Fanfics Brasil - Capítulo 17 A arte da vida ( adaptada) ayd

Fanfic: A arte da vida ( adaptada) ayd | Tema: Portinon (ayd)


Capítulo: Capítulo 17

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Ajeito melhor minha mochila e suspiro ansiosa, me corroendo de vontade de finalmente fazer o que eu faria naquele final de tarde.


Apaixonar sempre é algo que acontece gradativamente, sem você perceber e quando você nota já está afundado em sentimentos que são impossíveis de conter ou evitar de sentir. Apaixonar por alguém que torna o simples ato de amar uma coisa complicada é difícil, mas as vezes vale a pena quando ambas as partes querem dar continuidade ao que possuem.


As pessoas complicam o amor, e eu me sinto corajosa de me arriscar nesse sentimento.


Empurro a porta do estabelecimento e pego meu celular, estava apenas três minutos adiantada. Olho ao meu redor e caminho em direção a uma mesa que estava livre de qualquer pessoa, deixo minha mochila ao meu lado e junto minhas mãos, informando a atendente de que esperaria mais alguns minutos para fazer meu pedido já que aguardava companhia.


Ergo minha cabeça e meu olhar prontamente foca em uma pessoa. Eu poderia facilmente acha-la em uma multidão sem qualquer problema. Estava linda, estonteante, como sempre. O vestido azul marinho extremamente justo abraçava o corpo incrível de Dulce, os detalhes deixavam partes de sua pele bronzeada evidente, os saltos altos apenas a deixavam ainda mais linda e a jaqueta de couro preta complementava o visual.


Automaticamente me senti desleixada, como sempre acabava acontecendo.


- Boa noite. – Para em minha frente e então ocupa o lugar.


- Boa noite. – Analiso seu rosto, sentindo meu coração acelerar.


Não podia deixar de me sentir eufórica com o simples fato de estar em sua presença.


Faziam apenas duas semanas que não nos víamos, mas pareciam séculos. Estar sem sua companhia é como estar sem ar para respirar, é como se nada mais fizesse sentido ou pudesse funcionar. Ficar sem seus beijos, toques, carinhos e cuidados é um passe livre para a insanidade.


- Anahí pare de me olhar assim. – Comprimo os lábios, desviando o olhar no mesmo instante.


- Olhar de que jeito? – Encolho meus ombros.


- Você sabe qual. – Reviro os olhos – Não revire os olhos para mim. – Bufo e ela passa a mão pela testa – Anahí nós já conversamos que tínhamos que parar de nos encontrar, aconteceu algo? Você está precisando de di...


- Dulce. – A interrompo – Eu não preciso de dinheiro. – Suspiro – Eu preciso de você, eu preciso que continuemos nos encontrando e... – Seguro suas mãos e noto sua respiração ficando acelerada.


- Anahí isso não pode acontecer, e você sabe. – Desfaz os contatos de nossas mãos, olhando ao nosso redor para checar se alguém estava nos olhando.


Dulce trabalhava há anos com o seu pai, estava no seu primeiro ano administrando um setor inteiro da empresa e é uma mulher bem-sucedida, mas extremamente dependente dos pais tanto de uma maneira emocional quanto financeira. Ela é mais velha, bem, apenas sete anos e vinte sete dias, e para ela nosso relacionamento é ultrajante, além de completamente inadmissível.



Mas po/rra, eu a amava, com tudo de mim. Não podia oferecer nada além do meu amor, mas meu amor conseguia ser maior de tudo o que ficava em falta. Eu tinha a mim para oferecer e esperava que ela compreendesse isso. Esperava que apenas o meu amor, toda a minha devoção e fidelidade fosse o suficiente para ela querer ficar comigo.


Nos conhecemos através de sua irmã mais nova, Demétria. Demi namora minha melhor amigo Selena, e ao irmos para a sua casa aproveitar a gigantesca piscina e passar um dia divertido me deu a oportunidade de ver Dulce pela primeira vez. Na primeira vez que nos vimos ela estava vestida de uma maneira bem casual, e foi tão gentil com todos, foi amor à primeira vista.


A segunda vez que nos encontramos foi quando Demi precisou passou em sua casa para pegar algo, me sentei em seu sofá e pude observa-las conversarem e no meio de uma conversa me peguei sentindo uma vontade surreal de me aproximar, mas não fiz. Todas as vezes que nos encontrávamos depois eram com a presença das duas pessoas que tínhamos em comum, Selena e Demi. Todas as vezes conseguia notar seu olhar sobre mim, e o quanto ela ficava nervosa quando eu a encarava fixamente.


- Dulce... – Sinto meus olhos arderem – Por favor, o que eu... – Paro de falar no mesmo momento quando a mulher se aproxima de nossa mesa.


- Vocês vão pedir? – Questiona entediada.


- Um combo 15 para ela e para mim apenas uma água, obrigada. – Comprimo os lábios, ela sabia que eu não estava me alimentando direito.


- Não estou com fome.


- Pois vai comer. – Responde brava – Anahí você precisa entender que...


- Que o que? – Olho no fundo dos seus olhos – Você disse que me amava, Dulce. – Ela abaixa o olhar – Você me disse que amava ficar comigo, e que sempre se esquecia da minha idade e de todo o resto quando estávamos juntas, o que mudou? – Seguro a sua mão – Você não pode simplesmente esquecer de nós, você não pode desistir de nós assim.


- Anahí, não existe nós. – Comprimo meus lábios – Não mais.


- Então por que você está aqui? – Seus olhos perdidos procuram os meus – Por que você está aqui ainda cuidando de mim? Por que tudo em você grita o oposto de tudo o que você me diz?


- Porque é algo que eu quero, mas é algo que eu não posso. – Responde simplesmente.


Dulce já havia me dito o que seu pai achava de pessoas do mesmo sexo se relacionando, assim como tinha deixado bem claro o quanto a aprovação dele era de suma importância para que ela se sentisse bem consigo mesma. Mas Dulce, como qualquer outro ser humano, não é perfeita e nem nasceu para fazer a vontade daqueles que a cercam, e ela precisava compreender isso.


Minhas investidas na irmã da minha amiga fizeram ela me notar, e então abriram um espaço para que eu finalmente conseguisse ficar a sós com ela em um dia. Me ofereci a Selena para conversar com Dulce sobre uma festa surpresa de Demi, hesitantemente Dul concordou com a minha presença em seu apartamento e bastaram apenas quarenta minutos de conversa para que eu não resistisse a nossa proximidade.


Jamais me esquecerei do olhar surpreso de Dulce após afastarmos nossos lábios e a maneira afobada em que ela me expulsou de seu apartamento. Mesmo magoada com sua reação não podia evitar de sentir meu coração acelerando ao me recordar do sabor doce de seus lábios todas as vezes que fechava meus olhos.


