Fanfics Brasil - Capítulo 18 My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada

Fanfic: My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada | Tema: Portinon e Savirroni


Capítulo: Capítulo 18

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Claridade. Merda de claridade.


Abri meus olhos devagar, adaptando minhas pupilas à luz que se esparramava quarto adentro, e assim fiquei por algum tempo: pensando se deveria virar e dormir de novo, sentindo cada parte de meu corpo reclamar de cansaço (e algumas partes específicas reclamando de dor), ou simplesmente fitando o nada.


Ouvi um chiado suave interromper o silêncio divino, e fechei preguiçosamente os olhos. Parecia que alguém já estava aprontando no andar de baixo. E esse alguém só poderia ser Maitê, que não estava mais ao meu lado, já que seu lugar na cama estava vazio pelo que minhas mãos puderam tatear.


De repente, tudo veio como um flash em minha mente. Pesadelo. Andar de baixo. Cozinha. Morangos. Balcão.


Anahí.


Me vi sentada no instante seguinte, descabelada e com o coração acelerado. Então tinha sido mesmo verdade. Eu não tinha imaginado nem sonhado nada daquilo. Eu jamais poderia inventar algo com aquele grau de realidade, que me fizesse ofegar só de lembrar.


Apoiei meus cotovelos em meus joelhos dobrados, enterrando meus dedos em meus cabelos e deitando minha cabeça sobre as palmas das mãos. Fechei os olhos, sentindo a sonolência voltar a me dominar e a dor pelos movimentos bruscos se manifestar, e balancei a cabeça levemente em negação. Desaprovando minha atitude, e ao mesmo tempo, totalmente derrotada na luta contra ela. Era simplesmente impossível resistir à mera lembrança de tudo aquilo que eu tentava desesperadamente recusar.


- Tonight I’m gonna have myseeelf a real good time. – ouvi Maitê cantarolar do andar de baixo, nitidamente tentando não me acordar, mas o silêncio era tamanho que até seus sussurros seriam perfeitamente audíveis.


Tentei sorrir fraco, imaginando sua carinha de felicidade, mas não consegui. Eu me sentia oca, sem emoções. Tudo parecia automático, programado, friamente calculado, como se fosse uma verdade absoluta: eu amava Maitê, mas meu corpo, meus instintos, um grito no fundo de minha alma chamava por Anahí. E esse grito era tão ensurdecedor que me dominava por completo, me fazia perder a noção e o senso de qualquer coisa… Só se calava quando eu estava com ela.


Voltei a me deitar, ou melhor, joguei meu tronco pesadamente de volta à cama, fitando o nada, e deixei um suspiro escapar de meus pulmões, denunciando meu desespero. As lembranças da noite anterior continuavam mais do que frescas em minha mente, mas eu não queria me deixar levar por elas. Eu me sentia extremamente suja por ter caído em tentação novamente, mas de certa forma, a dor já não era mais tão sufocante, assim como a culpa parecia menor, mesmo que só um pouco. Se eu tivesse ao menos um pingo de juízo, o oposto estaria acontecendo, e seria praticamente impossível respirar, tamanho o peso de meu remorso. Mas a sensação de estar com Anahí, ter sua pele quente e macia contra a minha, sentir sua força me puxando para mais perto de si, seu perfume me envolvendo, me asfixiando, como um tipo de gás letal, arrepiava meu corpo inteiro e acelerava meu coração como nunca. Pelo visto, eu estava certa quanto ao meu próprio caráter: eu realmente não prestava.


Deixei meus olhos se perderem pelo teto branco, passando rapidamente pela fase da aceitação e me concentrando em decidir o que fazer dali em diante. Pra que me martirizar por algo irreversível, por mais que esse algo ainda doesse em mim? Não adiantava mais chorar pelo leite derramado; correr para cortar os pulsos ou encarar aquela situação com o mínimo de maturidade que ela requeria não apagaria os acontecidos da noite anterior.


Por isso, apenas respirei fundo, deixando que o oxigênio afogasse as imagens de Anahí de minha mente, e tomei uma decisão: eu precisava me manter íntegra, mesmo que só externamente, por uma única e essencial razão em minha vida. Maitê. A partir daquele momento, eu teria que ser firme, e dessa vez, pra valer. Eu já havia deixado que três deslizes acontecessem, e se eu realmente pretendia me manter firme em minha decisão, jamais poderia permitir que uma situação como aquela se repetisse. Daquele dia em diante, eu não iria mais pensar nela, ou sequer deixar que sua mera lembrança ou presença me afetassem.


