Fanfic: Anahi _A Filha Da Princesa | Tema: AyA Adp
O dia passou batido na minha frente, sem que eu pudesse evitar.
Depois do constrangimento causado pelo falastrão do Hugo, sumi do jardim e
tratei de ir fazer alguma coisa produtiva, como tirar mamãe do tédio de ficar deitada o dia todo, obedecendo às orientações médicas.
Aconcheguei-me a ela na biblioteca e por lá ficamos a tarde inteira — como nos velhos tempos —, com direito a discussões acaloradas sobre alguns livros e um lanche preparado especialmente para nós, levado por Karenina lá pelas tantas.
A parte chata foi que tive de voltar ao meu quarto antes do que pretendia.
Afinal eu não fazia ideia do que vestiria para o tal jantar com a família do noivo de Maite.
— Por que não usa o vestido que seu pai lhe deu de Natal? — sugeriu mamãe, preparando-se para tomar um banho e começar a se aprontar para a festa.
— O preto de renda?
Até que era uma boa opção. Ainda não tive oportunidade de usá-lo e ele é uma
mistura de meiguice e volúpia — não que eu tenha intenção de sair sensualizando, de qualquer forma.
Agora, poucos minutos antes de descer até o jardim de inverno, eu me olho no espelho e me pergunto se não deveria ter escolhido outro figurino. Não sei se papai ao menos imaginou que o vestido ficaria tão curto e justo demais na cintura. Se eu comer mais que um camarão, corro o risco de as costuras
estourarem.
Dou um suspiro, cogitando a possibilidade de fingir um mal súbito ou coisa parecida, com o objetivo de não ter que comparecer ao jantar vestida desse jeito. Porém, antes de começar a arquitetar um plano de fuga, alguém bate à
porta, obrigando-me a abortar a missão.
— Posso entrar?
Minha mãe. Graças a Deus!
— Acho que não vou descer — declaro, desanimada.
— Mas por quê? Você está tão linda!
— Mãe, mal consigo respirar.
Ela me analisa com atenção. Enquanto cultivo minha crise de insegurança, mamãe me aparece toda poderosa, com seu belo vestido de noite azul royal.
— O modelo é assim mesmo, bem ajustado na cintura. — Ela tenta me tranquilizar. — E, com um corpo desse, que mal faz exibir suas curvas de vez em quando? Garanto que lá na Nigéria isso era impensável, não?
Acho graça. Essa é a nossa princesa! Sempre encarando as situações com otimismo.
Para não dar uma de coitada, aceito a opinião dela. O máximo que pode acontecer, além de ficar sem respirar, é receber um ou outro olhar atravessado dos avós do noivo de Maite — caso ele tenha avós, claro.
Descemos de elevador até o andar térreo. Mamãe e eu encontramos meu pai no hall de entrada do castelo, de testa franzida. Ele não esconde o incômodo por ver sua grávida esposa de pé, caminhando com as próprias pernas.
— Por que não me chamou, Mari? — Papai vai até ela e analisa suas feições.
— Não sei se é bom ficar andando por aí. A Médica disse...
— Que estou ótima e que não faz mal algum exercitar os músculos de vez em quando — completa minha mãe, não dando brecha para o sermão.
Escondo o riso.
De cara amarrada, meu pai nos acompanha até o jardim de inverno, depois de beijar sua princesa e questionar a altura da bainha do meu vestido.
Sou obrigada a refrescar sua memória, afinal, foi ele quem comprou a roupa e a deu de presente para mim. Lógico que papai bufa.
No jardim, somos recebidos por Maite, que está incrível num vestido nude.
Toda a família já está presente, incluindo meu avô Andrej, Irina e Hugo. Passo por eles com um cumprimento rápido, pois, mais adiante, sentada numa das extremidades da mesa, tia Ruth acena para mim.
Sorrio e vou ao seu encontro. Faz tempo que não a vejo.
— Anahi, minha querida! Você não imagina como estamos felizes em tê-la conosco neste momento especial.
Eu me inclino e a abraço. É uma pena que uma mulher tão ativa e dinâmica
— e ainda jovem — tenha seus movimentos restringidos por uma cadeira de rodas. Mais triste ainda é saber que alguém que só pensa em fazer o bem às pessoas seja obrigada a aceitar uma rasteira tão sacana do destino. Na verdade, ela já levou duas — e das grandes.
— Fez bem em vir ficar com sua mãe. — Tia Ruth aprova meu gesto. — Ela vai precisar de um cabresto, senão é bem capaz de desobedecer à recomendação da médica.
Sento-me numa cadeira vazia ao lado dela e dou um sorriso. Está coberta de razão. Minha mãe não é fácil.
