Fanfic: A Deusa Do Gelo - Adaptada Vondy(Finalizada) | Tema: Dulce María, Christopher Von Uckermann, Vondy, Romance e Época
A partida do pequeno grupo foi surpreendentemente calma. De pé, na popa do navio, Christopher continuou atento, vigiando, até que Fair Isle perdeu-se na escuridão da noite. Ele encheu os pulmões de ar e não pôde mais sentir o cheiro dos carneiros, nem dos grãos fermentando na taberna ou da turfa queimando nos braseiros das casas. O ar salgado penetrou-lhe nas narinas misturado ao cheiro que exalava dos barris de arenquena e salmoura, empilhados no meio do barco. Para aquela gente a carga do byrthing era preciosa. Peixe em conserva, queijos, barriletes de hidromel, muitas dezenas de jardas de pano tecido na ilha. Durante toda a semana anterior, Eddy e Alfonso trabalharam arduamente, às escondidas, guardando a carga em uma caverna ao longo da costa escarpada. Carregavam apenas alguns barris de cada vez, e sempre nas horas mortas da madrugada, quando todos dormiam. Assim, foi bem fácil transferir tudo para o navio no momento da partida. O Legislador estava otimista, pensando em trocar aqueles artigos por cavalos, assim que eles chegassem ao continente. Christopher não teve coragem de lhe dizer que ele devia se considerar muito feliz se conseguisse dois animais em troca de toda a mercadoria. Para surpresa de Christopher foram necessários poucos homens para lançar o byrthing ao mar. O pequeno navio, destinado somente ao comércio em águas costeiras, não se parecia com os navios que ele vira algumas vezes no porto, perto de sua casa, na Escócia. O byrthing tinha a quilha sólida, o casco esguio e era dotado apenas de uma vela quadrada. A proa e a popa eram entalhadas representando figuras marinhas mitológicas. Havia quatro pares de remos no navio que só eram usados nas manobras de entrada em um porto e em caso de tempestade. Christopher esperava que houvesse no barco pelo menos homens suficientes para o manejo de todos os remos, mas a bordo estavam apenas ele, Dul, o Legislador, Eddy, Alfonso e o sempre presente Marcelino. Christopher olhou na direção sul para a escuridão do mar que se estendia à sua frente e, lembrando-se da última viagem, sentiu a pele toda arrepiada. Fechou bem o casaco forrado de peles. Fazia quanto tempo que acontecera o naufrágio? Quinze dias? Três semanas? Parecia que meses haviam transcorrido desde a fatídica viagem. Uma vida desde que ele embarcara naquela fragata e ficara com Diego no convés, sentindo no rosto o ar salgado. Ah, quando o byrthing chegasse ao continente ele desembarcaria e não haveria de querer nem mesmo ver um navio na sua frente.
Logo adiante da vela estavam Dul e o Legislador, juntos, na função de navegadores. A todo instante o velho indicava algum ponto no céu e Dul assentia com a cabeça. Os escandinavos eram excelentes na arte de navegar, Christopher sabia disso. Ouvira falar sobre os estranhos instrumentos e recursos que aquele povo usava para se orientar e ficou imaginando se eles teriam utilidade à noite. Como não tinha nada para fazer, Christopher decidiu juntar-se aos dois para aprender alguma coisa. Já se oferecera para ajudar Eddy, Alfonso e Marcelino que arrumavam a vela para receber mais vento, mas os três dispensaram a ajuda. Christopher contornou a carga empilhada no centro do navio e reuniu-se a Dul e ao velho. Este bateu no ombro do escocês. — Ah, que bom tê-lo conosco. Você entende de estrelas? — Só entende daquelas estrelas que giram ao redor da cabeça dele quando está bêbado — Dul respondeu. Ele fez uma careta. — Muito engraçado. A lua ainda não surgira e Christopher não podia ver o rosto de Dul, mas sentia sua frieza. De mais a mais, ela o evitava desde o encontro de ambos