Fanfic: O lado bom da solidão | Tema: Drama, Lírico, Mistério, Interpretação

Me sinto só. Estou só. Talvez seja melhor assim. Na verdade, é melhor assim. É quando me sinto bem, quando não me preocupo com nada e nem ninguém. Caminho pela cidade quase todos os dias durante a noite. Gosto da maneira que as ruas ficam desertas, me passa tranquilidade. Vejo as luzes das casas e prédios se apagarem, todos estão indo dormir. Me sinto ainda melhor agora. Me sinto sozinho num mundo gigante.

Olho para o céu. Lembro-me do meu dia-a-dia. É chato, é cansativo, é falso e é insatisfatório. Consigo ouvir os sussurros das pessoas. Elas falam de mim, zombam de mim, me julgam e criticam. Ficam me observando acima dos ombros de outras. Nem sequer tem a coragem de mostrar suas caras. É assim todos os dias. Deveria me importar? Pois não me importo. Sinto pingos cair no meu rosto enquanto olho para o céu. Está chovendo. É suave, é aconchegante. Já estava preparado pra isso. Abro meu guarda-chuva. Me sinto ainda melhor agora, me sinto ainda mais só.

É bom estar só. As pessoas que não te aceitam não estão aqui para te julgar. Você pode viver em paz. É estranho, como se eu fizesse algum mal a elas. É como se as machucassem sendo do jeito que sou. É tão ruim ser eu mesmo? É ruim ser feliz sem prejudicar ninguém? Eu não entendo. Me deparo todos os dias com notícias de assassinatos, estupros e roubos na TV. E sempre volto a me perguntar, é tão ruim ser eu mesmo? Por que insistem em tentar me magoar? 

Um carro vem em minha direção. Vejo as gotas d'água refletirem na frente de seus faróis. O carro passa direto, o motorista não se importa em ver um estranho andando tarde da noite numa chuva. As pessoas do meu dia-a-dia deveriam ser como ele. Uma pergunta vem em minha cabeça. "Será que sou diferente?", mas e se eu for normal? E se as pessoas ao meu redor forem diferentes? Não, creio que sou diferente, afinal, sou a minoria. Mas o que tem de ruim nisso? Não consigo ver, não consigo entender porque sou julgado por ser diferente.

A chuva para. Fecho e balanço meu guarda-chuva, tirando o excesso de água dele. Prendo-o no meu pulso. O chão molhado reflete as luzes dos postes e as poucas luzes que ainda há nos prédios. Está um pouco mais aconchegante agora. É bem raro. É uma noite linda ao meus olhos. Creio que aos olhos dos outros não seja. Será que a noite se importa com isso? Não quero parar de caminhar, está bom, está aconchegante, é raro. Creio que não vou dormir hoje.