Fanfics Brasil - #CAPÍTULO VII# A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada)

Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época


Capítulo: #CAPÍTULO VII#

838 visualizações Denunciar


O tempo ficou ainda pior. O medo de Dul era que Pablo chegasse e ela não pudesse mais viajar. De pé, junto da janela da pequena casa onde passara a noite de núpcias com Christopher, ela olhava para o mar. Já fazia quase um ano que Christian tinha desaparecido e só há poucos meses ela descobrira o envolvimento de Pablo  na prisão do irmão. Com Christian preso, Pablo se proclamara chefe da ilha e, se ela o acusasse de seu crime, bem poucos lhe dariam ouvidos. Portanto, estava sozinha naquela luta. Tinha do seu lado apenas o Legislador, e alguns poucos guerreiros leais a Christian. Onde seu irmão estaria agora? Certamente em algum campo de trabalho em Dunnet Head, passando frio e fome. Ou, quem sabe, morto. Não. Recusava-se a acreditar na morte dele. Christian estava vivo. Ele era jovem, forte e tão determinado quanto ela. Sim, ele vivia. Ela iria encontrá-lo e o traria para casa. Dul inspirou profundamente o ar marítimo e prendeu a pele de foca que cobria a janela. A cama estava intacta desde a noite de núpcias. Não tivera coragem de deitar-se nela desde então. Por que não conseguia parar de pensar em Uckermann e nos momentos de paixão que eles viveram, ali naquele leito? A pedido dela, Christopher voltou a dormir no seu lugar de costume na casa comunitária. Ela não suportaria ficar perto dele à noite, por isso, vinha para a casa pequena, sozinha, e tinha o cuidado de manter a porta trancada. Não convinha se arriscar. Ela não esperava a companhia de Uckermann e deixara claro que só estariam juntos durante o treinamento dele. Ele aceitou as exigências dela sem a menor objeção. Nessa parte, pelo menos, eles concordavam. Um não queria saber do outro. Os habitantes da ilha não estranharam o comportamento dela depois de casada. Eles a consideravam uma pessoa diferente. Uckermann tinha sido aceito pela grande maioria e ninguém questionou o motivo de ela ter-se casado com ele. Em Fair Isle uma mulher sem família era livre para escolher seu companheiro. Era verdade que Dul  fora prometida a Pablo, mas ele partira havia meses e até o momento não dera sinal de vida. Nesse caso, o compromisso deles deixava de ter valor. Os homens que saíam para suas conquistas em geral não voltavam. Na ilha só os que iriam participar do plano de Dul, tinham conhecimento de que ela e Christopher iriam partir. Os demais só saberiam a verdade quando ela e Christian retornassem a Fair Isle. Até lá, tudo devia ser mantido em segredo. Uma batida soou na porta. Dul removeu a tranca e entreabriu a porta com cuidado. Derrick e seus homens estavam com raiva dela desde o casamento e ela não queria arriscar-se a defrontar-se com eles, estando sozinha.