 


Eu não deixaria aquilo acontecer novamente.


Passei vários minutos repetindo mentalmente aquela mesma frase, e me levantei devagar, sentindo meus músculos cansados reclamarem em vão. Conforme caminhava até o banheiro, me lembrei do que havia dito a Anahí há poucas horas atrás… Metade de mim não podia ficar sem sua outra metade. Uma não era completa sem a outra. Parei na frente do espelho, encarando meu reflexo sonolento, e suspirei novamente, empurrando minha escolha garganta abaixo. Poderia levar alguns dias, mas eu não deixaria nada mudar minha decisão agora que eu havia escolhido o que queria. No início, talvez eu precisasse de um pouco a mais de autocontrole para não me deixar pensar nela, mas no fim das contas, eu sobreviveria. Afinal de contas, pra que eu preciso de duas mulheres, se uma já me dava tudo que eu precisava? Por que eu precisaria de sexo se já tinha uma namorada perfeita?


Tomei uma rápida ducha, eliminando todo e qualquer vestígio físico da presença de Anahí na noite passada que ainda sobrevivia em minha pele, e escovei meus dentes, ainda mantendo meu humor determinado e otimista. Vesti uma blusinha regata, um shorts de pijama, penteei meus cabelos e soltei um último suspiro antes de descer as escadas.


- Bom dia! – Maitê sorriu ao me ver, de pijamas, já à minha espera ao pé da escada. Fora seu sorriso e seus olhos mais do que felizes, como sempre, ela parecia anormalmente empolgada, e o motivo disso não era nenhum mistério pelo jeito que ela me olhava. Mesmo com todos os conflitos que eu guardava dentro de mim e sentindo meu emocional um pouco estremecido, não consegui evitar que um sorriso iluminasse meu rosto assim que a vi.


- Bom dia. – falei num tom divertido, parando no último degrau pra ficar da mesma altura que ela e retribuindo seu selinho carinhoso – Nossa, um pente passou longe daqui, imagino.


Segurei seus ombros, ajeitando-a de frente pra mim com as mãos suando frio, e ela me fitou com dúvida na expressão e os cabelos consideravelmente desgrenhados. Aproveitei que a toalha que eu havia usado para secar meus cabelos ainda estava sobre meus ombros e a coloquei em sua cabeça, esfregando-a nos cabelos dela e umedecendo-os, mais pra brincar com ela do que pra realmente ajeitá-la. Quando tirei a toalha, com uma cara sapeca, encontrei uma Maitê rosada, confusa e extremamente sexy me encarando, com seus cabelos ainda desarrumados.


De um jeito extremamente, dolorosamente, ironicamenteparecido com Anahi.


- Melhor assim? – ela perguntou, com um sorriso descrente e uma sobrancelha erguida, só piorando minha situação. Papai do céu realmente adorava me ver metida em encrencas. O que eu fiz para merecer passar por tamanha provação?


- Muito. – confirmei, assentindo uma vez e ignorando a semelhança entre os estilos de cabelo das minhas professoras. Acho que nem prostitutas deviam sofrer daquele jeito.


- Hm… Se você diz. – Maitê deu de ombros, um pouco vesga de tanto olhar pra cima, no esforço vão de ver seu próprio cabelo, e logo depois me olhando. – Com fome?


Assim que ela disse aquelas duas palavras, meu estômago urrou. Mordi meu lábio inferior ainda dolorido da noite anterior (chega de citar essa maldita noite! Anahí Portilla não existe mais!) e fiz cara de cachorrinho sem dono.


- Awn. – Maitê sorriu, achando minha cara fofa e fazendo uma carinha ainda mais fofa. - Não precisa nem responder, amor, vamos tomar nosso café da manhã.


Ela me deu as costas, indicando que me carregaria até a cozinha, e eu nem pensei em recusar o convite, deixando que ela me levasse com uma expressão quase que infantil. Além do mais, ser carregada pelas costas de Maitê era bem mais agradável que esforçar minhas pernas doloridas para andar pelo chão frio.