- Bom apetite. – A mulher coloca o prato de fritas com um hambúrguer mais um copo de suco gigante na minha frente.


- Obrigada. – Respondo sem muita vontade.


Estava apenas com um pouco de fome, não me alimentei direito nessas duas semanas por diversos motivos, e tê-la em minha frente depois de tanto tempo para uma conversa importante como aquela deixava meu estômago embrulhado.



- Não vai comer, Anahí?


- Disse que não estou com fome, vim para conversar. – Cruzo os braços e Dulce suspira alto.


- Tudo bem. – Vira um pouco de sal em minhas batatas e empurra o prato para mais perto de mim – Você é muito teimosa. – Comenta irritada, pegando um canudo e colocando no copo grande de suco – Vamos conversar enquanto você come. Agora, coma. – Ordena e eu bufo, teria que dar meu braço a torcer.


- Eu sou teimosa e você é mandona. – Mordo o meu lanche.


Enquanto comia podia sentir seu olhar fixo em mim, variando em meus lábios para minhas mãos que vez ou outra pegavam uma batata do prato, assim como podia facilmente notar a vontade que ela sentia de roubar um pouco da comida do meu prato -algo que sempre fazia desde que nos envolvemos-, Dulce ama dividir tudo comigo.


Coloco um pouco de ketchup no canto do prato e empurro o mesmo para o centro da mesa.


- Coma. – Ela ama batatas com ketchup.


- Você não queria conversar?


- Você diz que falar enquanto comemos é falta de educação. – Respondo depois de engolir, Dulce sorri de canto e concorda com a cabeça.


Nós voltamos a nos beijar na festa surpresa de Demi, na dispensa da cozinha em um momento completamente inesperado. Dulce me atacou com seus lábios macios; fiz questão de bagunçar seu cabelo macio e subir uma daquelas suas saias justas que me deixam louca; derrubamos uma série de mantimentos que haviam por lá, algo que nos fez recobrar a consciência.


Após nosso segundo beijo Dulce tentou fugir de mim dizendo que aquele beijo havia sido um grande erro, mas após eu impedi-la de sair da dispensa e implorar para nos encontramos mais uma vez para que pudéssemos discutir sobre aquilo combinamos de nos encontrar dois dias depois da festa, em sua casa.


Aos poucos fui montando minha morada em seu coração, me encarreguei de conquista-la cada dia mais.
Uma vez por semana desviava o caminho do meu emprego para deixar um buque de alguma flor em frente a porta de seu apartamento; ou quando estava sem dinheiro optava por deixar um simples poema ou trecho de qualquer texto do escritor pelo qual Dulce é apaixonada. Quando nos encontrávamos fazia questão de demonstrar o quão culta eu poderia ser durante nossas conversas mais singelas; ou o quão madura eu poderia ser para lidar com o nosso relacionamento, aceitando qualquer coisa que Dulce propusesse; além de sempre mostrar que eu poderia ser uma amante muito melhor do que qualquer outra pessoa já havia sido.


- O que te fez mudar de ideia? – Questiono assim que entramos no carro.


Sabia que ela não se sentiria a vontade conversando onde qualquer pessoa poderia nos ouvir.


- Você nunca me disse, apenas terminou as coisas e foi embora. – Noto algumas gotas caírem contra o vidro, iria começar a chover.


- Não é certo, Anahí. – Sussurra encarando o próprio colo – Maitê disse que estou ficando louca de estar levando tudo isso a diante. E ela tem razão. – Comprimo os lábios – E esse amor está nos consumindo e tornando proporções assustadoras.


- Com consumindo e tornando proporções assustadoras você quer dizer que ele está se tornando cada vez mais sério e mais real? – Viro meu rosto, a encarando – Podia ser nada, mas tornou-se algo. – Sinto uma vontade gigantesca de chorar – Nós paramos de nos encontrar apenas para transar, porra, nós passamos a jantar e a dormir na mesma cama, nós passamos a ser um casal de verdade.


- Isso é insano, Anahí.


- Que nos tornemos as melhores amigas da insanidade então, Dulce. – A chuva começa a aumentar – Nós nunca brigamos seriamente, nós nos damos tão bem e eu me sinto tão completa com você, e cada pedaço de mim me diz que você se sente da mesma maneira, então me diga o porquê! – Ela permanece em silencio, com os olhos marejados – Por que você não me quer mais? Por que você não quer dar continuidade ao que temos?


- Eu estou destruindo seu futuro e o meu, estamos nos prendendo a algo que não tem futuro. Isso é inadmissível, estamos nos destruindo com algo assim, Anahí. – Aquilo não soava nada como Dulce.


- Meu Deus, olha o que você está fazendo e dizendo. Isso não acontecia antes, o que te fez mudar de opinião do dia para noite, Dulce? – Não fazia sentido em minha cabeça.


Na sexta à noite chegamos à conclusão que iriamos namorar, que finalmente nomearíamos aquilo que possuíamos. Nós jantamos e fizemos amor na sala de tevê de Dulce, sobre o seu tapete enquanto trocávamos olhares apaixonados. Pelo sábado de manhã tomamos café da manhã em sua cama e eu me encarreguei de massagear seus pés enquanto assistia televisão baixinho para que ela pudesse concentrar-se naquilo que trabalhava em seu computador; a noite tive que trabalhar e ela teve um jantar com sua amiga Maitê.


Domingo à noite Dulce passou em casa para que déssemos uma volta, que se resumiu a uma volta em meu quarteirão, e então ela estacionando em frente da minha casa para terminar nosso namoro de horas, após meses de estarmos juntas. Assim, do nada, de repente como se fosse uma grande piada.


Achei que fosse uma pegadinha a princípio, então quando vi ela chorando e seus olhos berrando tristeza soube que ela estava falando sério, comecei a chorar e implorei por uma explicação, que nunca veio. Apenas desci do carro aquele dia e corri para dentro de casa, enjoada demais para conseguir ouvir qualquer outra coisa.


Hoje havia sido meu estopim de saudade, senti uma necessidade surreal de vê-la mais uma vez e finalmente exigir uma justificativa para o termino, mas eu só conseguia ser enrolada por palavras sem sentidos e que jamais sairiam de Dulce por vontade própria. E isso me irritava.


- Foi Maitê? – Me viro parcialmente – Foi ela que falou para você terminar comigo? – Dulce começa a chorar, fico ainda mais impaciente – Você encontrou alguém melhor? Alguém rico? Um homem talvez? – Ela me olha chocada.


- Não diga besteira. – Parecia irritada com as minhas perguntas.


