Fanfics Brasil - Capítulo 10 My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada

Fanfic: My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada | Tema: Portinon e Savirroni


Capítulo: Capítulo 10

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Uma dor lancinante dominou minha cabeça por completo quando meu cérebro finalmente se deu conta de que meus olhos estavam abertos. Voltei a fechá-los com força, tentando fazer com que aquela dor passasse ou pelo menos diminuísse, mas parecia que só alguns comprimidos e o tempo a fariam regredir até sumir completamente. Maldita tequila.


Me sentei na cama, com uma mão do lado esquerdo da cabeça, sentindo meus cabelos levemente úmidos, e abri o olho direito para me localizar. Definitivamente eu nunca estive naquele lugar antes, nunca tinha visto aquelas paredes e móveis brancos, muito menos um quarto tão grande como o qual eu estava agora. Aquele cômodo sozinho equivalia à metade da minha casa, e pelo extenso corredor que a porta aberta revelava, o resto do apartamento era ainda maior.


E foi só então que eu vi a pessoa que havia me cumprimentado quando acordei. Apesar de estar sentada na ponta da cama gigante e bem no meio do meu campo de visão, eu demorei alguns segundos pra vê-la, e mais alguns pra finalmente reconhecê-la. Os mesmos olhos que ontem me passavam segurança, hoje pareciam cansados, sonolentos, e ostentavam leves olheiras arroxeadas de quem tinha passado quase a noite toda em claro.


Abri o outro olho, já mais acostumada à claridade, e a encarei, tentando organizar minha mente. O que eu estava fazendo naquele lugar estranho? Por que ela estava ali?


- Pensei que não fosse acordar mais. – Anahí murmurou com a voz reservada, piscando lentamente e desviando seu olhar do meu.


- Que lugar é esse? – gaguejei com a testa franzida, sentindo minha voz falhar em algumas sílabas. – Você disse que ia me levar pra minha casa.


- E eu ia. – ela confirmou, enquanto olhava na direção da janela, e um leve sorriso divertido surgiu em seus lábios. – Mas você dormiu antes de me dizer o endereço.


Me lembrei rapidamente de alguns momentos da noite anterior. A festa de Keaton, as doses de tequila, a brutalidade de Austin, a conversa com Anahí no carro… Tudo parecia tão vago, tão distante, como se tivesse sido apenas um sonho muito real, que eu me sentia estranha por ter passado por aqueles momentos de verdade.


- Então por que não me acordou? – perguntei, com a testa levemente franzida em um tom defensivo. – Por que me deixou dormir? E que lugar é esse afinal?


- Você sempre acorda assim, disparando perguntas? – ela resmungou, fechando pesadamente os olhos e mantendo um esboço de sorriso no rosto. Ela podia estar achando graça, mas eu não.


- Não, porque não costumo acordar num lugar totalmente estranho com uma pessoa estranha me observando! – retruquei, irritada, e ela voltou a me encarar, novamente daquele jeito firme apesar do cansaço aparente.


- Ontem você acabou dormindo no carro, e eu não consegui te acordar de jeito nenhum… E acredite, eu tentei de todas as maneiras que conheço. – Anahí respondeu, com um pouco de rispidez na voz. - Como não sabia seu endereço, resolvi te trazer pra minha casa, mas tô vendo que devia ter te deixado na rua mesmo.


Meus olhos passaram rapidamente pelo quarto, analisando novamente todos os detalhes e ignorando sua brutalidade. Então aquele era o apartamento dela. Olhei pra baixo, e me vi enroscada num lençol, com roupas diferentes das que eu vestia ontem. Quando finalmente a ficha caiu, soltei um grito horrorizado e me enrolei nas cobertas, me cobrindo até o pescoço.


Eu estava de roupas íntimas. Na casa da professora Portilla.


- O QUE É ISSO? – berrei, em pânico, e vi que Anahí estava com os olhos arregalados e um pouco encolhida de susto. – POR QUE EU NÃO ESTOU VESTIDA?


- Tá, agora você tem motivos pra disparar perguntas. – ela respondeu, se endireitando novamente, meio sem jeito. – Essa parte da história foi culpa minha.


- COMO É QUE É? – gritei, me abraçando firmemente. – VOCÊ TIROU MINHA ROUPA ENQUANTO EU TAVA DORMINDO?


- Eu disse que tentei de várias maneiras te acordar ontem, e uma das minhas tentativas foi te colocar debaixo do chuveiro gelado… O que não funcionou, pelo que você pode perceber. – ela explicou, um tanto encabulada. – E pra isso, eu achei… Conveniente tirar seu vestido.


