Fanfic: Autodestruição - AyA | Tema: Ponny

P.O.V. Poncho

No dia seguinte pela manhã, recebi alta e fomos todos embora. Ucker dirigia o carro alugado sem me dar uma única palavra. Estava ainda furioso comigo. Ele sempre condenava minhas atitudes. Não entendia o porque de eu fazer o que fazia. Anny me contou que foi ele quem nos salvou, percebendo o que tínhamos e dizendo para os outros que deveriam nos levar até o hospital. Teria que agradecê-lo depois. Mesmo dizendo sempre que não concordava com o que eu fazia e que não iria me ajudar, todas as vezes ele estava lá por mim.

Ucker e eu começamos nossa amizade de maneira muito estranha. No 1º ano ele era o que mais caçoava de mim e Anny. Dizia que éramos esquisitos e nos botava vários apelidos. Quando mudei, estranhamente queria sua aprovação. Pensava que se tivesse a amizade de meu maior agressor, estaria realmente no caminho certo em minha transformação.

Acabou que descobri que Ucker era muito melhor do que aparentava ser. Por trás do agressor, tinha um cara inseguro. Ajudei-o com sua insegurança e ele se arrependeu do que tinha feito comigo. Pronto, a partir dali esse desgraçado virou como um irmão para mim, e o mesmo aconteceu com ele.

Chegamos no resort. Dei um beijo na testa de Anny e fui com Ucker ao nosso quarto. Christian não estava lá. Bom.

Ele mexia em sua mala, ignorando-me. Pus as mãos em meus bolsos e suspirei.

- Será que você pode ouvir o que tenho pra dizer? Por favor. É importante. – Supliquei.

Ele parou de mexer na mala e se virou em minha direção.

- Estou ouvindo. – Me respondeu de maneira seca.

- Primeiro de tudo eu queria te agradecer. Você esteve ali por mim mais uma vez quando eu precisei. É um ótimo amigo.

- É, eu sou mesmo. Diferente de você. – Falou com raiva.

- Não faça isso. Não me acuse assim. Eu posso estar me destruindo, mais eu tenho os meus motivos. A Anny me entende, por que você não pode entender também?

- A Anny te entende porque é outra f***** da cabeça. – Ele se arrepende do que diz no momento em que sai de sua boca, mas isso não me impede de ficar furioso e levantá-lo pela camisa.

- Nunca mais fale assim dela!!! – O soltei. Só não iria batê-lo pelos anos de amizade.

- Desculpe, eu não sei onde eu estava com a cabeça. Não é o que penso dela de verdade. Só falei com a intenção de te magoar, sei que ela é seu ponto fraco. – Ele riu pensando em algo. – Engraçado, desde que conheci vocês dois, até mesmo quando eram pessoas completamente diferentes, sempre achei que ficariam juntos.

- Por que você diz isso?

- Não sei. Talvez pelo carinho, a cumplicidade que via que tinham um pelo outro. Talvez por se entenderem sem mesmo dizer uma palavra, sério, as vezes vocês me assuntam com essa parada. – Rimos juntos. – Ou talvez pela atração que existe entre vocês dois. – Ia abrir a boca para contestar, mas ele falou primeiro. – Não negue que eu não sou cego. Até porque a Anny é linda e nem f****** que você não iria reparar nisso.

- Ok, você está certo. Ela é a mulher mais linda que já vi. Mas é só isso. Somos amigos e só nos vemos dessa forma. É possível ser só amigo de uma mulher, sabia?

- Sim, é possível. Anny e eu somos amigos. Vocês dois são outra coisa. Tem uma relação que nunca vi antes. E que honestamente, é o tipo de relação que eu gostaria de ter com uma namorada. Antes de dizer que não sente nada por ela, já parou para pensar que talvez esteja sendo tão cabeça-dura afirmando o tempo todo que são só amigos, que não se dá uma chance de realmente descobrir seus sentimentos por ela? Pensa nisso. – Me deu um tapinha nas costas e saiu do quarto.

Fiquei pensando no que Ucker me disse. Será que...Não, não tinha como estar apaixonado por ela. Sempre tive muita certeza que meu amor por ela era somente de amigo. Essa conversa com Anny no hospital e agora com Ucker é que estava botando minhocas em minha cabeça.

Tomei um banho e fui até a piscina do resort. Notei que todos já estavam ali, em volta de um funcionário do hotel que seria nossa “babá” enquanto estivéssemos ali em Monterrey. Me aproximei e escutei o que ele dizia.

- Bom dia galera. Meu nome é Carlos e vou ser o responsável por vocês nessa semana que estiverem aqui. Como hoje está um belo dia e está fazendo um calor infernal, pensei que vocês poderiam gostar de fazer um passeio de lancha. – Quase todos pareciam animados com a ideia.

- Professor, eu não sei nadar. – Disse uma constrangida Dulce Maria.

- Tudo bem. Temos coletes o suficiente para todos.

- Ah não, professor! Eu sei nadar, não quero ter que usar o colete. – Christian falou indignado.

- Só vai usar quem quiser. Quem mesmo assim não quiser ir no passeio, sinta-se a vontade para fazer outra coisa. Vamos então.

Carlos então guiou todos até o deque onde a lancha estava estacionada.