Mas foi o Legislador quem olhou para ela pela fresta da porta. — Venha comigo. Está acontecendo uma coisa que voc ê precisa ver. Ela não esperou por mais nenhuma explicação. Jogou a casaco nas costas e seguiu o velho.
— O escocês está lutando com todo mundo. — O quê? — Dul segurou no braço do Legislador. — Onde? Com quem? Pelo sangue de Thor, e se o matarem? O Legislador sorriu. — Não se preocupe. É uma luta simulada. Eddy e Alfonso quiseram ensiná-lo a usar nossas armas. — Ah, bom. — O pulso de Dul foi aos poucos voltando ao normal. Queria assistir a esse espetáculo. O Legislador levou-a para uma outra casa comunitária do lado do estábulo, usada para apresentações, treinamento com armas durante o inverno e quando o tempo estava ruim. Os bancos tinham sido colocados encostados nas paredes e o fogo central estava aceso, tanto para aquecer o ambiente, como para servir de obstáculo a ser evitado ou transposto durante a prática com as armas. Todos os bancos estavam ocupados e havia muitas pessoas de pé. Aquele treinamento do escocês nos costumes vikings estava proporcionando contínua diversão aos habitantes de Fair Isle. Fazia tempo que Dul não via sua gente vibrando como no momento. Parecia até que os bons tempos, quando Christian era o chefe daquele povo, tinham voltado. Christian organizava os jogos trimestrais para encorajar a prática de esportes e assegurar o preparo físico dos ilhéus. As apostas estavam altas. Uns acreditavam na habilidade de Uckermann e arriscavam tudo nele, outros não confiavam nele e preferiam pôr seu dinheiro no adversário do escocês. Dul abriu caminho entre os assistentes e sentou-se, meio apertada, num banco com o Legislador. — O que está acontecendo? — ela perguntou, tentando inteirar-se da situação. Em uma das extremidades do cômodo comprido um grupo de homens cercava Uckermann. Na extremidade oposta outro grupo cercava Marcelino. — Uckermann e Marcelino  estão recebendo as instruções — explicou o velho e apontou para Uckermann. — Veja, seu marido está um verdadeiro guerreiro nórdico, você não acha? Uckermann deu um passo à frente e Dul arregalou os olhos ao vê-lo. Sim, ela concordava com o Legislador. Ele usava apenas botas, calção, estava com o tórax nu e tinha os longos cabelos fulvos soltos ao redor dos ombros. Segurava uma halberd, lança, cuja haste longa era feita de madeira de tília. O comprimento dessa lança correspondia ao tamanho de um homem, mas, Christopher era tão alto que na mão dele a lança parecia pequena. Marcelino usava traje e lança semelhantes ao do escocês, mas, perto dele parecia um rapazinho desajeitado. O contraste entre os dois lutadores era tão gritante que Dul  ficou preocupada. — Marcelino não tem nenhuma chance contra o escocês — ela comentou. O Legislador, por outro lado, estava impassível e respondeu: — Marcelino está mais motivado. Para ele muita coisa está em jogo. Vai ser uma boa luta. Luta que há muito tempo devia ter sido travada. — Você fala por enigmas, velho. Eu não o entendo. — É natural que não entenda. Você é mulher. — Oh... — Dul resmungou, zangada. — Marcelino tem corpo de homem, ou quase de homem, associado às emoções impetuosas da juventude. Uma combinação perigosa. Seu orgulho é ferido facilmente e isso o incita a lutar. — Ah, começo a entender. Acho que você está certo. — É claro que estou. Dul fez uma careta para o Legislador e voltou sua atenção para a luta. Marcelino estava mais tenso do que nunca. Ele andava ao redor de Uckermann, os dentes cerrados, os olhos flamejantes, como um predador cercando sua presa. Uckermann, ao contrário, parecia relaxado, solto, e tinha uma leveza ao mover-se que não era de se esperar de um homem do seu tamanho. Os dois lutadores atacavam, defendiam-se dos golpes, inclinavam o corpo, a cabeça, sempre cuidadosos, evitando o fogo central. Nada havia de emocionante. Esse tipo de confronto durava até que um dos lutadores ficava seriamente ferido. Quem julgava o grau de seriedade do ferimento era o público. Olhando ao redor, Dul percebeu que alguns dos assistentes estavam sedentos de sangue, queriam um combate mais violento. Derrick era um deles. E para ele, certamente, não importava quem saísse ferido. Marcelino ficou cada vez mais impaciente com a falta de defesa de Uckermann e avançou disposto a golpeá-lo. Dul sufocou um grito ao ver a lança de Marcelino atingir o peito do escocês. Um grito coletivo ecoou pelo salão. Mas o ferimento foi superficial. Pouco mais que um arranhão. Um fio vermelho apareceu entre os pêlos crespos do peito de Uckermann. Para espanto de Dul, ele acenou com a cabeça para Marcelino e sorriu. Ele não estava zangado? Se fosse Pablo, ficaria furioso ao receber um ferimento de um jovem inexperiente. E seria capaz de matá-lo pelo insulto. Mas não em público. Ele arranjaria um lugar isolado e sem testemunhas para perpetrar sua vingança. Duk estremeceu ao lembrar-se das vezes em que o deixara irritado.