- Então o que é, o que te fez terminar comigo do nada, Dulce? – Questiono mais uma vez antes de explodir e expressar como toda aquela bagunça sentimental me afetava – Eu exijo saber porque você terminou comigo do nada e fez com que eu me sentisse um lixo e, mais uma vez, desmerecedora de um amor. – Ela sabia como eu sou sensível em relação a sentimentos e mesmo assim de descartou facilmente – DULCE. – Dou um tapa no painel a minha frente, vendo ela se encolher – ME DIGA, POR/RA, EU PRECISO SABER PORQUE EU NÃO SOU MERECEDORA DO AMOR DA ADMIRÁVEL DULCE SAVINÕN...


- MEU PAI DESCOBRIU. – Berra tão irritada quanto eu – E CALE A PO/RRA DA BOCA. – Me encolho, sentindo meus olhos ficarem marejados – Ele descobriu, ele viu nós duas nos beijando após você sair de casa no sábado. – Sinto minha respiração ficar pesada.


- Oh eu vejo agora. – Pego a mochila que estava entre minhas pernas, e abro a porta.


- Anahí? Anahí aonde você vai? – Fecho a porta com força.


Era irônico, antes de Dulce eu me sentia uma mulher forte e autossuficiente, afinal é necessário ser assim quando se tem um pai alcoólatra e que te espanca todos os dias culpando pela partida de sua mãe. Mas ela conseguiu o que eu achei que ninguém jamais iria conseguir, ela fez com que eu me sentisse dependente de amor e carinho, além de merecedora de um sentimento pelo qual jamais tive qualquer noção. Dulce fez com que eu amasse e quisesse viver um amor.


Tinha total consciência do que eu estava me metendo quando passei a me envolver com Dulce, mas pensei que após cinco meses estando envolvida comigo e então fazendo um pedido de namoro com tanta vontade, tudo havia mudado. Pensei que seus sentimentos e perspectivas sobre nós e sobre tudo tivessem mudado e seríamos nós contra o mundo.


Mas eu estava enganada.


- ANAHÍ? – Me viro, vendo ela com um guarda-chuva preto gigante – ANAHÍ, POR FAVOR, ESPERA. – Escuto seus passos apressados.


- POR QUE? – Passo a mão pelos cabelos – Para eu ouvir você dizer que eu não fui boa o suficiente para você me escolher? – Falo assim que ela se aproxima – Ou você quer que eu espere para você me contar o quanto seu pai me despreza por eu seu pobre e por ser uma pessoa mais jovem, aliás, por eu ser uma mulher?


- Anahí. – Ela volta a chorar e eu começo a fazer o mesmo – E-Eu... – Sinto meu coração com a possibilidade dela me dizer o que eu tanto queria ouvir, que ela me amava – Eu não tive escolha. – Seus ombros caem – Ou era você, ou era o resto da minha vida. – Concordo com a cabeça, dando de ombros.


- Eu entendo. – Rio amarga – Você escolheu, e eu entendo. – Olho no fundo de seus olhos.


- Apenas fiq...


- Não. – Passo a mão pelo rosto, me recusando a chorar por ela – Não me peça para ficar para que possamos terminar de conversar ou qualquer coisa do tipo. – Ajeito minha mochila, minha roupa estava ensopada – Não me procure mais, apenas esqueça que eu existo.


- Anahí, me perdoe, por favor... – Ela ainda chorava.


- Tchau, Dulce. – Me viro.


- Apenas... – Me segura pela mão – Apenas me deixe te levar para casa, por favor...


- Dulce, esqueça da minha existência. – Puxo minha mão – Você não teve dificuldades em esquecer dela ou dos meus sentimentos quando fez suas escolhas, então não tenha dificuldades agora. – Falo rudemente, eu queria machuca-la o quanto ela estava me machucando.


No começo ela não aceitava de maneira alguma o que estávamos iniciando, então a ideia passou a amadurecer conforme ela via que não conseguíamos mais ficar uma sem a outra até que finalmente 'abraçou' os sentimentos e assumiu-os para si mesma, mas após o primeiro confronto toda sua evolução se esvaiu em questão de segundos.


Desde o princípio eu havia feito de tudo para que ela me aceitasse da maneira que eu sou e desse uma chance para nós, mas na primeira dificuldade ela fez completamente o oposto de tudo. Eu não deixo detalhes mudarem quem eu realmente sou, por que Dulce mudaria por muito menos?


- Anahí, eu quero ainda poder... – Seus olhos estavam apavorados e eu me segurava para não explodir – Eu quero te ajudar, eu ainda quero cuidar de você de alguma maneira, não me exclua da sua vida e impeça isso... – Tenta segurar a minha mão e eu me afasto novamente.


- PARE. – Grito irada – APENAS, PARE DE MENTIR. – A olho no fundo dos olhos – VOCÊ DISSE QUE QUERIA ALGO COMIGO E NA PRIMEIRA OPORTUNIDADE SAIU CORRENDO ASSUSTADA! VOCÊ FALA TANTO DE MATURIDADE E DE SER ADULTA, QUE BELA ADULTA VOCÊ É! – Rio sarcástica – VOCÊ NÃO SABE LIDAR COM OS PRÓPRIOS SENTIMENTOS E TEM MEDO DO QUE O SEU PAPAI VAI FAZER COM VOCÊ. – Tiro meu cabelo molhado da frente do meu rosto – VOCÊ ACHA QUE PERDER A MERDA DO SEU DINHEIRO É RUIM? EXPERIMENTA PERDER SUA DIGNIDADE ENQUANTO SE ARRASTA ATRÁS DE ALGUÉM QUE POUCO SE FO/DE COM SEUS SENTIMENTOS. - Eu queria jogar em sua cara como estava me sentindo e tudo o que ela estava me causando me abandonando como se eu não fosse absolutamente nada - SE VOCÊ SABIA QUE AS COISAS IAM SER ASSIM NÃO FIZESSE EU AMAR VOCÊ. – Dulce arregala os olhos e me encara chocada, eu abro a boca e fecho a mesma logo em seguida, ainda mais irritada.


- V-Você o-o que-e? – Gagueja me encarando.


- Esqueça. – Me viro, começando a caminhar.


- ANAHÍ. – Grita e eu aperto o passo para ela não me alcançar mais uma vez – ANAHÍ, ESPERE. – Começo a correr como se minha vida dependesse disso e ignoro seus gritos.



Corri mais duas quadras, parando apenas para vomitar. Aparentemente comer um hambúrguer gigante, ter uma discussão horrível, chorar de faltar o ar e correr logo depois é uma péssima ideia. Caminhei até o ponto de ônibus após limpar minha boca na manga da minha jaqueta e esperei meu ônibus.


