Fanfic: My biology ( Portinon e Savirroni) 1/2 temporada finalizada | Tema: Portinon e Savirroni
ANAHÍ POV
- Anahí, o que é isso?
- Isso?! – retirei o pano que cobria o pequeno ser no meu colo. Os olhos de Dulce brilharam ao ver o filhote branquinho de maltês. – É um cachorro.
- Mas.. é tão pequeno, fofo e.. me dá! – Dulce agarrou o filhote tão rápido, que mal tive tempo de reagir. Levantou o bichinho na altura de seu rosto e encostou a ponta de seu nariz no fucinho dele. Ela estava encantada. – Ele não tem cara de Chronos. Deixa eu ver..
- Não acha que ele tenha?
- Não. Chronos era o deus grego do tempo, não é?
- Sim.
- Mas essa coisinha fofa chegou pra me deixar mais viva, mais.. iluminada. Já sei!
- Então..
- Apolo. Deus do Sol. Me faz lembrar um pouco de Miami, sinto falta daquele calor e o clima tropical. Pronto, esse vai ser o seu nome. – ela colocou o filhote nos braços como um bebê e lhe deu um beijo.
- Que coisa mais linda. Se já estão enviadadas por causa de um filhote de cachorro, imagina quando uma criança chegar. – Harry estava sentado ao lado de Mari e Satori, as duas gargalhavam com os comentários dele, mas preferi ignorar.
- Você aprova?
- É a sua cara. Branco e fofo. – lhe dei um beijo e ouvimos um coro de owwn. – Eu tenho que comprar as coisas pra ele. Cama, vasilhas, preparar o ambiente, uma bolsa para carregá-lo..
- Dul, calma. Já está tudo aqui.
Ela estava eufórica, não parava de paparicar o filhote. Aliás, todas as mulheres decidiram esquecer do mundo e se dedicaram a levar Apolo para conhecer a casa. Chris e Thor apareceram na sala com quatro cervejas, entregando uma para mim e para Harry, que parecia fora de órbita. Nunca pensei que chegaria a me relacionar com pessoas muito mais novas que eu, mas não me arrependo. Tive poucos amigos na época de faculdade, talvez, agora fosse o momento certo para expandir esse ciclo. Encontrar Dulce fez minha vida virar de cabeça para baixo, mas nada como uma bagunça para melhorar qualquer pessoa.
- Vai fazer o que me contou?
- Como?!
- O seu plano.. você vai fazer? – Harry estava tão entretido em sua garrafa, que me perguntava sem ao menos me olhar.
- Vou sim. O problema é que a Dulce está tão entretida com o cachorro, que é capaz de não me dar atenção.
- Já está com ciúme do seu filhote?!
- Cala essa boca. – dei um tapa no braço dele, que fingiu incomodo. – Não estou com ciúme, só pensando em como vou distraí-la.
- Deixa o Apolo na casa da Blanca. Aposto que a Claúdia vai adorar brincar com o “sobrinho”. – fez aspas com os dedos e caiu na gargalhada. Era engraçado vê-lo como um amigo. Em pensar que infernizei a vida dele por alguns dias.
- É uma boa ideia. Harry, posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Por que vai embora?! Se tivesse falado comigo, teria arrumado um emprego para você por aqui. Dulce vai sentir tanto a sua falta.
- Para de enrolar e fala que vai morrer de saudade de mim, Portilla.
- Talvez.
- Talvez?! – ele levou a mão ao peito e fez uma falsa cara de ofendido. Neguei com a cabeça e suspirei. – Pensei que me amava.
- Não te amo e para de drama. Fala.
- Olha, Anahí, eu agradeço muito a sua vontade de me ter por perto e todo esse amor encubado que sente por mim.. – revirei os olhos e ele deu uma risada fraca, suspirando em seguida. – Mas eu preciso fazer isso, entende? Pela primeira vez consegui algo sem a ajuda de ninguém. É uma realização pra mim. Ver que o Peter teve vontade de correr atrás e ir comigo, é algo melhor ainda. Não me leve a mal, por favor, amo você e a Dulce demais, só que.. é uma fase nova da minha vida que quero percorrer sabendo que tudo foi conquistado por mim.
- Eu te entendo. Me senti assim quando mandei cartas para todas as faculdades que a Dulce enviou. Fiquei com medo de não ser aceita na que ela fosse escolhida.
- Mas seu curriculum é impecável. Sem contar que com essa beleza toda, não precisaria de uma ficha. Bastava o nome, telefone e uma foto de perfil.
- Você é ridículo, sabia?
- Sabia, mas você me ama mesmo assim.
- Claro, claro. Vai contando com isso.
O resto da noite foi bem tranquila. Não teve um jantar, apenas ajeitamos alguns petiscos e tomamos vinho. Dulce, Mari e Satori não paravam de agarrar Apolo e evitar que ele comesse grande parte dos sapatos e tapetes da casa. Esse era um assunto que eu e minha noiva teríamos que discutir. Minha noiva. Angelique estava certa quando falou que não me imaginava desse jeito, ainda mais com uma ex aluna. É incrível quanto o tempo pode mudar sua percepção das coisas. Dulce passou pela minha vida e se instalou de uma maneira incrível, nem eu mesma soube lidar. Ficar separada dela foi doloroso, mas não pretendia fazer de novo. Nem eu, muito menos ela, queríamos isso.
- Não vai, Fairy. Fica aqui comigo.
- Sapavinõn, não me faça chorar. – os dois estavam agarrados na porta da frente. Dulce se recusava a largar o pescoço de Harry e o mesmo fingia que tentava se soltar, mas suas mãos estavam envoltas na cintura dela. – Anda, me solta. Não torne as coisas mais difíceis.
- Eu odeio você. Prometeu que não me deixaria.
- Olha aqui, nada de drama. A senhorita já está alterada por causa do vinho.
- Viado. Escroto. Mentiroso. Te odeio.
- Sapatão. Cínica. Esnobe. Te detesto. – devo comentar que odeio drama, apesar de já ter feito bastante nos últimos anos. O problema é que a melação dos dois estava tão grande, que agarrei Apolo e fui com ele para o terraço. Queria que o pequeno corresse um pouco sem ter o risco de urinar em algum móvel ou tapete.