Ela voltou novamente a atenção para Marcelino. A confiança do rapaz transpirava por todos os poros. Ele ficou cada vez mais audacioso e irrequieto. Essa agitação lhe valeu alguns tropeções no fogo. Uckermann  mantinha controle sobre o rapaz, permitindo ocasionalmente que ele desse um golpe inofensivo. Para Uckermann aquela luta não passava de um divertimento vespertino para adestrá-lo no manejo de uma arma até então desconhecida para ele. Mas para Marcelino a luta era assunto sério. Podia ver isso nos seus olhos na ferocidade de sua expressão. Ele estava determinado a mostrar ao escocês que, dos dois, ele era o melhor. Uckermann também tinha percebido a mesma coisa. Restava saber como o escocês iria lidar com o rapaz. Pablo, ou qualquer outro homem do seu clã, esmagaria o jovem na primeira oportunidade. Dominar. Destruir. Era esse o espírito dos guerreiros de Fair Isle. O escocês não devia pensar de modo muito diferente, ela supôs. Todos os homens eram iguais. Pelo menos, era o que ela pensava. Uckermann fez com que Marcelino retrocedesse na direção do fogo. Dul prendeu a respiração quando o rapaz escorregou. Para equilibrar-se e não cair no fogo, ele apoiou no chão a haste da lança, ficando com seu lado direito desprotegido. Uckermann teve sua chance. Mas, para a perplexidade de Dul, não a aproveitou. Segundos depois, Marcelino equilibrou-se e ergueu a lança para um golpe inesperado no torso de Uckermann. Inesperado para todos, menos para o escocês que se desviou com a graça e a agilidade de um felino. Dul viu a hesitação nos olhos dele. Então, algo extraordinário aconteceu. Uckermann ficou parado, sua decisão tomada e a lança de Marcelino atingiu-lhe o peito. O sangue jorrou do ferimento e os assistentes gritaram. Dul ficou de pé, a garganta apertada, sem poder pelo menos gritar. Teria corrido para socorrer o escocês, não fosse o Legislador agarrar-lhe a saia do vestido. — Isto é assunto de homens. Não interfira — ele aconselhou-a. Não interferir? Uckermann estava ferido. Ela devia ir até ele e... Pelo sangue de Thor, o que ela pretendia fazer? O olhar de Uckermann cruzou com o dela, ele estava ofegante e suado. Depois de um longo momento ele sorriu para ela. Um sorriso que a fez estremecer e do qual sempre se lembraria. Seguiram novos gritos e vivas. Marcelino foi carregado por um grupo de homens e aclamado vencedor. A expressão de triunfo no rosto jovem de Marcelino fez o coração de Dul encher-se de uma renovada admiração. Não por Marcelino, mas por Uckermann.


— Você é uma mulher de sorte, Dulce  — observou o Legislador brandamente. — Só que ainda não tem consciência disso.


