"Embora a pressão seja difícil de aguentar é o único jeito de escapar. Parece uma escolha difícil de se fazer, mas agora estou abaixo de tudo."
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Senti o sangue ser drenado de meu rosto. As pontas dos meus dedos congelaram e o ar a minha volta parecia ter desaparecido. Uma bolha nos envolveu em um silêncio que parecia eterno. Ucker ainda continuava de pé olhando firmemente em meus olhos, mas eu não conseguia formular nada. O que diria? O que eu faria?
- Do que você está falando? - Forcei um riso curto pelo nariz enquanto franzia o cenho.
- Não precisa fazer esse joguinho. - A voz masculina ficou ligeiramente baixa e grave. - Eu vi e ouvi vocês durante a noite.
Meu estômago revirou, um peso estranho se apossou de minha cabeça a fazendo rodar. O corredor qual nos encontrávamos começou a escurecer, mas lutei para me manter focada no que estava acontecendo.
- Vocês são os piores amigos que existem na face da terra, sabiam?
Arqueei as sobrancelhas desviando minha atenção para a garota que havia parado ao nosso lado. A franja negra lhe cobria os olhos escuros combinando com a pele morena. Engoli em seco voltando a olhar para Ucker que agora tinha os braços cruzados na altura do peito e os olhos voltados para o chão. A morena ao nosso lado intercalou a atenção entre mim e Christopher parecendo entender alguma coisa.
- O que está rolando por aqui? - Perguntou desconfiada.
- Maitê.. - Cocei a nuca tentando encontrar uma saída. Precisava falar com Ucker sozinha. - Por que você não vai na frente e guarda meu lugar ao seu lado? Eu preciso muito falar com Ucker, depois a gente conversa. - Pedi suplicante sabendo que minha amiga entenderia.
- Sem problemas. - Sibilou desconfiada. - Vocês tem certeza de que está tudo bem? - Olhou para nós dois mais uma vez.
- Está. - Dessa vez foi Ucker quem respondeu com um sorriso de lado. - É só eu e minha curiosidade.
Maitê ergueu uma das sobrancelhas antes de seguir o caminho nos deixando sozinhos mais uma vez. Esfreguei as mãos no rosto enquanto Ucker colocava as dele nos bolsos da calça olhando para os lados.
- Não estou aqui para brigar com você. - Escutei a voz baixa e contida, um nó subiu pela minha garganta enquanto procurava prestar atenção no garoto a minha frente. - Dulce.. - Pausou correndo as mãos pelos cabelos enquanto suspirava. - Eu adoro a Anahi, sempre adorei a felicidade que você sente quando estão juntas, mas que merda vocês estão fazendo?
"Que merda vocês estão fazendo? Que merda eu estava fazendo?" A frase ecoava em minha mente fazendo tudo ficar ainda mais confuso.
- Eu não sei. - Choraminguei erguendo a cabeça buscando respirar melhor. - Eu não sei o que está acontecendo, Ucker. Eu só sei que quero estar com ela dessa forma. Me diz que não é errado?
Não escutei nada. As mãos gentis me puxaram para um abraço acolhedor, afundei meu rosto em seu peito me agarrando a camisa cinza que vestia. Algo sufocante parecia querer sair do meu corpo. A verdade é que até aquele momento eu não tinha pensado no que estava fazendo. O ser humano é um animal racional até o ponto em que o desejo surge, nesse momento a racionalidade se esvai misteriosamente.
Senti o leve afagar em meus cabelos que me permitiu soltar todo o ar preso em meus pulmões. O sorriso de Anahi aparecendo na frente de meus olhos a todo o momento. O que estávamos fazendo? O que estava acontecendo? Como eu pude ser tão impulsiva? Resfoleguei e um soluço seco escapou de minha garganta, Ucker me afastou um pouco para me encarar preocupado. Percebi as lágrimas embaçarem minha visão.
- Você quer conversar sobre isso ou quer descer e fingir que nada aconteceu? - Perguntou-me preocupado.
Funguei com um sorriso nos lábios. O abracei com força enquanto as lágrimas desapareciam de meus olhos. O nó em minha garganta quase desatado, a pressão dentro de meu peito se aliviando.
- Melhor descermos. - Avisei me separando do corpo magro. - Já devem ter dado falta da gente.