Subi as escadas e reparei no quanto o céu estava bonito. Uma enorme lua iluminava os prédios e vi seu reflexo no lago do Central Park. Me lembro das inúmeras vezes em que estava no navio da expedição e olhava a Lua refletida no mar. Me trazia de volta na mesma hora para Manhattan e, consequentemente, para Dulce. Muitas foram as noites em que deitei a cabeça no travesseiro e a imaginei comigo.
- Pensando na sua noiva de novo?
- Acho que já está dando para perceber, não é?
- Não é difícil. Eu faço isso bastante quando fico muito tempo sem ver minha esposa. É um trabalho complicado, mas quando nos encontramos, vale a espera. Já tentou ligar?
- Não tem sinal por aqui.
- Isso é um problema mesmo. – eu e Ryan estávamos no convés do navio e observávamos a costa. Raros eram os momentos em que podíamos descer para explorar a ilha de Santorini. Hoje era um desses momentos. – Daqui a uma hora podemos ir até à cidade. Você vai?
- Acho que sim.
- Vamos, Anahí. Ficar dentro desse navio fedendo a peixe não vai melhorar o seu humor. Podemos dar uma volta, tomar um bom vinho, comer alguma coisa. O que custa?!
- Tem razão. Me encontra no deck em uma hora.
- Assim que se fala. Hoje vamos nos permitir. Chega de sofrimento!
Ryan era uma ótima companhia e tínhamos gostos muito parecidos, por isso era tão fácil conversar com ela. Diversas vezes me peguei olhando para ela mais do que devia, mas não passava de um devaneio. De todos os tripulantes daquele navio de expedição, ela foi a que melhor se deu bem comigo. Afinal, nunca fui de fazer amizades com facilidade.
Minha cabine era particular, o que eu muito agradeci assim que coloquei os pés no The Icaros. O belíssimo barco abrigava uma das melhores equipes de expedição, era definitivamente uma chance de ouro e o reconhecimento que eu receberia, seria além do esperado. A busca por Atlântida e descobertas de outras espécies marinhas não catalogadas. Era tudo que eu sempre desejei fazer e agora, graças à Columbia, estava realizando meu sonho. Infelizmente, tudo tem um preço. Ficar dois anos longe de Dulce.
- Anahi?! Está vestida? Vou entrar.
- Pode entrar, Ryan.
- Desculpa, é que.. nossa.
- O que?!
- Você está linda! – me olhei no espelho e tentei reparar com outros olhos. Estava com uma calça jeans escura bem justa, uma camisa branca de manga cumprida que caia pelo ombro e meu coturno. Preferi prender o cabelo e apenas passar um lápis nos olhos. Simples, mas arrumada. – Vai caçar?
- Como assim?!
- Bonita desse jeito, está indo caçar alguém?!
- Para de falar besteira. – dei um empurrão leve em seu ombro e ela gargalhou. – Vamos logo, estou morrendo de fome e aquele restaurante que vimos da última vez deve estar aberto.
- Acho difícil não estar, mas caso esteja, procuramos outro.
- Tudo bem, vamos.
- Espera. – eu estava saindo da cabine quando ela me chamou de volta, entregando meu celular. – Leva, quem sabe você não consegue falar com ela?
- Eu.. acho melhor não.
- Por que?
- Porque a Dulce precisa se acostumar com a minha ausência, ainda temos um ano e meio pela frente. Se eu ficar o tempo todo procurando por ela, vai ser difícil que se concentre em algo. Prefiro não arriscar.
- Tudo bem, vamos de uma vez.
Saímos de braços entrelaçados pelos corredores do Icaros, vários tripulantes nos olhavam com uma cara engraçada. Provavelmente pensavam que Ryan e eu tínhamos um caso. Iludidos. Incontáveis foram as noites em que alguns homens vinham até nós para tentar alguma coisa, mas sempre desviamos. Esse foi um dos motivos para os rumores aumentarem. Não ligávamos, afinal, ninguém mais mexia conosco, independente de termos ou não algo.
A ilha de Santorini à noite era uma das coisas mais bonitas de se observar. Pessoas caminhavam pelas ruas e vielas, sempre com sorrisos no rosto e gargalhando por alguma coisa. Artistas de rua tocavam músicas locais, dançavam e outros pintavam uma coisa qualquer. Tinham muitos turistas, o que tornava a cidade ainda mais animada. Ryan e eu caminhamos até nosso lugar favorito, a Taverna Nikolas. Era um lugar aconchegante e bastante animado. Dona de uma excelente cartela de vinhos e dos melhores petiscos mezze. Sentamos em uma das mesas que dava vista para o mar e fizemos o pedido de sempre. Com o vinho já em mãos, iniciamos uma conversa agradável.
- O que vai fazer depois dessa expedição? – Ryan comia um dos petiscos e me encarou. Seu rosto estava levemente avermelhado graças à quantidade de vinho que tinha ingerido.
- Não faço ideia. E você?
- Vou transar loucamente com minha esposa.
- Ótima ideia. – ergui a taça para ela e tomei um gole, sentindo o amargo do vinho inundar meus lábios. – Estive pensando..
- Em que?
- Se.. assim.. casar.
- Está dando para trás?!
- Não é isso. Só acho que somos muito novas para casar.
- Anahí, me poupa. Você é uma mulher de trinta e cinco anos, não está nova. Dulce, sim. Se alguém pode escolher não se casar por achar que está nova demais, esse alguém é a sua noiva.
- Nossa, muito obrigada. – dei uma mordida em um dos petiscos e fechei os olhos para apreciar o gosto.
- Não me leve à mal, de verdade. Sei que está assustada e que um casamento é um passo gigante de uma relação, mas se você a ama da maneira que sei que ama, por que o medo?! Já passaram por tanta coisa, por que não deitar a cabeça no travesseiro depois de um dia cheio, olhar pro lado e só enxergar ela? Pensa bem.
- Foi o que aconteceu com você?
