou que mudasse suas convicções.
Os homens usavam as mulheres para conseguir o que queriam, e Uckermann não era exceção. Tinha sua casa na Escócia e uma noiva esperando por ele, e ela devia
lembrar-se de que ele concordara com o plano dela apenas para apressar sua volta à pátria.


A voz de Uckermann interrompeu-lhe os pensamentos.


— Que lugar é aquele? Lá embaixo? — Ele aponto para o cemitério na charneca, abaixo deles.


— Alguns dos meus ancestrais descansam ali. Venha, há coisas que você precisa saber.


Ela começou a descer do outro lado do monte, na direção do cemitério, Uckermann seguiu do lado dela, o vento gelado açoitando os cabelos e as roupas de ambos.


Ele parecia não se importar com o mau tempo, ao qual não devia estar
acostumado, e isso a surpreendeu. Ela imaginava a Escócia como uma terra
luxuriante, com muito verde, protegida dos ventos tempestuosos e da fúria do mar. O granizo feria-lhe o rosto e ela ergueu bem a gola do casaco para proteger-se das lâminas de gelo.


— Use o meu casaco. Ele tem um grande capuz — Uckermann ofereceu.


Sem lhe dar tempo de protestar ele tirou o casaco de pele, colocou-o nela e puxou o capuz sobre sua cabeça.
Os olhos de ambos se encontraram. Dul viu nos dele calor e carinho. Por um breve momento parecia que eles eram realmente marido e mulher. Ela desviou o olhar e o encanto se quebrou.


— Obrigada — ela agradeceu meio sem graça, e continuou a andar.


Poucos minutos depois eles estavam no cemitério viking, um mar de navios rumando para outros mundos. Cada túmulo era cercado com pedras dispostas de modo a formar um longo navio viking. Uckermann ficou maravilhado com aquelas construções, na Escócia não havia nada parecido com aquilo.


— Alguns desses túmulos têm cruz — ele observou, admirado, aproximando-se de uma sepultura com o símbolo cristão.


— Nós praticamos rituais antigos e respeitamos os deuses nórdicos, mas
também recebemos ensinamentos cristãos. Há muitos anos havia um padre missionário entre nós. Grande parte do meu povo é cristã.


— Foi o que o Legislador me disse. — Uckermann passou respeitosamente a mão pela antiga cruz de pedra.


— E você? Também é cristã?


Dul não estava preparada para aquela pergunta e hesitou por um momento. Que importância tinha para Uckermann a religião que ela professava? Por fim, respondeu, apenas para contentá-lo:


— Eu era cristã. Depois que a minha mãe morreu e meu pai nos deixou, eu não acredito em Deus nenhum.


— Quando foi isso?
Dul olhou para o mar.


— Faz muito tempo. Eu ainda era criança.


— E o Legislador cuidou de você desde então?


— O Legislador e Christian, embora meu irmão seja mais novo do que eu.


— Onde está o seu irmão, Dul? Por que ele a deixou sozinha?

Uma torrente de lembranças vieram à mente de Dul. Deus, como sentia falta de Christian.


— Ele estava... Os homens de Pablo vieram e...


Ela parou de repente. O que estava dizendo? Dul puxou mais o capuz sobre o rosto e andou até o círculo de pedras grandes colocadas em posição vertical, perto da praia. Uckermann  seguiu-a depressa e segurou-a pelo braço.

— Me solte! — Ela dirigiu a ele um olhar zangado.


— Fale-me sobre Pablo.


Dul sentiu o coração subir à garganta.

— Do que você está falando? Me solte! Deixe-me ir.


— Não. O que Pablo é para você, além de seu chefe?


— Ele não é nada. — Ela puxou o braço e libertou-se de Uckermann. — É menos do que nada. E não mencione mais o nome dele.


— Por que não? O que ele lhe fez? — Uckermann ficou bem perto dela.

— Afaste-se. Vá embora.


— Não pretendo fazer nem uma coisa nem outra. — Ele colocou os dois braços numa das pedras, prendendo Dul entre eles. — As marcas nos seus pulsos foi ele quem fez, não foi?


Mentiroso! Ele tinha tirado o bracelete de seu pulso enquanto ela dormia.


— Ele não fez nada. E agora, saia da minha frente!


Dul empurrou o peito dele, mas Uckermann continuou imóvel como uma das pedras que tinha atrás de si, machucando-lhe as costas.