Tinha que me recompor da melhor maneira, meu pai não poderia fazer perguntas e até mesmo me ouvir chorar hoje ou seria uma nova surra. Nas últimas semanas eu estava apanhando bastante por estar chorando muito, ou seja, fazendo muito barulho e não deixando ele assistir seus jogos de futebol em paz. Isso me faria ir o caminho todo torcendo para ele já estar dormindo, já que ele dormia que nem pedra após encher a cara o dia todo.


Meu pai nunca foi um bom marido ou pai. Enrique batia em Marichelo quase todos os dias, por diferentes motivos o principal era o ciúmes exacerbado, quando ela fugiu com outro homem –por motivos óbvios- todo o foco da sua raiva foi direcionado completamente a mim. A partir dos seis anos comecei a ouvir xingamentos horríveis, conhecendo a força das palavras. Aos quatorze anos começou a me bater por conta da maneira que me visto e me porto, berrando que devo mudar meu jeito de "sapatão" e me "tornar mulher" para ser "aceitável", diversas vezes me deixando cheia de marcas.


Apanhar por um abandono que não tinha culpa e por ser quem sou, é algo absurdo. Dulce tornou essa situação mais fácil, sempre fazendo de tudo para que eu me afastasse cada vez mais de casa e cada vez menos fosse obrigada de estar no mesmo metro quadrado que meu pai. Ela me apresentou o amor, e agora havia voltado atrás com essa decisão.


Cuidadosamente abro a porta, tentando fazer o mínimo de barulho o possível, me sinto enjoada ao sentir o cheiro forte de bebida e de sujeira já que Enrique nunca me deixava limpar a sala direito. Vejo que ele não está em sua poltrona e suspiro aliviada, era quase certeza que ele estava dormindo.


- Decidiu chegar cedo hoje? – Fala com a voz super arrastada, todo o meu corpo estremece e fica em alerta, aquele era um dia bem ruim – Aonde você estava? Por que está molhada?


- Saí para comer, já havia dito. E não sei se você escutou, mas está chovendo e tomei muita chuva vindo do ponto de ônibus para cá. – Respondo o menos rude possível, estava irritada e exausta, não queria ninguém mais me machucando de maneira alguma – Eu vou me deitar.


- Não acabamos de conversar, você não pode dormir ainda. – Fala irritado - Com quem você foi comer? – Questiona se aproximando.


- Com aquela minha amiga, Dulce. – Sempre disse que Dulce era apenas minha amiga para evitar maiores problemas para ela.


- E por que está com essa cara de merda? – Trinco meu maxilar – Ela não quis ter uma amiga sapatão? – Segura meu rosto com força e eu fecho meus olhos – Porque você não diz que é sapatão de uma vez? Assim eu acabo com a sua raça logo, porque filha minha não é essa coisa nojenta. – Fala com ódio e eu puxo meu rosto, saindo de suas mãos ásperas.


- Apenas cale a boca. - Me aproximo da grande janela que tinha na sala.


- O QUE VOCÊ DISSE? – Grita, fazendo eu me encolher – Você é patética, Anahí. – Sussurra se afastando de mim – Sua mãe já te abandonou e agora essa sua amiga estúpida te abandonou também...


- CALE A BOCA, CALE A POR/RA DA BOCA. – Grito irritada – VOCÊ NÃO SABE DE NADA E NÃO PODE DIZER QUE É MEU PAI SENDO QUE NÃO AGE COMO UM. – Não estava em um bom dia, e não conseguia aguentar mais merda em um dia como aquele – MINHA MÃE NOS ABANDONOU POR CONTA QUE VOCÊ É A MERDA DE UM ALCOOLATRA INUTIL.


Meu peito subia e descia repetidamente, eu estava ofegante, minhas mãos tremiam e podia sentir meu estômago ficando mal de novo. Eu estava mentalmente exausta para brigar novamente com ele ou simplesmente para ouvir todas as merdas que eu ouvia todos os dias da minha vida.


Enrique simplesmente solta a sua garrafa de cerveja, fazendo a mesma espatifar no chão e espalhar o liquido pelo chão, ele nunca deixava sua cerveja cair. Arregalo meus olhos quando suas mãos agarram a cadeira ao seu lado com raiva e lançam com toda a força possível em minha direção, me jogo no chão e a cadeira espatifa contra a grande janela, fazendo vidro voar para todos os lados.


Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, ele estava embriagado e não estava tão ágil como eu poderia estar, me levantei -pronta para começar a correr- e olhei sobre a janela focando meu olhar no carro conhecido de Dulce parado bem à frente da minha casa. Ela estava ali. Senti o punho de Enrique se colidir com meu rosto no mesmo momento, fazendo meu corpo ir para o chão novamente.


Estava atordoada e tentava raciocinar. Comecei a me arrastar o mais rápido que conseguia para longe dele, mas só conseguia sentir os cacos cortando minha pele e enquanto ouvia as bufadas de Enrique e sua respiração pesada graças ao esforço por todas aquelas ações repentinas.


- Você vai aprender a nunca mais falar comigo assim. – Sinto sua mão me puxar pelo tornozelo, me arrastando pelo chão com brutalidade.


- ME SOLTA. – Grito, chutando seu pescoço com o meu pé que ele não agarrava.


Assim que sinto sua mão me soltando fico de quatro no chão e me levanto cambaleando, precisava fugir dali.


- SUA VA/CA. – Me puxa pelo cabelo com muita força, trazendo meu corpo para perto do seu, um novo tapa é deixado em minha face.


Olho sobre o seu ombro e sinto meu coração acelerar ao ver Dulce descendo de seu carro sem seu guarda-chuva, seu olhar era horrorizado. Levo um novo soco no rosto e sinto as lágrimas simplesmente rolarem pelas minhas bochechas sem que eu tivesse qualquer controle sobre. Escuto seu grito e meu pai esbravejando enquanto distribuía novos tapas em meu rosto, muito mais forte, com muita mais raiva.


- ANAHÍ. – A voz de Dulce ecoa assim que meu corpo cai no chão – ANAHÍ. – O barulho alto de socos na porta de entrada podem ser escutados – ANAHÍ, CORRA AGORA. – O barulho de Dulce batendo em minha porta enquanto gritava por mim ainda me deixava em alerta.


- Trouxe uma amiga para entrar na brincadeira, Anahí? – Rosna me acertando um novo soco, fazendo minha visão ficar um pouco embaçada – Eu vou bater nela depois de acabar com você, não se preocupe.


- Não. – Sinto mais lagrimas rolarem pelo meu rosto – Por favor, não. – Um novo tapa.


- ANAHÍ. – Dulce berra, vejo seu rosto pela janela.


- Dulce. – Estico minha mão para tentar inutilmente alerta-la – Corra. – Sussurro antes de levar um outro soco que me faz apagar de vez.


(...)