Ao cair da noite o vento cessou. A chuva tinha parado horas atrás e Dul  pediu aos deuses que o tempo se mantivesse firme. Olhou para o céu que se tornava límpido e entrou na casa comunitária em busca de calor. Lá dentro todos estavam de bom humor e o hidromel era servido prodigamente. Marcelino estava sentado perto do fogo e aos pés dele um grupo de jovens lhe pediam para contar novamente como conseguira vencer o escocês. Provavelmente o feito do rapaz iria ser repetido uma dezena de vezes antes de a noite terminar. Lina trouxe um prato de bolo para o herói e fixou nele os olhos cobiçosos. Marcelino deu um largo sorriso. A moça era muito mais perigosa para o jovem do que para Uckermann, e o rapaz, tolo demais, não percebia isso. — Ei, garota! Venha até aqui! Dul virou-se ao ouvir a voz de Hannes e viu, surpresa, Uckermann sentado com o bardo a uma mesa de jogo. Ela sentia-se muito bem nessa noite, estava com excelente disposição, e presenteou-o com um raro sorriso. A atitude dele no combate conquistara seu respeito, coisa que poucas pessoas mereciam. — Como é, você não se cansou de jogar taft?! — Dul perguntou-lhe, erguendo a voz para ser ouvida. — Quero fazer mais uma tentativa — Uckermann respondeu. — E agora estou mais preparado. O Legislador ensinou-me certos movimentos que podem tornar a partida decisiva. Os olhos dele brilhavam, alegres e as faces dela tingiram-se de vermelho. Ela nunca vira o escocês tão... relaxado. Se ela não soubesse muito bem o quanto ele detestava hidromel, poderia jurar que Uckermann estava bêbedo. Hum. Talvez aquela moça atrevida tivesse, realmente, encontrado um barril de cerveja. No outro dia, quando Dul acompanhara Lina ao depósito, não vira barril de cerveja nenhum. A moça tinha inventado aquela história para levar o escocês ao depósito, onde eles poderiam ficar sozinhos. Eram truques como aquele que faziam os homens pensar que todas as mulheres eram falsas e ardilosas. — Nada de jogo esta noite — Hannes declarou. — Você ainda não concluiu a tarefa que lhe atribuí dois dias atrás. Dul levantou-se, foi até a mesa dos dois e sentou-se perto do bardo. — Que tarefa é essa? — ela quis saber. — Ah, eu lhe disse que não era capaz de pronunciar aquelas palavras — Uckermann alegou, falando com Hannes e enchendo de hidromel o copo feito de chifre. — Aqueles termos têm um som desagradável e são muito difíceis de pronunciar. — De que ele está falando? — Dul insistiu.


— Ensinei ao escocês uns versos para ele recitar para Rollo — Hannes explicou. — É mesmo? — Dul ficou muito bem impressionada. Os homens da ilha não queriam aprender a recitar poesias. — É um poema — o bardo acrescentou. — Está bem. Deixe-me ver se me lembro de tudo — disse Uckermann tomando todo o hidromel e levantando-se em seguida. Ninguém prestou atenção nele, o que deixou Dul aliviada. Não queria que ele fizesse papel de tolo diante de toda aquela gente. Ele pigarreou e começou a declamar. Seu sotaque era horrível, muitas palavras saíram truncadas, mas o poema foi recitado na íntegra. O mais importante foi que ele demonstrou confiança e esta era uma qualidade apreciada por seu pai. Dul começou a pensar que o escocês iria ganhar a simpatia de Rollo. Só na terceira estrofe ela reconheceu o poema. Cerrou os dentes e comprimiu os lábios. A medida que Uckermann continuava a declamar a temperatura de Dul subia. Sua reação não passou despercebida ao bardo. Finalmente, Uckermann terminou, sentou-se no banco e sorriu. — Não entendi droga nenhuma, mas desta vez eu fiz bonito, não é mesmo? As faces de Dul  tornaram-se rubras. — O que foi? — Uckermann inquiriu, surpreso com a reação dela. Ele voltou-se para Hannes. — Eu disse alguma coisa errada? — Não. Você declamou muito bem, não foi, Dul? — O rosto do bardo era uma máscara de pura inocência. Certamente aprendera aquele maneirismo com o Legislador. — Está andando sobre gelo fino, velho. Cuidado — Dul advertiu-o dirigindo a ele um olhar severo. Uckermann mostrou-se confuso. — As palavras estavam corretas. E Hannes disse que eu devia recitar o poema na primeira oportunidade porque você iria gostar de ouvi-lo. — Foi mesmo, é? — Não foi exatamente o que eu disse — acudiu Hannes. — Por acaso ele explicou o significado das palavras do poema? — Explicou. — Eu nunca disse que... — Quieto, velho — Dul ordenou. Hannes sabia que se abrisse a boca outra vez, sentiria o peso do pulso da mulher. — Ele explicou que estava me ensinando um drottk - voett. Isto é, o poema de um guerreiro, prestando tributo a uma grande vitória. Estou certo? O sangue de Dul gelou.