- Você vai falar com Maitê? - O nome da garota me fez sentir um calafrio.
Já era demais assimilar que Ucker sabia e imaginar que Maitê pudesse participar disso me afligia. Eu estava aflita.
- Eu.. Eu não sei. - Franzi as sobrancelhas voltando os olhos para o chão.
- Ela vai ficar muito decepcionada com você se descobrir por conta própria. Sabe como ela é sentimental. - É, eu sabia como minha amiga era.
- Eu não sei o que exatamente contar. - Comentei incerta. - Não acho que conseguiria falar com ela agora. - Fitei os olhos castanhos a minha frente. - Por favor, não comente nada. Deixe que eu conte no meu tempo.
Ucker colocou o braço envolta de meus ombros me puxando para um meio abraço enquanto me guiava pelo corredor solitário. Aceitei aquilo como uma concordância à minha vontade. Adentramos ao salão do restaurante ainda abraçados encontrando o grupo espalhados em varias mesas. Senti meu amigo desfazer do abraço indo em direção a mesa de Derick. Caminhei entediada para me sentar ao lado de Maitê que ironicamente ou não, dividia a mesa com Mari e Anahi.
- Boa tarde! - A saudação animada veio de Mari do outro lado da mesa enquanto me sentava.
Senti uma mão repousar em meu joelho esquerdo seguido de um leve aperto. Olhei para Maitê que se inclinava em minha direção soltando as palavras em um tom baixo.
- Vai me dizer o que estava acontecendo lá em cima? - A curiosidade brilhando nos olhos escuros. Sorri com a mentira já formulada em mente.
- Ucker cismou que estou voltando a ficar com Poncho. Ele é louco! - Debochei bebericando do suco que tinham acabado de por em minha frente.
- Não o julgaria tão louco, já parou para se pesquisar na internet? - Sussurrou apoiando o cotovelo na mesa para sustentar o rosto na mão pequena.
- Maitê, eu não voltei e nem irei voltar com o Poncho. Você melhor do que ninguém sabe disso. - A olhei nos olhos notando sua expressão se suavizar.
- Você tem que entender o Ucker, a gente não quer você daquele jeito novamente.
Engoli as palavras que a garota ao meu lado falava. Eu e Nicholas nunca havíamos chegado a namorar, mas eu estava me apaixonando e por algum motivo o garoto me dava esperanças. Até que começamos a ficar e quase namoramos, mas como não existe conto de fadas meu príncipe encantado passou a me ignorar enquanto eu era amparada por Maitê, Ucker e, claro, Anahi
As lembranças foram imediatamente substituídas pelo verdadeiro motivo de minha conversa com meu amigo no corredor. Desviei os olhos para longe de Maitê tentando respirar melhor ao notar que mentia descaradamente para a morena. Ela não merecia aquilo, mas eu simplesmente não podia. Não naquele momento.
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Encarava o celular entre minhas mãos absorta. A mensagem que havia escrito e apagado inúmeras vezes ainda aguardava para ser enviada, mas alguma coisa me impedia de apertar o botão. Já haviam se passado alguns dias da premiere, e isso significava que todos haviam voltado para suas rotinas. Anahi revezava entre gravar a novela e fazer shows. Eu me limitava a reunião para escolha de músicas para o CD, aulas de canto e as gravações. Os dias haviam se passado rápido, porém não menos exaustivos.
Encarei novamente a mensagem que continha apenas quatro palavras: "Preciso falar com você." Me encontrava sentada na cadeira que ocupava a frente do espelho iluminado de meu camarim quando o aparelho entre minhas mãos apitou sinalizando uma nova mensagem. Apaguei o que havia escrito voltando para a tela inicial encontrando as cinco letras que moravam em meus pensamentos: Anahi. Meu coração triplicou a velocidade das batidas antes que eu a abrisse.
"I Miss you :("
Sorri involuntariamente conseguindo respirar melhor. Mordi o lábio inferior enquanto digitava a mesma mensagem de antes e sem pensar a enviei.
"Preciso falar com Você."
Não demorou muito para o aparelho apitar novamente: "Sobre?" Alisei a tela apreensiva antes de respondê-la.
"Depois."
A batida do violão ecoou pelo local antes da voz conhecida entrar na música, aceitei a chamada o colocando na orelha.