Podia escutar vozes desconhecidas ao meu redor, todos eles falam ao mesmo tempo e falam apressadamente, eu não conseguia raciocinar direito para perguntar o que estava acontecendo e onde eu estava. Mas eu sabia que estava deitada, estava extremamente frio e eu sentia o meu corpo tremer sem que eu tivesse controle dele.


- A pressão dela está caindo. – Uma voz doce se pronuncia.


- Vamos, Anahí não desista não, eu sei que você é forte. – Outra voz, mais grossa, fala em alto e bom som - Preparem o desfibrilador para quaisquer emergências! – Alguém me espeta com alguma coisa e eu sinto uma vontade enorme de xingar, doeu – Eu vou fazer o possível para que você continue viva, mas eu preciso que você me ajude. – Sussurra bem perto do meu ouvido.


Eu tentei abrir os olhos mais uma vez, ou até mesmo abrir a minha boca, mas eu não consegui. Apenas senti outra espetada no meu antebraço e acabei relaxando, sentindo minhas pálpebras ficarem mil vezes mais pesadas e meu corpo relaxar de vez, o frio passou e os tremores também, só restou um vazio e uma paz interior.



Meu corpo doía de uma forma absurda, como se um caminhão tivesse passado sobre ele repetidas vezes, não queria me mexer ou abrir meus olhos com medo de tudo doer ainda mais e eu me ver sozinha novamente. Abandonada pela namorada e espancada pelo pai, aquele final de semana estava mais para pesadelo, um que eu desejava ansiosamente que acabasse.


Respiro fundo e abro meus olhos, encarando o teto. As lágrimas rolavam pelo meu rosto sem que eu tivesse controle, tudo doía de uma maneira insuportável. Confesso que queria ter morrido no chão de casa para acabar com toda a dor dilacerante que me atingia todos os dias, tanto emocional quanto física.


- Anie? – Sinto meu coração dar um salto, acelerando absurdamente – Você acordou. – Dulce fica em meu campo de visão, com um lindo sorriso – Você acordou! - Só então sinto que sua mão estava segurando firmemente a minha.


Haviam dois curativos em seu rosto, um na parte superior de sua bochecha esquerda e outro no canto direito de sua testa. Não eram grandes, mas estavam ali. Meu pai havia a machucado. Sinto meu coração apertar ainda mais, ela não tinha mais que se meter em nada disso.


- Você está no hospital. – Responde antes que eu possa perguntar – E não tente falar, ok? – Pisco algumas vezes, ainda meio grogue com sua presença - É tudo o que você precisa saber por enquanto. – Acaricia meu rosto quase que superficialmente – Não se preocupe, ok? Vou chamar o médico e...


Aperto sua mão com toda a força que me resta, em um pedido silencioso para que não me deixe, não mais uma vez, não naquele momento. Queria falar, mas eu não conseguia abrir minha boca sem sentir uma vontade de gritar de dor e chorar sem parar.


- Ah... – Olha para a porta e então para mim, puxando a cadeira, aparentemente pesada, para sentar-se ao meu lado – Tudo bem, vou ficar aqui. – Senta-se e então estica o braço, apertando algum botão – Vai ficar tudo bem. – Leva minha mão até seus lábios, deixando um beijo nas costas dela.


Em um questionamento silencioso toquei seu rosto, próximo a um dos curativos, querendo saber o que tinha acontecido com ela para que seu lindo rosto tivesse aquelas marcas nada delicadas.


- Não foi nada. – Segura minha mão, a colocando sobre a cama novamente – Não precisa se preocupar. – Sorri gentil – Estou tão feliz que você finalmente acordou! - Vai para acariciar meu rosto e então recua, cobrindo minha mão com as suas.


- Eu imagino que sim, Sra. Savinõn. – Um médico entra sorrindo – Anahí... – Sorri em minha direção e eu suspiro – Acredita que sua namorada não saiu do seu lado desde que permitimos a entrada dela em seu quarto? – Sinto meu coração acelerar.


Se ele estava dizendo que Dulce era a minha namorada, era como ela havia se identificado na recepção. Viro meu rosto lentamente, encarando Dulce.


- Se o meu pedido ainda estiver valendo, sim. – Sorri sem jeito e eu sinto meu coração acelerar, mas não queria dar meu braço a torcer naquele momento – Mas agora vamos nos preocupar com coisas mais importantes, ele precisa examinar você.


Então o médico me examinou por breves minutos, fui informada de que já era domingo à noite e que tinha dormido por quase quarenta e oito horas, por muita sorte não haviam sequelas a não serem os roxos e machucados em meu rosto.
Haviam operado meu nariz e por conta da fratura em minha mandíbula com um dos socos foi necessária uma longa cirurgia para a recolocar as articulações nos devidos lugares, por isso estava sentindo uma dor absurda em meu rosto todo e não conseguia falar sem querer berrar. Os cortes graças aos cacos de vidros pelos meus braços não haviam sido profundos ou necessitavam de pontos graças ao fato de eu estar vestindo a jaqueta quando cai no chão, o que permitiu que eles me machucassem superficialmente.



Iria receber alta no dia seguinte, e até lá uma outra médica estaria me auxiliando em movimentos para que fosse possível abrir minha mandíbula sem maiores problemas, sendo possível me alimentar de coisas leves pelos próximos dias até estar totalmente recuperada.


Dessa vez Enrique havia batido em mim para machucar muito, e me apavorava o fato de Dulce estar lá para presenciar dessa vez, assim como me apavorava o fato dela provavelmente ter se machucado para me proteger de alguma maneira, algo que seus machucados me davam a entender.


- Acho que vou para casa tomar um banho e trocar de roupa, estava doida para que você finalmente acordar. – Confidencia baixinho – Não pretendo demorar nada, quero voltar logo para assistir sua fisioterapeuta aqui. – Seguro sua mão – Liguei para o seu chefe, informando sobre os acontecimentos dessa noite e amanhã cedo entrarei em contato com a sua universidade para informar sobre o que houve, assim você não irá perder sua bolsa ou nada do tipo por faltar a algumas aulas. – Sorri solidária, não tinha pensado nesses pequenos detalhes, pareciam bem insignificantes nesse momento – Afinal, quero ver você se formando em Engenharia daqui alguns anos. – Pisca para mim, com os olhos marejados.


Abro a sua mão e começo a fazer gestos de escrever sobre a mesma, queria fazer perguntas antes dela ir, precisava saber de tudo e aquilo estava me matando por dentro. Rapidamente Dulce entendeu e se levantou da cadeira, procurando uma folha e uma caneta, não demorando muito para encontra-los sobre uma mesinha atrás de si. Colocou a caneta em minha mão e a folha sob a mesma, me deixando escrever.


'O que houve depois que eu apaguei?' foi a primeira coisa que lhe questionei.


