Fanfics Brasil - Arquivo 1: O Multipolar Textos Perdidos de um Subconsciente Destroçado

Fanfic: Textos Perdidos de um Subconsciente Destroçado | Tema: Terror, Horror, Suspense, Fantasia, Ficção Científica, One Shots


Capítulo: Arquivo 1: O Multipolar

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ARQUIVO 1

O   M u l t i p o l a r 

 

     23:36.

     Alguma lanchonete nos 

     cantos escuros de uma 

     cidade caótica.

   

     O que realmente te assusta no lado de fora?

     O que mais me assusta é o que está mais explícito quando se olha pras ruas da grande cidade. Tudo é sério, frio e inexpressivo. O tipo de lugar aonde todos são formigas corporativas. Os prédios são seus formigueiros. Sempre trabalhando esperando o inverno chegar, para enfim, terem uma estação de paz. A ilusão do significado é o inverno. Mas existem pessoas como eu e aquele homem. Pessoas como nós não realmente veem significado. Pessoas como nós costumam sofrer no inverno. Mas, muitos aprendem como ser felizes sem ilusões, e alguns, mesmo sabendo que são ilusões chamadas de significado, vivem praticando tais ilusões. E é óbvio, existem aqueles que não se conformam em o quão vazio são as coisas, essas pessoas se afundam. Cigarros, álcool, sexo, drogas, lâminas. E em casos mais extremos, o calor reconfortante da morte.

     Mas, eu que escrevo isso posso sofrer, mas fato é, que, aquele homem, não sofre. Ou melhor. Sofre, porém, consegue rir e sorrir de forma verdadeira. Isso me soa como um objetivo de vida. Mas ele não tem muitos objetivos. Talvez ele já tenha atingido um nível de niilismo que a falta de significado o faz viver bem sem nem mesmo precisar de uma motivação para suas ações. 

 

     Ele apenas faz.

 

     Seu nome era Akira. Tinha cerca de 1,75 de altura, peso médio. Pele branca. Cabelo grande, preto, liso, bagunçado. Não um bagunçado estranho e feio, poderia até aparentar desleixo, porém, para o conceito de um cabelo bagunçado, ele estava até bem. Sua barba estava sem ser feita a uns dias, era meio falhada, e lhe dava uma aparência ainda mais desleixada. Seus olhos eram um tanto sem vida, grandes olheiras, iris pretas sem brilho. Traços asiáticos. E sua principal característica, um olhar cansado, bem cansado, porém... Conformado. Como se tirasse felicidade mesmo sabendo o quão caótico era aquele ambiente, pelo menos aquela cidade. Seus óculos de armação quadrada e preta apenas tornavam seu olhar mais vazio e ao mesmo tempo expressivo.

 

     Akira é o homem simples e o extraordinário.

 

     A lanchonete ficaria aberta até meia noite. E agora, estava tudo bem calmo. O mundo acorda as seis da manhã, e desliga as dez da noite. E Akira adorava o mundo após as dez. Costumava diversas vezes ir a lugares como aqueles. Estava quase que totalmente vazio. Apenas haviam três garçonetes cansadas conversando na cozinha, e... um alguém sentado ao lado de Akira. Ambos estavam nos bancos do balcão. O local era bonito, todo feito em madeira, uma janela próxima a cada mesa, um ventilador girava bem lentamente.

     Akira: -Um homem sozinho e varias latas de cerveja. Que cena clichê. - Dizia num tom baixo, simpático, e um tanto diferente.

     Alguém: -Um homem que aparentemente sofreu muito o dia todo e ainda assim mantém um sorriso no rosto. - Um tom ríspido, parecia querer terminar a conversa ali, ou pelo menos, não esperava uma resposta.

     Akira: -A pergunta é: Você acha que é alienação que me faz sorrir, ou faço isso de forma verdadeira?

     O homem parecia ter sido quebrado, fica em silêncio, impressionado com todo aquela calma e gentileza.

 

     Nesse exato momento, uma das garçonetes saiu da cozinha. Uma mulher de olhar tímido, cabeça baixa. Cabelos muito longos, pretos e sem brilho, tal qual seu olhar. Ela retirou os pratos, talheres e copos deixados nas mesas. Logo, voltou a cozinha.

 

     Alguém:-Você... Não sei....

     Akira: -Vamos, chuta.