naquela tarde, quando ela arrumava a mochila para a viagem. — Vou deixá-los a sós — disse o Legislador. — Mais tarde vocês devem conversar com os rapazes. O velho afastou-se. Christopher ficou em silêncio por algum tempo olhando para o brilhante mapa celeste. Quando criança se interessava pelas lendas pagãs que descreviam as constelações, mas os pais proibiram-no de ler e ouvir tais histórias, uma vez que a família era cristã. — E então? — Dul perguntou de repente. — Você as conhece? — O quê? As estrelas? Certamente. — Diga-me, que grupo de estrelas é aquele? — Ela apontou para determinada constelação. — Essa é fácil. É a Ursa Maior. — Aha! Errou, escocês. É o Carro de Woden. — Não é. É a Ursa Maior — Christopher teimou. — E ali está o Carro da Senhora — Dul continuou. — com Tir, na extremidade. — Tir? Não. Você está enganada. É a Estrela Polar. Aquela mulher não entendia nada mesmo, como ele suspeitava. — Ela está certa — o declarou o Legislador que se achava atrás deles enrolando uma corda feita de pele de morsa. — É claro que estou — Dul retrucou. — Mas... — E Uckermann também está certo — acrescentou o velho. — O quê? — Dul voltou-se para Christopher, que lhe dirigiu um olhar odioso. — Os dois estão certos. Há muitos nomes para uma mesma estrela. Esses nomes variam de um povo para outro. Cada raça cria suas próprias lendas para interpretar o céu noturno — o Legislador explicou. Christopher nunca tinha pensado nisso. Sempre acreditara que a sua visão do mundo era a correta. Era a única. Por Deus, tinha de ser. Afinal, ele era cristão. Acreditava no Deus verdadeiro. Mas ele tinha de admitir que a explicação do velho era válida. Dul olhava para o céu, absorta, como se esperasse que as estrelas lhe revelassem alguma coisa prometida, mas que tardava a chegar. Observando-a, ali no navio, longe da ilha, Christopher achou-a ainda mais misteriosa. Ele não conhecia nenhuma mulher que gostasse de navegar. O oceano, cheio de aventuras e perigos inesperados era domínio dos homens. Dulce, filha de Fritha, certamente não pensava dessa maneira. Suas crenças estranhas e o comportamento nada convencional batiam de frente com todos os seus princípios e os preceitos nos quais ele fora educado. O fascínio que ela exercia sobre ele era perigoso. Dul lhe corrompia a noção do que era certo e errado, o conceito que ele tinha de como uma mulher devia ser. A única mulher que ele conhecia bem era sua mãe. Ela era reservada, calma, frágil de corpo e de espírito, de modo que, depois da morte do pai, ele passara a protegê-la do mundo fora do seu lar. Uma rajada de vento surpreendeu-os e ele ouviu Dul bater os dentes. Sentiu um forte impulso de abraçá-la, transmitir-lhe o seu calor, protegê-la da fúria dos elementos. Mas resistiu a esse impulso. Ela já deixara bem claro, mais de uma vez, que não precisava da proteção de um homem. Nem mesmo da sua bondade. Talvez ela jamais conhecera tais confortos e só contasse com a amizade que lhe dedicavam um velho e um rapaz. Que tipo de mulher era Dul, para aventurar-se naquela viagem? Naquela missão tão louca? Uma mulher de inteligência e coragem. Uma mulher de valor. Christopher olhou para o céu. Vega surgia com extraordinário brilho no horizonte meridional. As praias da Escócia pareciam ainda bem distantes.
De madrugada a cerração era tão densa que Dul mal podia se orientar. Com os olhos apertados, bem enrolada no casaco, tentava em vão discernir a posição do sol. — Estamos perdidos — a voz de Uckermann soou atrás dela. — Nós não estamos perdidos. — Ela nem se dignou a voltar-se para ele. Uckermann ficou do lado dela, envolto na névoa, o vento forte agitando seus cabelos úmidos. — Como pode ter certeza disso, se não está vendo nada?
