Fanfic: Necromante - Os Deuses da Morte | Tema: Fantasia
Poucos dias depois...
A Rainha de Talles, Juliet, finalmente havia chegado no reino mais próximo, Condar, sob domínio do rei Konn. Os soldados imediatamente reconheceram a rainha. Ao ver o estado dela – suja, cabelo empapado de suor e poeira e roupas que viraram trapos – eles questionaram o que havia acontecido. A rainha não respondia, porém, limitava-se a pequenos grunhidos, e sempre ficava com olhar vazio.
Com receio, o comandante que era responsável pela muralha ordenou que levassem a rainha para o castelo acompanhada por uma escolta.
O reino de Condar não era o mais rico, mas passava longe de ser o mais pobre. É claro, reino tem sua parcela de podridão, e em Condar não era diferente. Obviamente, as moradias perto do castelo eram excelentes, enquanto as mais afastadas perdiam o valor.
O castelo ficava no centro da cidade, onde um rio artificial o separava. A porta levadiça se abaixou para que Juliet pudesse entrar. Lá dentro, ela foi encaminhada diretamente para a sala do trono.
O rei estava sentado em seu trono – parece que reis só sabem fazer isso. Ao ver estado de Juliet ao entrar, uma expressão preocupada tomou o rosto por traz da espessa barba.
– Rainha Juliet, o que aconteceu com você? Onde está Oros? – perguntou olhando diretamente para ela.
Ele obteve o silêncio como resposta.
– Senhor, nós também fizemos perguntas para ela quando chegou até nós na muralha, mas ela não respondeu também. Achamos melhor escoltá-la até aqui – explicou um soldado.
– Fizeram o certo.
– O reino de Talles foi subjugado a morte, assim como seu rei, Oros – disse Juliet. Ela fez uma pausa, fintou o rei com seus olhos vazios. – Nós, os Deuses da Morte, iremos levar a morte qualquer outro reino que interferir em meus planos. A partir de hoje, Talles é minha... eu sou o Rei Morto, Morrigan.
As pessoas que ali estavam ficaram em silêncio, entreolhando-se.
– Mas de que porra você está falando? – disse o rei, com voz rígida.
De dentro da roupa, Juliet tirou um frasco. Os guardas ficaram na frente de seu rei para protege-lo, e dois foram para cima da rainha. Ela bebeu o liquido do frasco – desceu pela sua garganta emanando laranja – e, após alguns segundos que os guardas a seguraram, ela explodiu. Sangue e entranhas dos guardas e da rainha espalharam-se pela sala.
Todos ficaram em silêncio e incrédulos.
– Pretendem deixar estes restos na minha sala?! Mexam-se! – vociferou o rei, irritado.
Um homem de dois metros de altura com a pele tão escura quanto um carvão e equipado com uma armadura pesada ajoelhou-se de frente para o rei.
– Meu senhor, devo enviar minhas tropas para Talles?
O rei riu com escárnio.
– Não, Cletus. Este não é o primeiro grupinho a ameaçar-me, e nem será o último. – Coçou a barba. – Estou preocupado de fato com Oros. Com certeza tem algo lá. Anuncie um contrato sobre este caso de classe S. Se as pessoas não voltarem de lá, sua tropa está liberada de ir.
O homenzarrão assentiu.
– Já ouviu falar deste grupo. Os Deuses da Morte dizimaram pequenas vilas. Seu líder é um necromante. Além dele, apenas consigo recordar-me sobre uma bruxa.
– Um necromante?! Achava que estes desgraçados estavam extintos.
– Exceto um. Sempre existiram pouquíssimos necromantes, mas há rumor que um necromante começou a matar os de sua raça.
– Então, estamos lidando com um “Judas”?
– Possivelmente, senhor.
O rei suspirou.
– Sinto maus presságios.
Em algum lugar no reino de Condor, uma jovem de cabelo negros e curtos perambulava por aí com uma katana embainhada em sua cintura. Perto dos arredores do castelo, ela viu um soldado pregar uma folha no quadro de contratos, e, curiosa, foi lá ver.
