Fanfic: Autodestruição - AyA | Tema: Ponny

POV Poncho

- Um ano depois –

*Música: The Reason – Hoobastank*

Acordei com uma dor de cabeça tão absurda que parecia que meus miolos estavam explodindo. Ainda de olhos fechados, pude sentir uma forte claridade em cima de mim, o sol esquentando o meu rosto. Argh, quem foi que deixou a persiana aberta?

Levantei com dificuldade, cambaleando um pouco e desviando das garrafas de cerveja vazias pelo chão. Tampando parcialmente a visão com uma mão, consegui chegar até a maldita persiana e puxando a cordinha, fechei-a.

“Eu não sou uma pessoa perfeita
Tem várias coisas que eu desejo que não tivesse feito.”

Passei os olhos por todo o quarto, procurando os analgésicos. Seria impossível de achar alguma coisa naquela bagunça. Tinham pilhas de roupas sujas espalhadas por toda a parte e basicamente tudo o que eu tinha numa estante estava jogado aos cacos no piso de madeira, resultado de uma crise de raiva que eu tive na noite anterior enquanto bebia.

“Eu só quero que você saiba
Que eu encontrei uma razão para mim.”

Desisti de procurar e me deixei cair na cama, dolorido demais para mexer um músculo. Fechei os olhos e tentei dormir outra vez, querendo ignorar a dor que continuava martelando em minha cabeça.

Estava quase caindo no sono, mais dormindo do que acordado na verdade, quando despertei de supetão com o toque infernal do celular. Tentei ignorar, esperando que o babaca que estivesse me ligando desistisse logo.

“Eu sinto por ter te machucado
É algo com que eu tenho de viver todos os dias
E toda a dor que eu te infringi
Eu desejava que eu pudesse levá-la por inteira
E ser aquele que catava suas lágrimas.”

O celular continuou vibrando na cômoda ao lado da cama, o som parecia ficar ainda mais alto, se é que era possível. Fiz esforço para estender o braço e peguei aquele aparelho do diabo, atendendo-o sem ver quem estava chamando.

- Vai se foder. – Atendi simpático.

- Você está de ressaca de novo? É o que, a quinta vez essa semana? Já chega, eu chego aí em vinte minutos. – Era o filho da puta do Ucker querendo bancar a babá.

Ia mandar ele pro inferno, mas o desgraçado desligou na minha cara. Francamente, ele estava mais insuportável do que nunca ultimamente. Afundei a cabeça debaixo do travesseiro, esperando-o.

Em vinte minutos exatos ele estava entrando em meu quarto e recolhendo tudo o que estava no chão.

- Virou minha empregadinha também? – Soltei debochado.

- Eu devia receber uma medalha por continuar te aguentando. – Disse olhando para cima. – Deus, sabe se lá como eu ainda estou aqui por você. Conseguiu um belo feito, Poncho. – Falou irônico. - Você conseguiu afastar todas as pessoas que se importavam contigo.

- Se foram embora é porque não se preocupavam comigo de verdade. – Corrigi-o seco.

“Eu não sou uma pessoa perfeita
Eu nunca quis fazer aquelas coisas com você.”

- Não bote a culpa nos outros por você ser um pé no saco. – Disse sem paciência, terminando de colocar as roupas no cesto. Agora era possível ver os analgésicos, perto do pé da escrivaninha. - Você só está colhendo o que plantou. Primeiro machucou a Anny de propósito, dizendo que não a amava quando você sabia que sim.

- EU NÃO SABIA NAQUELA ÉPOCA! – Gritei, as veias saltando de meu pescoço, o rosto completamente vermelho de raiva. Passei a mão no rosto, me acalmando aos poucos. – Eu só descobri depois que ela se foi. – Murmurei em um lamento, batendo com a mão no colchão.

“Eu só quero que você saiba
Que eu encontrei um razão para mim
Para mudar quem eu costumava ser
Uma razão para começar de novo
E a razão é você.”

- Você já sabia, só estava em negação. – Passou as mãos pelo cabelo. - Que seja, eu não vou discutir isso de novo. Depois, quando ela se foi e você se deu conta, começou a se afundar cada vez mais em sua dor e foi ignorante e desagradável com todos que tentaram te ajudar. Chris, Mai, até mesmo a Dul, que estava possessa pelo que você fez com a amiga dela, mesmo assim ela se importou e tentou te ajudar. – Ele abriu o frasco de remédio e catou um comprimido, vindo até o lado da cama e pegando o copo com água que tinha ali. - Você conseguiu fazer os três te odiarem, Poncho. Mas de mim não vai ser tão fácil de se livrar. – Estendeu o copo e o analgésico para mim.

Eu engoli o remédio, me sentindo um pouco culpado pelo jeito que estava tratando Ucker. Ele era realmente o único que permaneceu ao meu lado, não importando as incontáveis vezes que fui um babaca com ele nesse último ano.