— Não preciso ver. — Então, como você sabe onde... — Eu sei. — O tom firme desfez a preocupação de Uckermann. O escocês sabia menos de navegação do que uma criança tola, Dul concluiu. Bem, não lhe custaria nada explicar alguma coisa para aquele ignorante. Mas, por que se importar... — Está bem — ela mudou de idéia. — É com isto que eu sei que não estamos perdidos. Ela tirou do pescoço uma cordinha trançada, feita de pele de foca, da qual pendia uma pedra, e jogou-a para ele. Poucos homens tinham permissão de pegar aquela pedra tão preciosa. Uckermann arregalou os olhos ao sentir a pedra na palma da mão. — O que é isto? Alguma magia pagã? Dul sorriu. — É uma pedra-do-sol. Você deu a entender que tinha conhecimentos de navegação, escocês. — Não foi isso. Eu disse que entendia de estrelas. — Certo. Como não podemos nos orientar pelas estrelas durante o dia, usamos essa pedra. Talvez você estivesse procurando pela Ursa Polar quando seu navio afundou. Assim que disse tais palavras ela arrependeu-se. A expressão de Uckermann tornou-se severa e nos olhos dele era visível a dor. A perda do irmão pesava-lhe na consciência. — Ucker, eu... — Mostre-me como isto funciona — ele interrompeu-a e mostrou-lhe a pedra. Dul engoliu a desculpa e explicou qual era a utilidade do cristal. — Andaluzita. Hum. — Uckermann passou a mão no cristal, maravilhado. — Então ele capta a posição do sol, mesmo na cerração? — Exatamente, mas.... — Dul olhou para a pedra e franziu a testa. — Hoje há pouca luz. Por isso, terei de usar outro recurso. A magnetita. Veja. Ela tirou do bolso do casaco um saquinho de pano. — Abra a mão. Para ficar com as mãos livres, Uckermann colocou a cordinha com o cristal ao redor do pescoço, como um colar. Dul despejou na mão dele o conteúdo do saquinho: uma agulha de ferro, um pedaço de palha e uma pedra escura, que era a tal magnetita. — Espere um pouco. Vou lhe mostrar como funciona. Ela ajoelhou-se e tirou a tampa de um barrilete de hidromel. — Você vai beber a uma hora destas? — É claro que não. Tenha um pouco de paciência. Dê-me a magnetita e a agulha de ferro. Ele obedeceu-a.
— Preste atenção. — Ela passou a agulha três vezes na pedra, sempre no mesmo sentido. — Agora dê-me a palha. Uckermann entregou-lhe o pedaço de palha observou cada movimento de Dul com muito interesse. Ela colocou a agulha na concavidade da palha e deixou-a flutuar na superfície do hidromel. — Está vendo? Uckermann arregalou os olhos ao notar que a agulha indicava a proa do byrthing. Ele tirou do hidromel a palha com a agulha e virou-a ao contrário, deixando-a flutuar novamente. A palha voltou-se outra vez para a proa do navio. — Incrível! — Uckermann exclamou. — Como é possível? Dul sorriu. — A agulha indica a direção norte-sul todas as vezes. — Já ouvi falar nesse recurso, mas nunca pensei que chegaria a participar de uma experiência como essa. Você está certa. Não corremos o perigo de nos perder. Oh, o byrthing continuaria no rumo certo. Quanto a eles dois, corriam, sim o risco de se perder, Dul pensou ao notar os olhos de Uckermann fixos nela, e sentindo aquele calor já familiar espalhando-se por seu corpo, e a boca seca. — O que está fazendo? — A voz alta do Legislador quebrou a magia daquele momento. Dul virou-se depressa. — Pare com isso e tampe o barrilete. Se ele tombar estragará a carga. Mais do que depressa Dul pegou a agulha, a palha e guardou-as no saquinho, onde já estava a pedra. Uckermann devolveu a tampa ao barrilete. — E então, estamos no rumo certo? — O ancião perguntou. — Sim, em direção ao sul. — Ótimo. — O velho balançou a cabeça, satisfeito e colocou a mão no ombro de Uckermann. — Preste atenção, filho. Você pode aprender muita coisa interessante com Dulce. Uckermann olhou para ela com admiração. — Estou certo disso. Aquele olhar aqueceu-a, apesar do frio. — Venha, Uckermann — o Legislador chamou-o. — Apesar de não querer admiti-lo, Marcelino precisa de ajuda para deixar a vela na posição correta. Uckermann afastou-se com o velho e Dul seguiu-os com o olhar até vê-los desaparecer, envoltos pela cerração. Em seguida acocorou-se entre dois barriletes de hidromel para fugir do vento gelado. Ela ouviu um barulho estranho vindo de um dos barris. O que poderia ser? Ratos? Não. O mesmo som de novo. Só Deus podia saber o que o Legislador colocara no interior de alguns daqueles barris.
Com um pouco de sorte, dentro de dois dias eles avistariam o continente.