- Não acredito… Omelete? – perguntei, respirando fundo pra sentir o cheiro bom da comida dela quando sentei (lê-se: fui depositada feito uma carga frágil) numa das cadeiras da mesa de jantar. – Justo a sua omelete?


- Isso mesmo, justo a minha omelete. – ela riu, indo até o fogão, tirando uma omelete grande de dentro de uma frigideira do mesmo tamanho e colocando-a num prato pra mim. – Do jeito que você gosta.


Maitê se aproximou com meu prato, e assim que o colocou à minha frente, deu um beijo estalado em meu pescoço, aproveitando que eu tinha acabado de fazer um coque frouxo em meu cabelo. Ela voltou a se afastar pra pegar seu café da manhã, e eu, ainda rindo do jeito dela, me servi com o suco de laranja que estava na mesa.


- Hm, você por acaso assaltou a geladeira ontem à noite? – ela perguntou distraidamente enquanto cortava sua omelete, após alguns minutos comendo, e meu medidor de perigo apitou. – Os morangos que eu tinha visto lá dentro estavam em cima da pia quando acordei.


Me esforcei muito pra não engasgar com a comida naquele momento, e engoli o pedaço de omelete quase inteiro com muito esforço, incapaz de mastigá-lo direito diante do medo que a pergunta dela me causara. Eu tinha me esquecido de guardar os morangos. Que merda.


- É, eu… – balbuciei, encarando fixamente minha omelete e tentando parecer casual. – Eu fiquei com fome e… Acabei comendo alguns morangos… Me desculpe.


Não foram só os morangos que foram comidos naquela noite, mas preferi omitir essa parte da história. Foco, Dulce!


- Tudo bem, Dul. – Maitê sorriu, sem notar nenhuma diferença em meu jeito, como sempre (ela devia aprender que confiar em mim estava ficando perigoso). – Eu devia ter sido responsável e cozinhado alguma coisa pra gente ontem à noite.


Comemos calmamente após minha crise de pânico se dissipar, e quando me dei conta, já estávamos planejamos como seria nosso dia num clima mais agradável, pelo menos para ela. O sol reinava absoluto no céu azul, o mar parecia extremamente convidativo diante do considerável calor, e nossos planos para as próximas horas envolviam exatamente esses fatores. Praia, sol, mar e descanso. Bom, descanso físico estava garantido pras duas, mas mental… É, desse eu acho que só Maitê poderia desfrutar.


- Ei, moça, vem cá. – chamei assim que saímos de casa, segurando minha professora (que agora mais parecia aluna de primário, tamanha era a sua animação) pelo braço quando que ela fez menção de correr para a praia. – Nem pense em se meter debaixo desse sol sem protetor solar.


Ela revirou os olhos, fazendo cara de criança emburrada, e eu ri, enquanto passava protetor solar em suas costas. Quando foi a vez de passar na frente, o que eu fiz questão de fazer, ela fechou os olhos e sorriu pervertidamente, tirando proveito de meus toques. Se ela pode usufruir da mesma situação antes de sairmos da casa, ao passar protetor em mim (e demorar meia hora só pra isso), eu tinha todo o direito de fazer o mesmo com ela (e demorar o quanto eu quisesse também).


- Sabe, eu estou aqui, de biquini, que é amarrado com laços nas laterais, fáceis de tirar.. – ela comentou, quando eu estava cuidando de suas coxas com um pouco mais de vagarosidade que o necessário – E não vai ser muito… Confortável se você continuar a me provocar desse jeito.


Revirei os olhos, com um sorriso de canto, e atendi seu pedido. Coloquei um pouco de protetor na palma da mão, e com o indicador, passei um pouco dele no nariz e bochechas de Maitê, retribuindo seu olhar divertido. Espalhei um pouco mais de protetor pelo seu rosto, e o resto, coloquei em seus ombros, região onde nunca era demais proteger.


- Agora sim, protegida. – falei, com voz de mãe, apertando a bochecha dela, que fez uma careta. – Pode mergulhar agora.


- Não. – ela respondeu, e um sorriso danado surgiu em seu rosto. – Podemos mergulhar agora.


