Fanfic: Encruzilhada - AyA | Tema: Ponny, Hot

POV Poncho

- Estamos no bairro de Guerrero. – Anjo disse enquanto eu olhava em volta. – Pode ser difícil de acreditar, mas esse já foi um lugar muito bonito. Está vendo esses prédios abandonados e caindo aos pedaços? Eram construções neoclássicas francesas.

- O que aconteceu a esse lugar? – Perguntei curioso.

- Até os anos 50, o bairro era habitado pela classe média alta. E então aconteceu uma imigração em massa de pessoas pobres vindas do sul do país. Muitos acabaram por se estabelecer aqui, tornando esse lugar no que ele é hoje. O segundo bairro mais violento da capital e o primeiro em estupros.

- Você conhece muito bem esses tipos de lugares. – Afirmei e ela riu.

- Quem é que está analisando o outro agora? – Ela fez uma pausa, olhando ao redor. – Sabe, Poncho, eu posso não conhecer você, mas sei que sempre viveu num ambiente muito diferente do meu. Você não é de família rica, eu posso perceber, mas nunca esteve nas mesmas condições que essas pessoas aqui. Mas eu sim fui criada por aqui. Não passei fome nem enfrentei a pobreza, pelo contrário, sempre tive uma vida regada de luxo. Apenas...Fui criada sempre por perto dessas pessoas.

- Se você sempre teve uma condição financeira tão boa, porque cresceu por aqui? – Perguntei esperando que ela se abrisse para mim.

- Isso não é dá sua conta. – Ao perceber o que eu estava fazendo, tomou a defensiva.

Bufei em descrença, estava tão perto de conseguir informações sobre sua infância. Precisava ser mais sutil de agora em diante.

- Então Guerrero já está visto, vamos para o próximo ponto do roteiro. – Ela se recompôs rapidamente.

- Que seria?

- La Merced, um lugar realmente nojento. Consegue ter um cheiro pior que o de xixi de Tepito. – Rimos os dois juntos.

- Já estou ansioso para conhecer. – Ela revirou os olhos enquanto sorria.

Finalmente Anjo mostrava um pouco de seu outro lado. Ela era mais do que a grande mafiosa, a assassina cruel e a provocante mulher. Ela tinha também um lado doce e divertido, e me peguei pensando que eu realmente gostaria de conhecer essa sua parte da personalidade que ela mantinha oculta.

Voltamos a andar com o carro pela cidade. Dessa vez, ela ligou o rádio e sintonizou em uma estação de música clássica. Fiquei surpreso.

- Você gosta desse estilo de música?

- Por que está me olhando desse jeito? Só porque eu sou uma bandida não posso gostar de algo mais culto? – Ela ria.

- Não foi isso que eu pensei. – Tentei me justificar.

- Foi exatamente o que você pensou. – Ficamos um tempo em silêncio. – E você? Que tipo de música gosta?

- Eu gosto de jazz, principalmente.

- Temos outro culto aqui no carro além de mim. – Eu ri. – Como você começou a se interessar pelo jazz?

- Foi meu pai que me passou essa paixão. Ele costumava botar uns discos na vitrola e se sentava na cadeira de balanço que tínhamos na sala. Ficava ali as vezes a tarde inteira, só apreciando as músicas. Todo dia quando eu chegava de bicicleta da escola, podia ouvir, ainda do lado de fora da casa, a música tocando.

- Uau, enfim consegui te fazer falar mais do que duas frases. Pelo visto seu pai e a sua infância são temas que te agradam muito, só assim para você se soltar um pouco.

Acho que falei demais. Mas o que ela poderia fazer com a minha revelação? Absolutamente nada.

- Ah não, não acredito que vai ficar quieto de novo. Sinto as vezes como se estivesse falando com a parede. – Ela brincou.

- Você é que fala demais e faz parecer que eu falo pouco.

- Não, não é isso. Você é tão calado quando está comigo por que não quer que eu te conheça de verdade, que eu descubra seus segredos. Tem medo de acabar falando o que não deve sem perceber.

- E você gostaria de me conhecer melhor? – Perguntei com uma patética esperança.

- Você me intriga, Poncho. Eu gostaria sim de descobrir quem você é por debaixo dessa máscara.

- Tanto quanto eu quero saber mais sobre você. – Falei sincero.

- Pois é, mas nem um de nós vai conseguir o que quer. Vamos continuar sem conhecer um ao outro, já que eu não confio em você por causa da máfia e você não confia em mim, porque você acha que eu posso te prejudicar, sabe-se lá por qual motivo.

Não pude dizer mais nada depois daquilo, e então o assunto morreu até que chegássemos em La Merced.