- CONVENIENTE? COMO VOCÊ TIRA MEU VESTIDO SEM O MEU CONSENTIMENTO E TEM A CORAGEM DE DIZER QUE ACHOU CONVENIENTE? – exclamei, sentindo a dor de cabeça quase explodir meus miolos, mas com raiva demais pra me acalmar.


- Dá pra você falar baixo, por favor? – Anahí pediu, com a voz elevada e os olhos fechados, acompanhados pela testa franzida de irritação. – Se você tentasse ignorar sua opinião sobre mim e não tirasse conclusões precipitadas sobre o que aconteceu antes de me ouvir, as coisas seriam bem mais simples.


Fiquei em silêncio, mas não porque ela pediu, mas pelo choque de estar nas minhas condições físicas atuais. Ainda me abraçando, com os músculos tensos, eu esperei até que ela voltasse a falar, encarando-a com raiva.


- Não vou dizer que não foi difícil pra eu resistir, porque foi. Eu sou mulher, mas não consigo evitar esse tipo de pensamento. Mas eu não fiz nada, acredite você ou não. Acha que eu queria que você dormisse aqui? Acha que eu planejei isso, que eu fiz de propósito pra poder dormir com você? Eu não sou santa, mas não me aproveito de pessoas inconscientes pra conseguir o que quero. Não preciso disso.


- Você não espera que eu acredite nessa sua versão fajuta dos fatos, espera? Porque sinceramente, eu não engoli uma palavra do que você disse. – rosnei, com vontade de sair correndo dali, mas pra isso, eu precisava do meu vestido. – Eu jamais devia ter aceitado entrar num carro com você, onde eu estava com a cabeça?


Anahí desviou seu olhar do meu, olhando novamente pela janela com a expressão derrotada. Ontem ela quase conseguiu me amolecer com sua atitude politicamente correta, mas se agora ela queria o mesmo efeito, teria que ir muito mais além daquela carinha de cachorro sem dono.


- Nada do que eu diga ou faça vai te fazer mudar de ideia, não é? – ela murmurou, com os olhos cerrados pela claridade e a testa pesadamente franzida sobre eles. – Eu devia ter feito tudo errado, só pra poder me sentir devidamente culpada pelas suas acusações.


Sua voz estava carregada de frustração, demonstrando que ela estava num dos seus raros momentos de sinceridade. Seus lábios estavam contraídos, seu maxilar estava tenso, seus olhos estavam fixos em algum ponto lá fora, mas ainda assim eu podia enxergar ressentimento neles. E se ela realmente estivesse dizendo a verdade? Se ela tinha sido capaz de fazer boas ações por mim, porque não acreditar em sua versão, já que eu não estava consciente pra comprovar a minha?


- Onde está meu vestido? – falei baixo algum tempo depois, sem conseguir esconder meus pensamentos conflituosos na voz e na expressão confusas. Anahí se levantou, sem olhar pra mim, e novamente eu senti falta de seu contato visual.


Ela era uma pessoa muito misteriosa pra mim, e sempre que ela me olhava, era como se eu pudesse lê-la, decifrá-la, entender o que ela estava pensando. Quando ela não me olhava, eu ficava no escuro, sem saber onde estava pisando. Ela caminhou pra fora do quarto e sumiu de vista por alguns segundos, até surgir novamente com meu vestido nas mãos. Sem nem se aproximar muito e ainda evitando meu olhar, ela o deixou sobre a beira da cama e saiu, fechando a porta atrás de si pra que eu me trocasse. Como se ela já não tivesse me visto de calcinha e sutiã.


Continuei sentada por alguns minutos, encarando os lençóis bagunçados ao meu redor. Meus sentimentos estavam remexidos, misturados, fundidos numa grande bola de neve. Ainda meio em transe, fiquei de pé e peguei meu vestido, colocando-o facilmente. Assim que o tecido deslizou pelo meu rosto, pude sentir o perfume dela impregnado na roupa. Provavelmente ele tinha ido parar ali quando Anahí me carregou até o apartamento ontem.