- E-Eu pulei a janela. – Morde o lábio inferior – V-Vi a polícia virando a esquina e não podia deixar ele bater mais em você, apenas o empurrei e esperei que aquilo fosse o bastante para ele se afastar. – Sinto minha respiração ficar mais pesada – Ele levantou e me deu um soco que me fez cair e bater a testa, mas ele não pôde bater mais porque a polícia entrou.


Dulce havia arriscado a própria vida para que eu permanecesse viva, isso fez o meu coração acelerar como um carro de corrida e ao mesmo tempo derreter como uma manteiga em uma frigideira quente. Ela me amava de volta, e eu sabia disso, mesmo que não estivesse me dizendo naquele momento ou me dito desde que eu acordei, eu apenas sabia.


'Enrique?' foi a única coisa que escrevi no papel, algo que eu esperava que ela entendesse.


- Ele está preso, acusado de agressão. – Fala seriamente – E se depender de mim ele irá permanecer lá, porque jamais irei deixar ele encostar em você novamente. – Estava determinada ao pronunciar aquelas palavras.


Foi necessário apenas uma questão de horas, eu me sentia segura agora, extremamente protegida por alguém que só havia me magoado e que pela primeira vez estava determinada a mostrar o quanto se importava através de gestos sutis. Ela me queria, ela me protegeria e eu sabia disso.


'Nós?' na sexta à noite Dulce disse que o nós não existia, nem nunca havia existido.


- Pelo seu olhar sinto que talvez você não me queira mais, talvez não confie mais em mim e eu compreendo isso, Anahí. – Sorri, sem jeito – Entendo completamente. Mas eu te quero, porque eu te amo. – Comprime os lábios, deixando algumas lágrimas rolarem pelas suas bochechas rosadas – E eu sinto muito que eu tenha que ter quase te perdido para sempre para notar que não existe vida se não existe você.


Nós éramos completamente diferentes. Opostos gritantes e que se olhado de longes não faziam sentido algum. Mas nós nos pertencíamos, nós éramos duas partes imperfeitas que ficavam perfeitamente imperfeitas juntas.


- Nós temos cicatrizes, em todos os sentidos agora... – Ri sem qualquer humor – E nós podemos nos amarmos mesmo assim. – Entrelaça nossos dedos - Eu disse diversas vezes que não era perfeita, Anahí. – Se aproxima ainda mais, apernando levemente minha mão – E você me disse o mesmo, e eu acho que é por esse e outros motivos que devemos dar uma segunda chance ao que temos e eu prometo que irei fazer o possível para merecer seu amor dessa vez, e eu juro que dessa vez não será difícil vive-lo.



Nós íamos continuar nossa conversa importante, mas esquecemos de dois pequenos detalhes essenciais: eu não conseguia falar ainda para me expressar em relação a tudo aquilo, e minha médica –que entrou no quarto- ainda precisava me auxiliar a sentir menos dores.


(...)


Nos últimos dias estava morando com Dulce para que ela pudesse me auxiliar com coisas básicas, ela saia do trabalho e vinha direto para casa aonde nós tínhamos nossas refeições e o mínimo de questionamentos sobre 'nós' o possível, mesmo notando diversas vezes que era o que ela mais queria falar sobre. Resolvemos, mesmo silenciosamente, dar tempo ao tempo enquanto eu melhorava.


Naquele momento estava sozinha, no banheiro, observando meu rosto pelo espelho. Estava muito melhor do que quando cheguei do hospital. O inchaço havia sumido e os roxos não estavam tão escuros quanto antes, mas ainda era possível vê-los ali, assim como todos os pequenos e delicados pontos que eu havia levado. Agora eu conseguia falar sem tantos problemas e comer coisas que não eram tão sólidas.


Tomo o meu banho e troco de roupa, optando por vestir uma das minhas blusas de algodão simples preta e um short também de algodão cinza, caminhando para o escritório de Dulce para que pudesse checar todas as anotações que minha amiga Zoraida estava me enviando, estava perdendo uma boa quantidade de aulas da faculdade e estava tentando ficar por dentro de tudo para não ficar perdida na semana que vem.


Mesmo odiando a ideia de pessoas me verem naquele estado e se questionarem o que havia acontecido comigo, sabia que mais cedo ou mais tarde teria que sair daquele apartamento.


- Anahí? – Dulce me chama.


- Aqui. – Entra em seu escritório – Está com fome?


- Não, ainda não. – Falo simplesmente – Você demorou hoje, aconteceu algo?


- Estava com o meu advogado. – Comenta como se fosse nada – Como está se sentindo?


- Bem, as dores estão bem menores. – Sou sincera – Logo vou poder voltar para casa.


- Não. – Fala prontamente – Voltar? Por que você iria querer voltar para lá?


- Porque lá é a minha casa, querendo ou não. – Sou sincera – Minhas coisas estão todas lá e meu pai não está mais lá. – E eu praticamente já sustentava aquela casa toda sozinha.


- Mas por que você não mora aqui? – Questiona como se fosse algo simples – Já está ficando aqui a uma semana, além de que você sempre ficava aqui o final de semana todo, por que não f...


- Porque nós não conversamos sobre nós ainda, Dulce. – Me levanto, cruzando meus braços, totalmente na defensiva – E mesmo você sendo incrível nesses últimos dias como vou saber que não vai acontecer como na última vez? Como eu devo dar tudo embora e começar uma vida aqui com você se você não me dá a certeza do que temos?


- Você não presta atenção? – Rosna, passando as mãos pelos cabelos – Eu estou dando dicas todos esses dias, Anahí! – Cruzo meus braços – Eu estava com meu advogado para resolver toda a papelada da empresa, contei sobre nós para o meu pai e fui despedida. – Abro a boca completamente chocada – Tenho um novo emprego a partir da semana que vem e vou ganhar um bom dinheiro do seguro de desemprego. – Assinto, me sentando em uma das cadeiras – E tenho outros planos...


O trabalho de Dulce era algo bem complexo, ela era responsável por cuidar do desenvolvimento de aparelhos eletrônicos da empresa de seu pai, então seu pai produzia os protótipos e depois revendia para uma empresa maior produzir em maior quantidade.
Dulce María Savinõn assumiu nosso relacionamento para seu pai, ele não aceitou nada bem e ambos tiveram uma briga gigantesca em seu escritório, algo que resultou na demissão dela e nos dias seguintes Fernando difamando a própria filha para todos, saber disso justificou sua expressão triste e o choro desesperador no banho durante aquela semana.



Acontece que por estar desenvolvendo um projeto a meses para apresentar ao seu pai resultou na garantia de um novo emprego na empresa rival dos Savinõs's, Dulce vendeu o produto de última geração e pretende auxiliar em todo desenvolvimento, passando a trabalhar em uma grande posição novamente e até mesmo ganhando um pouco mais.