- Rachel é uma mulher difícil de se lidar.
- Não mais que a Dulce.
- Te garanto, ela é. – Ryan começou a rir e passava lentamente o dedo indicador pela borda de sua taça. – Foi tudo muito intenso entre nós, desde o início. Quando a conheci, dizia que era hétero e que estava apaixonada pelo nosso instrutor de acrobacia. Não entendia muito bem o motivo dela falar o tempo todo sobre isso quando estávamos sozinhas, mas acho que era só para me provocar.
- E como acabaram juntas?
- Isso foi engraçado. Estávamos ensaiando um número no arco, em que ela se pendura na minha perna e fazemos alguns movimentos no ar. Era bem difícil no início, caímos diversas vezes. Teve uma noite em que só nós duas estávamos no estúdio de dança, ensaiamos a tarde toda e eu estava esgotada. Rachel pediu para fazer uma última vez o número do arco. Como estava bem, digamos, apaixonada por ela, não hesitei. Subimos e quando já estávamos no ar, ela me beijou. Foi tão inesperado, que perdi o equilíbrio e caímos uma por cima da outra.
- E ai?! – estiquei o corpo para frente e ela gargalhou, cruzando os braços e fazendo uma cara desconfiada. – O que foi?
- Está querendo saber demais.
- Ah, Ryan, fala de uma vez! Vocês transaram?!
- Sim.. nós transamos. Foi intenso e digo que aquela foi a melhor transa que já tive. Ficamos dois anos juntas, e então, a pedi em casamento. Confesso que cheguei a pensar que ela não toparia, mas como pode ver, deu certo. Também passei pelas mesmas inseguranças que você está passando agora, mas te garanto, não existe nada melhor do que ter a garantia que a pessoa que você mais ama, tem um anel com o seu nome gravado para todo mundo ver. Entende?! Não estou dizendo que sem o anel ela vai te trair, mas aquele círculo dourado é a prova que ela pertence à alguém. Que pertence à você e a mais ninguém. Não a deixe escapar, Anahí.
- Obrigada.
Minha cabeça divagava sem parar, até sentir uma pequena mordida no meu dedo do pé. Apolo brincava com meu chinelo e estava elétrico, correndo de um lado para o outro no terraço. Soltei uma risada nasal ao vê-lo tropeçar nas próprias patinhas e cair desajeitado perto de um vaso de plantas. Levantei da espreguiçadeira e andei até a borda do terraço. A cidade de Manhattan nunca dormia, mas parecia relativamente quieta. Uma brisa gostosa bateu no meu rosto e fechei os olhos para senti-la. As velhas dúvidas estavam voltando, mas eu tinha que tentar colocar minha cabeça no lugar. Senti dois braços envolvendo minha cintura e abri um sorriso involuntário ao ouvir a risada de Dulce.
- Por que está aqui sozinha?
- Estava pensando e trouxe o Apolo para conhecer o terraço.
- Temos que colocar grade de proteção na piscina.
- Vou ver isso amanhã depois do trabalho. – ela deu a volta e ficou de frente para mim. Envolveu meu pescoço com seus braços e selou nossos lábios. Seus olhos tinham um brilho diferente, como se estivesse mais viva. – Você está linda.
- Você é linda.
- Dul.. posso te fazer uma pergunta?
- Claro. – Apolo correu em direção à Dulce e ela abaixou para pegá-lo no colo. O filhote parecia exausto de tanto correr em círculos.
- Você.. tem certeza que quer casar comigo? – ela, que antes brincava com Apolo fazendo carinho em seu fucinho, parou de rir e me encarou séria. – Calma, não é..
- O que quer dizer com isso? Não quer mais casar?!
- Não..
- Não?!
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Então o que é?! – sua voz estava tão firme, que quase tremi. A respiração dela estava mais pesada que o normal e se eu pudesse ouvir seu coração, teria a certeza que estava batendo mais que o normal. – Fala, Anahí.
- Calma. Você está tirando conclusões precipitadas. Em momento algum eu falei que não queria casar com você. Perguntei se você tem certeza que quer casar comigo.
- Por que isso agora?
- Eu.. não sei. Às vezes, sinto que não te mereço, que é boa demais pra mim. – caminhei de volta para a espreguiçadeira e me deitei, fechando os olhos. Senti o corpo quente de Dulce encostar no meu e ela se aninhou à mim. – Me desculpa.
- Preste atenção. Eu não acho que exista alguém nesse mundo que combine mais comigo do que você. Não comece com essa história de novo, por favor. Nos desgastamos durante um bom tempo por conta dessa sua insegurança, me recuso a passar por isso de novo.
- Não vamos passar, não se preocupe.
- Estou me sentindo um pouco enjoada.
- Comeu alguma coisa que não te fez bem?!
- Não sei, mas vou ao banheiro. Quero vomitar.
Ela levantou correndo e quase caiu da escada com a rapidez que desceu os degraus. Agarrei Apolo e segui Dulce até o térreo. Olhei para a sala e vi Chris conversando com Thor, mas nenhum sinal de Mari ou Satori. Deixei o filhote no chão e comecei a seguir a voz das meninas, até encontrá-las no banheiro do meu quarto. Minha irmã fez um sinal para que eu não me aproximasse e me puxou pelo braço para fora do quarto.
- O que está acontecendo?
- Ela não está bem, ué.
- E por causa disso eu não posso chegar perto dela?! – coloquei as mãos na cintura e bufei um pouco irritada. Mari revirou os olhos e foi comigo até a cozinha.
- Ela não gosta que você a veja passando mal, normal isso. Por que não pode entender?!
- Mas isso não faz sentido!
- Você gostava de passar mal na frente dos nossos pais ou de alguma namorada sua?!
- Não.
- Então pronto, ai está o seu sentido. Deixa ela se recompor e daqui a pouco vamos voltar para a sala. Vai fazer companhia pro Thor e Chris.
- Tá, tanto faz.