- Oi.
- O que quer falar comigo?
- Por Deus, Anahi. Eu já disse que depois nos falamos. - Um riso curto escapou de minha boca pela impaciência da garota.
- Certo. Maitê ou Angelique ligou pra você?
- Angelique
- Você vai?
- Não sei.. - Cocei a nuca não sabendo se queria ou não ir.
Angelique havia me informado que Maitê estava de folga e queria nos reunir em uma pizzaria. Aparentemente o tal encontro tinha alguma coisa haver com o vídeo clipe que gravaríamos juntos, cuja data a Televisa ainda não havia confirmado. Era uma boa maneira de nos entrosar, mas ainda estava em dúvida.
- O que irá fazer na quarta a noite? Nada. A gente pode ir, você dorme na minha casa e na quinta vamos gravar juntas, o que acha?
- Vai me aguentar durante esse tempo todo? - Sorri imaginando a Portilla revirar os olhos. - Sem problemas, a gente pode fazer isso.
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Ali, sentada em uma das mesas da pizzaria, minha cabeça começou a viajar. Percebia Zoraida passeando entre uma mesa e outra. Maitê e Anahi estavam cantando mais afastadas enquanto Tziano as acompanhava com o violão, Poncho parecia descontraído olhando a performance. Jack não havia comparecido e pelo que os irmãos disseram, estava viajando. Angelique e Christian conversavam animadamente ao meu lado, mas eu não estava ali.
Quantas vezes você se permitiu se auto avaliar? O que encontrou? Você precisava melhorar? Encontrou algo que estava fazendo que não o agradasse ou ficou orgulhoso de ser tudo aquilo que queria?
Cerrei os olhos mirando o nada. Precisava conversar com Anahi, mas não sabia exatamente o quê. Haviam se passado algumas semanas desde a festa de Estefania, desde o primeiro beijo entre a gente. Semanas, e o ato havia se repetido no dia seguinte e no final de semana que se seguiu. Três dias? Okay, tínhamos ficado três dias e ainda agíamos da mesma forma. Eu estava começando a querer a Portilla de uma forma mais intensa do que antes. Se alguns meses atrás eu pensava estar confusa do que estava sentido, naquele momento passava a ter algumas certezas. Mas no momento não era o que eu sentia ou deixava de sentir que me importava, existiam duas coisas acima de mim: Como iriamos lidar com tal situação e o que a loira sentia por mim?
- Eu acho que estou um pouco enjoada.
Despertei olhando para a cadeira recém ocupada por Anahi ao meu lado. A mão pousou delicadamente sobre minha coxa enquanto fechava os olhos puxando uma respiração forte.
- Quer ir embora? - Segurei sua mão entre as minhas notando a temperatura baixa do corpo pálido. - O que está sentindo? - Encostei o dorso da mão na testa de Anahi analisando se estava febril.
- Não. Eu só acho que comi demais. - Explicou-me passando a mão livre pela garganta. - Vou ficar bem.
Estudei seu rosto cuidadosamente, torci a boca me odiando por não saber o que fazer para que se sentisse melhor e a puxei para que deitasse em meu ombro. Passava vagarosamente os dedos pelo cabelo liso de Anahi enquanto conversavamos coisas aleatórias com o casal de amigos a nossa frente.
- Mas eu não pude ir por motivos óbvios: Estava em turnê. - A loira se defendeu.
- Vocês são dois amigos péssimos! - Rosnei fazendo a garota em meus braços soltar uma risada contida. - Pegassem o primeiro avião. Vocês são Angelique Boyer e Christian Chávez! - Esbravejei tomando partido meu e de Anahi que ainda ria contra meu pescoço. A olhei confusa por não ter falado muito durante a discussão. - Está com sono? - Sussurrei.
- Não. Só que é engraçado ver você brigando com eles, prefiro só assistir. - Ergui uma sobrancelha a fazendo esconder o rosto risonho em meu peito.
Olhei para os dois a minha frente novamente. Chris fazia mais um pedido ao garçom enquanto Angel sorria significativamente para mim, senti o face esquentar.
- Meu próximo show será na cidade. Vocês irão, certo? - A Boyer perguntou olhando para cada um de nós.
- Tenho muita vontade de me vingar por não ter ido a Premiere. - A voz veio de Anahi, o tom ligeiramente rouco. Angelique formou um biquinho triste me fazendo sorrir.
