Fanfic: Mentira Perfeita - Vondy - adaptada | Tema: vondy adaptada
Cheguei em casa perto das oito e fui para a cozinha preparar o jantar. Uma rápida olhada no armário e descobri que eu estava sem Doritos. E sem miojo. Saco. Havia algumas coisas na despensa, coisas que dona Berenice havia comprado. Envergonhado, como se as latas de tomate me observassem de maneira acusadora, fechei o armário e liguei para a pizzaria.
Desde que Dulce tinha ido embora, voltar para casa era assim. Eu ainda sentia o cheiro dela impregnado em todos os cantos do apartamento, e tudo parecia gritar “Seu grande idiota!”, das almofadas no sofá à TV, que eu já não ligava. E o
silêncio que antes eu prezava tanto agora parecia me sufocar até eu ter de abrir todas as janelas em busca de ar. Nunca adiantava, claro, mas eu tentava. E sabia que a culpa era minha.
Nunca fui muito bom em lidar com situações extremas. Não achava que havia errado em terminar com a Dulce, mas a forma como fiz isso, sim. Em minha defesa, minha cabeça estava fodida. Eu tinha saído daquele consultório com a
sensação de morte. Não uma morte física, mas a morte de minha vida antiga, do antigo eu. Imagino que seja normal meter os pés pelas mãos numa situação dessas.
Quando a dor da morte começou a se assentar, veio o luto por tudo aquilo que nunca seria. Minha família foi incrível, me deu todo o suporte de que eu precisava, sobretudo meu irmão. Em momento algum eles sentiram pena de mim, coisa que eu odiava — ironicamente, fui o único a fazer isso.
Teria sido impossível suportar aquilo sem eles. E, em algum momento, a dor cedeu. Não desapareceu, e acho que nunca desapareceria, mas não era tão grande quanto eu havia imaginado. Conforme ela retrocedia, uma dor diferente surgiu, e essa sim era monstruosa.
— Coração partido — Poncho disse certa noite, enquanto eu o ajudava a preparar o jantar em sua casa. E eu não discuti; era isso mesmo. Meu coração estava destroçado.
Então eu pretendia tomar um banho, comer a pizza e cair na cama, mas me detive ao passar pelo quartinho que Dulce e Berenice haviam ocupado. Eu não entrava ali desde que elas haviam se mudado para minha casa. Segurei a maçaneta, inspirei fundo e abri a porta. O ar parecia saturado, os móveis precisavam de uma boa espanada, mas tudo estava como as duas haviam deixado. Nada fora do lugar, exceto pela camisola verde de vaquinhas da dona Berenice, dobrada aos pés da cama. Abri a gaveta da cômoda que fora ocupada por Dulce. Corri os dedos de leve sobre as blusas dobradas à perfeição. No entanto, senti um calombo rígido sob a pilha de tecido. Curioso, dei uma espiada e descobri uma caixinha de madeira antiga, com o desenho desgastado de uma rosa na tampa. Peguei-a com cuidado. De início, seu conteúdo me pareceuapenas lixo. Entretanto, reconheci a pequena margarida, agora seca, com que ela brincara em nosso primeiro encontro, o guardanapo de papel com o logo da lanchonete que ela dobrara e desdobrara para disfarçar a tensão, o isqueiro em formato de coração, o recibo da pista de boliche...
Ela havia guardado algo de cada momento em que estivemos juntos.
Cada uma daquelas coisas havia sido importante para ela. Cada um daqueles objetos dizia que ela não tinha se aproximado de mim por pena ou por causa de sua natureza dependente. Eles afirmaram algo que, no fundo, eu já sabia, e tinha medo de acreditar.
— Ah, Pin... — Meu coração deu um coice dentro do peito, me deixando sem ar.
Meu Deus, o que foi que eu fiz?
O interfone tocou e tive de engolir em seco para controlar a súbita umidade que me brotou nos olhos. Fechei a caixinha de tesouros e a coloquei de volta na gaveta com muito cuidado.
— Seu Christopher, seu pais estão aqui — o porteiro foi dizendo quando atendi. — Eu pedi para eles esperarem, mas a sua mãe me deixou falando sozinho e a essa altura já deve...
Alguém bateu à porta.
— Sem problemas, seu Emerson.