Caminhei a passos largos até a sala, me jogando no sofá e ligando a televisão. Ignorei os olhares assustados de Chris e Thor e comecei a correr pelos canais, procurando alguma coisa útil. Ótimo, programa culinário. Até que era divertido ver diversos chef’s lutando para decidir quem era o melhor. Algumas vezes eu me arriscava na cozinha, mas só em ocasiões especiais. Pensando nisso, tive uma ideia para incluir no meu plano perfeito. Levantei correndo e fui atrás do meu celular dentro da bolsa, quase tropeçando em Apolo, que brincava com uma bolinha de tênis do tamanho da sua cara.
- Ryan?!
- Anahí?!
- Não, o coelho da páscoa!
- Ainda bem que o senhor ligou, quero pedir adiantamento nos ovos do próximo ano e um extra grande com recheio de castanhas.
- Muito engraçado. – ouvi a gargalhada dela do outro lado da linha e andei com calma até a varanda, me sentando em uma das cadeiras. – Como está?
- Muito bem e você? Como vai a esposa?
- Estou bem. Não é esposa ainda.
- Essa demora está me matando, sabia né?!
- Você não tem motivo para ficar nervosa com a demora.
- Claro que tenho, vou aproveitar uma festa de casamento maravilhosa. Comer e beber de graça, ver a felicidade da minha amiga.
- Sei, claro. Bom, te liguei pelo seguinte motivo..
Conversei cerca de meia hora com Ryan, até Dulce aparecer na sala com uma cara abatida. Estava um pouco pálida e se encolhia de frio no sofá. Senti uma aflição ao vê-la daquele jeito, queria saber o que estava acontecendo, mas provavelmente devia ser algo que ela comeu. Afinal, Dulce só não come as portas porque tem certeza que são feitas de madeira. Desliguei a ligação com Ryan, prometendo entrar em contato o mais rápido possível. Andei até Dulce e a peguei no colo, levando-a para o quarto e deitando com ela na cama.
- Dul, o que aconteceu?
- Eu.. não sei. Senti um enjoo muito forte e não consegui parar de vomitar.
- Aposto que comeu alguma coisa que não te fez bem. O que almoçou hoje?
- Não faço ideia, não lembro. – a cara de dúvida dela me fez gargalhar, Dulce comia tanta coisa, que nem ao menos conseguia lembrar do que tinha almoçado. Dei um beijo em sua testa e levantei da cama. – Onde vai?
- Vou preparar um soro caseiro para você, está fraca depois de colocar tanta coisa pra fora. Amanhã vai trabalhar?
- Sim, tenho dois pacientes para ver.
- Te busco no hospital para irmos até a casa de Jéssica e Maitê.
- Tudo bem. – me aproximei dela e selei nossos lábios. Ela parecia tão frágil.
- Tenta descansar, vou buscar o soro.
- Obrigada, amor.
Depois de fazer tudo, preparar o soro e fazer Dulce tomar direito sem reclamar, não consegui dormir. Estava preocupada com ela, era difícil pregar o olho quando sua noiva está passando mal e indo de cinco em cinco minutos ao banheiro vomitar. Não queria deixar que ela fosse trabalhar, mas não adiantaria de nada. Quando o assunto é o hospital, ninguém impede Dulce de ir.
A correria que se instalou na casa não foi nada boa. Mari e Thor andavam de um lado para o outro brincando com Apolo. Chris e Satori trabalhavam na sala, tinham papéis e aparelhos eletrônicos por todos os lados. Dulce tomava banho e dizia que estava melhor. Eu, como sempre, era a mais tranquila. Enquanto tomava um café na cozinha, senti meu celular vibrando. Revirei os olhos quando li o nome de Vero no visor. Não estava nem um pouco afim de falar nada agora, mas se eu ignorasse, era capaz dela aparecer na sala de algum jeito.
- Bom dia.
- Bom dia. Como está a madrinha favorita?
- Te conheço, para falar assim, quer alguma coisa de mim. O que foi?
- Por favor, eu esqueci de pegar o bolo. Pode apanhar na confeitaria quando estiver a caminho?
- Faço isso pela minha afilhada, não por você.
- Obrigada, Portilla. Te devo uma. Até mais tarde.
- Tudo bem, até mais tarde.
Guardei o aparelho no bolso de trás da calça e olhei o relógio. Estava cinco minutos atrasada e o trânsito matinal de Manhattan não me ajudaria a chegar rápido na Columbia. Dulce apareceu na cozinha com sua roupa toda branca e senti meu corpo queimar. Era impressionante o quão sexy ela ficava quando colocava sua calça jeans colada, a blusa social e seus scarpins. De dois meses para cá, ela adotou o óculos de grau. Não preciso comentar o quanto aquilo tudo mexia comigo, especialmente quando Dulce prendia o cabelo. Ela se aproximou de mim com um sorriso malicioso e mordeu o lábio inferior, depositando um beijo calmo.
- Bom dia.
- Bom dia, pequena. Dormiu bem?
- Com uma segurança do sono como você, quem consegue dormir mal? – ela colocava café em uma xícara e eu dei uma risada, negando com a cabeça. – Não está atrasada?
- Sim, mas estou esperando por você. Te levo no hospital para não ter que deixar seu carro lá quando for te buscar.
- Tudo bem, não estou cem por cento para dirigir. Só vou pegar minha bolsa e vamos.
Depois de muito carinho e apertões em Apolo, Dulce e eu saímos juntas. Avisei aos meus irmãos que tomassem conta da casa e qual era a hora para nos encontrarmos e ir para a casa de Maitê. O carro de Dulce ficaria com eles e estavam encarregados de levar Apolo em segurança. Claro que a pessoa que deu essa ordem, foi Dulce, não eu. Dirigi com calma até o hospital e ela me deu um beijo rápido de despedida, correndo para dentro do enorme prédio. Respirei fundo e fui em direção à Columbia. Odiava me atrasar, cinco minutos até passava, mas quinze era demais.
Estacionei de qualquer jeito na minha vaga, peguei minhas coisas e corri para dentro da Columbia. O elevador parecia demorar uma eternidade, mesmo não tendo mais ninguém nos corredores. Cheguei na sala dos professores, bati meu ponto, guardei minhas coisas e andei com pressa até minha sala. Os alunos teriam uma bela decepção ao me ver, afinal, eu sabia que detestavam a minha aula e, mais ainda, a mim. Dentro da Columbia, eu era a Anahí Portilla, professora grossa e prepotente de Anatomia. O melhor de tudo é que eu gostava. Era prazeroso ver o quão bobos todos eles ficavam comigo.
