Fanfic: Os Opostos Se Completam | Tema: AyA Rebelde Opostos

Alfonso narrando:

Bingo retornou a ligação quase uma hora e meia depois de eu ter desligado o telefone na cara da minha branquinha. Expliquei que estava sem moto, mas não entrei em detalhes de como tinha a “perdido”. Simplesmente disse que não estava com a moto e que depois explicaria melhor, mas que antes eu só precisaria ir embora dali e tomar um banho. Ainda não sabia onde estava, mas graças a Deus, Bingo conhecia o lugar. Com alguns detalhes que contei, ele reconheceu como a praça verde, que rolava muitas drogas principalmente à noite. Como usava algumas vezes, ele já esteve por lá e sabia o caminho.

Meia hora depois, lá estava ele chegando com sua moto. Apenas buzinou, sem nem perder o tempo de descer. O encarei por alguns minutos, e caminhei até ele. Bingo me estendeu um capacete e eu subi em sua traseira sem nem trocarmos palavras. Eu o conhecia o suficiente para saber que se não conversava, é porque sua raiva estava tão grande, que se abrisse sua boca soltaria os cachorros em cima de mim.

O caminho inteiro foi de puro silêncio, até porque não tinha como conversarmos em cima da moto. Os capacetes abafavam o som, e os carros e barulhos externos também atrapalhavam bastante. Mas, foi bom, porque eu também não estava preparado para receber sermões. Me preparei para a bronca o tempo todo enquanto estávamos no caminho de casa. Respirei fundo e imaginei até levar um soco do Marcelo. Bom, acho que estava ficando preparado para isso.

Chegamos em casa e desci sem nem esperar que ele desligasse a moto. Entreguei o capacete e abri o portão que estava destrancado. Miguel correu até mim assim que abri a porta, mas logo se afastou com a expressão tristonha e correu novamente para os braços do Cris.

-O que foi pequeno? – perguntei, aproximando-me dele.

Miguel escondeu seu rosto no peito do Cris e o apertou, como se tivesse com medo de mim. Olhei para o Bingo confuso e ele apenas apontou a escada com a cabeça, como se me mandasse subir. O obedeci e subi rapidamente. Abri a porta do meu quarto e entrei.

- Ficou maluco? – exasperou, batendo a porta com força – Senta aí que você vai me ouvir!

O olhei sem acreditar no que estava ouvindo. Logo Bingo que sempre descontou suas pequenas tristezas em maconha, dizendo que era apenas para abstrair. Não queria admitir que justamente ele me desse sermão. Antigamente era o contrário. Eu o socorria nas ruas escuras, levava-o para casa, dava banho e depois dava uma bronca daquelas como se ele fosse meu filho desobediente. Senti-me humilhado por estar no lugar dele.

Tirei a camiseta e respirei fundo, sem querer encará-lo. Bingo caminhou até mim e bateu na minha mão, fazendo a camiseta voar no chão.

- O que foi isso? – franzi o cenho, irritado – Calma aí! Eu já perdi as contas de quantas vezes te resgatei de praças e becos, mas sempre estive ao seu lado. Não queira ser o dono da razão, porque você não é – bufei – Foi a primeira vez que sumi. E eu precisava disso. Nem quando meu pai sumiu eu não me permiti agir com emoção, usei minha razão e escondi minha dor para acolher minha mãe. Então, dane-se, Marcelo! Não vem pra cima de mim como se eu fosse o errado. Sei que não deveria ter sumido, mas eu precisava! Tem noção de como está doendo? TEM NOÇÃO?

Bingo pareceu assustado ao ver minhas lágrimas descendo com tanta facilidade, até mesmo eu me surpreendi. Poucas foram as vezes que demonstrei tristeza ou fraqueza. A maioria das vezes que estava triste, ficava calado, não chorava na frente de ninguém e detestava ver a cara de pena que faziam quando imaginavam que eu pudesse estar triste. Eu queria ser forte ao máximo, sempre, mas naquele dia eu não consegui. Perder Anahí era demais para mim.

Não conseguia ser racional, e nem tampouco reagir em frente àquele avalanche de informações que destruíram meu coração e meus sonhos. Era recente demais para eu encarar tudo com mais leveza, era recente demais para que eu não perdesse minha cabeça perante o meu amor que estava indo embora da minha vida sem que eu pudesse fazer nada, e sem eu ter culpa daquela vez. Ela tinha que ir, e estava indo contra a minha vontade. Isso era muito doloroso. Era doloroso demais até para mim que já passei por perda. Era destruidor demais até para mim que sempre encarei a vida com o olhar de adulto e não como uma criança que sempre chora quando não consegue algo que quer.

Bingo bufou e pareceu não ter ficado comovido com o meu desabafo, apenas assustado com a quantidade de lágrimas que eu ainda deixava escorrer pelo meu rosto.

