Fanfic: Os Opostos Se Completam | Tema: AyA Rebelde Opostos

Alfonso narrando:

Estava no parapeito da janela do meu quarto olhando a rua e pensando em tudo que minha vida tinha se tornado em tão pouco tempo. Os acontecimentos que me tiraram o chão, e que eu não conseguia esquecer. A gravidez da minha mãe ainda estava difícil de engolir, mas não toquei nesse assunto com ela mais. Eu queria saber quem era o pai, queria saber quando se conheceram e se era um bom homem, mas não tinha cabeça para isso no momento. Ainda tentava digerir não ter mais Anahí na minha vida da forma que eu queria. Estava tentando aceitar que ela não poderia ser nada mais que minha irmã, e aprender a conviver com o vazio de não poder mais beijá-la, amá-la.

Meus amigos ficaram comigo o tempo inteiro, mas como de costume, Bingo foi o que mais se manteve ao meu lado. Pediu folga do emprego e nem ia se encontrar com a Victória para me fazer companhia. Em partes eu sabia que era um modo que arrumou para me vigiar, para que eu não me metesse novamente com drogas, mas eu agradecia. Pois mesmo me sentindo preso dentro de casa, sabia que Bingo se preocupava comigo e não queria que eu me afundasse em coisas mundanas.

Eu esteve ao meu lado durante os dois dias que se passaram. E quando digo que esteve ao meu lado, não me refiro que estava comigo por mensagens, ou que aparecia de vez em quando. Bingo simplesmente acampou em meu quarto. Passou o dia todo em minha casa tentando me distrair. Eu consegui rir de algumas palhaçadas eu fazia, mas quando dava por mim, estava chorando ou querendo chorar novamente.

Não falei e nem vi mais minha branquinha. A saudade era cada vez maior, mas eu sabia que era melhor assim. Era melhor evitar todo o tipo de contato que me fizesse querer beijá-la, tocá-la. Por mais que doesse, a distância era melhor do que ter que encará-la e ter a certeza de que não poderíamos mais viver juntos. Não era uma separação momentânea ou briga de casal que em alguns dias a tempestade se acalmava. Era um termino mesmo, verdadeiro e definitivo. E ter que conviver com isso, não era fácil.

Maite continuava a passar mal. Soube que sua gravidez era de risco, mas a teimosa achava que ela mesma era dona de seu nariz, e que poderia fazer qualquer coisa que quisesse sem dar satisfações a ninguém. Ainda pensava em conversar com Derrick, mas toda vez que tentava, ele dava um jeito de escapar.
Mai deu para mim e Anahí batizarmos a criança. Deixou claro que queria nós dois, por mais difícil que fosse estarmos um ao lado do outro. Ainda não tínha conversado com a branquinha, mas deixou claro que não iria mudar de ideia. Ah, o neném era menino e já tinha até um nome: Leonardo. Eu amei esse nome.

Faltava pouco mais de um mês para eu voltar a trabalhar, e eu não fazia ideia de como contar ao Ricardo que havia trocado a moto por pacotes de maconha. Bingo disse que iria decepcioná-lo, e eu tinha de concordar. Não seria nada fácil para ele aceitar que um funcionário que ele entregava toda a confiança, tinha a quebrado tão banalmente. Mas, infelizmente essa era a realidade e eu tinha que arcar com as consequências.

Minha mãe não fazia ideia de que isso tinha acontecido. Tentei contar no mínimo cinco vezes, mas ela parecia tão triste, tão exausta... Que eu acabava desistindo. Sem esquecer o fato de que eu também estava receoso em contar. Não só pela gravidez, mas porque tinha medo do que ela poderia fazer. Ela era calma. Um amor de pessoa. Mas, quando ficava nervosa, era realmente terrível. Eu tinha medo, confesso.
Miguel estava diferente comigo. Como se soubesse o que fiz de errado, ou estivesse chateado. Até tentei perguntar, mas ele não respondeu. Mal me dava ideia. Só falava com a minha mãe e o Cris. Nem mesmo Bingo, ele não falava direito. Estava estranho demais, mas não forcei que falasse. No tempo certo iria acabar soltando o que tanto o incomodava, era sempre assim. Algumas vezes não demonstrava, outras sim, mas ele falava. No tempo dele, mas falava. Só precisava ter paciência.

Estava deitado na minha cama perdido em pensamento. Bingo estava no colchão falando com a Victória. Mai deitada na sala, Miguel tinha ido na casa de seu amigo e minha mãe não estava em casa. Estava tudo calmo do lado de fora, e um vulcão em erupção dentro de mim. Eu queria poder gritar, mas meu lado racional esfregou na minha cara que isso não resolveria, e que era melhor eu agir com maturidade.
Virei- me em direção à porta e no mesmo instante vi a maçaneta girar. Era Miguel.