Por um segundo, imaginei como teria sido pra ela ter me visto daquele jeito. Vulnerável, indefesa, desmaiada, totalmente sob o comando dela. Me lembrei do que ela tinha dito sobre resistir àquela situação, e estremeci de medo. Estranhamente, não de medo dela, e sim pelo fato de não estar consciente e não ter noção do que se passava ao meu redor. Eu odiava essa sensação. E por pior que aquilo pudesse parecer, eu tive a intuição de que ela não tinha me feito nada de mal. Se tivesse, estaria jogando na minha cara que conseguiu o que tanto queria, e não o contrário. Me sentei novamente na beirada da cama e calcei meus tênis que estavam ao lado da cama, ainda pensativa. Peguei minha bolsa, que estava sobre o criado-mudo, e após verificar rapidamente se tudo estava em seu devido lugar dentro dela, deixei o quarto, procurando por Anahi, encontrando-a no cômodo ao lado.


Parei à porta aberta, me deparando com uma única parede azul em meio às outras três brancas, uma cama tão grande quanto a que eu tinha dormido, já arrumada, e um par de ombros nus e muito bem definidos. Sem querer, meu olhar se demorou nessa última parte em especial. Anahí, que estava virada de costas pra mim enquanto desdobrava sua blusa, virou apenas a cabeça na minha direção, e encarou meus olhos confusos com uma certa indiferença.


- Se sente melhor agora que está vestida? – ela perguntou secamente, voltando sua atenção pra blusa em suas mãos e vestindo-a num segundo. Por um momento eu quis responder que preferia estar de roupas íntimas, desde que ela também estivesse.


- Sim, muito. – respondi enfatizando a última palavra, abafando a onda de calor que subitamente percorreu meu corpo e tentando ignorar o fato de que meu vestido cheirava maravilhosamente bem devido ao seu perfume e fazia questão de me lembrar disso cada vez que eu respirava.


- Ótimo. – Anahi acrescentou com a mesma indiferença de antes, ficando de frente pra mim. – Então vamos.


Franzi a testa quando ela caminhou na minha direção, bagunçando de leve os cabelos com as pontas dos dedos e novamente evitando meu olhar, e eu preferi não continuar olhando-a e acabar demonstrando minha súbita hipnose na expressão.


- Vamos? Pra onde? – questionei, enquanto ela passava por mim, aproximando perigosamente seus seios de meu corpo.


- Eu vou te levar até a sua casa. – ela respondeu, ainda daquele jeito duro, como se o que ela dizia fosse totalmente óbvio. - Pelo que sua mãe me explicou, você mora um pouco longe daqui, então eu pensei que uma carona de carro seria útil.


Arregalei meus olhos, sentindo minha garganta secar. Ela tinha falado com a minha mãe? Como? Quando? Onde?


- Antes que você comece com as suas perguntas, sim, eu falei com ela. – ela leu minha mente, parecendo impaciente ao ver o choque em minha expressão. – Não ia deixá-la preocupada com o seu paradeiro, ela não parava de ligar pro seu celular e eu resolvi atender. Mas fique tranquila, eu expliquei tudo o que aconteceu e ela acreditou na minha versão da história. Ficou bem mais calma sabendo que você está em boas mãos.


Continuei encarando-a, sem saber o que pensar. Que versão da história seria aquela que faria minha mãe se acalmar diante de meu sumiço? Se antes eu estava confusa, agora meus neurônios pareciam ter dado vários nós cegos entre si. Anahí Portilla falando com a minha mãe… Dói só de tentar imaginar uma cena tão estranha. E desde quando as mãos dela eram boas mãos? Minha mãe realmente não tinha noção dos horrores que dizia.


- Eu devo estar dentro de um sonho muito esquisito. – falei, rindo da minha própria bagunça mental. – Não é possível que da noite pro dia tudo isso tenha acontecido, que todas essas loucuras tenham se tornado realidade.


- Desculpe te informar, mas essa é a mais pura verdade. – Anahí disse, entediada – Podemos ir agora? Eu ainda tenho muita coisa pra fazer hoje.



Suspirei, derrotada e com uma pontinha de irritação, e apenas assenti. Já que a casa dela era realmente longe da minha, uma carona seria o mínimo que ela podia fazer por mim depois de todos os misteriosos acontecimentos da noite anterior.


Ela caminhou em direção à porta, e eu apenas a segui, sem dizer uma palavra sequer e observando discretamente a imensidão daquele apartamento. Descemos pelo elevador, e vinte e três andares depois, estávamos na garagem. Todos os carros estacionados ali eram incrivelmente lindos e caros, o que me fez pensar de que mundo ela vinha. O carro mais barato ali era provavelmente a BMW preta de Anahí, que não estava sozinha nas três vagas reservadas para seu apartamento. Uma Ferrari vermelha e sua familiar moto amarela de todo dia ocupavam os outros dois espaços, o que só me fez ficar ainda mais perdida.