— Se vai — concordo, com a coluna vertebral ereta feito uma vara de bambu.
Se eu reclinar um milímetro que seja, o pouco de ar que estou conseguindo mandar para o pulmão vai acabar. — E, tia, você está linda.
— Que nada! — retruca minha tia, alisando a saia que cobre as pernas imóveis. — Bonita está você, ainda mais do que antes de viajar. Parece mais madura. A vida dura transforma mesmo as pessoas, não é?
Movo a cabeça, aceitando sua opinião, mas, no íntimo, sinto que tia Ruth refere-se à própria vida. Deixo passar.
Nós duas engatamos uma conversa despretensiosa e animada, que fica ainda melhor quando Dulce, minha prima do meio, começa a participar. Falamos sobre a decoração, o clima agradável, o trabalho de voluntariado na Nigéria, a chegada de novos bebês à família — que, por acaso, serão meus irmãos —, a rotina de Dulce como médica num hospital de urgências e emergências. Só evitamos tocar num assunto para não azedar a noite: Alfonso.
Com a sutilidade característica, vovô encarrega-se de divertir os convidados com histórias engraçadas. Soube que tanto tia Ruth quanto Irina o proibiram de falar sobre política, economia ou qualquer outro assunto mais sério.
Entre sorrisos e brindes, observo papai cochichando no ouvido da minha mãe, que abre um sorriso iluminado, como se ele tivesse revelado que buscou a lua só para dar a ela. Acho que nunca vou conhecer outro amor assim.
Maite e o noivo parecem dois passarinhos. É nítida a alegria de ambos, bem como dos pais dele.
Mais uma vez, tenho aquela sensação acolhedora de estar de volta ao lar.
Perfeito seria só se vovó Olívia e a bisa Nair também estivessem presentes. Ah!
E madrinha Estela, tio Artur, Débora e Beatriz, suas filhas adolescentes. Meu padrinho Ivan também faz falta, mas depois que decidiu se tornar agente do namorado, Erick, o vocalista de uma banda de rock sueca, ele não para mais na Krósvia.
Estou em débito com todos. Minha próxima ação será entrar em contato com eles e me desculpar pelo sumiço e falta de consideração. Amanhã Faminta, levanto-me da cadeira e paro diante do aparador de frutas e petiscos.
Começo a me servir, tentando equilibrar minha fome e a decisão de não extrapolar, quando ouço vozes exaltadas atrás de mim. Eu me viro para conferir o que está acontecendo.
E então eu o vejo.
Depois de anos conseguindo evitar encontros indesejados, eis que surge Alfonso: lindo e tempestuoso, como sempre.
Diversos fatos ocorrem simultaneamente à chegada inesperada dele:
Alfonso surge no jardim de inverno tentando se esquivar de dois seguranças truculentos, que se esforçam para impedi-lo de avançar.
Meu pai se ergue da cadeira e encobre mamãe com o próprio corpo, ao mesmo tempo que tenta dar uma de herói para cima do meu avô.
Deduzo que ele não reconheceu o invasor. Ainda.
O rei, achando que sua missão na vida é ser o salvador em qualquer situação, avança alguns passos, pronto para agir independentemente de saber ou não contra o quê — ou quem, na verdade.
Minha mãe fica de pé e sai da barreira humana formada por papai e seus quase 2 metros de altura. Pela expressão em seu rosto, acredito que esteja prestes a descobrir a identidade do penetra, se é que já
não sabe.
Antes que a princesa da Krósvia possa fazer alguma coisa a respeito da informação que aparenta possuir...
O noivo de Maite e seu pai vão atrás de vovô, dispostos a entrar na batalha, caso ela venha a ocorrer.
Mas é tia Ruth, cuja visão da cena é a pior possível, uma vez que quase todo mundo postou-se de pé na frente dela, que interrompe as ações impulsivas e esclarece a situação:
— Ei! Parem! É o Alfonso!
Ainda bem que minha tia gritou, bem a tempo de impedir que um dos seguranças metesse uma bala na cabeça do filho.
Surpresos com os gritos da irmã do rei Andrej, os seguranças libertam os braços de Alfonso, que, arrogante como ele só, abre um sorriso vitorioso, potente feito uma lâmpada de 15 mil watts.
— Oi, família! — Alfonso acena para todos nós, enquanto encurta a distância que o separa da mesa de jantar. — Nem acredito que não me esperaram.
Seu tom é irônico, mas Maite passa por cima desse detalhe e se joga nos braços
do irmão.
— Alfonso, meu querido! Obrigada por vir! Não sabe como me deixou feliz.
Percebo que a expressão de superioridade dele derrete um pouco ao prestar atenção na irmã. Ele até se permite sorrir sem sarcasmo ou empáfia.