- Bom dia, turma. – abri um sorriso enorme, mas não posso dizer o mesmo dos alunos. Assim que passei pela porta, pareciam ter recebido um tapa na cara. – Sentem agora e vamos começar essa aula.
Eles me obedeceram. Alguns me xingavam mentalmente e outros pareciam satisfeitos em me ver, os puxa sacos. Escrevi algumas coisas no quadro e pedi que anotassem. Faria uma pequena brincadeira com todos e gostaria de testá-los, adorava ver até onde a paciência de cada um ia. Sentei em cima da mesa e cruzei as pernas, sendo acompanhada por olhares de adolescentes famintos de desejo e com a testosterona pulando pelos poros. Fiz um coque em meu cabelo e apoiei os braços na mesa. Uma aluna morena levantou o braço e dei permissão para que ela falasse.
- Professora, o assunto de hoje é o fígado?
- Acho que está um pouco óbvio, não?! Afinal, está escrito no quadro. – alguns alunos começaram a rir baixinho e a menina revirou os olhos, voltando sua atenção para as folhas do caderno. – Hoje quero fazer uma brincadeira. Farei perguntas e quero respostas rápidas, de preferência, corretas. A cada acerto, meio ponto para a próxima prova. Mas se errarem, menos meio ponto. Aceitam?
- Isso é um absurdo. – a mesma morena cruzou os braços e me olhava com o cenho franzido. Abaixei a cabeça e soltei uma risada nasal. – Você não pode fazer isso, é contra as regras da faculdade.
- Regras da faculdade? – levantei da mesa e fui andando com calma até ela, que se encolhia cada vez mais na cadeira. Me aproximei o suficiente para sentir a respiração dela tocar o meu rosto. – Eu sou professora, faço minhas próprias regras. Eu escolho meus critérios de avaliação e, se quiser fazer desse jeito, vou fazer. A faculdade não vai me impedir. Já que está tão revoltada, será a primeira a responder a pergunta.
- Mas..
- Espero que tenha estudado. – abri um sorriso maldoso e ela engoliu em seco. Me afastei da cadeira dela e pude vê-la afundar na mesma. Andei de volta para minha mesa e sentei, respirando fundo e preparando a primeira pergunta. – Qual o seu nome, querida?
- Bloom.
- Certo, Bloom. Me diga, o que é a bile?
- É um fluido produzido pelo fígado. – ela abriu um sorriso vitorioso, mas eu jamais deixaria que aquela resposta vaga passasse. Eu queria que ela falhasse.
- Só tem isso para dizer?!
- Mas.. está correto.
- Se você me der essa resposta em uma prova, te dou apenas dois décimos. É ridícula, vaga, óbvia. Quero uma resposta melhor. Vamos.
- Eu.. eu.. não..
- Você não sabe?!
- Não. Eu..
- Que patético. Muito bem, turma. Já que a senhorita Bloom não sabe definir de forma perfeita e apropriada o que é a bile, mesmo estando no último período de Anatomia, vamos tentar explicar. Anotem. – os alunos pareciam aflitos abrindo seus cadernos e preparando a caneta para escrever o que fosse. – Vamos lá. A bile é um fluido produzido pelo fígado, que faz cerca de um litro de bile por dia. É armazenado na vesícula biliar, que tem capacidade de armazenar de 20 a 50 mililitros de bile. Atua na digestão de gorduras, através da ação da lípase pancreática, uma enzima produzida pelo pâncreas, determinados microrganismos para evitar a putrefação de alguns alimentos e na absorção de substâncias nutritivas da dieta ao passarem pelo intestino. Entendeu o que é uma resposta completa, senhorita Bloom?
- Sim, professora.
- Ótimo. Agora me diga sete funções do fígado.
- Eu..
- Não vai me dizer que não sabe essa também?
- Sim, eu sei. – o ódio estampado na cara da menina me divertia, era ótimo poder levar a pessoa ao seu limite máximo. - Produção de bile, síntese do colesterol, conversão de amônia em uréia, desintoxicação do organismo, destruição das hemácias.. e.. ai, meu Deus. Eu sei mais.
- Sabe?! Então diga, tem dez segundos para me dizer mais duas.
- Reciclagem de hormônios e.. – ela mordeu o lábio inferior e passou as duas mãos pelo cabelo. Eu queria que ela acertasse essa. Estava adorando esse jogo psicológico. - Síntese, armazenamento e quebra do glicogênio. – praticamente gritou o último e eu abri um sorriso satisfeito. Bloom suava frio e respirava com dificuldade.
- Parabéns, senhorita Bloom. Mas não vai receber nenhum ponto.
- O que?! Mas eu acertei!
- Sim, está correta. Você acertou uma.. mas errou a primeira pergunta que te fiz. Sendo assim, menos um, somado com mais um, dá..
- Zero..
- Exatamente. Pelo menos matemática você sabe. – virei de costas para ela com um sorriso vitorioso e voltei a me sentar na cadeira. – Quero um relatório sobre o funcionamento do fígado até o final da aula. Vocês têm vinte minutos.
Aproveitei o silêncio da turma para esfriar a cabeça. Estava o tempo todo pensando em Dulce, se ela estava bem. Se a pressão estava estabilizada, se passou mal de novo. Procurei o celular dentro da bolsa e comecei a tamborilar a tela. Queria mandar uma mensagem, mas sabia que ela provavelmente estava atendendo alguém e odiava ser interrompida. Pouco me importava. Abri o aplicativo de mensagens e decidi falar com ela.
“Dul, está tudo bem? Passou mal alguma vez?”
Enviado. Não conseguia entender o motivo de eu estar tão preocupada, afinal, Dulce estava em um hospital. Qualquer coisa que acontecesse com ela, eu saberia e cuidariam muito bem dela. Guardei o aparelho na bolsa e olhei o relógio da sala, faltavam cinco minutos para acabar a aula e eu precisava de um café fresco.