Desliguei e fui abrir a porta. Minha mãe tinha duas travessas nas mãos. Meu pai segurava mais quatro.
— Olá, meu querido. Espero que esteja com fome. — Ela me beijou rapidamente e foi entrando. — Posso colocar na geladeira?
— Claro, mãe.
— Fiz tudo o que você gosta. Dá para congelar. — Ela enfiou a comida na geladeira.
— Pensei que vocês só viessem para o fim de semana, por causa das paradas do casamento do Poncho. — Fechei a porta e me juntei a eles na cozinha.
— Eu também — bradou meu pai, equilibrando as travessas.
— Eu fiquei com saudade dos meus meninos. Vou passar na casa do seu irmão daqui a pouco. Como está se sentindo, meu amor?
— Bem, mãe. Não precisava ter trazido comida. Eu sei cozinhar, lembra?
Ela foi até a pia para se livrar de um pouco de molho que respingara em seu pulso.
— Ah, mas você anda sem tempo. A Anahi me contou que está atolado, com as provas finais chegando. E eu trouxe lasanha. Posso esquentar? Ou você prefere estrogonofe?
— Eu acabei de pedir uma pizza. — Ergui os ombros, me desculpando.
— Ah, bem... — ela se queixou, desolada. — Victor, coloque essas no freezer.
Depois de meu pai guardar a comida, eles foram para a sala. Assim que se sentou, os olhos da minha mãe voaram para a porta do quarto que eu havia deixado aberta.
Ah, diabos.
Ela se levantou e foi até a entrada, examinando tudo com a testa franzida.
— Bem... a Dulce tem um gosto muito peculiar para roupas de dormir — comentou.
— Não é dela, mãe. É da tia Berenice.
Seu rosto se voltou para mim de imediato.
— De quem? — meu pai quis saber.
— Senta aqui, mãe. Eu tenho algumas coisas para contar para vocês.
Ela fez o que eu pedi, se acomodando ao lado do meu pai, a mão buscando a dele como se estivesse prestes a ouvir algo muito ruim.
Comecei a contar toda a história, da discussão que tivemos para que eu pudesse sair de casa, o noivado de mentira, o envolvimento culminando no rompimento. Conforme eu ia falando, meus pais se entreolhavam calados, o que era pouco típico dos Uckermann.
— Então eu menti para vocês para poder sair de casa, e fui devidamente castigado pela vida. A Dulce nunca foi minha cuidadora. Me perdoem. Eu só queria provar a mim mesmo que era capaz de me virar.
Eles esperaram em silêncio, me encarando com expectativa.
— E...? — minha mãe incentivou quando eu não disse nada.
— E o quê?
B— E a sua grande revelação? — Meu pai inclinou a cabeça.
— Eu acabei de fazer, pai.
— Ah... — lamentou minha mãe, decepcionada. — Pensei que você tivesse algo realmente novo para nos dizer. Nós já sabíamos sobre a Dulce.
— Sabiam?
— Christopher, por favor! — Meu pai revirou os olhos. — Você olhava para aquela menina como se ela fosse uma lasanha!
— Claro que nós não imaginávamos nada sobre esse noivado falso — minha mãe alisou a saia — para tentar salvar a tia dela. E eu fico orgulhosa que você tenha tentado ajudar. Mas, com relação a você e à Dulce, nós soubemos assim que os vimos juntos. Qualquer um podia ver que vocês estavam apaixonados.
Qualquer um menos eu. Precisei daquela caixinha de tesouros para acreditar que milagres existiam.
E eu tinha feito tudo errado.
Meu pai assentiu, como se tivesse lido meus pensamentos e concordasse.
— Ela ama você. — Ele cruzou os braços. — E você é um belo de um paspalho por não ter enxergado isso a tempo.
— Mas nunca é tarde para corrigir um erro. Como você vai tentar recuperar o amor dessa moça? — minha mãe quis saber.
— Eu... eu não sei.
A pizza chegou. Meu pai se levantou para receber.
— Bom, então é melhor começar a pensar, antes que outro rapaz perceba o tesouro que ela é e você fique a ver navios. — Ele foi atender a porta.
Eu não tinha pensado em ir atrás dela. Estava tão seguro de que havia feito o que era certo que não parei para pensar em tentar me reaproximar.