Tratava-se de um contrato nível S proporcionado diretamente do rei. A missão dizia que um determinado grupo ou pessoa teria que ir até o Reino de Talles acabar com um grupo de assassinos denominado “Os Deuses da Morte”. Você tinha duas opções de concluir esta missão: trazendo informações relevantes ou aniquilando o grupo. Myrella – a garota em questão – não achou muito complicado. E, como tratava-se de uma missão de nível S vindo do rei, iria reder bom dinheiro e reconhecimento.
Animada com a ideia, Myrella começou a correr para contar para o seu grupo sobre o tal contrato. Ela curvou diversas ruas, becos e passou por uma ponte até enfim chegar em seu destino: a taverna do Lun.
A taverna estava lotada. Apesar disto, um grupo se destacava no fundo: gritavam mais alto que os outros, pulavam mais e bebiam mais. Myrella foi até eles e botou o papel do contrato isso mesa, e a atenção foi toda para ela.
– O que é isso? – perguntaram.
– Isto, meus amigos, é o que tornará nós ricos e famosos! – ela respondeu.
De imediato, eles começaram a disputar para ler. E todos ficaram de olhos arregalados.
– Mas é uma missão classe S! – disse o cabeludo.
– Ah, mas nós já completamos as missões de classe A facilmente! Devemos arriscar para melhorarmos!
Todos eles olharam para o homem de cabelo loiro e de braços cruzados que estava em pé.
– Por favooooor, Nif! – pediram.
Ele riu.
– Certo, certo... Nós vamos – concordou.
Eles gritaram em comemoração e ergueram as canecas de cerveja.
– Eu sei que você é nova no grupo, mas sua cura seria bem-vinda. Quer ir conosco, Lili?
A pequena Lili assentiu.
– Partiremos amanhã!
----------- *** -----------
Em um pátio de treinamento atrás do castelo do reino de Talles, estavam Thanatos e Molly. Ela estava sentada no chão com uma espada ao seu lado, enquanto Thanatos se mantinha em pé com os braços cruzados. Este dia, como os outros, Molly recusava a ser treinada pelo Thanatos, que por sua vez não insistia.
O campo de treinamento estava bagunçado graças a invasão, mas ainda tinha alguns bonecos de palha e armas espalhadas por ele. O tempo sobre eles estava nublado, o céu completamente cinzento.
Saindo do castelo, Morrigan os observou por um tempo. Sem vê-los exercer qualquer tipo de movimento, o necromante decidiu ir até eles. Thanatos o cumprimentou acenando com a cabeça, e Molly continuou com a cabeça baixa.
– Ela se recusa a treinar – explicou Thanatos.
Morrigan a observou em silêncio por um instante.
– Molly, você nos odeia? – perguntou o necromante.
A refém o lançou um olhar transbordando de fúria e ódio.
– Que porra de pergunta é essa? Vocês matam todos da cidade e um rei maravilhoso... e agora me mantem como refém! É claro que eu os odeio, seu imundos!
– Cidadãos, rei... E sua família?
Foi perceptível a maneira como Molly se retraiu.
– Não lhe interessa – falou secamente.
– Unf. Entendo.
Morrigan se aproximou mais da refém. Em um ínfimo instante, Molly segurou a espada, ergueu-se e desferiu um golpe. O necromante deu um passo para trás, e a lâmina passou perto de seu peito. Ela girou a espada e desferiu mais um corte, seguindo por uma estocada. Novamente, Morrigan desviou. Enquanto ela dava uma sequência de cortes, ele apenas desviava de um lado para o outro.
Habilmente, Molly utilizou seu pé como eixo e girou o corpo. Morrigan segurou a lâmina com mão – sangue negro escorreu pelo corte – e desferiu um soco na barriga dela, que a fez cuspir sangue e sair rolando.
Morrigan caminhou calmamente até sua refém. Molly se arrastou para fugir, até que o necromante a agarrou pelo pescoço e prensou-a contra uma parede. Ela sentiu o toque frio e horrendo, e suas veias começaram a ficar negras. Escutando os baixos gemidos de dor, Morrigan abriu um sorriso sádico e cruel em seus lábios secos.
– Oh, então a anjinho sabe manejar uma espada?
Ele a jogou para perto de Thanatos. Molly continuou no chão, com dor e ofegante.