Dul inspirou fundo e prendeu por um momento o ar salgado nos pulmões. Já navegara muitas vezes antes, mas somente para as Shetland. Nunca tinha se aventurado para o sul. Seu pai morava no sul e esta era a primeira vez que ia ao encontro dele desde que abandonara os dois filhos. Ela expirou devagar. Tudo estava correndo de acordo com o que fora planejado. Se Deus a ajudasse, ela também iria reunir-se ao irmão. Não tinha idéia das dificuldades que ainda teria de enfrentar. Bastava saber que, no final, Christian estaria livre. Seu plano era ousado, perigoso, e o irmão, certamente, iria repreender tanto ela como o Legislador por se arriscarem tanto. Dul sorriu interiormente. Sentiase muito mudada desde que Christian fora levado da ilha. Com certeza ele iria admirá-la e passaria a vê-la com outros olhos. Como estava acontecendo com Uckermann. Sim, porque ela vira a admiração nos olhos dele nessa manhã. Ela tentou divisar o vulto dele enquanto trabalhava com os rapazes para firmar a vela com as cordas bem lubrificadas, de pele de morsa. Estava havendo entre ela e Uckermann uma paz e um entendimento que a agradava. Era bom que isso acontecesse porque ela iria precisar dele para receber o dote. Uma indisposição de ânimo de ambas as partes só iria prejudicar seus planos. Porém, Dul admitiu, não era só por causa do sucesso do seu plano que ela estava contente. Havia um motivo mais forte. Gostava de Uckermann cada vez mais. Sua admiração por ele aumentava a cada instante. Reconhecia que ele era um bom homem, apesar de ser escocês. Não que ela conhecesse algum escocês. Mas, Por princípio, desconfiava de estrangeiros. Naquele dia da luta entre Uckermann e Marcelino, o Legislador lhe dissera que ela era uma mulher de sorte. E talvez fosse mesmo. Um jato de água do mar atingiu-lhe em cheio o rosto, ela engasgou, tossiu e ficou de pé. — O que foi? Você está bem? — Uckermann perguntou, indo depressa ao encontro dela. Dul fez sinal para ele ir embora. Pelo sangue de Thor, ela devia manter o bom senso e concentrar-se na viagem. Mas parecia estar com a cabeça fraca desde a noite em que se deitara com Uckermann. Suas ações nobres praticadas naquelas semanas, só serviam para confundila ainda mais. Ela devia agarrar-se às suas convicções e livrar-se daquelas emoções tolas. Tais emoções eram perigosas. Enfraqueciam a vontade e a determinação de uma mulher, tornavam-na exposta e vulnerável. Se ela sabia disso, Dul pensou, não podia sucumbir àquela ilusória admiração que sentia pelo escocês. Porque, certamente, não era uma admiração verdadeira.
Devia lembrar-se de que tudo o que ele fazia era para atingir um objetivo. Com ela acontecia a mesma coisa. Os breves momentos de intimidade que houve entre eles não significava nada. Nem para ele nem para ela. Assim que tivesse o dote nas mãos, ela e o escocês seguiriam caminhos separados e isso a deixaria feliz. A cerração tornou-se menos densa e Dul pôde ver Uckermann nitidamente. Ele trabalhava do lado de Marcelino, cuja expressão carrancuda demonstrava que a ajuda do escocês não era bem-vinda. Olhando para cima, Dul viu que o céu estava escuro, prenuncio de uma tempestade. — O tempo está mudando — disse o Legislador. — Temos de amarrar a carga. Dul firmou-se no centro do byrthing e murmurou uma prece para o tempo se firmar. Uma prece cristã que o pai lhe ensinara anos atrás.
— Cuidado! A cabeça! — Eddy gritou, deixando cair a vela. Christopher abaixou-se e por um triz não foi atingido pela vela que desceu com violência para o fundo do navio, fazendo-o inclinar-se para estibordo. — Maldição... uhh! — Christopher resmungou, tendo sido jogado contra a fileira de barris. — Ucker! Você se machucou? — Dul teve de gritar por causa do rugido do vento. — Não. Eu... — Ele empurrou para o lado o pesado pano da vela e ficou de pé. — Eu estou bem. Dul agarrou-o pela túnica, puxou-o para perto dela e verificou se, de fato, ele não estava machucado. Christopher teve vontade de rir, pois a aparência dela era das piores. Tinha os cabelos grudados no rosto, o vestido encharcado e perdera o casaco. — Não acredita em mim? Estou ótimo — ele assegurou. — Dul! Ouvindo a voz do Legislador, ela virou-se. O velho lutava para amarrar dois barris que rolavam de um lado para o outro. Christopher passou na frente de Dul e correu para ajudá-lo. — Ufa! Que peso! O que você colocou aqui dentro? — Christopher perguntou. Naquele instante uma onda atingiu-o em cheio. Droga! Eles eram malucos de continuar a viagem debaixo daquela tempestade que desabara no fim da tarde e não dava sinais de amainar. — Pronto. Conseguimos — declarou o Legislador terminando de amarrar os barris ao restante da carga, com a ajuda de Christopher. O byrthing balançou forte novamente e os dois se agarraram ao que estava ao alcance da mão. O vento rugia como se fosse um animal enfurecido, abafando todos os outros sons. O mar erguia-se dos dois lados d o navio parecendo querer devorá-lo.