“Eu não sou a pessoa perfeita.”

- Obrigado. – Murmurei de maneira quase inaudível.

“Mas eu continuou aprendendo.”

- É o que? – Perguntou achando graça.

- Se ferrar, Uckermann. – Soltei irritado e ele riu mais ainda.

- Esse é o Poncho que eu conheço. – Disse divertido, empurrando a minha cabeça e se sentando na cama.

Eu franzi o cenho de repente e ele estranhou.

- O que foi?

- Engraçado, eu não estou vendo a Dulce aqui com você. – Eu tinha uma careta no rosto e segurava meu queixo. - Achei que agora vocês tivessem virado um só. – Debochei.

- Isso tudo é ciúmes de mim? Não me leve a mal, mas eu prefiro a Dul. Sabe como é que é, ela tem peitos. – Falou óbvio.

- O lance de vocês é bem sério mesmo, não é?

Ucker fez uma careta ao ouvir a palavra lance.

- É namoro, Poncho. Um compromisso sério, consegue entender? Não é porque você teve medo de entrar de cabeça em um relacionamento, que todos vão ter também. – Me olhou daquele jeito meio repressivo que às vezes ele usava.

- Eu não tenho mais medo. – Soltei o ar pesadamente, o rosto com expressão arrependida. - Se quer saber, tudo o que eu mais queria agora é poder ter ela aqui comigo e poder chamar de minha.

“Eu sinto por ter te machucado
É algo com que eu tenho de viver todos os dias
E toda a dor que eu te infringi
Eu desejava que eu pudesse levá-la por inteira
E ser quem catava suas lágrimas.”

Ucker começou a bater palmas, o rosto em puro divertimento.

- Que foi palhaço? – Perguntei confuso.

- Demorou cinco anos mas enfim você parece pronto para tomar uma atitude.

- Do que você está falando?

- Você finalmente sabe que quer ela ao seu lado, não como melhor amiga, não como amiga colorida, não como sua alma gêmea. Honestamente, nunca entendi direito esse papo de vocês sobre almas gêmeas. – Ele parou e balançou a cabeça, como se estivesse esvaziando sua mente. – Eu estou fugindo do assunto, o meu ponto é que você agora quer ela como namorada. Está pronto para agir, então. – Falou com satisfação.

- Agir? – Não estava entendendo nada do que Ucker estava falando.

Ele bateu na própria testa, rindo um pouco.

- Santa lerdeza que você tem às vezes. Falando de maneira bem clara, é pra você pegar um avião até Nova York e trazê-la de volta pra cá.

“E a razão é você.”

- Ucker, isso nunca daria certo. Ela deve estar me odiando.

- Poncho, deixa de ser burro um segundo, por favor. – Deu um tapa na minha orelha. – Ela te ama. Sim, ela deve estar te odiando um pouco, mas iria tudo desaparecer no momento que você aparecesse na frente dela com flores e chocolates. Esqueça as flores, só o chocolate basta para aquela mulher. Meu Deus, nunca vi mais faminta. – Falou com falso choque e nós dois começamos a rir.

- Você acha mesmo que ela me perdoaria? – Perguntei tentando esconder a patética esperança na voz.

- Certeza, irmão. – Me deu dois tapinhas nas costas, como forma de incentivo. – Ela é tão louca por você, quanto você por ela. O resto é fácil de resolver, perdi a conta de quantas vezes eu a Dul brigamos feio, parecia sem volta e depois simplesmente fazíamos as pazes.

- Como que você faz pra ela te perdoar? – Questionei interessado em saber.

- Ela gosta sempre de estar certa, todas as mulheres são assim. – Falou como se fosse um especialista. – Então eu sempre chego e digo como eu estava errado e ela certa, e quando a coisa é mais feia levo rosas vermelhas junto. São as preferidas dela.

- Droga. – Soltei preocupado, passando uma mão na nuca.

- O que foi?

- Eu não sei quais são as flores preferidas da Anny. Eu a conheço a cinco anos e não sei quais são as flores preferidas dela. – Falei exasperado.

- Mas sabe pelo menos de que marca de chocolate ela gosta?

- Fácil, ela estava sempre comendo os bombons Ferrero Rocher. – Sorri orgulhoso por saber.

- Pronto, aí está. Você leva um caminhão de Ferrero Rocher e então ela vai pular nos seus braços, simples assim. – Ele franziu o cenho de repente. – Eu estou com uma dúvida, pode tirá-la?

- Manda.

- O que você ainda está fazendo sentado aqui, ao invés de estar em frente à aquele laptop. – Apontou para a escrivaninha. – Comprando uma passagem aérea para amanhã.

- Eu estou esperando você ser um bom amigo e pegar o laptop pra mim, já que eu estou com uma dor fudida nas costas e nas pernas. – Fiz uma expressão de dor e ele riu.

- Você é muito folgado, impressionante.