- Esses carros… São seus? – perguntei, apontando pra BMW e depois pra Ferrari, com uma cara impagável de perplexidade.


- São. – Anahí respondeu, com uma normalidade deprimente. – Pensei que já conhecesse a Ferrari.


Virei minha cabeça devagar em sua direção até meus olhos incrédulos encontrarem os dela, fingindo que eu não existia. É agora que eu descubro as câmeras ou isso realmente não era uma pegadinha?


Anahí tirou uma chave de carro do bolso, caminhando até um dos veículos. Apertou o botão do alarme e se dirigiu à BMW, abrindo a porta do motorista e voltando a me olhar ao perceber que eu ainda estava imóvel. Ainda sem acreditar naquilo, caminhei lentamente até a porta do carona, e entrei no carro em silêncio. Olhei pelo vidro para a Ferrari estacionada ao meu lado e reconheci seu interior, me amaldiçoando mentalmente por estar tão transtornada na noite anterior a ponto de entrar num carro daqueles e não me lembrar disso.


Anahí deu ré e seguiu em direção à saída do estacionamento subterrâneo, logo fazendo com que o forte sol invadisse as janelas sem piedade de meus globos oculares. Cerrei meus olhos, incomodada, e ela estendeu uma mão até o porta-luvas, tirando lindos e visivelmente caríssimos óculos escuros de lá. Me senti tão insignificante quanto o estofado do assento quando ela colocou os óculos, que se ajustavam perfeitamente ao formato de seu rosto.


- Onde mais você trabalha pra conseguir essas coisas todas? – perguntei, finalmente falando após o que me pareceu uma eternidade de mudez, com a expressão desconfiada. Foi bom saber que eu ainda não tinha me esquecido de como falar, eram tantos acontecimentos inacreditáveis que eu provavelmente estava entrando em estado de choque. Anahí não pareceu me ouvir, abrindo os vidros e deixando que o vento bagunçasse nossos cabelos.


- Sabia que garotas de programa ganham muito bem por aqui? – ela respondeu, sem expressão enquanto olhava pra frente, e eu gelei. Provavelmente vendo minha cara horrorizada, já que eu não podia confirmar isso por causa de seus óculos, eu vi um teimoso sorrisinho de canto surgir em seu rosto. - O patrimônio da minha família me permite “conseguir essas coisas todas”. – ela disse, sendo sincera agora, e eu senti meus ombros relaxarem imediatamente com a resposta aceitável. – Sua cara de choque valeu meu dia.


-Idiota. – murmurei, revirando discretamente os olhos e virando meu rosto pra janela ao meu lado.


-Se você quase acreditou que eu era uma garota de programa, é porque eu sou muito pior que uma idiota pra você. – ela falou, com um senso de humor mórbido na voz enquanto parava num sinal vermelho.


- Você nem imagina o quanto. – rosnei, ficando mais irritada a cada segundo.


Não saber definir as pessoas era algo que me deixava profundamente incomodada, e Anahí era exatamente o tipo de pessoa indefinível o suficiente pra me enfurecer. Ela tinha várias faces, uma completamente diferente da outra, como se fossem várias personalidades dentro de uma pessoa só. Eu conhecia bem seu jeito sujo e desonesto, mas por vezes ela se mostrava alguém completamente oposta… Alguém boa. Preferia me manter distante daquela encrenca, obrigada.


- Eu até imagino. – ela retrucou, hostil. – Mas prefiro ouvir da sua boca.


Olhei pra ela com a testa franzida de deboche, e vi que ela também me encarava, novamente com os lábios contraídos de raiva. Agora eu conseguia ver seus olhos pelo ângulo em que a luz do sol batia nas lentes dos óculos, e vi que eles me fitavam desafiadoramente.


- Eu acho que você é uma filha da pu/ta de uma pedófila, safada, mal amada, nojenta, desprezível, ridícula, estúpida, grossa, pilantra e arrogante. – eu disparei, sustentando seu olhar com avidez. Definitivamente eu tinha feito uma descoberta: falar mal das pessoas na cara delas era extremamente terapêutico.


Anahí continuou me encarando, parecendo não acreditar na quantidade de xingamentos que eu tinha usado para defini-la, e eu percebi que o sinal estava verde, já que os carros à nossa frente começavam a andar. Ela pareceu não se dar conta disso, estava inconformada demais com a minha resposta pra prestar atenção em outra coisa. O silêncio tenso entre nós, junto com a expressão dela, de quem estava prestes a triturar meus ossos, só aumentou a impressão de que se direitos humanos não existissem e não dessem cadeia, eu estaria fodida.