O sinal não demorou muito para tocar, e aos poucos minha mesa foi tomada por relatórios. Alguns enormes e outros inacabados. Enquanto organizava tudo dentro da pasta, senti uma presença na porta e virei para ver quem era. Ela. Aquela ruiva. Seu sorriso presunçoso estava estampado no rosto com algumas sardinhas. Apoiava-se na porta com os braços cruzados e me analisava. Decidi ignorá-la e voltei a atenção para meus papéis.
- Bom dia, professora.
- Bom dia.
- Nossa, quanta frieza. – ela entrou na sala e encostou na minha mesa. Meus olhos passearam pelo corpo da jovem e como em um estalo, voltei ao que estava fazendo, querendo correr dali. – Você vai me dar aula hoje.
- O que?! Claro que não. A sua professora é a Kungh.
- Ela faltou e a reitoria colocou você no lugar. Mal posso esperar para ver seus métodos de ensino. – encarei a jovem e ela mordeu o lábio inferior. Se afastou da mesa e foi em direção à porta. – Sala duzentos e dois. Até daqui a cinco minutos, professora Jauregui.
A ruiva deixou a sala e minhas pernas não conseguiam sair do lugar. Só podia ser alguma brincadeira de mal gosto, não é possível. O que uma aluna ia querer comigo?! O pior de tudo, como ela sabia quem eu era, se nunca dei aula para a turma dela?! Bom, hoje isso mudaria. Teria uma conversa séria com a Kungh, eu não voltaria a pegar a turma dela na sua ausência. Não mesmo. Recolhi minhas coisas e sai às pressas da sala, cruzando com a ruiva no corredor, que conversava com Bloom. Ótimo, então elas eram amigas?! Isso seria divertido.
Na sala dos professores, fiz questão de deixar claro para o coordenador que não pegaria a turma de Kungh mais uma vez e ele concordou sem pestanejar. Tomei um café bem quente e peguei o plano de aula que Kungh tinha deixado pronto para que eu assumisse sua turma. Ótimo, Anatomia básica mais uma vez. Ossos, veias. Era tão cansativo. Fui me arrastando até a sala duzentos e dois. Assim que abri a porta, todos os alunos arregalaram os olhos. Muitos não sabiam que Kungh faltaria e, com certeza, se impressionaram ao me ver. Diferente de mim, Kungh era uma mulher de cinquenta anos, com a cara completamente plastificada e seu corpo não via a hora de parar de receber enchimentos ou plásticas. Deixei o material em cima da mesa e tomei fôlego. A ruiva estava sentada na primeira fileira e seu sorriso presunçoso rasgava seu rosto.
- Bom dia, turma. Sou a professora Anahí Portilla. A professora Kungh não pode vir e sobrou para mim. Só por hoje, deixando bem claro. – alguns reviraram os olhos e outros adotaram expressões chateadas. Menos ela. A ruiva continuava com seu sorriso no rosto. – Não falo sobre Anatomia básica tem muito tempo, por isso, quero saber qual foi a última coisa que a Kungh passou.
- Estávamos dando o esqueleto humano. – uma menina com cara de quinze anos levantou a mão e falou. Era aquele tipo de criança prodígio.
- Esqueleto humano. Ótimo. – andei até a frente da mesa e cruzei os braços, pensando no que poderia fazer. – A melhor maneira de aprender sobre os ossos, é usando alguém como exemplo.
- Mas temos um esqueleto na sala do sexto andar. – um garoto com jeito de filhinho de papai, comentou. Estava com os pés para cima da mesa e um sorriso convencido no rosto. Andei até ele e o mesmo cruzou os braços.
- Está afim de subir até o sexto andar e trazer um esqueleto?
- Não, eu..
- Muito menos eu. Enquanto eu estiver falando, quero você quieto. Entendeu?! Outra coisa, abaixe seus pés agora, essa não é a sua casa e não vou suportar ver um mauricinho como você, pensar que pode fazer o que quiser aqui dentro.
- Essa não é a sua aula.
- Sim, ela é. Tenho o poder de te tirar daqui ou zerar seus relatórios. Kungh não está aqui. Entendeu?! Abaixa os pés, agora. – fuzilei o menino com os olhos, que retirou rapidamente os pés da mesa e ajeitou sua postura, engolindo em seco. – Ótimo.
Andei de volta para frente da sala e massageei as têmporas. Não estava afim de dar aula para o primeiro período, mas era uma obrigação. Abri os olhos e encarei a ruiva, que continuava a me analisar. O que essa menina quer afinal?! Passei a mão pelo rosto e dei de ombros, sentando na mesa e cruzando os braços. Todos os alunos acompanhavam meus movimentos com cautela.
- Professora, por que não usa um de nós como exemplo? – a ruiva comentou e todos pareciam animados com a ideia. Menos eu.
- Por que usaria?
- Temos um esqueleto, pode nos usar.
- Que coisa óbvia, achava que não tinha um esqueleto.
- E se eu não tivesse?! Podia ser de titânio ou aço.
- Continua sendo um esqueleto. – ela revirou os olhos e cocei levemente o queixo. Até que a ideia dela não era ruim. – Tudo bem, vou usar um de vocês como exemplo.
- Eu posso ser a cobaia.
- Não, você é grande. Quero alguém menor. – a ruiva franziu o cenho e começou a correr os olhos pela sala, torcendo para que não tivesse ninguém menor que ela. Por sorte, encontrei uma menina no canto. Ela estava viajando em seus próprios pensamentos, nem percebendo minha aproximação. – Qual o seu nome?
- Melody.
- Pode me acompanhar?
- Mas.. eu não fiz nada.
- Idiota, ela só quer te usar como exemplo. – a voz da ruiva cortou o silêncio e olhei para ela com cara de poucos amigos. Quer dizer que a senhorita sorriso estava com ciúme?! Ótimo.
- Vamos, Melody. Vou só te usar como exemplo para explicar algumas coisas sobre o esqueleto.
- Tudo bem.
