Fanfic: My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada | Tema: Portinon e Savirroni
- Dulce?
Senti uma mão acariciar desde meu ombro até meu pulso devagar, e abri os olhos com a mesma velocidade, acostumando minhas pupilas à pouca claridade do ambiente.
- Hm? – respondi, espreguiçando-me um pouco e abrindo os olhos de vez. A pele de Anahí, que havia servido de travesseiro para mim durante as últimas horas de sono, ocupavam metade de minha visão, enquanto a outra metade era preenchida pelo interior do carro e pelos trechos do céu que os vidros me permitiam ver. Já estava começando a amanhecer.
- Acho melhor você voltar pra sua cama. – a mesma voz suave e rouca voltou a falar, enquanto sua dona me fazia um leve cafuné. – E eu, pra minha.
Suspirei preguiçosamente, sentindo seu perfume invadir meus pulmões, e por um segundo, o impulso de continuar ali com ela quase foi mais forte que a vontade de voltar para a cama com Maitê.
- Não conseguiu mesmo dormir? – sussurrei, com a voz falha pelo sono, e ergui meu rosto para poder ver o dela. Fortes olheiras marcavam a região abaixo de seus olhos, respondendo à minha pergunta sem que ela precisasse dizer uma palavra.
- Digamos que você dormiu por nós duas. – ela sorriu fraco, e eu fiz o mesmo, um pouco envergonhada.
- Desculpa. – eu disse, sem jeito, e ela respondeu com um risinho.
- Se você tivesse roncado ou babado em mim, eu não desculparia. – ela retrucou, com a expressão levemente autoritária, e logo depois voltou a sorrir. – Mas você se comportou bem, então está tudo certo.
- Idiota. – resmunguei, sorrindo junto, e um silêncio incômodo se instalou entre nós. Desviei meu olhar do dela, sem mover mais nenhum outro músculo, mas pude sentir que seus olhos se mantiveram fixos em mim. Respirei fundo, sentindo meu coração acelerar por alguma razão desconhecida, e me esgueirei para o banco do carona para vestir minha calcinha. Anahí fez o mesmo, mas só colocou a calça, mantendo-se sem camisa, só de sutiã.
- Bom… Vou entrar. – murmurei, encarando minhas mãos inquietas, que brincavam com a barra da minha camisola. Anahí virou o rosto para me olhar, e eu resolvi fazer o mesmo, trêmula. Me afastar dela estava ficando cada vez mais difícil, mas eu não queria e nem iria me dar por vencida.
- Tudo bem. – ela respondeu, e aproximou seu rosto do meu, o suficiente para nossos lábios se encontrarem. Correspondi ao seu beijo calmo e inesperado, sentindo meu corpo arder para ir mais além, mas logo me afastei, ao contrário dela.
- Tchau, Anahí. – falei perturbada, deixando-a no vácuo e abrindo a porta do carro, mas ela segurou meu braço.
- Espera. – ela pediu, e eu soltei um suspiro contido, com o corpo tenso pelo nervosismo. – Só me responda uma coisa… Quando posso te procurar de novo?
Fechei os olhos por alguns segundos, buscando forças para dar uma resposta repreensiva, mas enganar a mim mesma não era meu forte. Muito menos enganar Anahí.
- Você sabe onde me achar. – foi tudo o que consegui dizer, abrindo pesarosamente meus olhos e encarando os dela, com esforço para não me perder ali.
Um sorriso discreto apareceu nos lábios dela, que desviou seus olhos dos meus por alguns segundos, como se imaginasse o momento em que me procuraria novamente, e depois voltou a me encarar, agora com um brilho que eu conhecia bem ardendo em suas íris.
- Você também. – Anahí murmurou, finalmente soltando meu braço e me permitindo sair do carro. Fechei a porta da Ferrari com cuidado para não fazer muito barulho, e caminhei lentamente até a soleira da casa, toda encolhida devido ao vento levemente frio que soprava. Sem conseguir resistir, olhei na direção do carro e a observei dar ré e sumir pela rua, me causando uma estranha sensação de vazio. Suspirei pesadamente, passando as mãos pelo rosto num discreto ato de desespero, e entrei na casa, engolindo toda a noite passada e me preparando para olhar para Maitê novamente.
Subi as escadas cautelosamente até chegar ao quarto, onde ela ainda dormia. Sua pele parecia estar ainda mais vermelha do que da última vez que a vi, talvez pela luminosidade ainda fraca do sol e pelo contraste ainda maior que ela causava em relação aos lençóis brancos da cama. Apesar de sua respiração estar calma, Maitê mantinha a testa franzida, como se seu sono fosse leve e tenso, e batia o queixo, como se estivesse com frio. Pensei em cobri-la, mas com certeza eu a acordaria, e a ardência de sua pele não ajudava muito a apoiar minha ideia. Mordi meu lábio inferior, morta de pena e de aflição por não poder nem tocá-la, e o machucado causado por Anahí nesse local reagiu a essa ação com uma pontada forte e inesperada. Segurei um gemido de dor e passei a ponta da língua pelo corte, sentindo gosto de sangue. Legal, aquele não curaria tão cedo.
Fui até o banheiro da suíte para ver como estava a minha situação, e quase tive um treco. Eu estava deplorável: toda descabelada, pálida, com leves olheiras sob os olhos e com o lábio inferior um pouco inchado, bastante avermelhado na região do machucado. Balancei levemente a cabeça em sinal de negação, encarando meu próprio reflexo com uma conclusão em mente: Maitê Perroni e Anahí Portilla, duas mulheres maravilhosamente lindas, só podiam ser loucas por gostarem de uma garota tão feia como eu. Fato.
Fiz minha higiene matinal, aproveitando a temperatura e o silêncio agradáveis para tomar um bom banho, completamente absorta em meus pensamentos. Vesti uma calcinha branca com bolinhas coloridas e uma blusa branca de Maitê que chegava até a metade de minhas coxas, e suspirei profundamente antes de me virar na direção da cama, onde ela continuava imóvel e frágil. Seu rosto carregava os traços inocentes de uma criança, e apesar de ter acabado de sair do banho, me senti completamente podre.