Só quando os carros atrás de nós começaram a buzinar, Anahí suspirou lenta e profundamente, contendo-se, e voltou a olhar pra frente, desfazendo nosso contato visual intenso com dificuldade. Arrancou velozmente, fazendo os carros que buzinavam atrás de nós comerem poeira, e passou a segurar o volante com força, controlando-se pra não me quebrar em pedacinhos. Ela podia estar querendo muito, mas não era doida de tentar encostar um dedo em mim.


Chegamos sem demora à minha casa graças à direção acelerada dela, sem dizer mais nenhuma palavra pelo caminho. Assim que ela estacionou na frente de minha casa, abri a porta, sem ousar olhá-la, e quando estava prestes a sair do carro, ouvi sua voz dizer, extremamente trêmula de ódio:


- Não precisa se preocupar, nunca mais vou olhar na sua cara.


Virei meu rosto na direção dela, e vi que ela encarava algum ponto à sua frente, com os maxilares tensos e as veias do pescoço levemente saltadas. Suas mãos agarravam o volante, perigosamente fortes, o que só tornava sua ira ainda mais visível. Parecia que eu realmente tinha conseguido o que tanto queria, me livrar dela de uma vez por todas.


- Ótimo. – murmurei, esperando a alegria imensa me dominar por aquele momento tão perfeito, que curiosamente parecia não querer chegar. Engoli em seco, sentindo meu olhar se tornar inseguro enquanto viajava por suas feições fechadas, e num movimento brusco, saí do carro, batendo a porta com uma certa força. Nem bem eu o fiz e Anahí já estava longe, acelerando assustadoramente depressa e fazendo meus cabelos voarem na direção do vento.


Observei a BMW se afastar rapidamente, sentindo uma coisa esquisita dentro de mim. Suspirei profundamente, agora com o olhar vago em meus pés, tentando reprimir aquela coisa ruim que insistia em se alastrar pelo meu corpo, me desanimando por completo.


Eu não podia estar triste, ela finalmente estava fora do meu caminho! Aquilo era tudo o que eu sempre quis desde a primeira vez em que a vi, e agora que tinha finalmente acontecido, eu não podia admitir que meu único sentimento fosse de remorso. Tudo que eu conseguia sentir era peso na consciência, decepção comigo mesma por ter sido injusta com uma pessoa que talvez não merecesse tanta crueldade. Afinal de contas, se não fosse por ela, os estragos de Austin teriam sido imensuravelmente piores.


Fechei os olhos com força por um momento, desanuviando minha mente e me esforçando para parecer despreocupada. Me virei na direção de minha casa, tentando fingir que estava tudo bem, e a cada passo eu ficava mais convicta de uma coisa.


Não estava tudo bem.



Acordei no dia seguinte com a sensação de que tinha acabado de pegar no sono. Após um longo dia de explicações e adaptações dos verdadeiros acontecimentos pra minha mãe, que estava aflita me esperando chegar, eu passei a noite inteira rolando na cama, inquieta. Nada parecia fazer sentido, nada parecia ser coerente, tudo estava desconexo, bagunçado, confuso. Por mais que eu tentasse compreender a insistente culpa dentro de mim, não conseguia encontrar uma explicação que prestasse.


Me levantei antes mesmo que o relógio despertasse, anunciando que eram seis da manhã de segunda-feira, e fui tomar banho, com a falsa crença de que uma ducha quente fosse melhorar meu humor. Uns trinta minutos depois, eu já estava me vestindo desanimadamente, e logo depois penteando meus cabelos, de frente pro espelho. Assim que terminei, encarei meus próprios olhos, cansados pela noite em claro, e decidi que ia terminar com aquela angústia. Eu precisava pedir desculpas a ela, precisava pelo menos tentar. Só assim eu conseguiria afastar aquele mal estar de mim.


Tomei meu café-da-manhã em silêncio, só respondendo uma coisa ou outra quando mamãe perguntava, e logo estávamos estacionando na frente da escola. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto caminhava pela entrada do colégio, e meus olhos logo encontraram uma Demi tensa me encarando de volta.


- Oi, Dul. – ela murmurou, com um sorriso triste, e me abraçou carinhosamente. Ela sabia sobre a festa no sábado, eu tinha lhe contado tudo por telefone no dia anterior. Bem, quase tudo, só preferi deixar de lado a parte que envolvia meu comportamento estranhamente triste por causa da Portilla.


- Parece que eu não te vejo há anos. – suspirei, abraçando-a com mais força.