Dulce era uma 'peça' muito importante para os negócios de seu pai, sem ela sua empresa poderia ter um grande desfalque, o que eu não duvidava nada.


- Ele não ouviu você? – Seguro sua mão.


- Ele não quer ter uma filha que goste de mulheres, deixou isso bem claro. – Entrelaça nossas mãos, suspiramos.


- Sinto muito por isso, Dul.
- Não sinta, nunca me senti tão livre, confesso, quando pisei fora de seu escritório me senti poderosa e empoderada. – Rio baixo e acaricio sua mão com meus polegares – Ele me criou e tornou quem eu sou hoje, sou grata por isso, mas se ele não pode aceitar quem eu sou de verdade, não quero tê-lo por perto. – Levanta minhas mãos – Quero você, quero te ter por perto e só para mim, Anahí. – Se curva em minha direção, beijando meu pescoço – Só você.


Sinto todos os pelos de meu corpo ficarem arrepiado ao sentir seus beijos demorados naquela região, Dulce sabia que o pescoço era meu ponto fraco.


- Me dê uma segunda chance... – Sussurra – Eu faço qualquer coisa...


Ela havia arriscado a própria vida para salvar a minha quando enfrentou meu pai, então enfrentou o próprio pai para ser quem é e poder ter algo comigo. Seria louca se não desse uma segunda chance para Dulce, ainda mais depois de saber que ela está disposta a fazer qualquer coisa para me ter.


- Você já fez tudo que estava ao seu alcance e por isso merece a sua segunda chance com muito louvor, Dul... – Sussurro perto de seus lábios, esboçando um sorriso - Eu queria te beijar agora. – Passo meu polegar por seus lábios carnudos.


- Um selinho não vai doer... – Encara meus lábios, delicadamente encostando os seus.


Durante nosso selinho longo, sorri contra seus lábios, feliz por saber que nós poderíamos dar tudo de nós para fazer nosso relacionamento funcionar sem maiores problemas.


(...)


Solto uma gargalhada vendo minha noiva apoiada no batente da porta enrolada no lençol da nossa cama, me deixando nua no meio do colchão.


Estávamos radiantes, até mesmo comemoramos a noite toda nosso noivado junto da minha tão aguardada formatura, depois de longos anos cursando Engenharia Civil estava finalmente me formando e poderia focar completamente em meu trabalho no escritório de Normani Kordei, uma grande e nova amiga de Dulce.


- Venha tomar banho comigo, Anahi. – Pede mais uma vez – Nós vamos nos atrasar.


- Nós vamos nos atrasar se eu entrar para tomar banho com você. – Solto uma gargalhada alta e Dulce pula de volta na cama, ficando sobre mim – Babe, nós temos que nos arrumar.


- Eu sei, você tem que pegar seu diploma hoje. – Sorri radiante e eu acaricio seu rosto – Estou tão orgulhosa de você, Anie. – Rouba um selinho – Você vai ser uma excelente profissional.


- E uma excelente esposa, não se esqueça. – Inverto nossas posições e Dulce ri.


- Oh, isso definitivamente. – Estica o rosto para roubar um novo beijo.


Enrolamos mais um bom tempo na cama até que chegamos à conclusão que a melhor coisa a se fazer seria nos arrumar e então ir para a formatura, algo que demorou bons minutos e quase nos fez chegar atrasadas.



Dulce estava sentada ao lado de Normani e Demi, Selena também estava ali para prestigiar minha conquista aquele dia. Demi e Blanca eram as únicas dos Savinõs que ainda mantinham contato com Dulce , o resto de sua família haviam virado completamente as costas para minha noiva, mas era algo que ela lidava bem melhor agora.
Todos tiraram fotos minhas e gritaram bem alto quando peguei meu diploma. Demi e Selena tiraram muitas fotos comigo e depois fizeram questão de tirarem mil fotos minhas com Dulce, somente para garantir que aquele momento ficasse registrado. Tirei fotos com Miley, uma menina da minha sala que havia me ajudado muito após eu voltar para a faculdade depois de apanhar do meu pai.


- O almoço fica pela minha conta hoje. – Comento abrindo a porta do carro para Dulce.


- Nossa, vou pedir a coisa mais cara do menu. – Selena provoca, entrando no carro, arrancando gargalhadas de Demi e Dulce.


- Por que Normani não quis vir com a gente? – Demi questiona assim que entro no carro.


- Ela tem um aniversário de família, não podia faltar. – Comento dando de ombros.


- Ainda assim vai ser divertido. – Dul sorri – Minha mãe vai nos encontrar assim que sairmos do restaurante.


- Não vejo ela desde a mudança. – Comento ligando o rádio.


- Ela está ocupada redecorando o novo apartamento. – Demi ri – Nem tempo para mim ela tem mais, acredita?! – Zomba e todos nós rimos – Foi ruim e ao mesmo tempo bom ver ela deixando o papai. – Olho Dulce com o canto dos olhos, ela se culpava pela separação deles.


- Selena você viu o filme que passou ontem? – Meu melhor amigo me encara.


- Sim, incrível, não?! – Mudamos de assunto, porque sabíamos o rumo que aquilo poderia ter.


Minha família sempre foi incompleta e era cada um por si. Entretanto a família de Dulce sempre foi unida, todos se juntavam quase todos os finais de semana para fazer alguma coisa, faziam compras juntos e amavam comemorar aniversários, mas aparentemente depois que Dulce "saiu do armário" tudo isso foi desfeito e ela passou a ter a mesma noção de família que eu. Acontece com o passar dos anos tornamos uma a família da outra, criando nossas próprias tradições e trazendo amigos para aumenta-la.


Tínhamos reservas em meu restaurante favorito, sempre que possível Dulce e eu íamos jantar lá, ainda mais agora que estávamos completamente financeiramente estáveis. Ocupamos uma das melhores mesas e fiz questão de ocupar o assento ao lado de minha noiva, tendo semana ao meu lado para que pudéssemos conversar, fazia um certo tempo que não nos víamos.


Era estranho pensar o quanto minha vida havia mudado nos últimos anos. Para começar passei a morar com Dulce, aprendemos a compartilhar tudo além de descobrirmos o lado bom e horrível de dividir um imóvel com alguém que é bem diferente de você; consegui focar completamente em meus estudos, por Dulce ganhar bem ela implorou para que eu estudasse em tempo integral para acabar mais rápido e consequentemente passar a trabalhar com algo que eu realmente gostasse, que foi o que acabou acontecendo; tinha um emprego ótimo no qual eu fazia algo que realmente gostava e ganhava relativamente bem para uma iniciante.


Honestamente, minha vida estava perfeita não havia nada que eu mudaria.


- Minhas clientes favoritas, como vocês estão? – Jackson abre um largo sorriso ao ver que estávamos ali.