     Alguém: -Parece ser... Apenas charme?

     Akira: -Bem, isso é desvalorizar demais um sorriso. Sabe por que eu sorrio?

     Alguém: -Porque..?

     Akira: -É bem mais simples do que charme. Bem menos estúpido que alienação. Bem mais complexo que a sinceridade. Eu sorrio porquê eu quero...

     Alguém: -Sorrir por querer é meio bobo...

     Akira: -Bobo? Eu acho que é uma das melhores coisas do mundo. Ainda mais depois de dias ruins como os seus.

     Alguém: -Eu não falei que estou tendo um dia ruim.

     Akira: -Não? Ninguém que bebe tanto álcool assim é feliz. Na verdade, qual quer tipo de droga apenas preenche um vazio. Por isso, eu prefiro o sorriso. Ele não destrói meu fígado.

     Alguém: -Agora vai julgar?

 

     Então, saiu a segunda garçonete. Uma mulher negra, de cabelo afro grande, lábios grandes e olhos brilhantes castanhos. Ela é séria, e parecia bem segura. Olhou os dois conversando, e foi limpar as mesas, logo, retornou a cozinha.

 

     Akira: -Não, eu... Apenas queria te ajudar de alguma forma, sem precisar te dar dinheiro, ou conselhos amorosos. Sei lá qual o seu problema. Eu posso ter tido um dia horrível, mas sempre sorrio no final, porque quero.

     Alguém: -Não tenho culpa que fui incluído nessa história como alguém triste.

     Akira: -Eu também não tenho culpa de ter descoberto esse segredo graças a um escritor. Nem mesmo ele me entende, talvez nem eu me entenda, sou um paradoxo do tempo espaço de uma história. A falha, uma falha complexa, que inspira um homem atrás de um computador, que escreve histórias vazias, que inspiram pessoas igualmente complexas, que podem mudar o mundo.

     Alguém: -O escritor é um inimigo?

     Akira: -Talvez sim, talvez não. Mas acredite quando digo que ele sabe o significado de tristeza. E acredite quando digo que ele sofre todas as noites. Eu sou o objetivo, e falo por aquele que quer me alcançar. Por isso. Por mais que as coisas estejam perdidas, por mais que você esteja destroçado, quando a culpa for sua, quando a culpa não for sua, quando você estiver sangrando... Sorria. Talvez alguém sorria de volta.

     Alguém: -Mas sorrir não alivia a dor...

     Akira: -Claro que não. 

     Alguém: -Então, pra que sorrir?

     Akira: -Seja alguém melhor, o mundo se torna um pouco melhor, com um mundo um pouco melhor, significa que tem uma chance maior de ser feliz. E pra ser alguém melhor, comece tirando a felicidade de dentro de você, não do que vem de fora. E aí, você vai entender o sorriso. Ele pode não curar sua dor, mas talvez quando se olhar você mesmo no espelho e ver o sorriso, ele se torne verdadeiro. 

     Alguém: -Porque está fazendo isso?

     Akira: -Eu já te dei duas respostas pra essa pergunta. A primeira é "Um mundo melhor, significa que temos mais chances de ficar felizes"...

 

     Ouve uma pausa. Marcada por um profundo silêncio entre os dois.

 

     Alguém: -E qual a segunda?

     Akira: -Porque eu quero. -Disse dando um risinho sarcástico. - Qual você prefere, Leitor? - Olhou no fundo dos olhos do alguém, com um sorriso agora mais sarcástico.

     O alguém chamado Leitor parecia confuso. Sacudiu a cabeça de leve. Colocou algumas notas de dinheiro encima da mesa, se levantou e começou a andar até a porta, de forma lenta, e cambaleando um pouco. Parecia fugir das próprias dúvidas. Logo, apenas restava Akira, sozinho com as garçonetes.

     Uma delas saiu da cozinha, caminhando bem lentamente até o balcão. Uma bela mulher loira de olhos azuis, corpo voluptuoso, e um olhar provocante e penetrante. Ela pegou o dinheiro, e curvou o corpo sobre o balcão, apoiando seus braços nele, fitava Akira.

     Garçonete: -Nós fechamos logo...

     Akira: -Hum... Que bom que são 23:50, não "logo". - Disse olhando o relógio de parede do estabelecimento.

     Garçonete: -Engraçadinho você. - Um tom extremamente sarcástico em sua voz, seguido de um sorriso.