- É mesmo. – ela concordou, se afastando alguns segundos depois pra poder me olhar. – Você tá tão abatida… Tem certeza de que está bem?


- Tenho. – menti, empurrando a verdade garganta abaixo. – Só tô um pouco cansada.


Nos sentamos em nosso lugar de sempre, esperando até que o sinal tocasse, e senti Demi me cutucar discretamente enquanto conversávamos. Me virei na direção que ela me indicou, e só quando meu olhar encontrou o dela, me lembrei de que Maitê existia. Me senti estranha quando ela sorriu pra mim, especialmente radiante como em toda segunda-feira, e tudo que consegui fazer foi esboçar um sorriso fraco de volta. Senti como se não merecesse aquele sorriso dela.


- Bom dia, Lovato. - ela cumprimentou quando passou por nós, como sempre fazia, e logo depois se dirigindo a mim e abaixando seu tom de voz – Bom dia, pequena.


- Bom dia. – gaguejei, mal conseguindo sustentar seu olhar alegre. Parecendo alheia a qualquer sinal de tristeza meu, Maitê seguiu até a sala dos professores, e assim que a vi fechar a porta atrás de si e sumir, soltei o ar que estava preso em meus pulmões, finalmente relaxando.


- Você vai contar a ela? – ouvi a voz cuidadosa de Demi perguntar, e apenas fiz que não com a cabeça, sem olhá-la. Contar a Maitê o que quer que fosse não estava nos meus planos, ela não merecia saber das ameaças de Keaton, muito menos de nada que se passava na minha mente. Não queria ser injustamente cruel com mais alguém.


As três primeiras aulas se arrastaram morbidamente. Eu mal conseguia prestar atenção na matéria, minhas mãos estavam trêmulas pra copiar, um aperto na boca do estômago me impedia de desviar meus pensamentos daquela tortura repentina. Por mais que eu respirasse fundo e fechasse os olhos por alguns segundos, meu mal estar só se ausentava momentaneamente, voltando ainda pior logo em seguida.


No intervalo, desci as escadas em silêncio com Demi, querendo logo que aquele dia acabasse. Ela parecia entender minha introversão e se manteve quieta, me deixando pensar sem interrupções. Como se houvesse algum jeito de interromper minha aflição infundada. Sentamos no mesmo canto de sempre, e enquanto ela terminava uns exercícios de matemática, eu observava vagamente o fluxo de pessoas pelo pátio, até meus olhos novamente encontrarem Maitê.


Ela andava apressada em direção à saída da escola, falando energicamente ao celular com a expressão pesadamente preocupada. Senti uma fisgada no peito, como se fosse um súbito mau pressentimento, e ela logo sumiu de vista, me deixando ainda mais agoniada. Pensei em comentar com Demi, mas eu realmente não estava a fim de falar hoje e preferi esperar até saber do que se tratava. Obviamente, eu pretendia me inteirar da situação hoje mesmo, se ela voltasse ao colégio.


Vinte minutos depois, o sinal tocou, indicando o término do intervalo, e nós nos levantamos devagar. Logo estávamos subindo as escadas lenta e silenciosamente, e me surpreendi quando ouvi alguém sussurrar no meu ouvido, vindo por trás de mim.


- Vem comigo.


Não precisei olhar pra trás pra reconhecer a voz de Maitê, e lancei um último sorriso fraco pra Demj antes de acompanhá-la até uma sala vazia no segundo andar. Ninguém parecia se dar conta de nossa existência, ocupados demais com suas próprias vidas, por isso não hesitei em entrar naquela sala sozinha com ela.


- Que saudade de você. – ela murmurou, sorrindo de um jeito calmo e me dando um beijo delicado, que fez meu sangue formigar daquele jeito de sempre nas veias. Estar perto dela me trouxe uma sensação temporária de alívio, e me permitiu sorrir sinceramente, mesmo que um sorriso tímido.


- Também senti sua falta. – menti, me sentindo novamente desmerecedora daquele carinho por não ter pensado nela uma única vez desde que acordei no dia anterior. Passei meus braços ao redor de seu pescoço, e Maitê apenas me abraçou apertado, sem me beijar novamente. Agradeci mentalmente a gentileza dela por não me forçar a encarar seus olhos e ver minhas mentiras refletidas neles, e respirei profundamente seu perfume, que hoje cheirava levemente a…


- Formol? – indaguei, franzindo a testa e me afastando de leve pra poder ver seu rosto.


Maitê riu baixinho, fechando os olhos por um momento.