Antes que eu pudesse abrir a boca pra protestar, ou tirar meu chapéu de praia e óculos escuros, Mai já me carregava em direção ao mar, correndo comigo em seu colo. Largando apressadamente meus apetrechos de praia pela areia, me encolhi como um feto em seus braços, já sentindo a temperatura fria do mar antes mesmo de entrar nele e soltando um gritinho desesperado que a fez rir, mar adentro até atingirmos uma altura nem muito rasa, nem muito funda.


- Não tem problema, eu te esquento. – ela riu, me colocando no chão e me abraçando pela cintura.


- Que frase mais clichê, Perroni. – resmunguei com um sorriso divertido, dando-lhe um abraço apertado e depositando um beijo em seu queixo. – Mas eu acho bom mesmo você me esquentar, senão eu vou ficar muito brava.


- Uuh, essa eu quero ver. – Mai gemeu, fazendo uma cara exagerada de desejo e me mandando um beijo, acompanhado de uma piscadinha. – Fica bravinha, vai.


- Idiota. – gargalhei, empurrando-a pelo ombro e não conseguindo muito mais do que me afastar dela por dois segundos. – Vou te mostrar quem é a bravinha.


- Duvido. – ela desafiou, olhando pra cima como quem quer disfarçar alguma coisa, e eu me enfezei: deixei que meus joelhos se dobrassem, fazendo com que meu corpo todo imergisse na água cristalina, e voltei a emergir alguns metros depois, já fora do alcance dos braços dela.


Surpresa com a minha súbita agilidade, ela foi pega de olhos arregalados e boca aberta quando eu joguei uma grande quantidade de água em seu rosto.


- Ai, meu Deus! – exclamei, levando as mãos molhadas à boca em sinal de espanto, sem saber se ria ou se ficava com pena. – Desculpa, amor!


Corri até Mai, que cobria o rosto com as mãos e se mantinha curvada, e me abaixei para poder ver o estrago que a água salgada tinha feito. Assim que o fiz, ela me pegou desprevenida e revidou o golpe, jogando o triplo de água em mim e me encharcando na mesma hora.


- Você pediu, mocinha! – ela riu, mesmo com os olhos vermelhos, e eu não pude deixar de rir da cara dela, típica de criança que tomou um caldo.


- Você sabe correr, Perroni? – perguntei, fechando os olhos e um sorriso bravo. – ENTÃO É MELHOR APRENDER!


Maitê soltou um gritinho, fingindo medo, e saiu correndo, sendo seguida por mim apesar da dificuldade que a água causava. Ficamos nos divertindo no mar por um tempo que não consegui calcular, até que ela finalmente resolveu me deixar tomar sol enquanto se deitava na espreguiçadeira ao meu lado, lendo um livro e parecendo ainda mais branca que suas páginas devido à grande quantidade de protetor solar que eu passei nela. Vez ou outra, ela dava um mergulho, e quando voltava, se recusava a passar outra camada de protetor, apesar de meus avisos constantes de cuidado. O sol estava forte demais pra uma pessoa desacostumada como ela se expor daquela forma.


O dia se passou calmamente, entre amassos e mergulhos, e só saímos da praia uma única vez, para almoçar uma salada leve que preparamos juntas. Quando já estava escurecendo, ficamos observando o pôr do sol, como na tarde anterior, e entramos na casa para tomar banho assim que o céu se tornou totalmente escuro.


- Ai, Dul. – ela choramingou ao sair do banheiro. Eu já tinha tomado meu banho, e estava sentada na ponta da cama passando creme em meus cabelos enquanto olhava vagamente para a TV ligada à minha frente.


- O que foi? – perguntei, e quando olhei na direção dela, meus olhos e boca se abriram imediatamente. Ela estava toda vermelha, principalmente na região abaixo dos olhos, onde ela sempre esfregava depois de sair da água por causa do sal. Seus olhos estavam lacrimejando um pouco, e sua expressão era de agonia.


- Tá ardendo. – ela disse com a voz chorosa, andando devagar na minha direção pra não arder nada, e eu corri até ela, penalizada. Fiz menção de tocá-la, mas logo voltei atrás, pelo pânico que seus olhos demonstraram ao perceber minha intenção.


- Eu bem que te avisei pra passar mais protetor, Mai! – gemi, mordendo meu lábio inferior e morrendo de pena. – Vem, senta aqui que eu passo creme em você.


