Fanfic: Os Opostos Se Completam | Tema: AyA Rebelde Opostos

Alfonso narrando

-Alfonso? Alfonso, está tudo bem? – perguntou Joana – Parece desnorteado. Está acontecendo alguma coisa na sua casa?

Eu não consegui responder. Apenas balancei a cabeça negativamente, e peguei as pastas que haviam em cima do balcão, para eu começar as entregas.

Como era sexta feira, aquele escritório parecia super mercado em dia de Ano Novo. Lotado. Pessoas entrando e saindo à todo instante. Cruzando meu caminho, quase derrubando outras pessoas. Algumas andavam devagar, outras pareciam tirar o pai da forca. Eu parecia perdido no tempo em plena 14 horas. E na verdade, estava realmente perdido em pensamentos, ainda mais depois da mensagem da branquinha.

Tudo o que conseguia pensar era na Anahí indo embora em dois dias. Na Any passando pela porta de embarque, e deixando de lado tudo o que vivemos. Mesmo que não esquecêssemos como prometemos um ao outro, tudo que passamos nesses meses, ainda assim deixaríamos de lado o que talvez pudéssemos nos tornar se caso ela ficasse.

Confesso que namorar não era o meu forte. Ter um relacionamento sério com uma pessoa, ao meu ver, era deixar que mandasse na minha vida, e isso não me agradava. Aliás, eu sempre disse à minha mãe que a única mina que poderia mandar em mim e sentir ciúmes , era ela e ninguém mais. Coisa chata esse negócio de pegar no pé. Mas, ao conhecer Any, as coisas meio que se modificaram. Eu me vi pela primeira vez, desejando ser apenas de uma pessoa. E percebi que quando estávamos juntos, eu não precisava realmente de outra mina, só ela bastava.

- Alfonso – insistiu Joana – Olha pra mim.

Eu relutei. Virei as costas e comecei a andar, mas ela conseguiu ser mais rápida e fechou minha passagem, erguendo meu rosto com a ponta de seu indicador, e forçando para olhá-la.

- Está fumando droga? – arregalou os olhos – Eu sei que o Bingo fuma maconha, e até o Dado. Mas você, jamais esperei uma coisa dessas.

Balancei a cabeça negativamente e bufei.

- Você sabe muito bem que não gosto dessas coisas. O máximo que fumo é cigarro.

- Não minta, Poncho. Seus olhos estão vermelhos – respirou fundo – A não ser... Alfonso, você chorou?

- Não, Joana – abaixei a cabeça – Estou atrasado, me deixa ir.

Sai apressado sem esperar que ela me dissesse mais alguma coisa.

Sim, pela primeira vez na vida eu chorei por uma mina que não fosse a minha mãe. Pela primeira vez na minha vida, escrevi mensagens trancado no banheiro e chorando, parecendo uma menina indefesa. Estava morrendo de saudades dela, mas ao mesmo tempo, esses dois dias que estávamos longe, foi tão difícil que eu não queria voltar a me aproximar dela novamente. Seriam apenas mais dois dias, e depois outra despedida, que seria demais até para mim, que tive que ver meu pai sumir da minha vida sem nem se despedir.

Me sentir patético ao chorar, mas o que eu sentia era como se abrisse um buraco com britadeira em meu peito. Não conseguia controlar, apenas não queria ver a branquinha partir. Queria colocá-la em meu bolso, pra não permitir que fosse para longe de mim.

Se eu contasse aos meus amigos o que estava sentindo, iam pensar que estava zoando, com certeza. Estranho demais para o nosso entendimento.

As horas foram passando, e o horário de ir embora chegou finalmente. Estava voltando ao escritório para entregar os documentos já assinados, e o Ricardo me chamou até a sua sala com uma cara nada amigável. Apenas respirei fundo, sem saber o que tinha feito de errado, e então resolvi ir o mais rápido possível antes que levasse uma bronca.

Entramos, fechei a porta, e ele fez sinal para que eu me sentasse na cadeira em frente à ele. Fiz o que mandou e o olhei impaciente, já imaginando a cena do Aprendiz com o Roberto Justos “você está demitido.”