Imagens do naufrágio que o arremessara naquele inferno lampejaram pela mente de Christopher com horríveis lances de cores. Os gritos dos homens, o terror no rosto do jovem Diego. Mais de mil vezes, depois do naufrágio, ele tivera a sensação de estar revivendo aquele momento em que o irmão segurava na mão dele, desesperado, e em seguida era tragado pelo mar, sem que nada pudesse ser feito para salvá-lo. — Uckermann! — o Legislador chamou-o para agarrar-se também ao mastro, o lugar mais seguro do navio. Ele foi até lá, pisando com cuidado entre os barris e segurando onde fosse possível, pois o byrthing balançava e era jogado para todos os lados. Relâmpagos rasgavam o céu, iluminando por um segundo o rosto contorcido dos seus companheiros. Dul não estava entre eles. Christopher passou a mão no rosto para tirar a água gélida e salgada e olhou na direção da popa. — Onde está Dul? — Está ali. — Marcelino apontou para os fardos de tecido empilhados entre os barris. Que mulher impossível. Ela devia estar com eles, onde ficaria mais protegida da tempestade. — O que ela está fazendo? — Christopher meneou a cabeça, desaprovando aquela falta de cuidado com a própria segurança. — Só Deus sabe — respondeu o Legislador. Christopher não pensou duas vezes e virou-se para ir ao encontro dela. Marcelino puxou-o. — Pode deixar. Eu vou buscá-la. Christopher livrou-se do rapaz e empurrou-o contra o mastro. Marcelino foi para cima dele. — Idiotas! — o Legislador repreendeu-os. — Fiquem aqui. Quem vai buscá-la sou eu. Os dois ficaram quietos, mas Marcelino dirigiu a Christopher um olhar hostil. — E agora? O que vamos fazer? — Christopher indagou. Alfonso balançou a cabeça. — Nada. Só nos resta esperar que a tempestade passe. — E se não passar? Os três rapazes trocaram olhares tímidos. Não foi difícil para Christopher entender que nenhum deles era marujo experiente. Então, por que Dul decidira fazer aquela viagem com jovens inexperientes e, para piorar, no rigor do inverno? O plano dela para receber o dote era insensato. Bem, ele não podia fazer crítica nenhuma porque estava tão ansioso para voltar para a Escócia que faria tudo, correria todos os riscos para sair daquela ilha. Ele estreitou os olhos para poder enxergar entre as agulhas de gelo da chuva e os borrifos de água salgada. Onde estava o Legislador? — O que o... Um Christopher clareou o céu e as palavras de George morreram-lhe na garganta. Viu o Legislador encostado na lateral do
byrthing, na parte mais baixa, agarrado à amurada, tendo um punhal encostado na garganta. O punhal de Derrick. Numa fração de segundo Christopher pegou sua adaga e aproximou-se dos dois, movendo-se sorrateiramente, entre os barris e fardos de tecido. Dul estava agachada aos pés de Derrick e, ao clarão de novo relâmpago, Christopher viu que ela tirava sua própria adaga da bainha. Ele ficou tenso. Com três passos chegaria até ela. Dois. — Dul, espere! — Marcelino gritou, passando na frente de Christopher. O byrthing arfou e os dois foram arremessados a bombordo. Christopher foi o primeiro a ficar de pé. Havia um barril entre ele e Derrick, que tinha o Legislador bem seguro do seu lado. Dul foi engatinhando na direção deles, a lâmina da sua adaga reluzindo a cada clarão dos relâmpagos. — Pare! — Christopher gritou e passou pelo último barril, cuja tampa saltou para cima. Com grande agilidade, Christopher desviou-se para o lado e, conforme já esperava, viu Rasmus sair de dentro do barril, com um machado na mão. Dul gritou. — Vou matá-lo — Derrick ameaçou, encostando mais o punhal na garganta do Legislador. — Não! — Dul avançou em Derrick. Christopher atirou-se para a frente, sem se importar com Rasmus que o seguia. Eddy e Alfonso também vieram na mesma direção, armados. — Mudem o rumo do navio! — Derrick ergueu mais o punhal. — Se não me obedecerem, juro que o matarei. — Eddy, faça o que ele quer! — Dul ordenou. — Vire o navio. — Não. — O Legislador sacudiu a cabeça. — Não vamos voltar. Christopher deu mais um passo. — Uckermann, não! — o Legislador gritou e Christopher ficou parado. — O dote, Uckermann, vá recebê-lo. E você, Dul, confie nele. O Legislador sorriu e