— Então ele não é seu amante, como Derrick disse?


— Derrick?! Que mentiras ele andou espalhando?


— Ele disse que você pertencia a Pablo. Que, se eu a tocasse...


— Pare com isso! — Ela tentou escapar passando por baixo dos braços dele, mas ele agarrou-a pelos ombros. — Não pertenço a ninguém! A ninguém, ouviu?


A raiva dela era tão grande que sua respiração ficou entrecortada. Uckermann segurou o queixo dela, obrigando-a a encará-lo.


— Ele a forçou, não foi isso?


Oh, Deus.


— Pare!


— Então, responda.


— Não! — Seus olhos nublaram-se, mas ela jurou a si mesma que não iria chorar.


— As cicatrizes nos seus pulsos e no seu pescoço foram obras dele — Uckermann afirmou, acompanhando com os dedos a cicatriz no pescoço dela.


Aquele sinal fora traçado peça faca de Pablo na véspera de ele partir para o
continente, Dul relembrou. O granizo misturado com a neve transformou-se em chuva, batendo-lhe no rosto e lavando as lágrimas que ela não conseguira conter.


Uckermann inclinou a cabeça e ela pôde ler a intenção dele nos olhos de ardósia. Tarde demais. Ele cobriu os lábios dela com os seus e beijou-a com tanto ímpeto e arrebatamento que ela assustou-se. Quis lutar, mas sua resistência esfacelou-se sob o peso de um anseio profundo que ela só agora experimentava. O desejo que
sentia era mais do que físico. Era um anseio por ficar perto dele, era...


Com um movimento brusco, libertou-se de Uckermann e saiu correndo.
Um relâmpago riscou o céu seguido do estrondo assustador de um trovão. Ela tirou o casaco que Uckermann lhe emprestara, também tirou o dela e subiu o monte, o vento fustigando-lhe os cabelos e a chuva congelando-a.
Chegou à vila molhada até os ossos. Como já imaginava, Marcelino estava à porta da casa comunitária esperando por ela. Dul parou de correr ao chegar no pátio e
atravessou-o andando devagar. Respirou fundo e tentou dominar suas emoções.


— Dul, o que aconteceu? — Marcelino  jogou fora o pedaço de pão que comia e correu ao encontro dela.

— Não aconteceu nada. Estou bem — Ela respondeu e não parou de andar.


— Onde está o seu casaco?


— Em lugar nenhum. Eu... o perdi.


Os dois chegaram à casa, mas não entraram. Ficaram sob o beiral. Dul sentou-se pesadamente no banco encostado à parede.


— Perdeu? Mas...


Uckermann apareceu no pátio trazendo na mão o casaco encharcado de Dul. Ele parou ao ver o rapaz. Imediatamente Marcelino tirou a faca do cinto.


— Aquele miserável! Ele machucou você?


— Não. Marcelino... — Dul ela segurou o braço do rapaz — Guarde sua arma. Ele não fez nada.


Uckermann aproximou-se deles.


— Seu casaco... minha esposa.


Os músculos dos braços de Marcelino contraíram-se.


— Entre, Marcelino. Estou bem — Dul  empurrou gentilmente o rapaz para a porta.


— Quero falar com meu... com Uckermann, a sós.


Depois de Marcelino ter entrado na casa, ela deu-se conta de que não tinha nada para dizer ao escocês. Ainda estava com os pensamentos confusos. O beijo dele a surpreendera, claro, mas fora a reação dela que a deixara assustada. Os dois ficaram sob o beiral em silêncio até que o brilho estranho desapareceu dos olhos de Uckermann e Dul voltou a assumir aquela atitude indiferente que sus-
tentava sua força. Agora tudo estava bem. Indo à frente dela, Uckermann  abriu a porta, esperou que ela entrasse e seguiu-a, juntando-se aos outros.


— Você não está prestando atenção — o Legislador reclamou. Tirou do
tabuleiro uma das peças entalhadas e devolveu-a ao lugar de onde Christopher a tinha tirado — Tente de novo, e desta vez, pense antes de fazer sua jogada.


— Sim, eu sei, eu sei. — Christopher passou a mão pelos cabelos, exasperado. — Devo prender seu rei antes que ele escape pela lateral do tabuleiro.


— Exatamente — concordou o Legislador. — E você tem de defender dois ataques a mais do que eu. Continue.


— Este jogo não se parece com nenhum tipo de xadrez que eu conheço. E eu já joguei com os homens mais inteligentes das Terras Altas da Escócia.