- Cadê a mamãe? – seus olhos estavam cheios de lágrimas – Quero minha mamãe.

O chamei com a mão, mas ele negou e coçou os olhinhos.

- Vem cá, pequeno. Mamãe saiu, e eu também não faço ideia de onde foi. Deita aqui comigo que daqui a pouco ela está de volta.

Miguel relutou no começo, mas acabou cedendo. Andou até minha cama e se deitou ao meu lado, mantendo uma distância considerável de mim. Eu ainda estava estranhando sua reação. Pensei que talvez pudessem ter falado alguma coisa, mas ninguém sabia da história verdadeira paternidade de Anahí. Nem mesmo minha mãe acho que sabia. Como ele poderia saber?

Tentei convencê-lo mais uma vez de falar o que se passava. Ele negou as quatro primeiras tentativas, e até ameaçou ir embora, mas eu o segurei tão forte, que ele ficou completamente imóvel.

- Me diz, pequeno. O que foi que eu fiz?

Miguel fungou e se sentou na cama.

- Fez a branquinha ir embora! Não vou te desculpar, Poncho, não dessa vez – soluçou – Ela voltou para a casa dela, mas não parecia contente. Você brigou com ela de novo!

- Não, pequeno, não briguei com ela – acariciei seus cabelinhos – Ela teve de ir.

- Mentira – Miguel encolheu os joelhos e escondeu o rosto entre eles – Você brigou com ela. Tu sabia que eu amo a branquinha, e mesmo assim deixou ela ir. Não foi atrás, Poncho. Ela ama você, sabia? – me olhou – Eu não gosto mais de ti!

Engoli em seco. Como iria explicar à ele que eu não podia ir atrás da Any? Como explicar para uma criança de cinco anos, que Anahí era filha do nosso pai, e exatamente por isso, por causa dela, ele foi embora e nos abandonou? Eu, apesar de tudo, não queria que Miguel criasse alguma espécie de cisma ou raiva da Any por conta disso. Ele a amava, era nítido.

Miguel continuou na mesma posição, chorando baixinho. Meu coração doeu só de ouvir aquilo. Não queria perder meu irmão, e nem causar todo aquele reboliço em seu pequeno coração. Caraca, será que é difícil ser pelo menos um pouco feliz? Ou que as coisas comecem a dar certo?

- Pequeno, olha para mim – pedi. Miguel me olhou limpando seus olhos e fungou – Eu não posso te explicar muita coisa, porque você é pequeno demais para entender. Mas não posso mais namorar com ela. Não deixei de amá-la, acho que isso vai ser impossível, mas não posso mais namorar com ela.

- Por quê? – choramingou – Eu quero, Poncho. Quero vocês dois juntos.

Meus olhos encheram de lágrimas. Mal sabia ele que isso era exatamente o que eu queria. Se eu pudesse, trocava qualquer coisa para ela ser minha para sempre. Sem interrupções dessa vez.

- Porque descobrimos no dia do aniversário dela, que ela é... – pausei – Miguel me olhou confuso, mas não me interrompeu – A branquinha é nossa irmã, moleque.

- Irmã? – limpou os olhos e sorriu – Ela é filha da mamãe, também?

Seus olhos brilhavam tanto, que eu tinha até medo de contar que nosso pai havia voltado. Acho que não era a melhor pessoa para explicar isso à ele, mas como precisava saber uma hora, tomei a liberdade de eu mesmo contar. Ser sincero e tentar recuperar o que ainda sobrava de seu sentimento.

- Não é da mamãe, pequeno – respirei fundo – É do papai. Ele voltou e bem, é o pai dela também.
Miguel pareceu não ter entendido direito. Ficou em silêncio por longos minutos até que sua ficha pareceu ter caído. Ou parte dela. Eu não contei como tudo aconteceu em detalhes, porque ele só tinha cinco anos. Achei melhor contar só a parte principal, na qual ele também tinha direito de saber.

- Quero ver o papai – chorou – Quero conhecer ele, Poncho. Me leva? Onde ele mora?

Respirei fundo.

- Ele é irmão do Ricardo. Mora com a branquinha, mas ela não sabia que era nosso pai – apertei os lábios - Um dia eu te levo, carinha. Por enquanto não estou preparado para revê-lo.

Miguel se levantou e correu para a porta.

- Vou ligar para a branquinha. Ela vai me levar – sorriu – Poncho? Eu te amo, tá? Desculpa falar que não gosto de ti. Eu amo você, irmão.

- Também te amo, pequeno. – foi só o que eu consegui dizer. Assim que a porta se fechou, deitei na cama e voltei a chorar como uma criança indefesa.