- Desculpe, eu não imaginei que o cheiro estivesse tão forte a ponto de você notar. – ela disse, ainda sorrindo, mas me olhando calmamente. – Talvez seja por isso que eu não goste de dar aulas nos laboratórios.


- Como assim? – perguntei, sentindo meu coração acelerar um pouquinho. – Você deu aulas práticas hoje.



- É, a Portilla não pode vir pra escola e eu a substituí. – ela suspirou, entortando a boca. – Aquela doida enfiou a BMW num poste ontem de manhã.


Mesmo sem poder me ver, soube que empalideci. Senti todo o meu sangue simplesmente evaporar e meu coração congelar simultaneamente. Minha expressão estava totalmente chocada, perplexa, apavorada. O mau pressentimento estava explicado.


- Ah… É? – gaguejei, tentando não parecer tão horrorizada quanto eu realmente estava. – E c-como ela tá?


Maitê pareceu não notar minha agonia e continuou sorrindo de um jeito divertido ao responder:


- Melhor do que nós, pode apostar. Ela não se machucou muito, apenas bateu a cabeça com força no volante enquanto tentava frear e ficou desacordada por alguns minutos. Acabei de voltar do hospital onde ela está em observação, falei com o médico e com a própria Portilla, e ela me disse que amanhã mesmo poderá voltar a dar aulas.


A imagem de Anahí batendo com o carro surgiu em minha mente sem esforço, seguida pela cena de vários paramédicos imobilizando-a na maca enquanto ainda estava desacordada. Um desespero enorme subiu pela minha garganta, fazendo lágrimas se formarem em meus olhos, mas eu fiz o máximo de força pra contê-las, pelo menos enquanto estava na frente de Maitê.


- Eu… Tenho que ir… Me lembrei de que tenho uma prova agora. – foi tudo que consegui gaguejar, me afastando dela devagar e evitando seus olhos. – Depois a gente se vê.


Abri a porta da sala de aula, deixando Maitê totalmente confusa, e subi correndo as escadas, já mais vazias, até o meu andar. Mal conseguindo conter as lágrimas e com as pernas perigosamente trêmulas, me enfiei num dos cubículos do banheiro feminino, e só depois de trancada e sentada no vaso sanitário fechado, finalmente caí num choro inexplicável.


Tudo que eu conseguia sentir era culpa. Nojo de mim mesma, repulsa, remorso, um peso imenso me impedia de respirar, me afundando cada vez mais num choro que parecia não ter fim. Sufocando meus soluços com as mãos cobrindo a boca, eu sentia meu rosto lavado de lágrimas esquentar à medida que o ar me faltava, mas não encontrava força pra respirar.


Quando pensei que fosse desmaiar por falta de oxigênio, meus pulmões entraram no modo de emergência, puxando o ar pra dentro de si em inúmeras inspirações rápidas. Meus olhos não paravam de liberar lágrimas, e meu nariz começava a ficar congestionado, mas eu não me importava. As imagens daquele sábado vieram imediatamente à tona: minhas palavras rudes, o olhar furioso de Anahí, seus dedos apertando o volante com força, trêmulos de ódio, sua arrancada bruta quando foi embora… Tudo estava muito claro. Todos os pensamentos que ocupavam minha mente se resumiam a uma única frase, que meu cérebro insistia em repetir sem parar.


Se Anahí estava numa cama de hospital nesse exato momento, por melhor que fosse seu estado, era culpa minha.


 



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 134



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  • AnBeah_portinon Postado em 23/03/2018 - 16:01:20

    Perfeita! Isso descreve a fic. Eu já estava lendo no título de portisavirroni aí fiquei triste quando parou. Mas quando fui pesquisar denovo quase pulei de alegria com a continuação, e que continuação né?! Amei, principalmente porque sou do #TEAMPORTINON. Mas enfim foi tudo perfeito, mesmo com algumas brigas que só serviram para fortalecer e apimentar a relação delas. Bjs

  • Furacao Maite Postado em 11/01/2018 - 00:51:49

    aaaaah que fofinho! amei! Eu torciaa para savirroni no começo mas Jessyrroni é muito mais lindo kkkkkk Oooow, maei sua fic, primeiro pq teve muito jessyrroni e segundo porque vc escreve bastante!! ainda quero desenvolver esse dom seu! parabéns!!

    • Emily Fernandes Postado em 12/01/2018 - 20:57:17

      Eu que amo suas fics. Adoro mesmo. Não importa se são capítulos grandes ou não. Mas acho que esse dom logo vc pega o jeito. E muito obrigada mesmo por gostar. E JESSIRRONI foi mesmo fofinho.