Conduzi Maitê pela mão, o único lugar que parecia não estar ardendo tanto, até a cama, e ela se sentou cuidadosamente, somente de pijamas. Eu subi na cama atrás dela, retirei sua blusa, já com o creme pós sol em mãos, comecei a espalhá-lo por seus ombros suavemente, enquanto ela apenas se mantinha imóvel, com medo de que algo ardesse a qualquer movimento. Quando tudo já tinha sido devidamente tratado e cheirava maravilhosamente bem graças ao creme, ela sorriu pra mim, parecendo uma camarãozinha. Um camarãozinha muito agradecida, diga-se de passagem.


- Desculpa, Dul. – ela murmurou, fazendo uma carinha triste, e na mesma hora eu franzi a testa em sinal de confusão, ajoelhada em sua frente. – Agora eu mal vou poder te abraçar.


Dei um sorriso compreensivo, sentindo uma leve pontada de agonia. Alguém me explica por que minha recém-adotada doutrina anti-Anahi me pareceu ainda mais difícil de ser seguida após essa conclusão de Maitê.


- Tudo bem, amor. – falei, engolindo todos os meus pensamentos e brincando timidamente com seus dedos. – Eu não me importo, de verdade.


E não me importar seria mil vezes mais fácil se Anahí aparecesse mais tarde. Pensando bem, ai dela se não aparecer. Será uma mulher morta.


OK, finja que eu não pensei isso. Minha mente é podre demais pra ser levada a sério.


- Eu queria que esse fim de semana fosse perfeito. – Maitê sussurrou, segurando minhas mãos com tamanha delicadeza que elas pareciam ser feitas de um material sagrado. – Mas como sempre, eu estraguei tudo.


- Ei. – resmunguei, fazendo cara de brava. – Não começa, Perroni.


Ela apenas suspirou e ergueu seu olhar de minhas mãos para meus olhos, sorrindo logo depois e dizendo:


- Você não existe mesmo.


É, eu sei. Outra coisa que não existe é uma coisa chamada tempo. Cadê ele que não passa pra que Anahi chegue logo?


Argh… Não preciso nem dizer que é pra você riscar essa frase da sua memória também. Talvez nem o inferno seja ruim o suficiente pra mim.


- Como não? Estou bem aqui. – sorri fraco, procurando seu olhar baixo com o meu e me sentindo uma tremenda hipócrita, falsa, traidora e metida, mas sem deixar tudo isso transparecer. Maitê riu por alguns segundos, mas logo voltou a fazer cara de dor, e eu a imitei inconscientemente. Aquela noite seria um tanto sofrida para ela, pobrezinha.


Ficamos por mais umas duas horas deitadas na cama, vendo TV e conversando, tendo que nos contentar somente com o contato corporal de nossas mãos dadas. Pela primeira vez na vida, o tempo com Maitê me pareceu vagaroso, lento, quase entediante. E quando enfim ela adormeceu pesadamente, feito uma criança cansada de todas as estripulias feitas durante o dia, eu me vi sem saber o que fazer. E totalmente sem sono.


Subitamente, uma euforia estranha tomou conta de mim, como um animal fincando suas garras e declarando território dentro de meu peito. Uma ansiedade incontrolável me dava a sensação de que cada pedaço de mim tremia de agonia, e o ar não encontrava espaço em meus pulmões, me causando uma certa tontura. Olhei instintivamente pro relógio, me sentindo sufocada: 1:19am. Já era tarde e só o que eu deveria fazer era deitar e tentar dormir. Mas meu corpo implorava para sair dali.


Me esgueirei pra fora da cama, e felizmente, Maitê continuou imóvel. Desci as escadas, sentindo minhas pernas trêmulas, e prendi meu cabelo de qualquer jeito, com a intenção de refrescar minhas costas. Merda de ansiedade idiota que me fazia suar frio. Abri a geladeira e enchi um copo com água, dissolvendo uma pitada de açúcar nele e engolindo todo o seu conteúdo em menos de cinco segundos. Água com açúcar não costumava adiantar comigo, mas eu tinha que tentar de tudo.