Meu coração parece um tambor e faz todo meu corpo pulsar ao seu ritmo.
Não consigo tirar os olhos de cima de Alfonso, que está diferente, embora, ao mesmo tempo, não tenha mudado nada. Seus cabelos já não são tão escuros e estão cortados curtos, ao contrário da última vez que o vi.
Mas ele não me nota. Ou finge que não.
Não sei se agradeço ou desmorono de decepção. Contínuo estática ao lado do aparador, com o prato nas mãos, completamente vazio, espectadora da cena que se desenrola diante de mim.
— Parabéns, Mai. Você merece ser feliz — declara ele com convicção.
— Ei, e eu, seu puxa-saco? — Dulce cruza os braços e faz cara de magoada. — Ou só a Maite é merecedora dessas suas profecias de quinta categoria?
Ela está brincando. Dá para ver. Alfonso entra na onda da irmã do meio e responde:
— Fui pego.
Os três riem, cúmplices, amorosos e à vontade um com o outro.
Ninguém faz mais nada, a não ser observar e esperar. Inclusive tia Ruth.
Desvio a direção do meu olhar e a surpreendo, impassível, em sua cadeira de
rodas. Agora meu coração disparado se parte em pedaços. Gostaria de ir até ela, mas sei que não é isso que vai consolá-la.
Meu avô pigarreia forte. Sua testa está franzida.
— Então você finalmente apareceu. — O rei não parece muito satisfeito. — Quanto tempo! Deixou sua mãe muito preocupada.
Ai, que aflição! O clima está tenso, e eu detesto isso. De repente, noto que mamãe não para de me encarar. Tenho a impressão de que ela está estudando minhas reações à presença de Alfonso. Por mais que eu
tenha tentado guardar para mim mesma o que eu sentia por ele na adolescência, nunca fui boa em esconder esse segredo dela.
Fico vermelha quando a princesa Marichello me dá uma piscadinha discreta. Não sei o que pensar disso.
— Pois é, tio. Vida corrida. Sabe como é — explica Alfonso, e desvia sua atenção
à mãe. Tia Ruth, discretamente, seca uma lágrima teimosa. — Tudo bem,mãe?
Ele é seco. E frio. E cruel.
— Tudo, meu filho. Melhor agora, que você está em casa.
— Até o casamento da Maite— completa Alfonso, sem demonstrar qualquer intenção de chegar perto de tia Ruth.
Tenho vontade de socá-lo. De sacudir seus ombros até que entre um pouco de lucidez e compaixão naquela cabeça idiota.
Irina — apaziguadora como sempre, para quebrar o clima (penso eu) — pede às ajudantes que preparem mais um lugar à mesa. Depois indica uma cadeira a Alfonso e sorri, como se quisesse dizer: “Por favor, não estrague a noite.”
Ele não cria caso e atende à solicitação da rainha. Mas, para chegar ao lugar, precisa passar pela maioria dos convidados. Logo, querendo ou não, cumprimenta um por um, inclusive meu pai, que não é nada simpático e só balança a cabeça uma vez.
Por outro lado, mamãe o enlaça num abraço caloroso e lhe sussurra algumas
palavras, pelo jeito, bem afetuosas. Vejo Alfonso sorrir encabulado e pouco à vontade.
Quando se dá conta de que entre a cadeira onde deve se sentar e o lugar em que está só há mais uma pessoa, a única que ainda não cumprimentou, ele puxa o ar com força, como se já não suportasse mais tanta cerimônia, antes de olhar para conferir quem é.
E é então que ele me vê. Nossos olhares se cruzam pela primeira vez, e eu,imediatamente, me torno uma geleia mole e ofegante.
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Autor(a): ponnyayalove
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 5
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tatahaya Postado em 12/01/2018 - 17:40:16
Continua tava um tempo sem net,amando
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tatahaya Postado em 20/12/2017 - 22:49:56
continua
ponnyayalove Postado em 21/12/2017 - 23:45:54
Continuando flor <3
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ginja2011 Postado em 19/11/2017 - 05:18:37
Espero que você não se aborreça, mas tem fics que começou ano passado e este ano que contêm só um capítulo, outras três, cinco, sete enfim favoritei todas elas e nenhuma você deu continuidade ou concluiu, vai acontecer o mesmo com ESSA?
ponnyayalove Postado em 19/11/2017 - 15:33:17
Não haha eu ainda vou concluir todas as minhas fic ,essa é uma adaptação então eu vou concluir ela em breve .peço perdão por não ter postado nas outras ,mais eu estava sem tempo e sem criatividade ,mais esse ano me formo ai ano que vem terei tempo de sobra para postar em todas fics minhas .