- Bem, - começou a dizer calmamente. Dando espaço entre uma palavra e outra, e enchendo ainda mais o meu peito de angustia – O que eu vou dizer não tem nada haver com o emprego. – sorriu fraco – Pode ficar tranquilo que, não será demitido.

Confesso que o alivio naquele momento foi imenso. Não queria perder o emprego. Aliás, não podia deixar aquele escritório, onde era um dos raros lugares que me aceitavam como eu era.

- E então, em que posso ajudar? – perguntei, ainda o olhando – Fiz algo de errado?

- Sim. Mas com a Anahí – abaixou seu olhar – Sei que não tenho nada haver com a vida de vocês, mas, não foi confortável ver minha filha chorando por sua causa.

- Por minha causa? – perguntei surpreso. Jamais imaginei isso na minha vida.

Na mesma hora já senti meu coração se apertar. Pensei logo nas mensagens que mandei à ela. Acho que a saudade que eu sentia, era inteiramente recíproca, e tenho que confessar que em partes era um sentimento bom. Anahí se importava com o que tínhamos, assim como eu. Seja lá o que tínhamos, realmente.

- Sim – umedeceu os lábios – Ouvi uma conversa dela com meu filho, e ela dizia sentir sua falta. E que te convidou para jantar e você não aceitou.

- Doutor, me desculpe, mas não queria falar sobre isso – suspirei – Não tenho nada contra ela, de verdade, só acho que não é bom nos envolvermos ainda mais. Ela vai pra Londres, e aí tudo acaba. Seremos apenas amigos, ou lembranças...

Parei de falar, e abaixei a cabeça. Percebi que estava falando demais com um chefe e pai da garota que eu estava ficando, era melhor parar por ali.

- Seria apenas um jantar, rapaz – disse, calmamente – Será que não pode quebrar seu protocolo dó dessa vez?

Eu pensei por alguns instantes. Lembrei-me de tudo o que ela me fazia sentir quando me olhava nos olhos, e realmente não achei que fosse uma boa ideia vê-la. Não iria conseguir somente curtir um jantar como bons amigos. Mas, me doeu saber que estava chorando pela mensagem que havia mandado. Só porque achei melhor não nos vermos, e então eu aceitei.

- Tudo bem. Mas pode ser na minha casa? Não gosto muito de restaurantes e esses bangues.
Não tinha porque mentir, Anahí me conhecia, e se ela aceitava-me assim, seu pai tinha que aceitar, também.

Ricardo sorriu.

- Tudo bem, rapaz. Avisa sua mãe que levo Anahí lá, tá? – sorriu – Pode ir, já acabou seu turno.
- Janta com a gente, senhor. A comida da minha mãe é uma delícia, embora seja simples. Eu amo o tempero dela.

Ricardo sorriu meio constrangido, acho que não esperava meu convite, mas assentiu gentilmente.

- Comida simples são as que mais me agradam. Faz tempo que não como algo caseiro. – sorriu novamente – Irei com prazer.

Apertamos nossas mãos, e então eu fui embora para avisar minha mãe, que com certeza ficaria maluca, por tudo estar em cima da hora.

Assim que cheguei em casa, disse à ela e fui tomar banho. Claro que ela deu um pequeno surto, mas amou a ideia, pois gostava muito da Any.

Tomei meu banho, troquei de roupa, me enchi de perfume, coloquei meu boné pra trás e desci. Eram 20:40 quando ouvi a campainha tocar. Saí em disparada até a porta, e a abri. Ricardo sorriu, me deu um aperto de mão e entrou. Anahí apareceu meio emburradinha. Estava atrás de seu pai, de cabeça baixa. Ela me olhou, sorriu, e entrou como se fossemos apenas conhecidos.

- Fique a vontade – disse, fechando a porta – Pode sentar, doutor, minha mãe está terminando uma lasanha.

- Obrigado – sorriu – Me chame de Ricardo, lembra?

Assenti e olhei para Any, já sentindo meu coração acelerar muito. O que era aquilo?