Os segundos foram se acumulando devagar, transformando-se em minutos, e o sono simplesmente se recusava a vir. Me peguei perambulando ao redor dos móveis da sala, com o olhar fixo em qualquer parte do piso e a mente perdida em só Deus sabe quais pensamentos.


Quando olhei para o relógio da cozinha, ele já marcava 2:37am, e eu me sentia como se tivesse acabado de acordar do sono mais revigorante de minha vida. Bufei, frustrada com minha insônia inexplicável, e me joguei no sofá, derrotada. Olhei distraidamente pela janela da sala, e quando finalmente assimilei o que vi, quase pulei de susto: faróis se aproximavam rapidamente da casa, anunciando a chegada de um carro. Meu coração quase foi parar perto de meu cérebro, tamanho foi o meu susto, assim como foi simplesmente impossível não pensar numa das únicas pessoas que passariam por aquela rua àquela hora da noite.


Sem que eu me desse conta do que estava fazendo, vi que estava de pé, e caminhava energicamente em direção à porta da casa. Por mais que minha consciência me alertasse sobre a loucura que eu estava cometendo, minhas pernas haviam adquirido vida própria e se recusavam a obedecê-la. Abri a porta, ofegante, e tudo que vi foi a rua vazia e o carro de Maitê estacionado, exatamente como estava desde que havíamos chegado. Me aproximei da rua, procurando os faróis que eu jurava ter visto, mas não havia absolutamente nada que pudesse ter emitido qualquer tipo de luz por ali. Franzi a testa, começando a ficar assustada de verdade com minha capacidade de imaginação, e entrei em casa, voltando a me sentar no sofá. Ótimo, além de adúltera, eu estava ficando louca.


Mais meia hora de insônia se passou, e eu comemorei sarcasticamente a chegada das três da madrugada, com quase todas as minhas unhas roídas até não poder mais. A ansiedade que havia tomado conta de mim insistia em se intensificar a cada segundo, e por mais que eu me perguntasse o motivo dela, nada me vinha à cabeça. Bom… Pelo menos nada que eu considerasse agradável. E só para me ajudar ainda mais, após minha estranha visão, meus pensamentos não conseguiam se desviar de Anahí, provavelmente por causa da lembrança que os faróis ilusórios ressuscitaram.


E como minha cabeça sempre conseguia tomar os piores caminhos, não se contentou em focalizar suas energias apenas em Anahí, por pior que aquilo já fosse. Como se eu já não estivesse frustrada o bastante por estar pensando nela, uma pergunta subitamente surgiu do emaranhado de pensamentos que se formava dentro dela, alarmando ainda mais meu coração e fazendo com que o estranho suor frio que brotava de minha testa se intensificasse.


Será que ela realmente viria essa noite?


Enquanto meu cérebro processava a complexidade daquela pergunta, eu comecei a piscar mais que o normal, e meus dedos não conseguiam sair do meio de meus cabelos, enterrados entre suas mechas em sinal de desespero. Por que raios eu tinha de ser tão fraca? Por que eu não podia simplesmente me manter calada e guardar minhas fraquezas para mim mesma?


Por que eu tinha que ter perguntado se ela voltaria? Tudo o que fiz foi criar falsas esperanças para ela, de que eu talvez estivesse interessada em repetir a dose da noite anterior! E isso era, definitivamente, tudo que eu não queria! Ou pelo menos, tudo o que eu fingia desesperadamente não querer.


Naquele momento, eu me dei conta do quão ridícula e imatura eu estava sendo diante daquela situação. Meu corpo e minha mente davam sinais claros de que não pensar em Anahí estava se tornando cada vez mais impossível, mas uma parte de mim, a parte racional, ainda se recusava a dar o braço a torcer, tentando lutar inutilmente contra meus impulsos. Não adiantaria nada continuar repetindo para mim mesma que eu estava bem e que aquilo era apenas uma insônia sem motivo, sendo que eu sabia exatamente a razão de minha ansiedade.


Infelizmente, eu precisava aceitar que ainda não tinha forças suficientes para afastar a sombra de Anahí de meus pensamentos, por mais intensas que fossem as minhas tentativas de abafar o estranho poder que ela tinha sobre mim. Era nítido que ela tinha algo que me desarmava completamente, dopando minha consciência e aflorando meus piores instintos.