Estendi a mão para ela e fui caminhando com Melody até a frente da sala. A ruiva parecia que ia explodir a qualquer momento, o que me divertia até demais. Ajeitei Melody da maneira que eu queria e a confortei, não estava ali para tirar a roupa dela nem nada demais. A maneira que ela me encarava, me lembrava de Dulce no início de tudo, me fazendo abrir um sorriso involuntário, correspondido pela pequena.
- Vamos lá. Qual é a principal função do esqueleto?
- Proteger determinados órgãos vitais. – a turma falou em conjunto e eu abri um sorriso de satisfação. A única que não sorria era a ruiva, que a cada toque meu em Melody, se mexia impaciente na cadeira.
- Exatamente. Por exemplo, o encéfalo, que é protegido pelo crânio. E também os pulmões e o coração, que são protegidos pelas costelas e pelo esterno. – fui explicando e tateando o corpo de Melody com cuidado. Sentia o coração da menina bater fora de controle e a ruiva bufar em sua cadeira. - Os ossos do corpo humano variam de formato e tamanho, sendo o maior deles o fêmur, que fica na coxa.. – encostei levemente na coxa de Melody e ela tremeu. A turma toda prestava atenção e alguns anotavam. - .. e o menor, o estribo, que fica dentro do ouvido médio. – cutuquei o ouvido da menina e ela gargalhou com a cosquinha.
- Professora, os ossos também realizam a produção das células sanguíneas, não é? – um menino gordinho levantou a mão e os outros olharam para ele e, em seguida, para mim.
- Você está certo, parabéns. Outras funções em geral dos ossos incluem sustentação do corpo, locomoção, produção de células sanguíneas e reserva de cálcio. – olhei para Melody e fiz um sinal para que ela fosse sentar. Agradeci a ela com um abraço, o que fez a ruiva franzir mais ainda o cenho e inflar suas narinas. - O esqueleto feminino difere um pouco do masculino. Alguém pode me dar um exemplo?
- Na pélvis, que o formato favorece a saída de um bebê do útero da mãe. – a ruiva falou entre dentes e eu dei um sorriso fraco, como se ela não tivesse falado nada demais.
- Está certa. Quantos ossos tem um esqueleto de um adulto?
- Duzentos e seis.
- E de um recém nascido?
- Duzentos e setenta.
- Pode falar mais sobre isso?
- Os bebês nascem com estruturas entre alguns ossos do crânio, chamadas fontanelas, popularmente chamadas moleiras. São estruturas frágeis, que com o passar dos anos, tendem a desaparecer. Existem para permitir a passagem do bebê pelo canal vaginal no parto e crescimento do encéfalo.
- É.. parece que temos uma senhorita sabe tudo aqui. – a turma toda explodiu em uma gargalhada e a ruiva levantou de sua cadeira, um pouco exaltada. – Algum problema?
- Nenhum. Só quero beber água. Com licença.
- Você não tem permissão para ir.
- Tudo bem, posso ir?
- Não. Sente-se. Quando eu acabar minha aula, você vai. – nossos olhares se cruzaram e eu a via me metralhar por eles. Isso era altamente divertido e toda essa revolta me lembrava de.. Dulce. Mas que merda. Olhei o relógio e faltavam apenas dez minutos para a aula acabar. Passei a mão pelos cabelos e respirei fundo. – Façam um relatório sobre o esqueleto e entreguem. Depois disso, estão liberados.
De pouco em pouco, assim como na outra turma, minha mesa ficou lotada de relatórios, mas bem feitos. Era incrível o quanto os alunos vão ficando relaxados com o passar dos períodos. A sala já estava completamente vazia, exceto por uma pessoa irritada na minha frente. A ruivinha estava com as pernas cruzadas e tamborilava com as unhas na mesa. Ignorei sua impaciência e continuei guardando os relatórios na pasta de Kungh. Percebendo que eu não lhe daria trela, a ruiva se levantou e bateu com as duas mãos na mesa. Levantei o olhar para ela e ergui uma sobrancelha.
- Você se acha, não é?!
- Estamos falando de mim ou de você?
- Eu não me acho.
- Claro. – terminei de organizar os papéis de Kaugh e peguei minha bolsa. – Sua sorte é que eu não sou a sua professora, caso fosse, estaria reprovada.
- Costumava fazer isso?
- Você não faz ideia.
- Nos vemos no próximo período então, professora Portilla.
- Devo saber seu nome ou vai continuar com o mistério?
- Nadia. Nadia Yanik. – ela falou seu nome e virou as costas, saindo da sala com pressa. Joguei o pescoço para trás e respirei fundo. Era só o que me faltava, mais uma aluna louca na minha vida.
Enquanto andava para fora da Columbia, senti meu celular vibrando dentro da bolsa. Se tem uma coisa que eu odeio, mas não vivo sem, é minha bolsa. Quando preciso pegar alguma coisa, demoro cinco minutos procurando e o celular parece ostar de se esconder. Parei em frente a uma das mesas do pátio e com dificuldade, alcancei o aparelho. Mensagem de Dulce.
“Estou bem, não se preocupe. Está vindo me buscar agora? Não respondi antes porque estava atendendo meus pacientes. Temos que conversar. Te amo.”
Só eu que detesto quando me avisam que têm que conversar?! Por que não fala logo tudo de uma vez? Poupa a chateação e as possíveis suposições. Guardei o celular no bolso de trás da calça e andei a passos largos até o estacionamento. De longe, vi Nadia parada no ponto do ônibus. Ela me encarava e eu podia sentir toda a sua raiva por conta da nossa pequena discussão. Pouco me importei, dei de ombros e entrei no carro, dirigindo em direção ao hospital.
Trânsito. Acidente. Sinal vermelho. Pedestres atravessando. Bicicletas. Tudo estava atrapalhando meu caminho até Dulce. Depois de quinze minutos, estacionei em frente ao enorme hospital e ela já estava parada na porta com cara de poucos amigos. Abriu a porta do carro e me deu um beijo rápido na bochecha, voltando a olhar para frente. Arranquei com o carro e fingi não me importar que ela estava com uma cara estranha. Tentei encostar nela, mas Dulce desviou do meu toque. Franzi o cenho e olhei séria para ela, voltando a atenção para a estrada logo em seguida.