Me sentei ao seu lado devagar, observando seu sono desconfortável, e não demorou muito para que minha visão ficasse embaçada e uma lágrima escorresse pelo meu rosto, descendo rapidamente até pingar na blusa. Imediatamente a enxuguei, fungando baixinho e esfregando os olhos com as costas das mãos. Se ela acordasse e me visse chorando, eu não saberia o que dizer. Ela jamais poderia me flagrar naquele estado, não sem motivo aparente. Além do mais, eu havia escolhido aquele caminho, portanto, eu deveria arcar com as consequências de meus próprios atos. Eu era fraca demais, incapaz de controlar minhas ações, e merecia sofrer calada por isso. Não havia perdão para o que eu estava fazendo, e muito menos pelo fato de me conformar com isso. Eu merecia passar por todo aquele sofrimento. A culpa era toda minha.
Deitei a cabeça no travesseiro, ainda encarando o perfil de Maitê, e continuei velando seu sono, até que o cansaço me venceu, auxiliado por mais algumas lágrimas silenciosas e insistentes que escaparam por meus olhos e umedeceram a fronha sob meu rosto. Quando na verdade, eu merecia me afogar nelas.
Dedos se enroscavam em meus cabelos lentamente, fazendo um carinho gostoso no topo de minha cabeça. Um sorriso tímido surgiu em meu rosto; eu podia sentir meus lábios se curvando apesar de ainda estar dormindo. Respirei fundo, apenas aproveitando o toque dos dedos quentes em minha cabeça, e abri os olhos lentamente. Tudo o que vi foi… Rosa?
- Te acordei? – um sussurro ecoou pelo quarto, me fazendo pular de susto e olhar na direção da voz. Em meio a todo o rosa que ocupava minha visão, os olhos castanhos de Maitê entraram em foco, um tanto quanto aflitos.
- Não, eu… Nossa, Maitê, como você está? – suspirei, em choque, só então me dando conta de que todo aquele rosa era nada mais, nada menos que a pele dela, contrastando vigorosamente contra o branco dos lençóis.
- Bem. – ela respondeu, acompanhando meu olhar como se aquele fosse seu estado dermatológico normal. - Só… Arde um pouco, e faz frio ao mesmo tempo. Chega a ser engraçado.
- Não, Mai, não é nem um pouco engraçado. – gemi baixinho, me sentando na cama. – Olhe só pra você… Eu não acredito que te deixei chegar a esse ponto.
- Dul, você não teve culpa de nada. – ela negou, franzindo levemente a testa em sinal de indignação. – Eu é que devia ter tomado mais cuidado. Além do mais, você não tem a obrigação de cuidar de mim.
- Claro que tenho. – retruquei, encarando-a com seriedade. – Não é só porque eu sou mais nova que devo me esquecer de ter responsabilidades.
- Pare de se culpar pelo meu bronzeado, senão eu levanto daqui agora mesmo e vou tomar mais sol. – Maitê resmungou, me fazendo sorrir de leve alguns segundos depois. Olhei pra ela, que também sorria, só que ainda mantinha alguns traços de sua falsa expressão séria no rosto, e balancei negativamente a cabeça.
- Sua boba. – murmurei, sentindo meus olhos ameaçarem lacrimejar diante da fofura dela, mas engoli o choro e não fugi de seu olhar.
- Eu também te amo. – ela riu, mostrando a língua logo depois. – Agora vamos mudar de assunto, estou me sentindo uma paciente terminal desse jeito.
- Desculpe por me preocupar com você. – brinquei, fingindo desprezo. – Não tenho culpa por ter calafrios só de te ver rosa desse jeito.
- Ah, vai dizer que eu não estou sexy assim, toda fogosa? – Maitê brincou, fazendo cara de prostituta, e eu por pouco não dei um tapa em seu braço, acostumada a demonstrar minhas reações às suas piadas com uma certa violência.
Assim que nosso riso cessou, um sorriso permaneceu em meu rosto, sem que eu me desse conta disso. Maitê me imitou involuntariamente, me fazendo alargar ainda mais meu sorriso, e logo eu já estava sorrindo abertamente, como se não houvesse motivos no mundo para derrubar uma lágrima sequer. Ela acariciou minhas bochechas sutilmente, e logo depois eu aproximei meu rosto do seu, dando-lhe um leve selinho, que sem querer se transformou num beijo mais intenso.
- Ai, desculpa! – implorei, quando a pele extremamente quente de seu peito entrou em contato com a palma de minha mão por uma fração de segundo, fazendo-a contrair os músculos da região em sinal de dor. – Tá ardendo muito?
- Não, tudo bem, já… Já passou. – ela gaguejou, com os olhos fechados enquanto a marca amarelada de minha mão em seu peito tornava-se gradativamente vermelha de novo. Maitê voltou a me olhar, com a expressão ainda levemente sofrida, e eu mordi meu lábio inferior, esquecendo-me novamente de meu machucado nesse local. Dessa vez, não consegui conter um gemido de dor, o que a fez notar o corte e olhar com certo interesse para ele.
- Acho que também peguei sol demais. – expliquei, com cuidado para não tropeçar nas palavras devido ao nervosismo. – Minha boca tá toda rachada.
- Hm.. – ela respondeu vagamente, e eu senti a tensão se transformar em alívio dentro de mim. – Eu ia sugerir que você aproveitasse mais algumas horas de praia antes de irmos, mas parece que não sou a única querendo distância de sol por aqui.
- É. – concordei, dando um sorrisinho sem graça. Não tinha conseguido ficar muito bronzeada nem com o dia anterior de sol, o que eu sabia que não conseguiria reverter em poucas horas, e além do mais, eu não queria deixar Maitê sozinha no quarto, muito menos ficar sozinha na praia. Por mais estranho que isso possa parecer, Maitê me distraía de todos os maus pensamentos e aflições que percorriam minha mente, e sem ela, eu provavelmente teria uma síncope. Como isso não estava nos meus planos - pelo menos não enquanto eu não estivesse na minha casa, mais especificamente no meu quarto -, preferi não aceitar a sugestão dela.
- Então o que acha de comermos alguma coisa e voltarmos pra casa? – ela perguntou, entortando a boca em sinal de reflexão. Imitei sua expressão e olhei para o relógio ao lado da cama: 12:41pm. Foi então que uma espécie de terremoto tremeu tudo dentro de mim, e eu tive uma grande descoberta: estava terrivelmente faminta.