P.O.V. Anahi

Estávamos com a lancha parada no meio do lago. Algumas pessoas tinham dado um mergulho na água cristalina. Outras se bronzeavam na parte da frente do barco. E Dulce, Angelique e Raquel dançavam funk com uma batida ao fundo.

Procurava por Poncho. Sabia que ele estava me evitando. Tínhamos uma conversa pendente sobre seus problemas. E eu sabia também o quanto ele detestava falar sobre o que lhe deixava para baixo.

Comigo acontecia o mesmo. Costumava achar que poderia resolver tudo sozinha. Não dava a devida importância ao que surgia em minha mente sempre que o ambiente ficava em silêncio e então me assombrava e entristecia. Só que as trevas em mim somente aumentaram com o tempo. Quando elas vêm, me dominam por inteira. É aterrorizante. Sufocante.

Balancei a cabeça e sai de meus pensamentos antes que me afundasse neles.

Vi Poncho dando um mortal e caindo na água. Pulei da borda e fui nadando até ele. Quando me notou, começou a jogar água em mim e fugir. Continuei perseguindo-o ao mesmo tempo em que riamos os dois. Quem nos via, pensava que estávamos mais para duas crianças devido ao nosso comportamento.

Ele acabou por se cansar de nadar e diminuiu o ritmo de suas braçadas, foi então que o alcancei.

- Te peguei. – Disse enquanto segurava em seus fortes braços. – Não tem como fugir. Agora você vai ter que falar comigo.

- E eu por um acaso estava te evitando? – Tinha aquele maldito sorriso canalha em seu rosto.

- Não se faça de bobo. Você e eu sabemos muito bem que sim. – Olhei em volta e vi que não estávamos muito longe da terra firme. – Me segue. E nem adianta tentar escapar. Se você não vier atrás de mim, eu vou até o fim do mundo te buscar.

Virei-me e comecei a nadar em peito. Cheguei ao final do lago e me sentei num tronco de árvore que tinha entre as pequenas pedrinhas que criavam uma espécie de tapete por ali.

- Ai Anny! Essas pedrinhas tão machucando os meus pés. – Rolei os olhos mas não pude evitar que um sorriso se formasse em minha cara. Ele era irritante e adorável ao mesmo tempo. Como isso era possível?

- Deixa de ser fresco e senta aqui comigo. – Dei um tapinha no espaço vazio ao meu lado no tronco. Ele se sentou.

- Já te disse que está linda hoje? – Me olhava com sua melhor expressão galanteadora. Eu quase me perdi em seus belos olhos verdes. Quase.

- Não tente me distrair, Poncho. Eu sou imune aos seus encantos. – Lhe dou um sorriso confiante enquanto botava minhas mãos em minha cintura.

- Então você admite que eu tenho os meus encantos. – Ele insistia nesse assunto e me pus vermelha.

- É, bem, uhm, as outras garotas parecem gostar. Mas eu, obviamente não. – Estava me pondo nervosa. Sentia minhas mãos suarem e limpei-as em minhas coxas.

Por que diabos estava me sentindo desse jeito? Desde a noite anterior, quando estava bêbada e decidi por divertir-me um pouco com Poncho, acabei por descobrir que ele tinha o poder de incendiar o meu corpo com o seu simples toque. Nunca tinha me sentido assim antes, com ninguém.

- Não mesmo? – Ele se aproximou perigosamente.

- Não, nadinha. – Minha respiração estava alterada. Rápida e ofegante, e o pior era que ele podia perceber o efeito que estava tendo sobre mim.

Eu o queria tanto naquele momento. Queria por fim saber o gosto de seus lábios. Se eram tão macios e hábeis quanto imaginava. Se sua língua roçando na minha seria capaz de me deixar em transe.

- Tem certeza? – Passou a mão em meus cabelos, tirando-os do pescoço.

Eu não podia. Lembrei da conversa que tivemos no hospital. Se eu estivesse apaixonada, ele também estaria. Mas eu não estava. Era somente uma estúpida e louca atração. Amor não estragaria nossa amizade, mas atração certamente iria.

- T-tenho certeza s-sim. – Droga. Ficava parecendo uma tonta quando gaguejava.

Se deixasse ele me beijar, tudo entre nós mudaria para sempre. Não poderíamos mais compartilhar o que pensaríamos. Não poderia mais pegar em sua mão do mesmo jeito despretensioso que fazia. Passaria de melhor amiga a mais uma de suas conquistas. Nunca que um beijo, mesmo que de Poncho, poderia valer tudo o que eu estaria arriscando.

- E se eu fizesse isso? – Sussurrou de maneira rouca e sensual. Sua respiração quente soprando em meu ouvido. E então mordeu o lóbulo de minha orelha. Oh p****! Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo antes de chegar ao ponto entre minhas pernas.

- Não! – Me levantei depressa. – Você... – Quando enfim percebi o que ele pretendia, me senti a mais idiota em toda a face da Terra. – Você só estava querendo me distrair para não ter que conversar. – Constatei e ele arregalou os olhos. - Ca***** Poncho! As vezes você é um verdadeiro ba****.

Ele estava estático. O olhei magoada antes de sair correndo em direção ao hotel.

Ele nem tentou me impedir.