Soltei todo o ar tensamente preso em meus pulmões, fechando os olhos e deitando minha cabeça no encosto do sofá. Um sorriso sem humor algum se formou em meu rosto, externando minha frustração comigo mesma. Eu estava destinada a ser fraca, pro resto da minha vida. Era como se eu jamais fosse ser capaz de vencer algum obstáculo que surgisse na minha frente, apenas fosse me curvar diante dele e deixá-lo modificar minha vida, fosse para melhor ou para pior.


A fraqueza era meu fardo. E Anahí era a prova viva disso. Ela sabia muito bem que esse era meu ponto fraco, que eu era uma presa fácil comparada ao seu poder de ataque invencível, e como se isso já não fosse suficiente, ainda utilizava todos os seus artifícios para me manter hipnotizada. Abduzida.


Encarei o teto, totalmente inerte, e ao invés do cinza sem graça, o discreto sorriso de Anahí ao ir embora na noite anterior surgiu em meu campo de visão. Teria aquilo sido mesmo uma resposta, ou apenas mais uma de minhas ilusões?


Não… Ela não podia fazer isso comigo. Ela não seria capaz. Eu sabia que ela viria. Ela não teria coragem de me deixar esperando.


Me mantive inconscientemente imersa em pensamentos por um tempo que me pareceu incalculável, e num de meus breves acessos de lucidez, olhei para o relógio: 3:30am. Meus pés batucavam contra o piso frio da sala, inquietos assim como minhas mãos, que seguravam a barra da camisola com força. Minha respiração estava totalmente descompassada, denunciando todo o nervosismo que me devorava, e meus olhos percorriam cada centímetro visível da janela, até que, num movimento impensado, se depararam com uma solução para meu problema, que estava ali desde o começo, bem debaixo de meu nariz: o telefone.


Quer saber? Se aquela já era uma batalha decidida, pra que continuar lutando? Fo/da-se o meu orgulho.


Fiquei de pé num salto, e corri até o aparelho, quase derrubando-o ao tirá-lo da base, tamanha era a tremedeira de minhas mãos. Olhei para os botões, esperançosa, e me lembrei de que, para ligar para ela, precisava de seu número. Pensei por um momento, e logo encontrei a saída: o celular de Maitê.


Larguei o telefone sobre a base de qualquer jeito, correndo desengonçadamente em direção às escadas para pegar o aparelho de Mai. No terceiro degrau, quase escorreguei, e tive que me apoiar em minhas mãos para não dar de cara no chão. Quando faltavam dois degraus para chegar ao primeiro andar, um zumbido se apoderou de meus ouvidos, quebrando o silêncio sepulcral. Paralisei onde estava, virando minha cabeça na direção do som com uma rapidez assustadora. Eu sabia que estava descabelada, com olheiras e pálida, mas agora não havia mais tempo pra me arrumar.


Ela estava aqui.


 



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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 134



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  • AnBeah_portinon Postado em 23/03/2018 - 16:01:20

    Perfeita! Isso descreve a fic. Eu já estava lendo no título de portisavirroni aí fiquei triste quando parou. Mas quando fui pesquisar denovo quase pulei de alegria com a continuação, e que continuação né?! Amei, principalmente porque sou do #TEAMPORTINON. Mas enfim foi tudo perfeito, mesmo com algumas brigas que só serviram para fortalecer e apimentar a relação delas. Bjs

  • Furacao Maite Postado em 11/01/2018 - 00:51:49

    aaaaah que fofinho! amei! Eu torciaa para savirroni no começo mas Jessyrroni é muito mais lindo kkkkkk Oooow, maei sua fic, primeiro pq teve muito jessyrroni e segundo porque vc escreve bastante!! ainda quero desenvolver esse dom seu! parabéns!!

    • Emily Fernandes Postado em 12/01/2018 - 20:57:17

      Eu que amo suas fics. Adoro mesmo. Não importa se são capítulos grandes ou não. Mas acho que esse dom logo vc pega o jeito. E muito obrigada mesmo por gostar. E JESSIRRONI foi mesmo fofinho.