– Eu... vou matar você. TODOS vocês – ameaçou entre os dentes cerrados.
Morrigan agachou perto dela.
– Acho que deu para perceber que, se não treinar, nunca vai conseguir.
O necromante se levantou e começou a ir embora, mas ele parou e olhou por cima do ombro.
– Você disse que ele era um bom rei, certo? Siga-me. Se quiser, você também, Thanatos.
Molly levantou com dificuldades. A dor que sentia em seu corpo era horrível, principalmente no estômago. Com receio – e meio que sem escolha – ela o seguiu, e Thanatos estava logo atrás.
Os três não foram muito distantes do pátio de treinamento, ainda se mantinha na parte de trás, apenas se aproximaram da parede do castelo. Morrigan empurrou uma pedra adornada com o símbolo do reino, e houve o barulho de engrenagens logo em seguida. A parede se moveu, abrindo um caminho que levava ao subterrâneo.
A escada descia em espiral. O corredor era tomado pelo breu, onde havia apenas tochas para iluminar. No final dos degraus, estava a porta de madeira. Morrigan a abriu, e houve o ressoar dramático das dobradiças.
De imediato, Molly sentiu o cheiro fétido arder em seu nariz, e, ao ver por trás da porta, ela vomitou.
Corpos e mais corpos de pessoas jaziam ali dentro. Todos em aparelhos de tortura. Uns com cortes profundos no corpo, ou desmembrados forçadamente por máquinas que espichavam seus membros. Alguns presos em rodas que torciam suas colunas, fora os empalados, entre outros meios. O chão da sala era coberto por sangue e entranhas.
Molly tentava não vomitar de novo, enquanto os dois continuavam normais.
– São... inocentes? – perguntou ela.
– Não. Provavelmente assassinos, estupradores, algo do tipo – respondeu Morrigan.
– Então, el-
– “Então, eles merecem isso”? – previu o necromante, e riu com escárnio. – Eles sangram como você. Sentem dor como você. Medo. Fúria. Ódio. Eles são humanos... como você. Ou você acha que fazer isso é digno de um “humano”? – Ele a fintou. – Como você acha que surgem os “vilões”?
Morrigan teve o silêncio como resposta. Ele apontou para um homem açoitado que estava com os braços suspensos no ar amarrados por corda.
– E se aquele homem tivesse um filho e descobrisse sobre isso? – Ele apontou para uma mulher desmembrada e nua. – E se está mulher fora tirada sob o olhar daqueles que a ama? – Apontou por um homem, que parecia ser um soldado. – E se descobrissem que esse homem sofreu tudo isso apenas por inveja? – Morrigan balançou a cabeça em negação. – As pessoas não nascem ruins. Elas têm dias ruins, ou uma sequência deles. Uma pessoa não nasce boa, os dias bons as que o definem. Da mesma forma que você não pode simplesmente escolher ser feliz ou triste.
O silêncio falou mais alto por alguns segundos. Molly ergueu seu olhar para os do necromante.
– E você... Morrigan? Que dia ruim você teve para se tornar este ser desprezível que é hoje?
Ela percebeu a mudança no olhar dele.
Está tendo um devaneio, ela pensou.
– Treine, e talvez um dia lhe conte.
– POR QUE DIABOS VOCÊ QUER QUE EU TREINE?!
Morrigan a ignorou.
O necromante sentiu perder o controle sobre alguns mortos-vivos.
– Temos visitas – ele fechou a porta.
Perto dos muros do reino, Ahriman estava deitado em cima do telhado de uma casa observando o céu cinzento. Minutos depois, ele começou a escutar passos. Ao olhar para entrada, deparou-se com um grupo de aventureiros com sete pessoas. Eles caminhavam cautelosamente olhando ao redor.
– Eles conseguiram passar pelos mortos... interessante.
Curioso, Ahriman saltou do telhado até a frente do grupo. Com um sobressalto, eles ficaram atentos e recuaram um pouco.
– Quem são vocês? – perguntou Ahriman.
– Como se fossemos dizer – brandiu um deles.
– Bem, vocês estão no território do Rei Morto. Meu rei. Então... suicidem-se, sim?
