Fanfic:  One shot - Love Yourself (1/7) | Tema: Bts - Kim Namjoon

Acordo e já escuto o violão, sinto cheiro de café recém feito, ela está aqui. Mais uma vez ela usou a chave escondida debaixo do vaso de flor. Tem feito isso todos os dias, principalmente em dias como hoje, onde a chuva bate forte na janela, e mesmo que seja dia, o céu está escuro. 

Me levanto ainda sonolento, vou do quarto para a sala e lá está ela, violão apoiado nas pernas, partituras por todo o chão. Não me vê, sigo até o banheiro, lavo o rosto e escovo os dentes. Preciso urgentemente de um cigarro, olho para meu esconderijo secreto, terei que esperar ela ir embora.

- Já tirei todos daí. - Me assusto com sua voz, apoiada na porta, nem parece que é bem menor que eu. 

- Não sei do que você está falando. 

- Ótimo, então nunca existiu. Vem, vamos tomar café.

Espero ela sair e confiro, realmente não há mais nada ali, droga. Preciso achar um novo lugar, vou até a cozinha e como sempre ela cozinhou para um exército, já desisti de discutir então me sento e começo a me servir. 

Comemos em silêncio, uma vez ou outra ela me encara, deve ser por causa do roxo, que agora está amarelado que tenho no meio da testa. De repente quero esconder minhas mãos, que começaram a cicatrizar as pequenas feridas.

- Não posso ficar muito tempo, tenho ensaio hoje. Vai ficar bem ?

- Sei me cuidar. 

- Também achava isso.

Seus olhos encaram a mesa, estão tristes, de repente me sinto o pior babaca do mundo, uma lágrima escorre de seus olhos, depois começam os soluços, me levanto e vou até ela, me abaixo para poder encara-la. Seu rosto já está coberto de lágrimas, vermelho. 

Lembro da última vez que a vi assim, eu havia acordado fazia apenas alguns minutos, ela estava na cadeira ao lado da cama. Sua mão segurando a minha, estava de olhos fechados, parecia estar rezando, levanto a mão para tocar seus cabelos, mas algo me segura, é o fio do soro, e agora percebo que tenho pequenos tubos ligados ao meu nariz, minha boca está seca e parece que um dos meus olhos não quer abrir direito.

- Min Yoongi! - ela agora me encara, sorri por um segundo e depois volta a chorar. - Por que fez isso? Porque. 

Tento falar, mas algo arranha minha garganta, o médico e a enfermeira logo aparecem, ela se afasta para que me examinem.

- Min Yoongi. Você sabe onde está ?

- Em um hospital?

- Correto. E sabe por que? 

- Não me lembro muito bem, acho que estava dirigindo e bati em algum lugar.

- A próxima pergunta é delicada, mas preciso fazê-la. - Concordo com a cabeça, de repente parece que todos seguram o ar. - Min Yoongi, você estava tentando se matar?

As imagens do acidente vem a minha memória como torrentes, fiquei em um bar sozinho e contra os conselhos do dono do local, decidi voltar dirigindo sozinho. Imagens do meu pai, minha mãe, meu irmão mais novo, começam a saltar diante dos meus olhos, já fazem cinco anos, mas ainda não entendo o motivo de eu estar aqui. Perdido em pensamentos acho que acabei adormecendo, bati de frente a um muro de pedras. Mais uma vez, me pergunto como estou vivo.

- Não. Eu bebi demais, foi só isso.

- Bom depois de algumas avaliações, dispensaremos você. Mas só porquê sua amiga aceitou ficar de olho em você.

Horas depois ela me levava para casa, um sermão enorme, depois mais lágrimas, alguns tapas, mais lágrimas. Naquele dia eu prometi a mim mesmo que nunca mais a faria chorar. 

- Hey. Vou  ficar bem. Se me sentir melancólico juro que te ligo. 

- Me prometa, prometa que não vai sair beber assim que eu te deixar sozinho. 

- Eu prometo. - Ela sorri e depois me dá um tapa leve.

- Se eu receber a ligação de um hospital, juro que eu mesma mato você.

Seus lábios estão trêmulos, ela ainda chora enquanto fala, tem cuidado de mim todos esses dias, muito antes disso ela já era a que me mantinha em pé. Aliso seu rosto levemente, seus olhos olham fundo nos meus. Meus lábios encontram os dela, o beijo é leve, tranquilo, mas faz com que eu me sinta em casa.

Com milhões de ameaças ela vai embora, assim que ela sai, escolho uma música da playlist que ela montou para mim, pego sacos de lixo e começo a limpar a casa, jogo fora todos os cigarros que escondi, as cervejas, as garrafas de bebida, algumas outras coisas ilícitas. Levanto os móveis, troco a roupa de cama, varro o chão, lavo o banheiro, penduro os quadros de volta na parede. Desço jogar o lixo e aproveito ir ao mercado, faço uma pequena compra, volto para casa e cozinho, a última vez que cozinhei para alguém foi para a minha mãe em seu aniversário, pela primeira vez a lembrança não me causa dor, só saudades. 

Não sei como seria a vida se minha família ainda estivesse aqui, mas sei que depois de todo esforço de meus pais, eu não poderia permitir acabar assim. Precisava me levantar, havia alguém que se importava, e me fazia acreditar em mim.

Ouço o barulho da porta, termino de arrumar a mesa. Quando chega na cozinha sua expressão é divertida. 

- Bem vinda de volta. 

Seu sorriso ilumina todo o ambiente. Comemos entre risos e palhaçadas. Me assusto com o som da minha própria gargalhada. Gosto de como isso age em mim. Acabei descobrindo que muitos podem querer me salvar, mas somente eu posso fazer isso, o amor e a felicidade devem começar por mim.