  • MaryCR Postado em 30/12/2017 - 16:59:30

    Não taça comentando pq tava com preguiça. Mas agora eu tô aqui. Mulher não tem como não ficar indecisa.Primeiro: vc gosta de me deixar na curiosidade hein. Me fez acreditar que quando minha mãe dizia ALEGRIA DE POBRE DURA POCO era verdade e depois que elas se acertaram eu pensei que ela me fez de trouxa. Segundo: como vc me faz acreditar que estava tudo ótimo e BUUM começa um capítulo com uma briga daquelas!? Era só avisar que me queria morta seria menos trágico. Terceiro:Anahí adora uma janela hein. Quando Dulce menos espera ela brota lá no quarto gente que isso!? Quarto: vô para de enumerar pq tá chato (rimei). Adorei portinon maternal,não pq a criança dos outros sempre desperta vontade de ter filhos na gente,apesar de achar q eu não teria muita paciência e por último e mais importante: COMO TU PARA NUMA PARTE DESSAS? Concluindo eu não sei se estou mais revoltada,feliz,confusa,raivosa,curiosa ou ansiosa. E olha que eu nem sou de libra ein. Povo mais indeciso não existe.

    • Emily Fernandes Postado em 31/12/2017 - 14:37:30

      entendo, as vezes tbm fico assim, que nem da vontade de acordar. Eu nunca faço isso, mas realmente os capítulos estão terminando em momentos cruciais, fazer o que. Mães sempre tem razão, confie. A relação delas é uma montagem russa, porém acho que as brigas Jajá terão fim. Cara Anahí, é uma pessoa que realmente não curte portas, só espero que isso não ocorra com frequência, pq se não Dulce não vai mais ficar surpresa. Eu não tenho esse interesse maternal, nos filhos dos outros ainda, acho que é a idade. Porém confesso que crianças são minha perdição, acho que já está na hora delas começar a família. Mas vamos te tirar de libra pra vc continuar a leitura... E o que mais importa. Feliz ano novo. PS: Eu uma vez tbm, já deixei uma biblioteca, em uma fanfic que leio, e depois não consegui mais me conter em palavras. ahahahahahah.

    • MaryCR Postado em 30/12/2017 - 17:02:30

      Nunca escrevi negócio tão grande kkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:14:05

    que up na vida hein? Dulce médica! E que viagem doida é essa de 2 anos! coragem!!! kkk

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:18:21

      Acho que a viagem venho a calhar, pq a insegurança e a rotina estava as afetando.

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:02:09

    eitaaaa, estava tudo bem agora já começa o capitulo com uma briga? (19) genteeee, que babado

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:58:58

    Ainda bem que a Dulce e Anahí brigaram mas fizeram as pazes no mesmo capitulo!

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:17:09

      Sim, acho que elas combinam assim, mesmo. Acho que fica uma relação mais dinâmica. Kkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:55:16

    Sou do time da Marichelo! Sou team Jessica Coch kkkkkkkkkkkk Também acho que é dificil de encontrar outra igual a ela! Maite tem sorte kkkk Mas ainda bem que a mãe da Anahí aceitou a Dulce!

    • Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:15:53

      É sim, digamos que Marichelo sempre adorou Jéssica, porém acho que Jéssica está ótima com Maitê não. Kkkk

  • Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:51:48

    vou colocar a fic em dia....

  • MaryCR Postado em 24/12/2017 - 02:41:13

    Pense em uma pessoa revoltada, pense em mim. EU VOU DA UMA VOADORA NA PERRONI sério. Eu vô e penso "até que enfim a perroni vai ajudar portinon" e fui TROUXA, ela fez exatamente o contrário. Dulce foi na casa da Portilla e huuum rolou uma putaria, eu pensei "agora o negócio vai" e fui trouxa denovo. Concluindo, portinon finalmente se acertou e a anie finalmente terminou com a Diana. Amém!! #revoltadaefeliz

    • Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:49:11

      Meu Deus kkkk que pessoa indecisa. Bem mas eu Entendo seu drama. Maitê como sempre sendo Maitê, mas agora acho que o casal portinõn finalmente respirara mais aliviadas. Enfim um ótimo Natal pra vc . Bjs

  • Furacao Maite Postado em 23/12/2017 - 17:39:09

    Owwwnnnn que fofas!!! Achei q tdo estava perdido, q bom q deu tdo certo!!

    • Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:47:14

      Sim, finalmente as coisas estão caminhando para Um finalmente sim. Kkk feliz Natal pra vc. Bjs


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