agarrou o pescoço de Derrick que esperneou e cravou o punhal diretamente no peito do ancião. Um segundo depois, para espanto de todos, o Legislador atirou-se no mar, puxando Derrick consigo, desaparecendo ambos nas águas revoltas. Eddy e Alfonso correram até a amurada, e Christopher atirou-se para a frente, conseguindo agarrar o braço de Dul para impedi-la de jogar-se também no mar. — Não! — ela gritou e, soltando-se da mão que a prendia, correu para a amurada. — Legislador! Uma onda enorme desabou estrepitosamente sobre o byrthing. Christopher caiu de costas e rolou sobre os outros: Rasmus, Marcelino, Eddy e Alfonso. Quando conseguiu ficar de pé, viu Dul debruçada na amurada. Com dois largos passos, alcançou-a e segurou-a pelo pulso. Tarde demais. Ela ficou pendurada do lado de fora do navio, lutando para libertar-se. — Solte-me! Preciso salvá-lo. O navio inclinou-se para o lado e ela ficou com metade do corpo na água. Christopher segurou-a com mais força, o coração aos saltos, os pulmões ardendo por causa dos fortes jatos de água salgada que ameaçavam sufocá-lo. — Solte-me! — ela repetiu. Com o lampejo de outro relâmpago, Christopher pôde vê-la claramente, mas não foi a expressão destemida de Dul que ele enxergou e, sim, o rosto jovem de Diego, com o olhos arregalados, vidrados de terror. Ela puxou o braço, conseguido libertar-se e o mar engoliu-a por inteiro. — Dul! — Marcelino gritou, debruçando-se na amurada. Christopher continuou com o braço esticado para fora do byrthing, esperando que acontecesse um milagre e o mar trouxesse Dul de volta, de modo que ele pudesse agarrá-la de novo. Outra onda alta e violenta arremeteu-se sobre o navio como um fantasma negro. No mesmo instante a cabeça de Dul apareceu na superfície. Ela estava perto, conseguiria salvá-la. Um pensamento fez com que ele hesitasse. E se ela morresse afogada? O que aconteceria? Ele estaria livre, não estaria? Livre do acordo. Livre dela. Livre para ir para casa. Isto é, se ele também sobrevivesse. Em meio à fúria das ondas, Christopher viu o braço de Dul emergindo da água. A luz sinistra da tempestade fez reluzir o bracelete de bronze.
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Será que o Christopher vai salvar a Dul?
Fofuríneas! Esse é o último capítulo que vou poder postar hoje, mas amanhã depois das 4:00pm se tiver comentários eu posto mais!
Comentem e Favoritem!
Besos y Besos Lindezas!!!😘😘😘
Autor(a): Srta.Talia
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Deveria deixá-la afogar-se? Essa era a questão. O mar sugou-a para baixo, e desta vez Dul não lutou para salvar-se. Que motivo tinha para sobreviver? O legislador estava morto. Christian também. Devia parar de iludir-se e encarar a verdade. Um ano de trabalho forçado nas escavações úmidas de Dunnet Head era demais para ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 34
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karla08 Postado em 09/11/2017 - 17:52:52
Continuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
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dalziane Postado em 03/11/2017 - 23:05:16
Poxa vc nao vai posta mas o final?
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heloisamelo Postado em 02/11/2017 - 12:00:38
Capítulo 13 ta errado....
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dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:53:45
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dalziane Postado em 30/10/2017 - 10:51:15
Continua
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dalziane Postado em 29/10/2017 - 19:13:33
Posta+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
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dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:23:20
Continua
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dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:54
😄😄😄😄😄😄&a mp;#128516;😄😄😄😄😄& ;#128516;😄😄😄😄😄&# 128516;😄😄😄
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dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:22:20
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dalziane Postado em 29/10/2017 - 14:19:24
Continua