- Vocês ficarão nos bastidores comigo. Levem quem quiser. - Ofereceu. Dei de ombros, quem eu levaria seria Anahi de qualquer jeito.
- Tudo bem, mas que fique claro que ainda não perdoei vocês. - A Portilla soou superior enquanto levantava o rosto para me olhar. - Vamos embora?
- Vamos. - Concordei.
Recebi um beijo no maxilar antes da garota se levantar para se despedir de todos. Christian resolveu fazer o mesmo me deixando sozinha com a loira que rapidamente se sentou no espaço vago ao meu lado.
- Agora me conte tudo. - Encarei os olhos azuis e curiosos com certo divertimento.
- Contar o quê? - Perguntei em meio ao riso.
- Para de ser sonsa. - Me advertiu seriamente. - Você e a Portilla, o que tem acontecido? - Olhei envolta encontrando Anahi sorrindo ao conversar com Maitê e os meninos.
- Não sei. - Confessei.
- Dulce Maria Saviñon - Revirei os olhos antes de encostar a testa no tampo gelado da mesa. - Vou perguntar uma última vez: O que tem acontecido? - Fechei os olhos soltando um suspiro sofrido.
- A gente.. - Ergui a cabeça dando uma olhada envolta antes de sussurrar próximo ao rosto da loira. - Ficou algumas vezes.
- Ual! Sexy. - Sorriu safada.
- É o que? - Cobri minha boca com as duas mãos impedindo que explodisse em gargalhada. - Sério, Angel. Você não bate bem. - Completei entre risos involuntários.
- Pronta? - Anahi chamou nossa atenção parando ao nosso lado. Angelique não conseguiu segurar a risada gostosa. - O que foi? - Franziu o cenho olhando para nós duas.
- Nada, ela é uma idiota. - Desferi um tapa leve no ombro da garota risonha, os olhos azuis chegavam a lacrimejar. - Angelique, respira. - Anahi olhava para nós duas confusa.
- Tudo bem. - Respirou fundo enquanto se abanava com as mãos. - Eu já me controlei.
Saímos do ambiente reservado com os braços entrelaçados. Assim que entrei no banco de trás do carro e fechei a porta notei o biquinho irritado da Portilla.
- O que foi? - Inclinei a cabeça para o lado analisando a expressão da outra.
- Nada. - Rosnou se voltando para a janela.
O motorista deu partida nos guiando pela cidade. A noite estava tranquila, mas o clima dentro do carro não estava me agradando em nada. A modificação do humor de Anahi era o primeiro motivo. Vasculhei em minha mente encontrando o ponto crucial: Angelique.
- Ah, não acredito que está irritada por causa da Angel.
Escutei um suspiro pesado e raivoso vir do corpo pequeno. Ter usado o apelido carinhoso para se referir a loira talvez não tivesse sido muito inteligente.
- Any, olhe para mim. Pare com isso. - Pedi ganhando a atenção da loirinha - O que foi?
- Do que vocês estavam rindo?
- Isso é sério? - Arqueei as sobrancelhas surpresa.
- Sim, por que não me falaram ao invés de desconversarem? - Os olhos azuis me fitavam profundamente.
- E-Ela.. - Gaguejei. Não queria falar que Angelique sabia de certas coisas. - Ela veio me falar que Christian estava ficando gatinho e que se eu não pegasse faria questão de furar meu olho. - Inventei uma desculpa tentando parecer convincente. - Eu disse que não poderia praticar incesto e ela começou a falar que pelo corpo de Chavéz o pecado valeria a pena então começou a rir. - Engoli em seco orando para que a mentira soasse verdadeira.
Notei a expressão dura que a loira fazia voltando ao normal. Um frio se instalando em meu peito ao me arrepender do que tinha acabado de falar. Estava começando a ser normal mentir para as pessoas que sempre estiveram ao meu lado.
- Chegamos, meninas. - A voz máscula do motorista e segurança avisou assim que estacionou o carro.
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Eu já havia tomado meu banho e estava jogada sobre a cama macia enquanto Anahi estava trancada no banheiro. Minhas mãos estavam cruzadas atrás da nuca me proporcionando uma posição confortável, meu pé direito se movimentava hiperativo descansando sobre o esquerdo. Minha testa franzida demonstrava toda minha confusão. Eu queria alguma coisa, mas não sabia o quê. Estava começando a me irritar.
A porta se abriu e de lá saiu Anahi com um short branco com listras lilás e uma regata preta. Suavizei a expressão ignorando a presença da garota que caminhava em minha direção para se sentar na beirada do colchão.
- Você ficou chateada? - Engoli em seco ao ouvir a pergunta baixa.
- Acho que sim. - Franzi o cenho tentando pensar, mas era difícil quando estava perto dela. O cheiro natural do corpo pequeno fazia minha mente ficar em branco. - Não havia necessidade daquela cena. - Umedeci os lábios sem olhá-la, mirava a televisão desligada.
- Eu não sei o que me deu. Me desculpe? - Pediu me fazendo fechar os olhos e me lembrar da noite.
- Sabe, você falou com todo mundo essa noite. Cantou com Maitê, ficou abraçada com Tziano, sem contar que sentou no colo da Zoraida - Recordei todos os fatos que fizeram uma pontada desconfortável atingir a boca do meu estômago. - Com uma risada que compartilho com a Angelique você fica assim. Por que tem tanto ciúme?
- Não é ciúme. - A voz subiu na escala fazendo com que a encarasse entediada. - Okay, eu não sei. Só sei que não gosto muito de ver vocês duas juntas. Parece que ela vai roubar você de mim
Sorri com tamanha idiotice. Se ao menos ela soubesse de tudo o que estava acontecendo. Balancei a cabeça negativamente.
- Não precisa se preocupar com isso. Ninguém irá conseguir me roubar de você. - Afirmei enquanto o biquinho manhoso se formava nos lábios carnudos a minha frente.
- Acho bom. - Resmungou me empurrando para se deitar debaixo das cobertas. - Mas o que você queria conversar comigo? Disse que falaria pessoalmente.
Senti minhas costelas comprimir e espremer meu coração, a barriga dando uma reviravolta violentamente fria. O que eu tinha que falar com ela mesmo? Olhei para o rosto pálido deitado ao meu lado que me olhava em expectativa. O que eu tinha a falar? O que eu poderia exigir? Ela parecia bem, eu a queria bem então que se fode-se o resto.
Engoli em seco tentando achar o motivo de querer conversar com ela: Queria saber o que ela queria comigo? O que sentia por mim? Como iriamos conduzir o salto que a nossa relação de amizade havia dado? Para quê? Eu não queria perder aquilo, estava confortável, não estava?
Eram tantas perguntas que minha cabeça provavelmente havia dado um nó. O que era mais importante? Eu ou ela? O que eu queria ou o que estavamos tendo? O medo me atingindo junto a confusão fez as lágrimas molharem meus olhos. Os fechei me sentindo culpada por não estar sendo honesta comigo, principalmente com ela. Me sentia culpada por ser egoísta. Me sentia culpada por pensar que não estava a protegendo corretamente.
- Me desculpe.. - Balbuciei quase inaudível. Senti o colchão ranger e as mãos delicadas afagarem levemente meu cabelo.
- O que é isso? - Sussurrou e pude sentir o hálito fresco em meu rosto.
- Você confia em mim? - Apertei os olhos com força, meu maxilar rígido esperando pela resposta.
- Que pergunta idiota. - Senti um tom de riso na voz suave e sussurrada. - É claro que confio.
- Então me desculpa? - Abri os olhos encarando os azuis trêmulos.
- Pelo quê? - Uniu as sobrancelhas em confusão.
- Só responde. - Pisquei vagarosamente com o coração acelerado. - Por favor.
- Eu não sei o porque disso, mas é claro que sim. - Senti o alívio inundar meu corpo.
- Obrigada. - Suspirei
- Eu acho que você tem trabalhado demais. - Alisou meu rosto com carinho. - Que tal tirar uns dias de folga?
Sorri sentindo o sono deixar minha mente nebulosa.
- Acho que só preciso de uma boa noite de sono. - Confessei fechando os olhos e me aconchegando no travesseiro.
- Está certo. Tenha bons sonhos. - Senti os lábios quentes e macios pressionarem os meus em um beijo singelo e carinhoso.
- Boa noite. - Sussurrei me entregando aos braços de Morpheu.