- Nossa, quanto carinho. Desculpa pelo atraso, mas se você não se lembra, moramos em Manhattan e..
- Anahí, eu estou grávida.
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Comentários da Fanfic 134
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AnBeah_portinon Postado em 23/03/2018 - 16:01:20
Perfeita! Isso descreve a fic. Eu já estava lendo no título de portisavirroni aí fiquei triste quando parou. Mas quando fui pesquisar denovo quase pulei de alegria com a continuação, e que continuação né?! Amei, principalmente porque sou do #TEAMPORTINON. Mas enfim foi tudo perfeito, mesmo com algumas brigas que só serviram para fortalecer e apimentar a relação delas. Bjs
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Furacao Maite Postado em 11/01/2018 - 00:51:49
aaaaah que fofinho! amei! Eu torciaa para savirroni no começo mas Jessyrroni é muito mais lindo kkkkkk Oooow, maei sua fic, primeiro pq teve muito jessyrroni e segundo porque vc escreve bastante!! ainda quero desenvolver esse dom seu! parabéns!!
Emily Fernandes Postado em 12/01/2018 - 20:57:17
Eu que amo suas fics. Adoro mesmo. Não importa se são capítulos grandes ou não. Mas acho que esse dom logo vc pega o jeito. E muito obrigada mesmo por gostar. E JESSIRRONI foi mesmo fofinho.
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MaryCR Postado em 30/12/2017 - 16:59:30
Não taça comentando pq tava com preguiça. Mas agora eu tô aqui. Mulher não tem como não ficar indecisa.Primeiro: vc gosta de me deixar na curiosidade hein. Me fez acreditar que quando minha mãe dizia ALEGRIA DE POBRE DURA POCO era verdade e depois que elas se acertaram eu pensei que ela me fez de trouxa. Segundo: como vc me faz acreditar que estava tudo ótimo e BUUM começa um capítulo com uma briga daquelas!? Era só avisar que me queria morta seria menos trágico. Terceiro:Anahí adora uma janela hein. Quando Dulce menos espera ela brota lá no quarto gente que isso!? Quarto: vô para de enumerar pq tá chato (rimei). Adorei portinon maternal,não pq a criança dos outros sempre desperta vontade de ter filhos na gente,apesar de achar q eu não teria muita paciência e por último e mais importante: COMO TU PARA NUMA PARTE DESSAS? Concluindo eu não sei se estou mais revoltada,feliz,confusa,raivosa,curiosa ou ansiosa. E olha que eu nem sou de libra ein. Povo mais indeciso não existe.
Emily Fernandes Postado em 31/12/2017 - 14:37:30
entendo, as vezes tbm fico assim, que nem da vontade de acordar. Eu nunca faço isso, mas realmente os capítulos estão terminando em momentos cruciais, fazer o que. Mães sempre tem razão, confie. A relação delas é uma montagem russa, porém acho que as brigas Jajá terão fim. Cara Anahí, é uma pessoa que realmente não curte portas, só espero que isso não ocorra com frequência, pq se não Dulce não vai mais ficar surpresa. Eu não tenho esse interesse maternal, nos filhos dos outros ainda, acho que é a idade. Porém confesso que crianças são minha perdição, acho que já está na hora delas começar a família. Mas vamos te tirar de libra pra vc continuar a leitura... E o que mais importa. Feliz ano novo. PS: Eu uma vez tbm, já deixei uma biblioteca, em uma fanfic que leio, e depois não consegui mais me conter em palavras. ahahahahahah.
MaryCR Postado em 30/12/2017 - 17:02:30
Nunca escrevi negócio tão grande kkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:14:05
que up na vida hein? Dulce médica! E que viagem doida é essa de 2 anos! coragem!!! kkk
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:18:21
Acho que a viagem venho a calhar, pq a insegurança e a rotina estava as afetando.
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 01:02:09
eitaaaa, estava tudo bem agora já começa o capitulo com uma briga? (19) genteeee, que babado
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:58:58
Ainda bem que a Dulce e Anahí brigaram mas fizeram as pazes no mesmo capitulo!
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:17:09
Sim, acho que elas combinam assim, mesmo. Acho que fica uma relação mais dinâmica. Kkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:55:16
Sou do time da Marichelo! Sou team Jessica Coch kkkkkkkkkkkk Também acho que é dificil de encontrar outra igual a ela! Maite tem sorte kkkk Mas ainda bem que a mãe da Anahí aceitou a Dulce!
Emily Fernandes Postado em 29/12/2017 - 14:15:53
É sim, digamos que Marichelo sempre adorou Jéssica, porém acho que Jéssica está ótima com Maitê não. Kkkk
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Furacao Maite Postado em 29/12/2017 - 00:51:48
vou colocar a fic em dia....
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MaryCR Postado em 24/12/2017 - 02:41:13
Pense em uma pessoa revoltada, pense em mim. EU VOU DA UMA VOADORA NA PERRONI sério. Eu vô e penso "até que enfim a perroni vai ajudar portinon" e fui TROUXA, ela fez exatamente o contrário. Dulce foi na casa da Portilla e huuum rolou uma putaria, eu pensei "agora o negócio vai" e fui trouxa denovo. Concluindo, portinon finalmente se acertou e a anie finalmente terminou com a Diana. Amém!! #revoltadaefeliz
Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:49:11
Meu Deus kkkk que pessoa indecisa. Bem mas eu Entendo seu drama. Maitê como sempre sendo Maitê, mas agora acho que o casal portinõn finalmente respirara mais aliviadas. Enfim um ótimo Natal pra vc . Bjs
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Furacao Maite Postado em 23/12/2017 - 17:39:09
Owwwnnnn que fofas!!! Achei q tdo estava perdido, q bom q deu tdo certo!!
Emily Fernandes Postado em 25/12/2017 - 12:47:14
Sim, finalmente as coisas estão caminhando para Um finalmente sim. Kkk feliz Natal pra vc. Bjs