— Uma grande vitória para o guerreiro em questão, sim. — Bem, então... — Uma vitória conquistada, sim, mas não no campo de batalha, e, sim no leito nupcial — Dul esclareceu. Desta vez foi Uckermann quem ficou vermelho. — Oh, eu nunca imaginei que fosse isso. — Ele estendeu o braço para servir-se de hidromel, mas Dul  agarrou a jarra. — Chega. Você já bebeu demais. E quanto a você, poeta — ela dirigiu a Hannes um olhar gélido —, as aulas terminaram. Os dois homens ficaram sentados com cara de idiotas. E Uckermann estava, realmente, bêbado. Pelo sangue de Thor, estava bem arranjada. Tinha um marido que não podia beber. Seu pai iria rir dele e o expulsaria da sua casa. Dul afastou-se e sentou-se em outro banco, bem longe do escocês. Cheirou a bebida da jarra e concluiu que era mesmo hidromel. Passou então a jarra para o homem do seu lado e, em resposta, ele deu  um soluço. Estava bêbado também. Ela moveu os lábios numa praga silenciosa. Na manhã seguinte eles partiriam, fizesse bom tempo ou não. Estava cansada daquela espera. Quanto mais eles demoravam, maior era o perigo de o plano deles ser descoberto. Uckermann prometera nada revelar sobre o acordo feito entre ele e Dul e até o momento tinha mantido sua palavra. Mas o hidromel em excesso soltava a língua das pessoas, de modo que em Fair Isle nada era mantido em segredo por muito tempo, uma vez que os habitantes da ilha viviam perto uns dos outros. Derrick, que acompanhava os passos e movimentos de Dul, naquele momento estava a um canto observando-a e afiando a faca, como de costume. Será que ele sabia de alguma coisa? E se sabia, até que ponto estaria informado? E o que ele planejava? Derrick não tinha gostado nada do casamento dela com o escocês e, se pudesse, mandaria a notícia a Pablo. Mas ninguém sabia do paradeiro do chefe. Nem mesmo aqueles em quem ele confiava e deixara para trás a fim de vigiar tudo na sua ausência. De mais a mais, ninguém se arriscava a navegar no inverno, a não ser no caso de um desastre iminente, e o casamento dela com o escocês não podia ser classificado como tal. E havia ainda um detalhe: quem quisesse sair da ilha precisaria da autorização do Legislador e dos outros anciãos e Derrick não ousaria fazer um pedido desses. Para evitar qualquer fuga, o Legislador deixara homens guardando o byrthing. Olhando na direção de Uckermann, Dul viu que ele estava com a cabeça encostada na parede e tinha os olhos quase fechados. O escocês imaginava que os homens guardavam o barco por causa dele. Ha! Como se ele fosse capaz de manejar um barco daqueles sozinho. A seguir, ela encarou Derrick. Era por causa dele e de seus companheiros que os guardas não se descuidavam do byrthing. Podia ser que o bando decidisse sair à procura do chefe. Dul sorriu para Derrick e imediatamente ele parou de afiar a faca. Bastava por hoje, ela pensou. Estava exausta e com sono. Naquele instante notou que Derrick voltou a passar a faca na pedra, devagar, com movimentos circulares, os olhos fixos nela. Talvez fosse melhor dormir na casa comunitária, pensou. Sua casa ficava isolada das outras, do outro lado do pátio. Se algum mal lhe acontecesse, durante a noite, poderia gritar por socorro que ninguém a ouviria. Dul fechou os olhos e inspirou profundamente para acalmar-se. Coragem, Dulce, e controle - se. Este pesadelo em breve terminar á.