- Eu acho uma ótima ideia. – respondi, assentindo devagar pra ela, que riu de meu olhar sonhador.
- A gente bem que podia comer aquela lasanha instantânea enorme que tá no congelador, né? – Maitê sorriu, adotando o mesmo olhar de criança que eu ao falar.
Não precisei nem responder, apenas sorri de um jeito guloso e corri para a cozinha, ouvindo as gargalhadas de Maitê cada vez mais distantes. Preparei a lasanha (que era realmente enorme e parecia ter uma vinte camadas) o mais rápido que pude, e sem nem me preocupar em parti-la ao meio, levei-a para o quarto. Devoramos quase todo aquele monte de queijo e massa, rindo de nossa própria gula e drenando todo o suco de uva que eu havia levado para o quarto. Só nos demos por satisfeitas quando já era 13:27pm.
- Isso é que é vida. - Maitê suspirou de olhos fechados, recostando-se na parede atrás da cama e com as duas mãos cobrindo cuidadosamente sua barriga avermelhada e inchada pelo excesso de comida. Soltei uma risada meio retardada diante da expressão zen dela, o que me deixou na dúvida sobre se o que tínhamos bebido era suco de uva ou vinho.
- Queria poder morar aqui. - comentei, após minha breve crise de riso, e encarei o céu azul e limpo que a janela me permitia ver. - É realmente um lugar maravilhoso.
- Não sei por que a Anie não se muda de vez pra cá. - Maitê disse, olhando vagamente na mesma direção que eu, e assim que ouvi o nome de Anahi, meu estômago revirou perigosamente. - Quer dizer, o pai dela é podre de rico, e ela, apesar de ter dois irmãos, também é… Pra que trabalhar naquela espelunca de escola quando se pode viver tranquilamente num lugar como este? Eu juro que tento, mas já desisti de entender o que a prende naquela cidade.
Franzi levemente a testa após ouvir as palavras dela, com os pensamentos subitamente a mil. Então o pai dela era rico mesmo, como Anahi já havia me dito antes? Como ele teria enriquecido tanto a ponto de poder dar a filha tamanho conforto financeiro, apesar de ter outros dois filhos? E já que tinha tanto dinheiro, por que Anahi insistia em morar em Miami, enquanto tinha aquela casa perfeita só para si? O que a prendia àquele apartamento, e o mais intrigante ainda, àquele colégio? Pegar aluninhas era tão importante assim na vida dela?
Omiti um sorrisinho ao imaginá-la vivendo naquela casa. Por alguma razão, visualizá-la morando ali me ajudou a entender a razão pela qual ela não o fazia: a solidão. Anahí era exatamente o tipo de pessoa que gostava de viver no meio de gente (em especial mulheres), em meio aos barulhos da cidade, onde ela sabia que sempre havia outras pessoas circulando… Ela precisava constantemente de companhia. E isso era uma das poucas coisas que um lugar como aquele não poderia oferecer.
- Desculpe por ter falado dela… Às vezes, eu me esqueço de que vocês não se dão muito bem. - Maitê murmurou, virando-se pra mim com um olhar culpado e me puxando de volta à realidade. - Foi sem querer.
- Tudo bem. - sorri fraco, engolindo todos os pensamentos sobre Anahí com certa dificuldade e voltando a focá-los em Maitê.
Ficamos mais algum tempo naquele estado de preguiça pós-almoço, até que eu tomei coragem e levei a louça para a cozinha, lavando-a rapidamente e retornando ao quarto logo em seguida. Assim que voltei, dei de cara com Maitê tentando se levantar, totalmente em vão.
- Ei! - exclamei, correndo até ela ao vê-la cair sentada novamente na cama com uma expressão de dor. - Você é doida? Não vai conseguir se levantar sozinha!
- Claro que consigo… Só preciso me esforçar mais. - ela disse, com a voz baixa, e agora que estava mais perto, pude ver que seus joelhos haviam adquirido uma tonalidade vermelho berrante devido ao seu esforço para ficar de pé.
- Quantas vezes você tentou se levantar? - perguntei, arrepiada só de pensar no quanto aquilo devia estar ardendo.
- Algumas. - ela respondeu, erguendo o rosto pra me olhar e respirando fundo, mas assim que viu meu rosto se fechar numa expressão brava, logo corrigiu. - Calma, foram poucas!
- E agora, Mai? – indaguei, esfregando o rosto com as mãos e encarando-a reflexivamente em seguida. – Se você mal consegue se manter de pé, como vai dirigir por horas até voltar pra casa?
- Eu já disse que estou bem! – ela exclamou, irritada. – Só preciso treinar mais um pouco, confie em mim!
- Não seja idiota. - falei, séria, após respirar fundo junto com ela, numa tentativa de esfriar os ânimos e pensar claramente. - Eu não vou deixar você ficar se esforçando dessa maneira, e ainda por cima, pra nada. Nós duas sabemos que não adianta treinar porcaria nenhuma, ficar tentando se levantar só vai piorar as coisas. Temos que arranjar um jeito de ir embora que não envolva você na direção de um carro.
- Eu sei que você está certa, mas a questão é que não temos outro jeito. - Maitê suspirou, derrotada, e eu me mantive séria. – A não ser que você conheça alguém que possa e queira vir nos buscar.
Na hora, uma pessoa apareceu em minha mente, que serviria exatamente para aquela tarefa, mas juntei o pouco de juízo que me restava e preferi não opinar. Pena que Maitê teve a mesma ideia que eu, e ao contrário de mim, pareceu achar a opção aceitável.
- Se bem que… Tem a Anahí.
Engoli em seco, rezando pra que ela desistisse daquela ideia, ou pra que outra pessoa viesse em nossas cabeças e pudesse substituí-la. Droga, seria tão difícil assim arranjar alguém que não fosse um poço de luxúria pra nos dar uma carona? Além do mais, ela ficaria no mínimo louca de raiva por ter que voltar ao lugar de onde havia acabado de sair, o que não seria algo exatamente bom, tanto para nós como para ela. A simples ideia de ter que interagir com uma Anahí irritada me dava uma pontada de medo.