  • MaryCR Postado em 30/12/2017 - 16:59:30

    Não taça comentando pq tava com preguiça. Mas agora eu tô aqui. Mulher não tem como não ficar indecisa.Primeiro: vc gosta de me deixar na curiosidade hein. Me fez acreditar que quando minha mãe dizia ALEGRIA DE POBRE DURA POCO era verdade e depois que elas se acertaram eu pensei que ela me fez de trouxa. Segundo: como vc me faz acreditar que estava tudo ótimo e BUUM começa um capítulo com uma briga daquelas!? Era só avisar que me queria morta seria menos trágico. Terceiro:Anahí adora uma janela hein. Quando Dulce menos espera ela brota lá no quarto gente que isso!? Quarto: vô para de enumerar pq tá chato (rimei). Adorei portinon maternal,não pq a criança dos outros sempre desperta vontade de ter filhos na gente,apesar de achar q eu não teria muita paciência e por último e mais importante: COMO TU PARA NUMA PARTE DESSAS? Concluindo eu não sei se estou mais revoltada,feliz,confusa,raivosa,curiosa ou ansiosa. E olha que eu nem sou de libra ein. Povo mais indeciso não existe.

    • Emily Fernandes Postado em 31/12/2017 - 14:37:30

      entendo, as vezes tbm fico assim, que nem da vontade de acordar. Eu nunca faço isso, mas realmente os capítulos estão terminando em momentos cruciais, fazer o que. Mães sempre tem razão, confie. A relação delas é uma montagem russa, porém acho que as brigas Jajá terão fim. Cara Anahí, é uma pessoa que realmente não curte portas, só espero que isso não ocorra com frequência, pq se não Dulce não vai mais ficar surpresa. Eu não tenho esse interesse maternal, nos filhos dos outros ainda, acho que é a idade. Porém confesso que crianças são minha perdição, acho que já está na hora delas começar a família. Mas vamos te tirar de libra pra vc continuar a leitura... E o que mais importa. Feliz ano novo. PS: Eu uma vez tbm, já deixei uma biblioteca, em uma fanfic que leio, e depois não consegui mais me conter em palavras. ahahahahahah.

    • MaryCR Postado em 30/12/2017 - 17:02:30

      Nunca escrevi negócio tão grande kkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:14:05

    que up na vida hein? Dulce médica! E que viagem doida é essa de 2 anos! coragem!!! kkk

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:18:21

      Acho que a viagem venho a calhar, pq a insegurança e a rotina estava as afetando.

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:02:09

    eitaaaa, estava tudo bem agora já começa o capitulo com uma briga? (19) genteeee, que babado

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:58:58

    Ainda bem que a Dulce e Anahí brigaram mas fizeram as pazes no mesmo capitulo!

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:17:09

      Sim, acho que elas combinam assim, mesmo. Acho que fica uma relação mais dinâmica. Kkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:55:16

    Sou do time da Marichelo! Sou team Jessica Coch kkkkkkkkkkkk Também acho que é dificil de encontrar outra igual a ela! Maite tem sorte kkkk Mas ainda bem que a mãe da Anahí aceitou a Dulce!

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:15:53

      É sim, digamos que Marichelo sempre adorou Jéssica, porém acho que Jéssica está ótima com Maitê não. Kkkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:51:48

    vou colocar a fic em dia....

  • MaryCR Postado em 24/12/2017 - 02:41:13

    Pense em uma pessoa revoltada, pense em mim. EU VOU DA UMA VOADORA NA PERRONI sério. Eu vô e penso "até que enfim a perroni vai ajudar portinon" e fui TROUXA, ela fez exatamente o contrário. Dulce foi na casa da Portilla e huuum rolou uma putaria, eu pensei "agora o negócio vai" e fui trouxa denovo. Concluindo, portinon finalmente se acertou e a anie finalmente terminou com a Diana. Amém!! #revoltadaefeliz

    • Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:49:11

      Meu Deus kkkk que pessoa indecisa. Bem mas eu Entendo seu drama. Maitê como sempre sendo Maitê, mas agora acho que o casal portinõn finalmente respirara mais aliviadas. Enfim um ótimo Natal pra vc . Bjs

  • Furacao Maite Postado em 23/12/2017 - 17:39:09

    Owwwnnnn que fofas!!! Achei q tdo estava perdido, q bom q deu tdo certo!!

    • Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:47:14

      Sim, finalmente as coisas estão caminhando para Um finalmente sim. Kkk feliz Natal pra vc. Bjs


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