Christopher continuou com os olhos entreabertos, observando os dois. Dul parecia exausta, como se tivesse passado muitas noites sem dormir. Derrick tinha o olhar perverso fixo nela, o que manteve Christopher sempre alerta e em guarda. Há muito havia passado da hora de Dul ir para casa. Talvez nessa noite ela quisesse dormir ali na casa comunitária. Ele rezou para que ela não fosse mesmo embora. Ninguém parecia notar a maldade impressa no olhos de Derrick. Nem mesmo Marcelino, sempre tão zeloso e pronto para correr em defesa de Dul quando ela corria perigo. O rapaz era um bom aliado, mas não tinha experiência, não saberia lidar com um bando de canalhas como Derrick e seus companheiros. Além disso, Marcelino corria outro tipo de perigo. Lina estava sentada no colo do rapaz e parecia embevecida com o que ele dizia. Christopher controlou-se para não sorrir. O rapaz tinha de crescer e, nas garras daquela mulher, cresceria bem depressa. O coração de Christopher ficou apertado. Ele lembrou-se de outro jovem. Diego, seu irmão. Como sentia falta dele. Rangeu os dentes, tal seu sofrimento. Precisava voltar para casa quanto antes. Só isso importava. Fazia duas semanas que estava em Fair Isle e, a essa altura, seu clã teria mandado cavaleiros procurar por ele e por Diego. Talvez eles já tivessem recebido a notícia de que eles tinham embarcado em um navio em Inverness e já soubessem também do naufrágio. Ele queria estar morto. Sua morte não traria o irmão de volta, mas ele, sim, merecia morrer por causa da sua negligência. Christopher  murmurou uma praga e procurou afastar aqueles pensamentos melancólicos. Havia outros assuntos que exigiam sua atenção. Viu Dul levantando-se do banco e ficou alerta. Porém, tombou mais a cabeça para o lado, fingindo estar bêbado e observou Derrick e os comparsas.


O grosseirão estava de pé, a faca na mão. Discretamente, Christopher segurou a adaga que já tinha autorização de usar. Bem que ele preferia carregar a espada, mas, não sendo possível, a adaga servia. Até mesmo com as mãos vazias ele seria capaz de despachar um homem como Derrick. Mas, em vista da meia dúzia de gentios que acompanhava o mal-encarado, também loucos para acabar com ele, a arma seria um conforto a mais. Dul dirigiu um olhar a Christopher ao andar entre as mesas na direção da porta. No caminho, tirou um pequeno machado do cinto de um de seus amigos e olhou para Derrick sobre o ombro. Uma advertência. Mal ela pôs os pés para fora, Derrick e seu bando seguiram-na. Christopher esperou que eles saíssem e ficou de pé imediatamente. — Hei! — Hannes, que dera um cochilo, correu para o lado dele. — Aonde vai, rapaz, com essa cara tão feia? — A lugar nenhum. Volte para o seu lugar e continue dormindo, poeta. Christopher sabia que Dul preferia morrer a pedir proteção a um homem, mas ele não estava disposto a deixá-la sozinha com aquele bando de vilões. Ninguém fez perguntas a Christopher quando ele passou depressa entre as mesas e saiu para o pátio com a adaga na mão. Lá fora havia claridade suficiente para ele ver o que já esperava. Dul estava perto do poço, brandindo o machadinho, Derrick e seus homens espalhados ao redor dela, formando um meio círculo. Com algumas largas passadas, Christopher chegou lá. Derrick virou-se e foi para cima dele. Mas Christopher dominou-o e encostou a adaga no pescoço dele. Os outros homens também pegaram suas armas. Christopher ficou tenso, preparado para lutar com todo o bando. — Calma! — uma voz soou atrás de Christopher. Eddy. Christopher empurrou Derrick para longe. — Ora, o que temos aqui? — Alfonso apareceu com seis homens que Christopher não conhecia. — Nós só estávamos querendo nos distrair um pouco — Derrick respondeu olhando para Dul e guardando a faca. — Com a esposinha do escocês. — Bem, que tal deixá-la com o marido, hem? — sugeriu Eddy. — Vamos para dentro apreciar um drinque, os recém-casados querem se divertir nesta noite bonita e clara.