— Eu disse a você que este jogo não é xadrez. Chama-se taft.


— Bem, qualquer que seja o nome deste jogo, não consigo me concentrar com ela me espiando e resmungando cada vez que movimento uma das peças. — Christopher olhou sobre o ombro na direção de Dul que no momento olhava para o tabuleiro e
tinha a testa franzida. — Entende o que eu quero dizer, Legislador?


O velho deu de ombros.


— Ela é sua esposa. Tem todo o direito de espiar.


Christopher murmurou uma praga e movimentou a mesma pedra pela terceira vez.


— Muito bem — aprovou o Legislador, mostrando-se, por fim, satisfeito. Dul esboçou um sorriso desdenhoso.


— O que ela quer agora?


A atitude arrogante de Dul  já estava passando dos limites, Christopher  pensou. Ela estava de péssimo humor desde o passeio daquela tarde. Certo, o que acontecera tinha sido culpa dele, mas ele se cansara daquele castigo tão severo. Durante o
jantar ela o repreendera pelas menores faltas contra os costumes do seu povo. Costumes que ele começava a odiar. Alfonso e Eddy aproveitaram a refeição para lhe ensinar a história nórdicas, quase toda ela feita de batalhas sangrentas. E agora, estando os dois rapazes acompanhando atentos o jogo de taft, Christopher se perguntou qual seria o motivo de
os dois guerreiros se mostrarem tão empenhados em instruí-lo para fazer uma simples viagem cuja finalidade era receber o dinheiro de um dote.
E tinha mais: os rapazes, o Legislador e Dul eram unha e carne, estavam
sempre juntos, pareciam cúmplices.
Devia haver alguma coisa atrás daquilo tudo. Christopher sentia isso nos ossos.


Derrick, por outro lado, estava a um canto, relaxado, com seu companheiro desdentado, observando cada movimento de Dul. Mentalmente, Christopher fez uma oração para que o tempo melhorasse. Quanto antes eles partissem, melhor. Tanto para ele como para Dul.


— É a sua vez, Uckermann. — Dul cutucou-lhe as costas. Ele dirigiu-lhe um olhar severo e fez menção de levantar-se do banco.


— Quer ficar no meu lugar, já que você joga tão bem?


Dul colocou as mãos nos ombros dele, obrigando-o a ficar sentado.


— Você precisa aprender muito bem este jogo se quiser cair nas boas graças do meu pai.


Ele já ouvira essa frase umas dez vezes naquela noite.


— Jogue com seu marido, Dul — o Legislador sugeriu e levantou-se. — Será um excelente teste de concentração.

— Eu? Nem pensar.


Durante toda a tarde Christopher  havia procurado um modo fazer desaparecer a tensão entre eles. Já que eram obrigados a ficar dentro de casa devido ao mau tempo, seria muito mais agradável se o relacionamento entre eles fosse cordial. Quem sabe Dul estava precisando justamente participar do jogo para melhorar seu estado de espírito. O Legislador repetiu o convite a Dul  e Christopher achou que esta era a
oportunidade de fazer a obstinada mulher mudar de opinião.


— Não a force. Afinal, as mulheres não têm inteligência nem perspicácia suficientes para jogos de estratégia. Ela vai perder e ficará constrangida.

A reação dela foi imediata. Christopher chegou a temer que ela estivesse armada, pois ela aproximou-se dele pelas costas e poderia cortar-lhe a garganta com facilidade.


— Afaste-se, velho — disse ela.

— Como queira. — O Legislador ergueu as mãos num gesto de defesa e saiu da frente de Dul.


Ele sorriu discretamente para Christopher e foi para perto de Eddy e Alfonso que se divertiam observando a cena.


— É a sua vez — Dul avisou, apoiando os cotovelos na mesa.


O jogo ia ser divertido, Christopher  antecipou. Ele era muito bom em jogos, principalmente os que exigiam raciocínio e prontidão. E, embora taft fosse novidade para ele, o Legislador lhe ensinara as regras do mesmo e os movimentos básicos. Portanto, se ele quisesse, derrotaria Dul facilmente.
Mas ele não queria fazer isso. Seria melhor deixá-la vencer. A vitória sobre ele poderia alegrá-la.