O pequeno grupo se entreolhou um momento, então veio uma pequena explosão. Quando olharam para trás, viram o corpo da curandeira Lili caído no chão sem a cabeça. Ela estourou seus miolos com um frasco explosivo. Os aventureiros ficaram de olhos arregalados.
– Nossa, só um de vocês tem a mente fraca? – Ahriman suspirou. – Que chato.
Nif olhou com fúria para Ahriman e empunhou sua lança.
– Você vai pa-
Antes que terminasse de falar, um breu engoliu todo grupo. Ao desaparecer, todo o grupo sumiu, restando apenas Myrella.
– Para onde levaram meus amigos?! – vociferou ela. Ódio transbordava de seus olhos enquanto ela sacava a katana com um lindo prateado.
– Bem, provavelmente o rei já sabem que vocês estão aqui, e Hades levou seus amigos para as apresentações.
– Você vai pagar pelo o que fez a Lili.
Ahriman revirou os olhos.
– Pode vi-
Em um piscar de olhos, Myrella apareceu acima de Ahriman e talhou o peito dele com o golpe de sua katana. Ahriman caiu no chão e sentiu seu peito arder. Com os olhos arregalados e mão no corte, ele recuava enquanto ela se aproximava.
– Não, por favor, tenha misericórdia – ele suplicava.
– Misericórdia?! – ela vociferou com ódio. – Olha só o que você fez com a Lili! Com este reino! Seu verme imundo, eu vou lhe mostrar minha piedade!
Myrella ergueu a katana.
A expressão de medo de Ahriman desapareceu e transformou-se em um sorriso sádico.
– É brincadeirinha.
Um pedaço de ferro veio voando em direção a Myrella e decepou o braço esquerdo dela, com a katana. Ela segurou a ferida com a mão direita, sentindo o sangue quente escorrer. Ela gritava de dor.
A mão esquerda de Ahriman emanou azul e ele estapeou o ar em seguida. A onda psíquica empurrou Myrella para o chão. Ele montou em cima dela, que se debatia. Ahriman agarrou sua garganta a fintou. Viu o olhar dor e medo que detinha agora.
– Você sabia que o medo deixa nossas mentes fracas? – ele perguntou, sem tirar seus olhos do dela. – Beije minha bochecha.
Myrella parou de debater, de grunhir de dor, de sentir ódio... e beijou a bochecha de Ahriman, como ele ordenou.
Depois de um tempo rindo, Ahriman saiu de cima dela. Ele retirou sua vestimenta – graças a sua armadura leve, o corte em seu peito era superficial. Ao olhar para o braço decepado dela, ele notou que havia criado uma pele na região do corte, estancando o sangue.
– Regeneração alta que você tem – ele disse, e encostou em uma pedra. – Diga seu nome.
– Myrella.
– Certo, Myrella, agora me diga o que você e seus amiguinhos vieram fazer aqui.
– O rei Konn anunciou um contrato para lidar com o grupo de assassinos, Os Deuses da Morte. E eu persuadi ao me grupo a vir aqui.
– Oh, acho que tudo está indo conforme meu rei planeja, então. – Ahriman observou o corte em seu peito e olhou com raiva para Myrella. – Você me fez um corte, e isto não ficará por aqui. Dispa-se. Agora.
Lentamente, Myrella retirou cada peça de roupa que utilizava. Ahriman observou o corpo nu dela de cima a baixo, e sorriu.
– Fale.
Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Myrella.
– Por favor... não... não – suplicava ela.
Ahriman se aproximou dela e sussurrou:
– Você trouxe seus amigos para cá, e todos vão morrer por sua culpa. Deveria ter pensado “E se meus inimigos forem mais fortes?” – Ele fez uma pausa enquanto ria. – Não se preocupe, você vai morrer também. Mas iremos nos divertir muito antes disso, certo, Myrella?
Continua...
Autor(a): TioArcanjo
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Na ampla sala de jantar do castelo, estava Hela, a bruxa. Com um caldeirão sobre a lenha, ela mexia o liquido roxo escuro dentro dele. De dentro de seu manto negro, Hela retirou algumas ervas com coloração laranja e despejou dentro da caldeira. Ela sussurrou palavras que pareciam não fazer sentindo e em voz alta disse: – Deusa da Benevol&ec ...
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