- Melhor agora estando em sua companhia. – Dulce ri divertida, entrelaçando nossas mãos.


- Oh estão vendo?! Por isso elas são minhas favoritas! – Pisca para Demi e Selena, que riem – O que posso fazer por vocês essa tarde?


- Queremos o champanhe para datas especiais, e os de sempre. – Faço o pedido por Dulce.


- Datas especiais? O que comemoramos hoje? – Questiona simpático.


- A formatura de Anahí! – Dulce fala animada e eu rio, revirando os olhos.


- Opa, meus parabéns, Anahí. – Acaricia minhas costas – Vou pedir para Max caprichar ainda mais no pedido de hoje. – Pisca cumplice para mim – E vocês, o que vão querer? – Questiona nossas companhias.


Aproximei um pouco mais minha cadeira da de Dulce, aproveitando para apoiar meu braço em seu encosto, minha noiva não demorou absolutamente nada para aproximar nossos rostos e roubar um longo selinho enquanto sua irmã e cunhado faziam seus pedidos. Acariciei seu rosto e deixei uma série de beijos em sua bochecha e maxilar, afastando minha boca de sua pele para apenas acariciar seus cabelos macios e mais curtos.


Senti um olhar queimando em nossa direção, virei meu rosto enquanto Jackson tirava os cardápios da mesa. Uma senhora encarava Dulce e eu horrorizada, como se estivéssemos assassinando alguém, quando notou meu olhar sobre ela olhou no fundo de meus olhos e negou com a cabeça, em um sinal claro de reprovação.


Senti meu coração pesar, meu pai me olhava da mesma maneira.


- Babe? – Dulce me chama e eu viro meu rosto, vendo seu sorriso sumir aos poucos – O que houve?


- Nada. – Sorrio de canto – Sobre o que estão falando? – Noto seu olhar seguir na mesma direção aonde o meu antes estava e suas sobrancelhas arquearem logo em seguida.


- Anahí. – Me olha no fundo dos olhos – Lembra o que você sempre me dizia? – Comprimo os lábios, sentindo seu carinho em minha coxa – "Nós ignoramos aqueles que nos odeiam, não somos como os demais, nosso amor é especial." – Sussurra e então rouba um selinho longo, me fazendo sorrir – Ela que olhe e veja o quanto nosso amor é lindo, não devemos nos envergonhar dele.


- Eu jamais teria. – Beijo sua têmpora.


- Se eu soubesse que vocês estariam esse grude todo não teria vindo. – Demi ralha em uma falsa irritação e eu rio – Selena por que você não é assim comigo? – Suspira e nós começamos a rir – Talvez eu deva procurar outra mulher mulher.


- Isso é uma afronta, venha aqui. – Começa a lota-la de beijos, arrancando mais risadas de todo mundo na mesa e sorrisos divertidos de sua namorada.


- Eu te amo. – Murmura e eu sorrio.


- Eu te amo e amo o nosso amor, não trocaria por nada no mundo. – Sussurro em seu ouvido e Dulce sorri, roubando um novo beijo.


E eu realmente não trocaria, de jeito nenhum.


 



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Comentários da Fanfic 22



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  • siempreportinon Postado em 08/01/2018 - 22:55:11

    Estou amando suas histórias, cada dia leio uma. Sei que não comento muito mas estou sempre acompanhando suas publicações!

  • natty_bell Postado em 03/01/2018 - 17:42:09

    SCRRR EU TO APAIXONADA POR UMA ESTORIA AAAAAAA <3 tem muitas histórias ainda?? To amando serem varias em uma

    • Emily Fernandes Postado em 03/01/2018 - 19:10:48

      Sim, as histórias são muito boas. Ainda tem algumas ou várias pra colocar em prática. Então que viva as histórias aleatórias da fic. Que história vc mais gostou?

  • Nix Postado em 08/12/2017 - 19:51:32

    Owt que capítulo incrível, amei a surpresa pra Any, o amor que elas fizeram não foi apenas de saudade mas sim de um amor que supera barreiras

    • Emily Fernandes Postado em 12/12/2017 - 18:03:21

      Concordo com tudo que vc disse. O amor delas é lindo mesmo. Vamos ver sexta a onde mais uma vez a arte vai ser pintada.

  • Nix Postado em 05/12/2017 - 17:10:33

    Acredito que vou chorar horrores nessa história.

    • Emily Fernandes Postado em 08/12/2017 - 15:46:17

      Espero que a história realmente agrade. Pq ela é linda e encanta.

  • Nix Postado em 01/12/2017 - 19:28:21

    Momento fofo amei, não há palavras para descrever esse capítulo

    • Emily Fernandes Postado em 05/12/2017 - 15:44:40

      Não nunca há palavras pra descrever coisas simples E belas. Aproveite outra história.

  • Nix Postado em 28/11/2017 - 09:14:53

    Isso ai Anahi não desiste da Dulce Concordo com a Angel o destino delas estão traçados.

    • Emily Fernandes Postado em 01/12/2017 - 08:49:26

      Sim, Anahí não desisti tão fácil. Porém acho que o destino ainda vai aprontar muito com as duas. Isso será inevitável.

  • candy1896 Postado em 27/11/2017 - 11:32:28

    Continuaa

    • Emily Fernandes Postado em 28/11/2017 - 07:52:35

      Continuei kkk bjs

  • Evelyn Postado em 25/11/2017 - 16:16:12

    Olá maninha eu estou perplexa com suas histórias. Mas vamos ler não é. Bjs amor meu, eu sou a única com tal liberdade pra isso não é. Ahahahahahah

    • Emily Fernandes Postado em 28/11/2017 - 07:51:46

      Olá quem seria vc mesmo. O assim. Não diga que minhas histórias não estão te agradando. Perplexa fica eu com sua ousadia. Mas te amo da mesma forma. Bjs evy. Ps sim vc é a única que pode me chamar do que quiser.

  • siempreportinon Postado em 25/11/2017 - 11:05:01

    Marquei presença aqui, amo suas histórias já pode continuar!!!

    • Emily Fernandes Postado em 28/11/2017 - 07:46:28

      Vc sempre marca. Seu pontinho mesmo. Irei continuar.

  • Lern Jauregui Postado em 25/11/2017 - 09:37:17

    O primeiro encontro delas já vou uma arte rsrs .....A Annie uma fotógrafa de olhos azuis e sexy e a Dul uma garota linda e intrigante... E acho que a Annie meio que já se interessou,só acho rs. Mal posso esperar pros próximos capítulos.... Já pode continuar.. Bjs Emm.

    • Emily Fernandes Postado em 28/11/2017 - 07:45:05

      Obrigada lern, acho que a arte está em tudo O que fazemos seja boas ou ruins, o importante É saber apreciar. Não é bjs pra vc tbm.


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