- É por isso que estou furioso com você! Exatamente por isso! – pausou – Merda, Alfonso, tu sempre foi a razão de nós quatro. Sempre pensou antes de agir e sempre foi o correto em todos os assuntos. O que aconteceu com você? – respirou fundo – Eu sei que sempre sumi quando estava magoado, e a última vez que fiz isso ocorreu antes de eu conhecer a Victória, apareci somente uma semana depois. Eu me lembro da bronca que tu me deu, e não tirei sua razão em momento algum. Mas é estranho para mim ter que te buscar, meu. Entende? Eu fiquei louco quando você sumiu e sua mãe passou mal. Você não pensou nela e nem em ninguém...

- SEMPRE PENSEI EM TODO MUNDO! – o interrompi aos berros – POSSO PENSAR PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA EM MIM MESMO?

- ABAIXA O TOM QUE TU NÃO ESTÁ COM A RAZÃO! – gritou. Marcelo relaxou seus ombros quando se deu conta que a conversa estava fugindo do controle, e encarou-me com um pouco mais de leveza – Cara, eu sei que não está passando por um momento fácil. Eu não imagino como é descobrir que o amor da sua vida é na verdade sua irmã e que não poderá tocá-la como deseja, não poderá realizar os sonhos e planos que fizeram – respirou fundo – Mas não combina contigo sumir assim. Você deixou todo mundo aflito, cara. A Mai está grávida, esqueceu?

Abaixei a cabeça e continuei chorando silenciosamente. Não me sentia envergonhado, pois acreditava que todos tinham seus momentos de fraqueza e esse era o meu. Eu apenas não queria ter trazido ainda mais tristeza para todos, mas precisava daquele momento. Precisava esfriar a cabeça e ficar sozinho.

Só não precisava trocar minha moto. Essa culpa estava caindo sobre os meus ombros cada vez com mais força.

- O que fez com a moto? – perguntou, quando permaneci calado apenas o ouvindo – Hein, Alfonso? Cadê a moto do escritório do Ricardo? Está ciente que não era sua, né?

Engoli em seco e o encarei.

- Troquei.

- Trocou? – ergueu as sobrancelhas – Pelo quê? – bufou. Continuei calado, encarando algo por trás de seu corpo – RESPONDE, ALFONSO!

- Por drogas, tá legal? Troquei por cinco saquinhos de maconha! – bufei – Eu sei que a moto não era minha, mas...

- Ricardo confiou em você – interrompeu-me – A moto era como se fosse sua, porque ele confiou em você, Alfonso. Você vendeu um instrumento do seu serviço. Tem noção do que fez? Da gravidade? Quebrou a confiança do seu CHEFE!

Dei de ombros e permaneci calado, apenas ouvindo aquele sermão que sinceramente já estava me dando no saco. Não queria admitir que Bingo poderia estar certo, não queria admitir que tinha agido inconsequentemente. A raiva ainda estava em minhas veias, e eu só precisava de alguma droga que me tirasse daquela cruel realidade.

- A Anahí estava arrasada.

Foi só falar no nome dela, que voltei a sentir o sangue borbulhar em minhas veias. Levantei-me em um pulo e o segurei pela gola de sua camiseta, sem nem me dar conta do que estava fazendo. Minha respiração ficou mais forte. Eu apertei tanto sua camiseta que meus dedos estavam doendo, mas ainda assim não larguei. O encarei com mais raiva e aproximei nossos rostos.

- Não fala dela! – franzi o cenho – Cala essa merda dessa boca, Marcelo, que eu estou louco para meter o soco em alguém e vou descontar em você – o empurrei – Dane-se que Anahí estava arrasada. Dane-se! Eu também estou, e precisava me aliviar. Queria sumir, e você não sabe o que estou sentindo, o quanto está sendo duro ter que encarar que Anahí não é mais minha namorada. Então, cala a sua boca antes de me dar bronca! – virei- me de costas e coloquei as mãos enterradas em meus cabelos.

- Tem razão, eu não sei o que está sentindo, nem o tamanho da sua dor – pausou – Mas, eu quero o seu bem. Tu sempre foi meu irmão, e eu só quero o seu bem, Poncho. Não é seu fazer isso. Não é do seu feitio fumar. Tu nunca fumou, cara. Só cigarros. É estranho.

- Me sinto perdido sem ela – murmurei – Imagina se fosse com você. O que sentiria se Victória fosse sua irmã e de repente recebesse essa notícia?

Bingo ficou em silêncio por alguns segundos.

- Acho que piraria.

Apenas assenti, e permaneci de costas, chorando, desolado. Bingo não disse mais nada por alguns segundos. Sentei-me na cama e ele sentou ao meu lado. Não ousei erguer minha cabeça para ver a expressão de Bingo, mas senti que ele ainda iria continuar falando em breve. Senti que a conversa não tinha terminado ali.