     Akira: -Sabe o que eu realmente acho engraçado..?

     Garçonete: -Não, o que?

     Akira: -Garçonetes de cabelo solto. Olhando demais para seus clientes. Nenhuma conversa entre elas. Apenas uma sai da cozinha por vez. 

     A garçonete ajeitou sua postura, seu olhar se tornou serio e um tanto predatório.

     Akira: -Sabe... Depois de tantas evidências, tentar me seduzir é a ultima coisa que tentaria na sua situação.

     Ela se enche de raiva, fechando as mãos com força.

     Akira: -Você não pertence a essa dimensão. Você está sendo presa por ultrapassar barreiras dimensionais, se infiltrar numa sociedade da qual não pertence, roubo de três identidades, e naturalmente, assassinato de três pessoas. - Diz no seu tom de voz indiferente de sempre, apenas um dia normal.

     A  da um grunhido de ódio, que logo se torna de dor. Põe as duas mãos sobre o balcão. As mãos se rasgam e abrem no meio. Pele e ossos descolam um dos outros. Ambas as partes divididas começam a se esticar, os ossos saem pra fora, explodindo e decepando os dedos, tornando as duas partes divididas longas e com pontas de ossos. A criatura tornou suas mãos humanas de cinco dedos, em uma mão de dois dedos com garras. 

 

     Akira continua com seu sorriso e olhar indiferente.

 

     A cabeça da mulher se divide em três, se abrindo de forma brutal, quebrando ossos, destroçando carne, e partindo seu cérebro. Não é como se tivesse sido cortada de forma reta e precisa, era completamente irregular. Cada terço de sua cabeça se deforma, ossos saem do lugar, pele escurece e se torna mais pálida. Cabelo cresce, e mudam de cor junto com os olhos. O terço esquerdo e direito possuem a bochecha e olhos. De um lado, a mulher de cabelo preto com seus olhos negros e inexpressivos e pele pálida. Do outro lado, a mulher e pele negra, com seus grandes olhos castanhos e cabelo afro. E no meio, a boca e nariz, junto ao cabelo loiro e lábios num tom suave de rosa. 

     Os berros antes de dor, se tornaram alienígenas, como se reproduzidos por uma garganta incompreensível, indo do agudo gritante para o grave demoníaco com velocidade.

     Ela estava banhada em seu próprio sangue. Com o cérebro, garganta e arcada dentária expostas nas suas laterais. 

 

     Akira ainda estava sorrindo...

 

     O monstro pula contra ele. Com muita calma, ele estala os dedos, tudo se torna preto e branco. O tempo fica... Parado? Não, apenas extremamente lento, era possível ver os fios de cabelo do monstro se movendo muito devagar, assim como as gotas, de sangue quase paradas no ar, e a fera com sua boca aberta, preparada para morder Akira, parada, quase indefesa. Todo o ambiente fica com a aparência de um filme antigo do cinema mudo. Apenas um ruído grave e baixo, que pode ser ouvido em todos os lugares, mas ao mesmo tempo, não parece vir de nenhum lugar. Akira da um risinho, vendo a facilidade com a qual conseguiu sua vitória. Abre sua jaqueta, e puxa seu melhor amigo. Um revolver Colt 1851 Navy. Puxa o cão da arma, e a aponta contra a criatura que voava em sua direção. Um tiro para cada terço da cabeça da coisa. As balas iam devagar, mas não tanto quanto o monstro. 

     Akira se levantou, e caminhou até a porta, começando a sair. E atrás de si, as balas impactando contra a fera. Tocando com brutalidade e perfeição. Um pequeno buraco na testa de cada uma das três garotas, e uma explosão de carne, cérebro, ossos e sangue da parte de trás do crânio. Parecia um buquê de rosas vermelhas que se deformava com lentidão.

     A mão de Akira tocou a maçaneta, com a outra, estala novamente os dedos. Apenas se ouve o som do monstro, voando de encontro ao chão, já imóvel e sem vida.

     Akira: -Meu trabalho é doentio. - Disse saindo da loja, mantendo seu sorriso intacto, embora toda a cena que viu, afinal, era apenas mais um dia comum.

 

     


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Autor(a): I am Depression

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).




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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • lc.lour Postado em 04/06/2018 - 08:57:58

    Achei genial ^^


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