Assim pensando, Christopher moveu uma peça e observou Dul enquanto ela estudava o tabuleiro.
Lembrando-se do passeio deles daquela tarde, ele sentiu remorso. Não deveria ter-se referido a Pablo. Era evidente que Dul jamais admitiria que o chefe do seu clã a tinha maltratado. Ele não podia explicar o que o levara a agir daquela forma. Será que esperava que ela iria cair nos braços dele, suplicando-lhe para protegê-la daquele bruto?


Uma mulher comum certamente agiria assim. Mas Dul, filha de Fritha, não era uma mulher comum. Voltando a atenção para o jogo, Christopher viu Dul mover o rei com confiança. Em seguida ela encarou-o


— Quem a ensinou a jogar? — Christopher indagou, movendo um dos peões.


— O Legislador, depois que meu pai nos deixou.


— Por que Rollo foi embora?


A expressão dela ficou sombria. Era sempre assim quando o nome do pai era mencionado.


— Ele tornou a se casar depois que minha mãe morreu


— Ah, certo. Com uma escocesa.


— Quem lhe contou?


— Eddy. Ou Alfonso. Não me lembro.


— Eu os autorizei a dar-lhe instruções, mas você não deve aborrecê-los fazendo-lhes perguntas desnecessárias.


— Vou perguntar-lhes o que me...


— Eu lhe direi as coisas que você deve saber.


Que mulher petulante. Talvez fosse melhor não deixá-la vencer a partida. Devia derrotá-la sem dó. Isso fez com que ele prestasse atenção às peças do tabuleiro enquanto ela fazia a sua jogada. Dul pediu mais hidromel e a velha Sitryg, colocou uma jarra da bebida sobre a mesa. Christopher não viu Lina desde a manhã. Achava engraçado Dul sentir-se ameaçada pela moça. Ele não tinha real interesse na garota. Admitia que era graciosa, pequenina e desinibida. Um contraste marcante com Dul. Voltando ao jogo, ele ergueu uma das peças do tabuleiro.


— Eu não faria esse movimento — Dul  advertiu-o.


— Por que não? — Christopher  indagou, irritado. Aquela jogada o deixaria bem perto de ganhar a partida e ela sabia disso. Ah, que mulher esperta e dissimulada.


— O movimento está valendo — ele declarou, mais determinado do que nunca a derrotá-la.


— Como queira.


Dul colocou em um dos quadrados do tabuleiro uma peça que não servia
absolutamente de defesa para o rei. Que tolice, Christopher pensou. Ela perdera a partida e não tinha consciência disso. Com um largo sorriso ele moveu uma das peças de ataque na direção do rei. Dul franziu a testa.


— Cuidado — advertiu-o novamente.


Ele riu, saboreando seu triunfo sobre a arrogante mulher. Porém, nos três
movimentos seguintes sua expressão foi de perplexidade.


— Raichi! — ela gritou, ficando de pé. — Você foi derrotado, escocês.


— Mas... — Christopher estava olhando incrédulo para o tabuleiro.
Como aquilo tinha sido possível? Os homens que os observavam, riram.


— Talvez seja melhor você voltar ao seu jogo de xadrez — Dul aconselhou-o.


— O que você disse mesmo, instantes atrás, ao Legislador?


Ele ignorou-a. Ainda estava olhando para o tabuleiro, tentando relembrar as jogadas que tinham sido feitas, quando sentiu a mão firme do Legislador no seu ombro.


— Ele disse que as mulheres não têm inteligência nem perspicácia suficientes para jogos de estratégia. — o ancião respondeu no lugar de Christopher.


Que ela se danasse!, Christopher  pensou, passando a mão pela barba crescida do queixo. Pouco depois acalmou-se e olhou Dul dentro dos olhos. Ela sorriu para ele. Um sorriso de triunfo. Tripudiava sobre ele. O sangue dele ferveu.

— De acordo com a declaração do escocês, devemos concluir que até agora ele só conheceu mulheres idiotas.


Christopher praguejou por entre os dentes. Virou-se e foi sentar-se perto do fogo, entre Eddy e Alfonso. O Legislador aproximou-se de Christopher.


— Eu lhe disse que Dul era uma mulher incomum. Venha. Vamos jogar novamente.


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Lindezinhas! Hoje só vou poder postar um capítulo, mas se vcs comentarem um pouquinho mais, eu posto três capítulos amanhã!


Comentem e Favoritem!


Besos y Besos Fofuríneas!!!😘😘😘


 



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Autor(a): Srta.Talia

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



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  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

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  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


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