Não até encontrar sua caixinha de tesouros e sentir brotando no peito algo que eu pensei que jamais voltaria a sentir. Esperança.
Só que, entre todas as maneiras que eu poderia ter pensado para afastar Dulce, optei justamente por aquela de que, eu sabia, não haveria volta. Dulce tinha dificuldades para se relacionar, e ainda mais para confiar nas pessoas. Ela confiara em mim. E eu a traí. Não exatamente, mas era nisso que ela acreditava.
Que eu a fiz acreditar.
Cacete. Eu ia precisar de mais um milagre.
Autor(a): wermelinnger
Este autor(a) escreve mais 6 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Américo foi compreensivo e me deu uma semana de folga para que eu pudesse ficar com minha mãe. Ele nem ia descontar nada do meu salário — o que era uma bênção, pois o plano de saúde não cobriu todos os gastos, e parecia que tudo custava uma fábula. Ela ficou por um mês no hospital antes de ser li ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 202
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
Vondy Forever❤ Postado em 20/02/2020 - 19:32:55
Nossa eu amei essa história do começo ao fim, e uma história linda de amor e de superação e bastante engraçada. Amei a tia Berê ter casado com o médico que acompanhou o seu caso no final. Abraços..
wermelinnger Postado em 29/02/2020 - 17:02:59
Oii eu tambem amei esse final feliz para a tia Bere. Obrigada por ler e comentar Beijinhos
-
ana_vondy03 Postado em 18/02/2020 - 17:40:58
Aaaaa eu não acredito que acabou! Vou dar uma passadinha lá nas outras histórias! Simplesmente adorei o final da história, bem q poderia ter uma continuação né? Kkkkk
wermelinnger Postado em 19/02/2020 - 07:14:38
Pois É nem eu acredito:( passa sim tenho certeza que vai adorar
-
mari_vondy Postado em 18/02/2020 - 10:31:29
Ai que final lindo, dona Berenice se deu bem. Vondy finalmente juntos, tão fofo. Amei a fanfic
wermelinnger Postado em 19/02/2020 - 07:14:06
Pois É dona Berenice finalmente realizou seu sonho de casar. Que bom que gostou
-
ana_vondy03 Postado em 17/02/2020 - 13:19:11
Hahahaha amei a reconciliação! Aaaa eu n qro q acabe, vou sentir mta falta de ler a história! Continuaaa amoreee S2
wermelinnger Postado em 19/02/2020 - 07:14:56
Eu tmb vou sentir falta
-
mari_vondy Postado em 17/02/2020 - 10:30:22
continuaaaaaaaaa, que reconciliação mais fofa, amei
wermelinnger Postado em 17/02/2020 - 13:08:55
Gostou? Tambem achei fofo!!
-
ana_vondy03 Postado em 15/02/2020 - 12:04:59
Naaaao cara tô chorando aqui! O Christopher eh um fofo! Espero q agora ela perdoe ele! Continuaaa amoreee S2
wermelinnger Postado em 17/02/2020 - 13:08:36
Ele quando nao tá sendo um idiota É um fofo mesmo
-
mari_vondy Postado em 15/02/2020 - 08:45:02
continuaaaaaaaaa, aí Dulce vai atrás dele logo kk ansiosa pelos próximos capítulos
wermelinnger Postado em 17/02/2020 - 13:08:08
Continuando
-
ana_vondy03 Postado em 14/02/2020 - 13:10:15
Não tinha pensado q a Dulce era o alvo da Samantha, mas do msm modo ela tava louca kkkkk continuaaa amoreee S2
wermelinnger Postado em 15/02/2020 - 07:40:09
Quando eu li eu também não imaginav que era esse motivo Continuando
-
mari_vondy Postado em 14/02/2020 - 10:34:21
continuaaaaaaaaa, tadinho do Christopher, ainda bem que Samantha vai ficar bem longe agora
wermelinnger Postado em 15/02/2020 - 07:39:18
Continuando....
-
mari_vondy Postado em 14/02/2020 - 09:12:49
continuaaaaaaaaa, posta outro sim, nem imaginei que a Samantha queria era a Dulce, Vondy tem que se acertar logo
wermelinnger Postado em 14/02/2020 - 09:37:13
Prontinho... depois posto a continuação do cap