- A Portilla? – balbuciei, tentando não demonstrar minha resistência àquela sugestão e buscando desesperadamente um bom empecilho. – Mas… E o seu carro, como fica? Se ela aceitar vir nos buscar, terá que vir com o carro dela, ou seja, um dos dois vai ficar sobrando… Não daria muito certo.
Segurei uma risada maléfica diante de minha brilhante escapatória, mas o ar ainda tranquilo de Maitê ao me responder não me permitiu continuar tão alegre.
- Ah, quanto a isso não precisamos nos preocupar. – ela deu de ombros pesarosamente. – Quando o empregado vier arrumar a casa amanhã, ele mesmo leva o carro da Anie de volta pra Miami. Além do mais, a Portilla tem dois carros, fora a moto, não vai sentir tanta falta de um deles se tiver que deixá-lo aqui por alguns dias.
- Ah… Entendi. – foi tudo que consegui dizer, totalmente desmoralizada pela resposta de Maitê. O dinheiro é uma merda, especialmente quando pertence às pessoas erradas. E que engraçado, ele sempre pertencia às pessoas erradas!
- Então… Acho que ela é nossa única saída. – Maitê murmurou, extremamente sem graça pelo desânimo em meu rosto, e eu apenas suspirei, sem outra solução para nosso problema. Era só me controlar, só isso… Algumas horas dentro de um carro com Anahí e Maitê? Tsc, moleza, fala sério.
Maitê pegou o celular que estava na cama e ligou para a amiga, sob meu olhar disfarçadamente apreensivo. Conforme ela conversava com Anahí, eu tentava deduzir sua resposta, e ao mesmo tempo, inevitavelmente imaginava como ela estaria respondendo. Com sono, sem dúvida. E mal-humorada, talvez? É, grandes chances de mau humor.
- Erm, é… Obrigada… E desculpa mais uma vez. – Maitê agradeceu pouco antes de desligar, sem graça, e assim que o fez, olhou pra mim com a expressão tristonha. – Ela tá vindo… Só espero que não durma pelo caminho, porque até eu fiquei com sono só de ouvir a voz dela.
- Hm.. – murmurei, engolindo a sincera pena que senti dela, junto com a vontade de falar um palavrão dos bem cabeludos. Agora era oficial: eu estava ferrada. Muito ferrada.
Arrumei nossas coisas dentro das mochilas rapidamente, me vesti, e ficamos esperando o tempo passar, vendo um pouco de TV e conversando menos ainda. Um silêncio estranho caiu sobre nós, mas eu não me incomodei com ele. Confesso que a lembrança de que Anahi estava a caminho quase me fez subir pelas paredes de nervosismo em alguns momentos, mas sempre que eu estava prestes a fazê-lo, Maitê iniciava timidamente algum assunto e eu me recompunha.
Quando o que me pareceu o milésimo seriado de TV estava acabando, um fraco ruído de motor ecoou do lado de fora da casa, me fazendo prender a respiração. De repente, passar o resto da vida dentro daquele quarto me pareceu uma opção muito mais fácil do que sair dele e ter que encarar Anahí outra vez. Um frio com o qual eu já estava relativamente acostumada dominou meu interior, me deixando levemente ofegante, mas eu respirei fundo e simplesmente o ignorei. Ou pelo menos tentei.
- Acho que ela chegou. – falei, sem nem pensar, e Maitê, que também parecia ter notado o barulho do lado de fora, pediu:
- Vai lá dar uma olhada, por favor?
Me esgueirei até a janela, sentindo meu coração revirar a cada passo, e assim que o carro de Maitê entrou em meu campo de visão, vi também a moto amarela e linda de Anahí (e obviamente, sua dona sobre ela). Ela desceu da moto, com óculos escuros que a deixavam simplesmente irresistível, um casaco de moletom branco que, mesmo sendo de um tecido relativamente grosso, não conseguia disfarçar sua forma física impecável, e uma calça jeans clara e justa. Nem preciso mencionar os tênis extremamente brancos e perfeitos e o cabelo desajeitado pelo vento de um jeito extremamente sedutor, certo?
- É, ela… Ela chegou. – falei, com muito esforço pra respirar, e só desgrudei meus olhos dela quando não era mais possível vê-la pela janela. Pude ouvi-la abrir a porta no andar de baixo e subir as escadas, arrastando os pés a cada degrau, como se aquilo lhe custasse a vida. Anahí entrou no quarto, colocando os óculos escuros na gola da camiseta, e a única coisa que fez foi olhar para Maitê e arregalar levemente seus olhos cansados.
- Car/alho, Maitê… Que cagada.
- É, eu sei. – Maitê resmungou, encarando a amiga com um olhar envergonhado. Não sei por que, mas senti uma vontade enorme de gargalhar. Como tenho amor à minha vida (pode até não parecer em alguns momentos, mas eu juro que tenho), me contentei em continuar quieta, interpretando parte da mobília do quarto.
- Bom… Vamos? - Anahí perguntou, parecendo segurar o riso assim como eu, e me lançou um rápido olhar divertido. Foi impossível não sorrir de volta, mesmo que discretamente, e uma incrível vontade de abraçá-la e sentir a textura macia de seu casaco surgiu em minha mente.
- Claro, eu só preciso de ajuda pra me levantar. – Maitê apressou-se em responder, me lançando um olhar embaraçado. Entendendo o recado, assenti depressa, com medo de ter viajado demais nos caminhos sinuosos do olhar de Anahi, e caminhei até a cama para ajudá-la a ficar de pé. Estendi uma mão para que ela se apoiasse, e quando fui oferecer a outra, a mão de Anahí substituiu o vazio, e sua presença inesperadamente próxima me arrepiou da cabeça aos pés.
- Se você pretende mesmo levantar, acho melhor se apoiar em alguém forte de verdade. – Anahí explicou, quando Maitê a olhou surpresa, e por mais incrível que isso possa parecer, não identifiquei nenhum rastro de provocação implícita em sua voz. Tentei engolir uma resposta diante da surpreendente educação dela, mas a vontade de retrucar foi mais forte do que eu.
- Eu sou forte de verdade. – murmurei, mais pra mim mesma do que para ela, tentando abafar meu leve incômodo com seu comentário, que até então, me parecia benigno. O problema era que, por mais que eu realmente achasse que Anahi conseguiria ajudá-la a se levantar com mais habilidade do que eu, meu humor sempre ficava um pouco fora dos eixos diante da presença dela, pendendo pra uma certa rispidez desnecessária.
- Dul calma. – Maitê pediu baixinho, me encarando por um momento com o olhar levemente repreensivo, e logo em seguida ficando de pé, graças ao apoio de nossas mãos. Anahí passou cuidadosamente um dos braços da amiga por cima de seus ombros (e se eu não estiver ficando doida de vez, pude jurar ter visto um sorrisinho esperto desenhar seus lábios) e eu fiz o mesmo do outro lado, diminuindo o peso em suas pernas. Descemos as escadas devagar, poupando Maitê de quase todo o contato entre seus pés e o chão – como eu previa, Anahí foi muito mais habilidosa nessa parte do que eu, mesmo carregando também nossas mochilas - e rapidamente a colocamos no banco traseiro de seu carro. Quando estava prestes a me sentar ao lado dela, Anahí, que até então guardava nossas coisas no porta-malas, surgiu bem ao meu lado e interferiu:
- Savinon, é melhor você ir na frente. Ela vai precisar de bastante espaço.
Olhei pra Anahí, sem saber ao certo como reagir, e como Maitê não demonstrou resistência, e até pareceu concordar com ela, fui para o banco do carona. Assim que coloquei o cinto de segurança e vi Anahí sentar-se em seu banco, bem ao meu lado, soube que aquela viagem seria perigosa. Inspirei fundo, esperando que o oxigênio me trouxesse algum conforto logo, mas foi simplesmente inútil. O perfume dela entrou com tudo em meus pulmões, devido à nossa proximidade, e eu rapidamente expirei, como se aquilo fosse me ajudar em alguma coisa.
Anahí ajeitou-se rapidamente e não demorou muito para que já estivéssemos fazendo o caminho de volta a Miami. Passamos boa parte da viagem em silêncio, sem sentir muita necessidade de falar, e quando havia diálogo, era porque Maitê havia puxado algum assunto comigo. Minhas respostas eram monossilábicas, e apesar do clima calmo dentro do carro, meu nervosismo era quase nítido: minhas mãos suavam frio, agarradas uma à outra, meus olhos mantinham-se firmes no horizonte e meu coração batia absurdamente acelerado pelo risco que eu corria estando num lugar tão pequeno com as duas. E como se tudo isso não bastasse, o fato de Anahí estar extremamente tranquila, contrariando totalmente o que eu esperava encontrar, me pegou desprevenida e me deixou atordoada. Ela quase parecia uma pessoa normal naquele momento, dirigindo sem pressa, fora a aura de beleza que sempre a envolvia e a destacava dentre os demais mortais. O que será que ela havia fumado pra ficar daquele jeito?
- Meu Deus, que dor de cabeça. – Maitê sussurrou, deitada no banco de trás e com uma das mãos sobre a testa. Olhei para ela, que estava de olhos fechados em sinal de sofrimento, e ouvi Anahí dizer, sem tirar os olhos da estrada:
- Eu tenho uma cartela de analgésicos na carteira, se você quiser.
Maitê abriu os olhos e sorriu de leve, aliviada.
- Você quase me mata de tesão quando diz exatamente o que eu quero ouvir, Anahí. – ela respondeu, e eu não consegui conter um sorriso.
- Pois da próxima vez, espero que você morra pra que eu não te imagine tendo um orgas/mo por minha causa. – Anahí retrucou, fingindo nojo em sua expressão e também sorrindo um pouco enquanto tirava a carteira do bolso traseiro da calça com certa agilidade. – Savinon, dá um comprimido pra ela.
Fiz o que ela pediu, tentando disfarçar a leve tremedeira de minhas mãos devido à enorme relação de familiaridade entre eu e aquela carteira, e felizmente consegui passar despercebida. Maitê logo engoliu o comprimido, agradecida, e voltou a fechar os olhos, esperando-o fazer efeito.
Comecei a fazer tímidos desenhos abstratos sobre minha coxa, coberta pela calça jeans, apenas contando os segundos para me livrar daquela enrascada e poder respirar tranquilamente pela primeira vez em três dias. O caminho parecia muito mais longo e torturante agora em comparação à ida, e o por que disso era mais do que óbvio. E o que mais me agoniava era o jeito inesperadamente calmo de Anahí, fazendo duas possibilidades disputarem espaço em minha mente: ou algo estava muito certo, o que não ajudou em nada a me acalmar, porque o certo de Anahí não era nada confiável; ou algo estava muito errado. Confesso que a segunda opção me causou leves calafrios, porque sempre que algo errado envolvia sorrisinhos sem motivo aparente dela, era praticamente certeza de que eu também estava envolvida. E particularmente, eu ainda não estava totalmente pronta para saber se gostava de participar de seus erros.
Resumindo: tomara que a primeira opção seja a correta, seja lá o que ela for.
OK. Ou talvez não.
Uns vinte minutos de silêncio ficaram para trás durante minha pequena reflexão, até que um barulho curioso foi crescendo aos poucos no interior do carro e me fez voltar à realidade. Franzi a testa ao perceber que ela vinha do banco de trás, e quando olhei na direção do som, minha respiração parou. O barulho era o ronco de Maitê, que dormia feito pedra, de boca aberta e babando no estofado do próprio carro.
O que significava que eu estava praticamente sozinha com Anahí.
Maitê? Amor da minha vida? Que tal deixar a sonequinha pra mais tarde? Voltei a olhar pra frente, engolindo em seco, e mantive meus olhos fixos no céu já escuro à minha frente. Sentia meu coração se contorcer em agonia a cada batimento, e cada segundo a mais de silêncio da parte de Anahí era comemorado como um segundo a menos de perigo.
Pena que minha felicidade costuma durar pouco. E ela já estava durando demais, eu sabia disso.
- Vai ficar na casa dela? – Anahí perguntou, naquele seu tom subitamente hippie, e eu quase pulei de susto ao ouvir sua voz, apesar de seu volume razoavelmente baixo. Sem conseguir compreender direito a pergunta, sob pressão demais para organizar as palavras em minha mente, apenas olhei rapidamente para ela, e pude notar que um sorrisinho surgiu em seu rosto.
- Vou. – murmurei, quando finalmente consegui recuperar a razão. Será que eu estava finalmente conseguindo ter uma conversa digna com Anahí Portilla ou eu estou prestes a acordar?
- Ah… – ela disse, erguendo as sobrancelhas em tom de lamentação. - Que pena.
Franzi a testa, sem entender sua resposta, e voltei a olhar para ela. Assim que o fiz, ela devolveu meu olhar, e imediatamente suas íris me transmitiram uma overdose de malícia, a qual eu não estava exatamente pronta para receber. O choque pela mudança brusca de atitude de Anahí me deixou paralisada por alguns segundos, mas nada que me impedisse de ouvir o fim de sua frase.
- A Ferrari já está com saudades de você.
Senti meus pulmões virarem aço dentro de meu peito, porque além de parecerem momentaneamente impossibilitados de respirar, seu tamanho pareceu quadruplicar, esmagando meu coração e tornando suas batidas absurdamente intensas.
- Do… Do que você… Tá falando? – gaguejei, num sopro de voz, e ela apenas aumentou seu sorriso, voltando a encarar a estrada. Tentei respirar, sentindo meu cérebro pedir por ar, mas o progresso que consegui foi quase nulo. Quando me preparava para tentar novamente, ainda com os olhos presos no local onde antes estavam os dela, senti sua mão explorar a parte superior de minha coxa, acariciando-a com uma certa pressão e somente parando quando a distância entre ela e minha virilha era quase insignificante. Quando atingiu seu objetivo, ela aumentou a intensidade de sua pressão, e imediatamente meu corpo inteiro se arrepiou. A lembrança de seus toques veio à tona, me desnorteando completamente e deixando minha visão levemente turva.
- Acho que já tem sua resposta. – Anahí disse, colocando todo o seu charme na voz, e novamente me olhou daquele jeito libidinoso. – Ou ainda não é o suficiente?
Ela fez menção de mover sua mão numa direção não muito recomendada, e eu agarrei seu pulso com as duas mãos na mesma hora, em desespero. Meus dedos gelados tremiam escandalosamente contra sua pele quente, mas eu não a deixaria vencer meu autocontrole. Não naquele momento, não naquele lugar.
- Por favor… – ofeguei, fechando os olhos por um momento e buscando a firmeza necessária para tornar minha voz um pouco mais audível. – Pare com isso.
- Parar com o quê? – Anahí sussurrou, como se estivéssemos brincando de esconde-esconde e não pudéssemos ser ouvidas, e seu sorriso passou a demonstrar também uma leve diversão. – Com isso?
Assim que pronunciou a última palavra, ela voltou a pressionar a parte interna de minha coxa, e eu novamente senti a onda de arrepios percorrer minha espinha. Meu aperto em seu pulso intensificou-se involuntariamente, transmitindo minha reação a ela e fazendo seu sorrisinho só aumentar, tornando-se até um baixo riso.
- Incrível como você está demorando a perder a graça. – ela falou, com os olhos maliciosos pairando em direção à estrada. – A cada dia, se torna ainda mais divertida, como um perigoso brinquedo que se renova constantemente… E se torna cada vez mais excitante.
Dessa vez, me recuperei mais rapidamente da provocação dela, bem a tempo de assimilar com o que ela estava me comparando.
Um brinquedo? Então era essa a imagem que ela tinha de mim? Um simples objeto, que ela podia subordinar às suas vontades quando bem entendesse?
Em que por/ra de mundo aquela vad/ia vivia pra se sentir no direito de me dizer algo como aquilo?
Uma raiva incontrolável começou a borbulhar em meu estômago, me fazendo pensar que voaria nela a qualquer momento e a mutilaria até que alguém conseguisse me parar. Respirei fundo, ainda sentindo minhas mãos tremerem, mas agora por outro motivo, e então a raiva atingiu em cheio minha garganta, escalando-a e queimando-a com tamanha fúria que minha voz parecia um rosnado quando as palavras irromperam de minha boca.
- Tire a sua mão imunda de mim. Agora.
Anahí virou o rosto para me encarar, com a expressão repentinamente séria. Ao encontrar meu olhar enraivecido, ela franziu a testa de leve, num misto de confusão e surpresa. Extremamente incomodada com seu insistente contato físico, eu voltei a falar, só que agora com o triplo de firmeza:
- Me solta, Portilla.
Ela parecia ter sido pega totalmente de surpresa pela minha reação negativa, e seus olhos não conseguiam se desgrudar dos meus, como se buscasse alguma explicação neles. Mas tudo que conseguia ver era o enorme nojo que eu sentia, e todos os velhos sentimentos que eu nutria por ela antes de toda aquela loucura começar. Apesar de ainda carregar uma enorme confusão em seus traços, ela pareceu entender o recado e finalmente me soltou, permitindo que minha respiração normalizasse. E então, tudo aconteceu muito rápido.
Uma buzina soou, vinda de trás de nosso carro, nos lembrando de que ainda estávamos na estrada. Alarmados, viramos o rosto bruscamente pra frente, e demos de cara com outro carro parado a menos de dois metros de nós. Anahí pisou no freio na mesma hora, com os olhos arregalados, e só Deus sabe como conseguiu fazer com que parássemos sem causar danos a nenhum dos automóveis.
Devido à parada brusca, fui impulsionada para frente, quase sendo enforcada pelo cinto de segurança, assim como Anahi. Ao mesmo tempo, um baque surdo e um quase grito de dor vieram do banco de trás, e eu nem precisei olhar para saber o que havia acontecido.
- Mai! – exclamei, assim que meu corpo voltou à posição normal com um movimento nada delicado, e me virei em sua direção. Ela havia caído no chão do carro, e procurava apoio desesperadamente nos bancos ao seu lado para voltar para cima, ainda soltando gemidos doloridos.
- Dul, tá tudo bem com você? Meu Deus do céu, Portilla, o que diabos foi isso? – ela disparou, em desespero, enquanto eu a ajudava como podia a deitar-se novamente, e me concentrava em não olhar para outra direção que não fosse o banco traseiro do carro.
- Desculpa, eu… Me distraí. – Anahí murmurou, ainda encarando com certo espanto o veículo à nossa frente, cujo motorista agora empurrava para o acostamento devido a um defeito. Engoli em seco, tentando acalmar meu coração descompassado, e assim que Maitê já estava em seu devido lugar, retornei à minha posição correta.
Levei alguns minutos para recuperar o fôlego e acalmar minhas mãos trêmulas, e para acelerar o processo, abaixei o vidro do carro, apesar do leve frio que fazia, deixando que o vento gelado invadisse meus pulmões com maior facilidade. Durante todo o caminho, Maitê se manteve acordada, porém assustada demais para falar, e com Anahi não foi diferente. Eu ainda sentia minha garganta fechada devido ao grito que prendi na hora da quase colisão, e não pretendia forçá-la tão cedo, ainda mais diante da presença de Anahí, com quem já não mais valia a pena falar. Até a leve proximidade de nossos corpos passou a me incomodar, me sufocar, como se houvessem mãos invisíveis me esganando.
Chegamos com certa rapidez a Miami, fato que me aliviou profundamente. Mais depressa ainda, devido ao trânsito calmo, o prédio de Maitê tornou-se visível, e em menos de cinco minutos, o carro já estava estacionado na frente do edifício. Anahí desligou o automóvel, afundando-nos num silêncio ainda maior, e Maitê foi a primeira a quebrá-lo:
- Erm, Anie… Muito obrigada mesmo pela ajuda. Desculpa ter te incomodado.
Anahí balançou a cabeça levemente em negação, e seus olhos mantiveram-se perdidos pelo painel do carro. Sem conseguir olhar para nenhuma das duas, continuei fitando minha calça jeans, até que Anahi saiu do carro e seguiu em direção ao porta-malas para pegar nossas mochilas. Fiz o mesmo, sentindo meu estômago afundar, e ajudei Maitê a se levantar, logo depois sendo auxiliada por Anahí. Fomos em silêncio até seu apartamento, passando por um Andy chocado ao ver o estado de Maitê, e só a soltamos quando ela já estava sentada em sua cama.
- Dul, você pode acompanhar a Anahi até a porta, por favor? – Maitê murmurou sem jeito, com um sorrisinho fraco, e antes que eu pudesse pensar numa resposta, Anahi se pronunciou:
- Não precisa, Maitê. Eu conheço o caminho.
- Hm… Bom, boa noite então. – Maitê não insistiu, sorrindo sinceramente agradecida e levemente preocupada com a amiga, o que só fez meu estômago afundar mais ainda em sinal de desânimo. – Te vejo amanhã… Eu acho.
- Se cuida. – Anahí murmurou, erguendo rapidamente um dos cantos de sua boca numa tentativa frustrada de sorrir, e nem sequer me olhou antes de ir embora. Fiquei paralisada por alguns segundos, e somente quando a porta do apartamento bateu, indicando que ela havia realmente partido, meu coração revirou dentro do peito, devolvendo-me a consciência. Ou pelo menos parte dela.
- Eu vou… Trancar a porta e… Eu já volto. – gaguejei, sem conseguir organizar as ideias em minha mente e sentindo minha garganta arranhar a cada palavra. A única coisa da qual eu tinha certeza absoluta era de que precisava ficar pelo menos cinco minutos sozinha, caso contrário seria capaz de morrer asfixiada. Maitê apenas assentiu, ajeitando-se melhor em sua cama, e eu praticamente corri até a entrada do apartamento. Girei a chave, que ainda balançava devido ao movimento de Anahí para fechar a porta, na fechadura, ouvindo a tranca mover-se discretamente, e apoiei minhas costas contra a madeira, sentindo minhas pernas tremerem perigosamente.
Abaixei a cabeça num ato derrotado, sendo tomada por pontadas fortes de dor no peito. Sem conseguir entender por que meus olhos estavam se enchendo d’água naquela velocidade monstruosa, desisti de lutar contra a fraqueza súbita de meus joelhos, deixando-os ceder ao meu peso e me derrubar sentada no chão. Enterrei meu rosto discretamente molhado por duas tímidas lágrimas e, por mais que estivesse tentando evitar, minha vontade de chorar só aumentava. Era inútil nadar contra a correnteza. Assim como era inútil fingir que eu não tinha me deixado envolver por Anahí, nem ao menos por um segundo… Seu cheiro, sua pele, seu calor, seu gosto, seu toque, tudo me convidava, me chamava, me envolvia, como um vício, uma praga, uma maldição.
Saber que ela pensava em mim daquela forma tão suja, tão superficial, como se eu fosse um simples brinquedo, foi um golpe duro, e mais dura ainda foi a consciência de que eu jamais poderia esperar mais do que isso dela. Mas, mesmo sabendo disso, eu não cumpri minha parte no trato. Eu me iludi, me deixei levar por sensações supérfluas, momentâneas, e que agora já não bastavam mais para mim. Eu precisava de alguém que realmente me amasse como Maitê me amava, mas que também pudesse me dar o que só Anahí era capaz de me dar. E apesar de me sentir certa em relação ao que havia feito com Anahi, era inegável que meu corpo já dava sinais claros de que sentia falta dela.
Mesmo sabendo que eu estava com a razão, tudo o que eu queria fazer era passar o resto da noite esperando inutilmente pelo momento em que ela voltaria, e eu poderia dizer tudo que estava entalado em minha garganta, mesmo que as palavras não fizessem sentido… Tudo o que eu queria era poder mostrar a ela o quão importante ela havia se tornado em minha vida, por mais errada que tivesse sido sua passagem por ela. E que, apesar de tudo, algo me dizia que ela não podia ficar longe de mim… Que eu não a querialonge de mim.
Mas esse momento não aconteceria, eu tinha plena consciência disso. Ela provavelmente já estaria dentro de um táxi naquele exato momento, voltando para sua enorme e deserta casa, e assim que chegasse, enterraria seu corpo sob o largo e grosso edredom de sua igualmente vasta cama… E igualmente vazia.
Visualizá-la sozinha naquele apartamento provocou uma fisgada insuportavelmente intensa em meu peito, e eu contive um gemido de dor. Respirei fundo, reunindo todas as forças que aquele fim de semana ainda havia me deixado, e focalizei meus pensamentos em uma única coisa. Maitê.
Ela sim me merecia. Ela sim me amava. Ela sim faria qualquer coisa por mim, eu sabia disso. E, no entanto, não era por ela que eu chorava. Só então eu percebi o quão injustas e traidoras minhas lágrimas eram, passando a queimar meus olhos conforme caíam, e trazendo consigo a pergunta que eu daria a vida para poder responder.
Por que eu insistia em seguir o caminho errado?
Aproveitando-me de um momento de lucidez, ergui meu rosto e engoli o choro, respirando profundamente. Enxuguei minhas lágrimas com as costas de minhas mãos trêmulas, e reunindo os pedaços de mim que ainda restavam, me levantei devagar. Meu caráter podia estar completamente destruído, mas ainda havia alguém por quem valia a pena sorrir. E agora que eu já havia me desfeito de uma de minhas metades, só o que me restava era cuidar da outra, que, naquele momento, precisava de mim mais do que nunca.
Mas talvez não tanto quanto eu precisava dela.
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Comentários da Fanfic 134
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AnBeah_portinon Postado em 23/03/2018 - 16:01:20
Perfeita! Isso descreve a fic. Eu já estava lendo no título de portisavirroni aí fiquei triste quando parou. Mas quando fui pesquisar denovo quase pulei de alegria com a continuação, e que continuação né?! Amei, principalmente porque sou do #TEAMPORTINON. Mas enfim foi tudo perfeito, mesmo com algumas brigas que só serviram para fortalecer e apimentar a relação delas. Bjs
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Furacao Maite Postado em 11/01/2018 - 00:51:49
aaaaah que fofinho! amei! Eu torciaa para savirroni no começo mas Jessyrroni é muito mais lindo kkkkkk Oooow, maei sua fic, primeiro pq teve muito jessyrroni e segundo porque vc escreve bastante!! ainda quero desenvolver esse dom seu! parabéns!!
Emily Fernandes Postado em 12/01/2018 - 20:57:17
Eu que amo suas fics. Adoro mesmo. Não importa se são capítulos grandes ou não. Mas acho que esse dom logo vc pega o jeito. E muito obrigada mesmo por gostar. E JESSIRRONI foi mesmo fofinho.
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MaryCR Postado em 30/12/2017 - 16:59:30
Não taça comentando pq tava com preguiça. Mas agora eu tô aqui. Mulher não tem como não ficar indecisa.Primeiro: vc gosta de me deixar na curiosidade hein. Me fez acreditar que quando minha mãe dizia ALEGRIA DE POBRE DURA POCO era verdade e depois que elas se acertaram eu pensei que ela me fez de trouxa. Segundo: como vc me faz acreditar que estava tudo ótimo e BUUM começa um capítulo com uma briga daquelas!? Era só avisar que me queria morta seria menos trágico. Terceiro:Anahí adora uma janela hein. Quando Dulce menos espera ela brota lá no quarto gente que isso!? Quarto: vô para de enumerar pq tá chato (rimei). Adorei portinon maternal,não pq a criança dos outros sempre desperta vontade de ter filhos na gente,apesar de achar q eu não teria muita paciência e por último e mais importante: COMO TU PARA NUMA PARTE DESSAS? Concluindo eu não sei se estou mais revoltada,feliz,confusa,raivosa,curiosa ou ansiosa. E olha que eu nem sou de libra ein. Povo mais indeciso não existe.
Emily Fernandes Postado em 31/12/2017 - 14:37:30
entendo, as vezes tbm fico assim, que nem da vontade de acordar. Eu nunca faço isso, mas realmente os capítulos estão terminando em momentos cruciais, fazer o que. Mães sempre tem razão, confie. A relação delas é uma montagem russa, porém acho que as brigas Jajá terão fim. Cara Anahí, é uma pessoa que realmente não curte portas, só espero que isso não ocorra com frequência, pq se não Dulce não vai mais ficar surpresa. Eu não tenho esse interesse maternal, nos filhos dos outros ainda, acho que é a idade. Porém confesso que crianças são minha perdição, acho que já está na hora delas começar a família. Mas vamos te tirar de libra pra vc continuar a leitura... E o que mais importa. Feliz ano novo. PS: Eu uma vez tbm, já deixei uma biblioteca, em uma fanfic que leio, e depois não consegui mais me conter em palavras. ahahahahahah.
MaryCR Postado em 30/12/2017 - 17:02:30
Nunca escrevi negócio tão grande kkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:14:05
que up na vida hein? Dulce médica! E que viagem doida é essa de 2 anos! coragem!!! kkk
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:18:21
Acho que a viagem venho a calhar, pq a insegurança e a rotina estava as afetando.
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:02:09
eitaaaa, estava tudo bem agora já começa o capitulo com uma briga? (19) genteeee, que babado
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:58:58
Ainda bem que a Dulce e Anahí brigaram mas fizeram as pazes no mesmo capitulo!
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:17:09
Sim, acho que elas combinam assim, mesmo. Acho que fica uma relação mais dinâmica. Kkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:55:16
Sou do time da Marichelo! Sou team Jessica Coch kkkkkkkkkkkk Também acho que é dificil de encontrar outra igual a ela! Maite tem sorte kkkk Mas ainda bem que a mãe da Anahí aceitou a Dulce!
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:15:53
É sim, digamos que Marichelo sempre adorou Jéssica, porém acho que Jéssica está ótima com Maitê não. Kkkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:51:48
vou colocar a fic em dia....
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MaryCR Postado em 24/12/2017 - 02:41:13
Pense em uma pessoa revoltada, pense em mim. EU VOU DA UMA VOADORA NA PERRONI sério. Eu vô e penso "até que enfim a perroni vai ajudar portinon" e fui TROUXA, ela fez exatamente o contrário. Dulce foi na casa da Portilla e huuum rolou uma putaria, eu pensei "agora o negócio vai" e fui trouxa denovo. Concluindo, portinon finalmente se acertou e a anie finalmente terminou com a Diana. Amém!! #revoltadaefeliz
Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:49:11
Meu Deus kkkk que pessoa indecisa. Bem mas eu Entendo seu drama. Maitê como sempre sendo Maitê, mas agora acho que o casal portinõn finalmente respirara mais aliviadas. Enfim um ótimo Natal pra vc . Bjs
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Furacao Maite Postado em 23/12/2017 - 17:39:09
Owwwnnnn que fofas!!! Achei q tdo estava perdido, q bom q deu tdo certo!!
Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:47:14
Sim, finalmente as coisas estão caminhando para Um finalmente sim. Kkk feliz Natal pra vc. Bjs