O tempo havia melhorado, Christopher reconheceu, contente, olhando para o céu crivado de estrelas. Pouco depois ele e Dul  estavam a sós. Ela jogou o machadinho no chão e encostou-se no poço com os braços cruzados. — É melhor guardar o machado. Pode precisar dele mais tarde — Christopher aconselhou-a. Abaixando-se, pegou a arma e entregou-a a Dul. — Uma arma dessas lhe dará mais segurança. E eu ficarei mais tranqüilo sabendo que você tem com que se defender. — Desde quando você se preocupa comigo? — Ela deixou o machadinho na borda do poço. Christopher aproximou-se dela e, percebendo que ela tremia, passou o braço ao redor dos seus ombros. — O que você quer? — perguntou, tensa com aquele toque. — Quero apenas ter certeza de que você está bem. — Por quê? Isso tem importância para você? — Porque.... Por que ele se importava com ela? Seria porque ela era mulher e corria grande perigo de ser atacada por Derrick e seus homens? Ou porque ela era sua esposa? Por mais burlesco que pudesse parecer, ele tinha de admitir que a segunda alternativa explicava a sua preocupação com Dul. — Prometa-me que sempre levará Marcelino com você quando tiver de se afastar da vila — ele pediu. Ela virou-se e encarou-o. A lua ainda não surgira e os olhos dela refletiam a luz pálida das estrelas. — Quero agradecer-lhe pelo que fez por Marcelino esta tarde. — Pelo rapaz? Não fiz nada. Ele lutou muito melhor do que eu. — Christopher bateu no peito. — O ferimento ainda dói. — Nenhum viking teria agido como você agiu. Ele olhou na prata profunda dos olhos dela e viu neles algo novo. Isso provocou um calor no seu peito e fez o coração bater mais forte. A boca ficou seca e ele ansiou por matar sua sede. — Não sou viking. — Tem razão — Dul murmurou. — Você não é um viking. Ele inclinou a cabeça para beijá-la. — Olhe! — Dul deu um passo para o lado e apontou para o céu setentrional. Para Christopher foi como se recebesse um balde de água fria na cabeça. Mas seguiu o olhar dela. — Amado Jesus, o que é aquilo? — ele perguntou fascinado, os olhos fixos em um véu de vermelho-vivo e verde brilhando contra o céu azul-escuro. — Aurora boreal — ela respondeu. Ele ficou olhando extasiado para o misterioso espetáculo da natureza. — Já ouvi falar sobre isso, mas nunca imaginei que um dia iria presenciar esse fenômeno tão extraordinário. — A aurora boreal só acontece nos meses de inverno quando o céu está límpido e faz muito frio — Dul explicou, estremecendo.


Christopher ficou mais perto dela, num gesto instintivo. — É sempre assim, tão brilhante? — ele indagou, os olhos fixos no fenômeno. Notou que o véu colorido aumentava, diminuía e se espalhava pelo céu numa fascinante dança de luzes. — Não. Na verdade, esse vermelho que vemos hoje é singularmente raro. Só vi esses tons tão brilhantes uma vez. Na noite em que meu irmão foi... — Ela hesitou. — Na noite em que ele partiu. Lágrimas formaram-se nos seus olhos e Christopher sentiu o peito apertado ao vêla subitamente tão infeliz. Colocou o braço ao redor dos ombros dela e quando ela virou-se, enlaçou-a pela cintura e a manteve junto do peito por um momento. Depois, enxugou-lhe as lágrimas com beijos suaves e, antes que ela pudesse impedi-lo, seus lábios encontraram os dela. 


§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§


Fofuríneas!


Não sei se ficarei em casa esse final de semana, então não posso prometer que irei postar no sábado e no domingo...


Dalziane: Eu não tenho um horário fixo para postar, mas durante a semana eu acabo postando depois das 18:00, pq eu tenho mais tempo depois desse horário e nos finais de semana eu posto a qualquer hora, dependendo da quantidade de comentários :)


Se comentarem eu posto mais dois capítulos daqui a pouco!


Comentem e Favoritem!


Besos y Besos!!!😘😘😘


 


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Srta.Talia

Este autor(a) escreve mais 11 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Aquele comportamento era resultado da bebida, Dul pensou, mas não se importou Sentindo a língua de Uckermann pressionando-lhe os lábios, entreabriu-os e perdeu-se naquele beijo com gosto de hidromel. — Você está bêbado — murmurou pouco depois, fazendo de conta que ia empurrá-lo. Ele percebeu que ela não falava ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 34



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52

    Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

  • dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16

    Poxa vc nao vai posta mas o final?

  • heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38

    Capítulo 13 ta errado....

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45

    +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33

    Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20

    Continua

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54

    😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24

    Continua


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais