Fanfic: My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada | Tema: Portinon e Savirroni

- Garota, você vai fazer um buraco no chão! Para um pouco e respira! Pensa que isso pode ser uma brincadeira, nada sério. – Harry tentava inutilmente me acalmar, enquanto eu dava voltas pela sala e mordia ferozmente meu polegar. Vendo que seria inútil tentar argumentar, ele levantou e me chacoalhou pelos ombros. – Dulce, olha pra mim! Está agindo como uma louca, daqui a pouco suas pernas vão virar um cotoco de tanto que anda no mesmo lugar. Pode fazer o favor de se controlar?

- Harry, não consigo! Essas mensagens, frases soltas sobre o tempo e Chronos, o que significam?!

- Acha que eu sei?! Minha filha, se eu tivesse alguma ideia do que isso quer dizer, já tinha contado. Tudo pra você parar de se comportar como uma viciada em abstinência. – ele revirou os olhos e respirou fundo, levou a mão até minha bochecha, fazendo um leve carinho. Sua voz saiu calma e equilibrada, enquanto me olhava com preocupação. – Por favor, não deixe que isso afunde você. Estava tão forte durante esses dois anos, é perda de tempo perder a cabeça por algo que nem sabe o que é. Eu acho que o trabalho em excesso também está te prejudicando, tire umas férias.

- Não quero férias. Aquele lugar é minha única distração, entende?! Você, mais do que ninguém, sabe que eu só segurei a barra porque passo meus dias no hospital. Não posso parar agora.

- Virar uma workaholic não vai te ajudar.

- Mas me mantém sã.

- Eu não estou vendo ninguém sã agora. – abaixei a cabeça e ele levantou meu queixo com o indicador. – Chega, tá bom? Você vai tirar férias e viajar, conhecer novos lugares. Ligue para o hospital agora mesmo e faça isso.

- Harry, eu.. eu não posso.

- Dulce. – dessa vez quem interveio foi Sandy, que estava com cara de poucos amigos. – O Harry está certo. Chega. Você anda trabalhando demais. Eu sei o quanto ama seu emprego, que salvar vidas é sua maior paixão, mas e a sua? Enquanto está dando vida para outras pessoas, está deixando que a sua fique parada. Você precisa viver, sair um pouco de Manhattan, dessa bolha que se enfiou desde que Anahi foi embora. Por que não vai para Miami visitar a Demi? Tem quase um ano que vocês não se veem. Tenho certeza que o diretor do hospital vai te dar um bom tempo de férias, afinal, você nunca tirou. São dois anos acumulados, por isso, pegue essa folga e viaja para Miami. Não vou aceitar um não como resposta, é isso e acabou. Cansei de te ver entregue ao trabalho e deixando a vida passar, chega.

O silêncio se instaurou por alguns minutos. Harry olhava para Sandy com os olhos arregalados e a boca um pouco aberta em surpresa, assim como eu. Jamais esperei que a pequena tomasse a atitude de vir falar comigo daquela maneira, que mais pareceu um tapa na cara. Deixei meu corpo cair no sofá e tampei os olhos com as mãos, minha respiração estava pesada e comecei a sentir fortes dores no abdômen. Levantei correndo e fui em direção ao banheiro. Ótimo, não podia piorar.

- Sandy! – gritei pela pequena e ela veio ao meu auxílio com um semblante preocupado. – Você tem um o.b ai? Ou absorvente? O estresse foi tanto, que minha menstruação até desceu.

- Tenho sim, vou pegar.

- Obrigada.

Depois de finalmente me ajeitar e trocar de roupa, já que eu tinha deixado algumas peças na casa de Harry por conta das noites que passei por lá, voltei para a cozinha onde eles terminavam de fazer a comida. Passei levemente a mão pelo medalhão no meu peito e suspirei. No fundo, queria que aquilo tudo fosse invenção de Anahi, mas duvidava muito. A cólica estava forte, sentia uma pontada a cada cinco minutos e ficar em pé só complicava. Pedi licença para Harry e Sandy, me joguei no sofá e fiquei em posição fetal, abraçada com uma almofada.

- Boa noite! – Peter abriu a porta com um enorme sorriso e Harry correu para cumprimentá-lo. – Dulce, esse envelope estava no tapete. É pra você.

- Pra mim?! Mas eu nem moro aqui.

- Não chegou como carta. Alguém veio até aqui e colocou em cima do tapete. Só tem o seu nome, mais nada.

- Me dá isso. – ele me entregou o envelope branco e eu reparei que meu nome não estava escrito com caneta e sim, impresso. – Merda.

- O que foi?

- Não quero abrir. Isso já está me tirando do meu estado normal, vou ficar louca.

- Ai, me dá que eu leio. – Harry puxou o envelope da minha mão, abriu e retirou o papel. Percebi que não tinha muita coisa escrita, mas fez com que ele torcesse o nariz. – Bem, vamos lá..

“O tempo é muito lento para os que esperam

Muito rápido para os que têm medo

Muito longo para os que lamentam

Muito curto para os que festejam

Mas, para os que amam, o tempo é eterno.”

- Isso é do Henry Van Dyke.

- Como sabe? – Harry parecia tão confuso quanto eu.

- Ele é um dos meus autores favoritos.. – minha cabeça estava girando. Senti vontade de chorar por não saber o que fazer, me sentia cada vez mais encurralada. Tombei a cabeça no encosto do sofá e tentei buscar alguma resposta, mas nada veio. – Me sinto uma idiota.

- Por que?

- Porque tem alguém brincando comigo. Alguém que me conhece até demais, a ponto de colocar uma frase do Van Dyke na porta da casa do meu melhor amigo. Se ao menos alguém tivesse visto quem foi..

- O porteiro! – Sandy saiu correndo da cozinha e abriu um sorriso. – Só ele pode ter visto quem entrou aqui, além do mais, teria que ser alguém que conhece o prédio ou uma pessoa que more aqui.

- Sandy, você é uma gênia. Como não pensei nisso antes? – levantei com tanta pressa, que senti a cólica me atingir mais forte do que estava. Apertei levemente a barriga e respirei fundo. Como odiava ser mulher nessas horas. Abri a porta do apartamento de Harry e nem me preocupei em fechar, tomei uma reta em direção à portaria, não quis saber de elevador, a escada me parecia muito mais rápida naquele momento. Se tinha uma pessoa por trás disso, com certeza o porteiro ia me contar. – Thomas! Cadê você?

- Senhorita Dulce, algum problema? – o homem de mais ou menos quarenta anos, se levantou com pressa. – Parece que viu um fantasma.

- Ou quase isso. Thomas, pode me dizer quem veio deixar um envelope na porta do Harry?

- Eu não vi, senhorita. Estava lá atrás.

- Como não viu?! Alguém entrou nesse prédio e deixou um envelope pra mim, na casa do Harry. Como você não viu quem foi, Thomas?! Você tinha que dar permissão para a pessoa subir.

- Senhorita, eu juro que não vi. Se essa pessoa subiu, é porque tinha a chave do prédio.

- Merda. Tudo bem, obrigada.

Novamente de volta à estaca zero. Quem quer que fosse a pessoa que decidiu me atormentar, tinha a chave do prédio e conhecia o apartamento de Harry. Eu sempre soube que Anahí jamais chegou a esse ponto, afinal, foi embora antes mesmo de Harry se firmar com Peter e mudar-se para esse novo prédio. Isso só me deixou mais confusa e frustrada do que antes. Subi as escadas lentamente e entrei no apartamento, batendo a porta atrás de mim.

- Minha nossa, vai colocar minha casa abaixo. Pra que tanta violência?!

- Thomas não viu nada. Disse que se alguém veio até aqui, tinha as chaves do prédio.

- Isso não é possível, Dulce, ele..

- Por que não é possível?! Estou sendo perseguida por algum idiota, enlouquecendo com essas mensagens e você vem me dizer que não é possível?! E essa droga de medalhão? Pra que eu uso isso afinal?! – puxei o cordão com tanta força, que a corda arrebentou. Joguei a joia no chão e ouvi um barulho de fechadura se abrindo assim que ele colidiu com o piso de madeira. – Mas o que?

- Tem alguma coisa dentro dele. Espera, parece um..

- Cartão de memória. – olhei confusa para Harry, que saiu em disparada para pegar o notebook no quarto.

- Me dá, vamos ver o que tem dentro.

- Não sei porque, mas acho que não vou gostar de ver o que tem ai.

- Cala a boca. Olha, é um vídeo. – ele apertou para reproduzir e meu coração parou. Era uma cabine, parecia de um navio. Nas paredes, algumas fotos e percebi que eram minhas. Uma lâmpada fraca iluminava o ambiente, mas não tinha ninguém em frente à câmera. Até que um vulto surgiu e meus olhos se encheram d’água.

“Oi amor..

Era ela. Anahí estava bem ali. Vestia uma blusa azul, os cabelos presos em um rabo de cavalo e sem nenhuma maquiagem. O rosto limpo. A pele como sempre, bem branca e os olhos.. Como senti falta daqueles olhos. Ela sorria e meu coração batia feito um louco dentro do meu peito.

.. sei que não mando notícias pra você tem algum tempo, mas queria dizer que estou bem. Não tenho sido uma boa noiva, acho que você também pensa assim. Como eu sabia que uma hora tudo isso ia te tirar do sério e, consequentemente, te fazer isolar esse cordão, coloquei esse cartão de memória dentro dele. Bom, espero que você não tenha jogado no mar ou coisa parecida, senão esse vídeo terá sido totalmente inútil e eu odeio que me filmem..

Eu podia gritar, espernear, queria dar um soco no meio da cara dela, mas nada disso era maior do que minha vontade de agarrá-la e enchê-la de beijos. Sandy e Peter se juntaram a mim e Harry para assistir a mensagem de Anahí, que estava sorrindo para a tela. Não aparentava ter trinta e sete anos, era como se os dias na Grécia estivessem rejuvenescendo-a cada vez mais.

Continuando.. já fazem dois anos que não nos vemos e não temos contato. Isso tudo é culpa dessa expedição e não ter sinal de celular no navio. Quero te dizer que estou morrendo de saudade e que meu amor por você não diminuiu nada. Já passamos por situações piores, não é? Espero que não tenha arrumado ninguém nesse meio tempo e que tenha se dedicado exclusivamente ao trabalho, mas sem exageros, é claro. Só Zeus, sim, Zeus, porque agora eu só uso os deuses gregos como referência. Só ele sabe o quanto penso e desejo estar com você agora mesmo. Me perdoa por ter partido, mas eu prometo voltar. Só pra você, pro nosso apartamento, pro nosso mundo. Não sei quando isso vai acontecer, não posso te dar uma data certa, mas espero que em breve eu possa abraçar e beijar você de novo. Enquanto isso não acontece, aproveita. Divirta-se com seus amigos, vá visitar sua mãe e Demi, tenho certeza que elas sentem sua falta. Quanto ao deus Chronos, bem, isso eu vou deixar para explicar depois. Toda vez que sentir minha falta, olhe para o medalhão. Espero que não esteja destruído, foi um pouco difícil consegui-lo. Sei que vai cuidar bem dele e que terá certeza que estou sempre com você, mesmo estando tão longe. Tenho que desligar agora, vamos submergir de novo e, por sorte, consegui esse tempinho para gravar essa mensagem. Dulce María Espinosa Savinõn, eu te amo e penso em você a cada segundo dos meus dias. Fica bem, meu amor.“ – Anahí abriu um largo sorriso, seus olhos cheios d’água olhavam diretamente para a câmera e mandou um beijo no ar.

O vídeo acabou, a tela ficou preta e o silêncio novamente voltou a reinar. Eu estava sentindo um misto de emoções que não conseguia decifrar. Estava triste, desolada e ao mesmo tempo, feliz, ansiosa. Anahí me mandou aquela mensagem e tinha certeza que eu ia achar. Realmente, ninguém me conhecia melhor do que ela. O problema de tudo isso, é que minha saudade só aumentou e senti uma ferida já cicatrizada, voltar a doer.

- Que coisa mais linda. – Harry chorava e limpava suas lágrimas com o avental. Ele olhou para Peter e deu um tapa no braço do moreno. – Está vendo só?! Isso é amor, ai de você que não faça um parecido pra mim quando viajar. – caímos na gargalhada e percebi que aquilo tinha sido um truque para me distrair, o que funcionou. – Sei que foram muitas emoções, mas agora estou com fome e duvido que a Dulce não esteja, já que passou o dia no hospital.

- Você me pegou, estou faminta.

- Mesmo depois de ver a Anahí?

- É.. mesmo depois de vê-la.

O jantar foi tranquilo, apesar dos meus pensamentos me levarem de volta ao vídeo e de como ela estava. Parecia ainda mais nova do que quando partiu para a Grécia, e ainda mais bonita, se fosse possível. Ela não esqueceu, não me trocou por uma grega e sentia minha falta. Acho que, finalmente, as coisas estavam caminhando conforme a música. Peter me ajudou a consertar o cordão que eu havia arrebentado e agora, estávamos todos sentados na varanda do apartamento, tomando um bom vinho e jogando conversa fora.

- Estou tão feliz por você, mas não retiro a minha ordem de que tire férias. Até a Anahí, que está embarcada, pediu que não exagerasse. – Sandy tinha um sorriso maior que a cara e não escondia o quão empolgada o vídeo a deixou.

- Eu.. vou ligar pro hospital.

- Agora!

- Mas..

- Não tem mas, nem menos mas. Vai ligar agora e pedir as férias. Você viaja para Miami amanhã. – Harry tomou um gole de seu vinho e fechou os olhos para saboreá-lo.

- Minha mãe está em Ohio.

- E dai?! Demi vai estar lá, Selena. Por que não busca sua irmã na casa do seu pai e dá uma volta com ela? Ela fez aniversário a pouco tempo, pode comprar um presente. Não é todo dia que sua irmã faz quatorze anos.

- Não queria ver o meu pai. Tudo bem, vocês me convenceram. Vou ligar para a Claúdia e depois para a Demi, vou pedir que ela fique comigo na casa da minha mãe.

- Excelente, vou até abrir outro vinho para comemorar. – Harry tentou levantar, mas Peter o puxou pela manga do casaco e ele voltou a sentar.

- Já bebemos demais e as meninas precisam ir embora, Sandy de cinco em cinco segundos olha para o relógio.

- Isso é verdade, amanhã tenho paciente marcado para as oito da manhã. Vou indo. Dulce, vai ficar?

- Não, vou daqui a pouco.

- Tudo bem, nos vemos quando você voltar de Miami. – ela se despediu de nós e foi embora, deixando eu, Harry e Peter na varanda, completamente alterados.

- Bom, eu vou deitar. Dulce, fique à vontade, se quiser dormir ai..

- Pode deixar, Peter. Vou embora em dez minutos.

- Boa noite, menina, boa viagem. Quanto a você.. – ele lançou um olhar malicioso para Harry e deu um selinho leve nele. – Te espero na cama.

Peter levantou calmamente e dirigiu-se para os quartos, deixando Harry com uma cara pensativa, coisa que estranhei. Geralmente, quando isso acontecia, era porque algo o desagradava. A essa altura do campeonato, era só o que me faltava essa criatura estar pensando em se separar de Peter. Isso eu não podia permitir, mas antes, precisava saber dos motivos.

- Tudo bem, Harry Edward Styles. Conheço essa carinha, o que te perturba?

- Ai, Dul.. – seu suspiro prolongado e o fechar de olhos comprovou uma das minhas teorias. Ele estava cansado de algo.. ou de alguém. – De um tempo para cá, venho reparando que  Peter está estranho.

- Como assim?

- Como eu posso explicar? Bem.. ele vem chegando tarde às vezes. Já liguei para o escritório dele duas ou três vezes e sempre contradiziam as versões das histórias que ele me contava sobre ficar até tarde no trabalho. Não sei, Savinõn, acho que o Peter está me traindo.

- Que isso, viado?! Como pode pensar uma coisa dessas?!

- Até parece que você não ficaria surtada se fosse a Anahí fazendo isso. Vai negar?

- Não, é que..

- Olha, Dul, eu amo o Peter. Muito, mais do que eu pensei que fosse amar um dia. Ele me reconstruiu e cuidou de mim de uma maneira que nenhuma outra pessoa cuidou, mas se ele estiver me traindo, eu vou terminar.

- Não. Não pode fazer isso, ele te ama.

- Eu tenho cara de otário?! Se o Peter me traí, não me merece. A partir do momento que ele faz isso, está procurando em outras pessoas o que não acha em mim. Não quero ser só aquele cara a quem ele corre quando o dia do trabalho foi cansativo, ou quando quer esquentar o corpo na cama em uma noite fria. Quero ser a pessoa que ele compartilha tudo. O que está acontecendo com a gente?

- Você está se precipitando, pode não ser isso.

- Se for, já sabe o que eu vou fazer. Prepare-se para ter um novo colega de apartamento, porque vou morar com você. – ele limpou algumas lágrimas teimosas da bochecha e respirou fundo. Fiz um carinho leve em seus cabelos e lhe dei um beijo na testa.

- Eu tenho que ir, vocês mandaram eu viajar para Miami. Ainda tenho que comprar as passagens e nem liguei para a Demi.

- Tudo bem, eu sobrevivo a esse tempo sem você.

- Bom saber, agora vá dormir e lave o rosto. Não deixa essa história te abalar, tá bom?

- Pode deixar, faça boa viagem e me liga quando botar os seus delicados pés em Miami. – Harry me deu um beijo na bochecha e foi comigo até a porta. – Vê se não se afoga em um mar de saudade por causa da Anahí. Qualquer coisa, me grita.

- Eu te amo, Fairy.

- Eu sei, Savinõn.

- Convencido.

- Realista, querida.

Sai do apartamento dele com um sorriso fraco no rosto. Queria muito poder chegar em casa e ver Anahí me esperando, fosse com uma carinha emburrada ou apenas dormindo. Poder deitar e sentir seu corpo quente contra o meu, era um dos meus maiores desejos desde que Anahí passou pelo portão de embarque do aeroporto. Só queria tê-la por perto, mais nada. Acho que não estava pedindo demais, certo?

Não demorei mais do que vinte minutos para chegar em casa. Tudo muito escuro e silencioso, o que era normal a dois anos. Joguei a bolsa na mesa, peguei meu celular e me joguei no sofá, deixando a televisão ligada em qualquer canal. Procurei o nome de Demi nos contatos e decidi ligar, avisando da viagem e que era para ela me buscar no aeroporto, não ia dirigir até Miami.

- Minha nossa, é você?! Dulce Savinõn está me ligando?

- Sua palhaça! Como está?

- Muito bem, obrigada por lembrar que eu existo. Quais são as novidades? Anahí deu notícias?

- Sim, ela está bem. Me mandou um vídeo, mas disse que não sabe quando volta. Aliás, nem mesmo sei quando Anahi gravou isso. Sobre novidades, estou indo para Miami amanhã, Sandy me intimou a tirar férias.

- Fez ela muito bem. Vai vir dirigindo?

- Não. Pretendo conseguir um voo cedo e queria que você me buscasse no aeroporto. Vou buscar a Cláudia na casa do meu pai e passarei um tempo com ela, já que minha mãe foi pra Ohio com Roberto.

- Por mim, tudo bem. Mas deixa eu adivinhar.. quer que eu passe esse tempo com você, não é?! – a risada fraca dela me fez revirar os olhos. Demi Lovato me conhecia muito bem e sabia que eu não teria coragem de ficar sozinha com minha irmã por muito tempo. Apesar de amá-la, Cláudia estava se tornando uma adolescente, e essa é a pior fase.

- Sim, eu quero. Por favor!

- O que você não me pede chorando, que eu faço rindo?! Vou desligar agora e avisar ao Siope que vou tirar férias dele, depois me passa os dados do voo.

- Pode deixar. Até amanhã, Demi.

O apartamento parecia ainda maior e mais vazio. Era normal que toda vez que falava com Anahí ou sabia de algo dela, me sentisse estranha. Precisava logo resolver isso, não ia conseguir aguentar muito tempo fora do trabalho e, meu maior medo, era voltar para Miami e ter uma recaída. Afinal, foi lá onde tudo começou. Falando nisso, lembrei que precisava ligar para Cláudia e avisar que estava indo.

Um. Dois. Três toques depois, uma voz grossa e rude atendeu a ligação, julguei que fosse meu pai. Não consegui falar nada, era como se o Sr. Fernando não merecesse que eu gastasse minhas palavras com ele. Depois de muito tempo de silêncio, encerrei a ligação. Tomei um pouco de ar, fechei os olhos e liguei mais uma vez.

- Sim?

- Pai, sou eu.

- Dulce?!

- Tem alguma outra filha além de Cláudio e eu? - ele soltou uma risada nasal e suspirou. Estava preparada para ouvir a piada.

- Não, infelizmente. O que quer?

- Posso dizer o mesmo sobre ter você como pai. Quero falar com a Cláudia.

- Vou chamá-la. - como sempre, esses eram nossos diálogos. Alguma troca de farpa, indiferença e frieza. Queria me lembrar em que ponto da minha infância isso começou.

- Alô?!

- Pequena! Como você está?!

- Dul! Estou bem, só o papai que tem enchido bastante o saco.

- Eu te entendo, pequena.

- O que tem de novidade pra me contar? Anahí voltou? Vocês marcaram o casamento? Eu vou ser tia?

- Ei, acalme-se. Anahí não voltou, o que nega todas as suas outras perguntas. Estou ligando para avisar que vou pra Miami amanhã passar alguns dias de férias e queria saber se você quer ficar comigo.

- Jura?! Claro que eu quero! Vai me buscar?

- Vou sim. Amanhã, assim que pisar em Miami, te ligo. Arrume as suas coisas e fique atenta, devo chegar de manhã. Avisa ao papai e se ele reclamar, não hesite em me ligar, que eu resolvo. Agora vou comprar as passagens e dormir. Boa noite noite, Pequena. Te quiero.

- Boa noite, Dul. Te quiero.

Mais uma noite sozinha. As paredes do apartamento pareciam se fechar e eu suspirei, era como se tudo estivesse me preparando. Não sabia ao certo para o que, mas sentia que estava. Passei levemente o dedo pelo medalhão de Chronos, sentindo o velho arrepio quando ele encostou na pele do meu peito. Eu sabia que podia parecer loucura, mas era como se Anahi estivesse ali. De fato, aquele vídeo mexeu comigo e, recuperando o bom senso, agarrei meu notebook e corri para comprar as passagens. Chega de delírios.

Fiz um café forte e decidi dar uma olhada nas fichas dos meus últimos pacientes. Todas eram de operações bem sucedidas e outras, nem tanto, tendo que ter observação e acompanhamento integral. O diretor do hospital me liberou sem nem ao menos contestar, disse que estava aliviado em finalmente me dar algumas férias. Tive a permissão de me afastar por um mês, mas optei por apenas duas semanas. Ficar longe do trabalho era um pouco agonizante para mim. Acho que Harry estava certo, me tornei uma workaholic. Bom, cada um se diverte como pode.

Trabalhar em um hospital e mexer com vidas é uma coisa que não me imaginei fazendo quando era nova, sempre pensei em me tornar uma psicóloga ou algo parecido. Cardiologia era uma área prazerosa, mas ao mesmo tempo, desesperadora. A cada operação, eu brincava de Deus. Dependia de mim que aquela pessoa saísse daquela sala com vida e, quando perdi meu primeiro paciente, fiquei reclusa em casa, quase entrando em depressão. Lembro que Sandy me ajudou a passar por isso e conversava constantemente comigo, tornando-se minha psicanalista alguns meses depois. É bom tê-la por perto e desabafar, não que já não fizesse isso normalmente, mas ser analisada profissionalmente é completamente diferente.

Enquanto terminava de assinar os últimos prontuários que eu mandaria que buscassem na portaria amanhã, ouvi a campainha tocar.  Franzi o cenho e deixei a caneca de café na mesa, levantando para ver as horas. O relógio marcava onze e meia da noite. Quem em sã consciência passaria na minha casa a essa hora? O pior de tudo, queria saber porque diabos o porteiro não interfonou avisando que tinha alguém subindo. Pode até ser que seja ele querendo entregar a correspondência que eu esqueci de buscar. Muito bem, só pode ser isso. Caminhei até a porta e percebi que a campainha cessou.

- Desculpa, Gus, é que eu esqueci de.. – meus olhos arregalaram e meu corpo tensionou. Aquilo era real?! Eu só podia estar louca. – Ai meu Deus.